Maria da Conceição Braz, Senador Modestino Gonçalves/MG
A convivência com a matemática, através do contexto das letras, só começou após minha entrada no primário. As condições eram limitadas, e o aprendizado se restringia quase exclusivamente ao ambiente escolar e aos materiais provenientes dele, como livros e revistas. A lembrança exata do início dessa convivência não é clara, mas o gosto pelos números é inconfundível. Minhas maiores notas e o empenho que mais se destacava eram sempre nas disciplinas de exatas!
Em casa, após aprender e absorver o conteúdo escolar, eu o aplicava nas coisas mais simples, como contar as laranjas, as dúzias de ovos, as galinhas no terreiro, e conferir o troco para minha mãe, entre outras tarefas. É importante ressaltar que, naquela época, principalmente na zona rural, a vida era muito mais difícil. Ter pais letrados era raro, e poder frequentar a escola era uma dádiva, já que essa oportunidade não estava disponível para a geração anterior.
A matemática vai além, muito além do ambiente escolar. Um exemplo disso é a venda de animais por peso, como o quilo ou arroba, entre outras formas de medição. As tarefas no meio rural exigem bastante conhecimento matemático: a proporção correta de fertilizante, a distância entre as covas de milho ou qualquer outra plantação, a quantidade exata de sementes a ser plantada, o tempo necessário para capina e colheita. Assim, a matemática sempre esteve presente em nossas vidas, mesmo que de forma inconsciente.
Pensando de uma maneira mais ampla, a escola exerce um papel fundamental como norteadora do aprendizado. Não faltavam esforços para incentivar o estudo, desde o Pré-escolar, com letras e frases curtas, até o Ensino Fundamental, com histórias em quadrinhos e poesias, e o Ensino Médio, com dissertações preparatórias para o ENEM e vestibulares.
Na escola onde cursei o Fundamental II e o Ensino Médio, a presença da biblioteca era constante no nosso cotidiano. A professora de português sempre nos incumbia de fazer fichas literárias e nos dava um prazo para ler um livro. Além disso, havia concursos de leitura que aconteciam na Educação Integral, da qual eu fazia parte.
É notável a perda do hábito de leitura após o Ensino Médio, especialmente para quem não ingressa imediatamente na faculdade. Depois que me formei, passei algum tempo sem ler, retomando esse hábito somente quando comecei a fazer cursos e, mais tarde, ingressei no Ensino Superior.
Os números, além de seu uso cotidiano e necessário, sempre estiveram presentes na minha vida. Eu os encontrava nas aulas de reforço que ministrava e nos trabalhos que tive, como na sorveteria e na loja de eletrodomésticos e roupas.
Com o trabalho e as tarefas diárias, acabo lendo apenas o que é necessário no momento, algo que quero melhorar, pois gosto muito de leitura, especialmente romances.
Em relação às finanças, sempre prestei atenção especial nas compras, especialmente quando se trata de juros e da análise do que vale a pena. Sempre controlo o quanto ganho e o quanto preciso gastar, principalmente quando falamos de parcelamento no cartão de crédito. Assim, podemos perceber o entrelaçamento entre o português e a matemática, afinal, a matemática não se resume apenas a números, mas também aos “produtos notáveis”.
SOBRE A AUTORA:
Maria da Conceição Braz, de Senador Modestino Gonçalves/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.
A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas pelo Professor Carlos Henrique Silva de Castro e pelos Tutores Daniela da Conceição Andrade e Silva, Luís Felipe Pacheco e Patrícia Monteiro Costa.