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Jocerlane Santos Cardoso, Pedra Azul/MG
Entrei na escola aos 4 anos de idade, e antes disso eu não tinha acesso a textos, livros ou algo do tipo. Sempre fui muito curiosa para saber mais sobre letras e números. Fui uma criança com grande interesse em aprender. Sempre que minha mãe escrevia cartas, algo bem comum na época, eu ficava observando e admirando. Em 2004, comecei o que chamavam de “pré de cinco” e fiquei encantada com tudo o que via na sala de aula, pois antes não tinha acesso a nada semelhante. Antes de entrar na escola, eu conhecia as moedas, mas ainda não sabia fazer contas nem o valor real de cada uma.
Os cálculos só entraram na minha vida quando comecei o “pré de seis”. Nossa, os números pareciam fazer um nó na minha cabeça! Mas, aos poucos, peguei o jeito e descobri que a matemática não era o bicho de sete cabeças que eu pensava. O papel da escola no meu letramento matemático foi crucial para o meu aprendizado, assim como o apoio da minha família. Mesmo sem ter concluído os estudos, minha mãe sempre esteve ao meu lado, incentivando-me a ir à escola e a não faltar, para que um dia eu pudesse ser alguém na vida.
Minha primeira professora se chamava Diana, e nós, alunos, nos apegamos muito a ela. Ela foi quem nos ensinou as primeiras letras. No início, foi um pouco difícil, mas, aos poucos, fui me adaptando. A professora sempre nos incentivava a escrever e a ler as vogais e o alfabeto. Até então, eu não tinha acesso a textos, mas a escola já era essencial nos meus primeiros passos com a leitura e a escrita. No Fundamental I, líamos muitos textos. Na segunda série, lembro que a professora Márcia fez um projeto em que os alunos deveriam produzir textos para criar um livro com todas as produções. Até hoje tenho o texto que fiz para o livro, cujo título é “A Amizade das Letras MN”. A biblioteca da escola era repleta de livros, e lembro que uma vez por mês, ou duas, um senhor chamado Milton ia à escola e avaliava a leitura e a tabuada de todos os alunos.
Lembro também que, na escola, frequentemente passavam pessoas vendendo kits de livros com DVDs de contos de fadas, incentivando a leitura. Meu preferido era “A Bela e a Fera”, da autora Elizabeth Rudnick. Eu me divertia muito lendo esse livro e aprendia com a história, que mostrava uma moça bonita e bondosa que não sentia medo do monstro que todos na pequena cidade temiam, conhecendo o coração bondoso que ele escondia por trás de sua aparência assustadora. A moral da história é que nem tudo é o que parece ser. Foi a partir daí que comecei a me interessar por leituras de textos e histórias.
Sinto falta do que não consegui aprender, pois, no início do segundo ano do ensino médio, engravidei e precisei deixar a escola. Fiquei ausente por cinco anos, retornando em 2019 com o EJA, onde o aprendizado é mais acelerado. O que se aprende em um ano letivo normal, no EJA, se aprende em metade do tempo, o que não nos permite ver tudo em profundidade. Mas me esforcei ao máximo. Concluí o ensino médio em 2020, formando-me no EJA e encerrando mais uma etapa da minha vida, preparando-me para o mundo. Em questões de administração financeira, consigo me virar bem, embora no ensino médio eu não tenha tido uma preparação completa. Ainda assim, aprendi o suficiente para lidar com as situações da melhor forma.
Na escola, sempre fomos incentivados a estudar números e fazer cálculos, preparando-nos para o futuro. O tempo passou e fui morar em São Paulo. Eu não tinha o hábito de ler livros ou textos até conhecer duas irmãs, Jéssica e Valéria. Elas tinham o hábito de ler, e eu achava engraçado, pois estavam sempre comprando livros. Com o tempo, elas me incentivaram a explorar aplicativos de leitura no celular, o que despertou minha curiosidade. Um dia, uma delas me apresentou o aplicativo Dreame, voltado para leitura e histórias. Há cerca de dois anos, venho utilizando esse aplicativo, onde li a maioria dos livros que já li na vida. Um dos meus favoritos é “O Destino Quis 2: O Dilema de Ana”, da autora Célia Mesquita. Identifiquei-me muito com essa linda história.
Hoje, moro em Pedra Azul e passei no vestibular para Pedagogia. Estou cursando Pedagogia na UFVJM. Até o momento, não percebi grandes mudanças no meu hábito de leitura. Leio todos os conteúdos que os professores recomendam, mas ainda estou me adaptando. Tudo é novo nesta fase da minha vida, e estou enfrentando algumas dificuldades, mas estou gostando muito dessa nova experiência.
SOBRE A AUTORA:
Jocerlane Santos Cardoso, Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.
A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.