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Rose Mary Avelino da Silva, Grão Mogol/MG
Vivi os quase 50 anos da minha vida refletindo como uma mãe de 9 filhos, que, como a minha, em uma época em que quase não existiam recursos, exigia que todos os filhos estudassem e completassem, no mínimo, o ensino médio. Ainda está vívido em minha memória o que minha genitora sempre repetia para nós, ainda crianças: “Meus filhos, se esforcem. Pois a única coisa que eu e seu pai podemos oferecer-lhes são os estudos para que futuramente tenham formação superior gratuita”. Palavras sábias, ditas com tanto amor e esperança por ela. Me recordo de que, quando comecei o jardim de infância, não sabia nem o alfabeto. Não tínhamos recursos nem para comprar o material necessário, mas a minha vontade de conhecer o âmbito escolar era de imensa grandeza.
Na escola, conheci números, letras e pessoas, dentre elas o nosso saudoso professor Jadir, que, com sua grande sabedoria, não media esforços para nos ajudar, sempre nos incentivava à cultura: livros, notícias, músicas e artes. Meu primeiro contato com a leitura foi quando, para um trabalho escolar, precisei ler o livro “Éramos Seis”, de Maria José Dupré, que nunca me saiu da memória.
Na minha comunidade, o acesso à educação não era difícil, mas em casa era quase impossível contar com a assistência de meus pais, pois eles trabalhavam muito para trazer o nosso sustento para um humilde e amoroso lar. Tínhamos que nos esforçar para dar o nosso melhor, para que o aprendizado fluísse da forma mais conveniente possível. Era isso que exigiam de nós, os filhos.
Na escola, não praticávamos muito a produção de texto; os educadores focavam mais em ensinar a escrita e a matemática básicas. Atualmente, noto que a minha realidade não condiz com a de meus tempos de menina, pois hoje temos fácil acesso a diversas ferramentas de aprendizagem graças ao advento da internet e da era da informação.
Me lembro de ter uma biblioteca na escola; quando pegávamos um livro, tínhamos que assinar um termo de compromisso e devolvê-lo no prazo estipulado. Por isso, as leituras tinham que ser as mais breves possíveis, pois havia poucos livros para muitos alunos. Me assusta hoje ter tanto acesso e, ainda assim, ter jovens que não querem desbravar este luxo. Creio que, por ter se tornado fácil demais, a busca por conhecimento ficou em segundo plano. Em meu ponto de vista, a maior riqueza que a humanidade possui é o conhecimento.
Ainda em minha ignorância da meninice, quando perambulava pelas ruas da minha cidade pacata e monótona, vislumbrava inúmeras pessoas lendo jornais impressos enquanto seguiam rumo aos seus destinos. Me impressionava tudo aquilo, pois ainda não tinha conhecimento nenhum sobre tal meio de comunicação. Só anos mais tarde fui tomar nota de que aquilo dependia de poder aquisitivo para gozar do acesso às informações; eram os chamados serviços por assinatura, e só a população de classe média e alta poderia ter uma iguaria como essa em mãos.
Me sinto honrada de vivenciar esse grande avanço tanto na economia quanto na educação. A EaD nos trouxe o privilégio de qualquer pessoa, independente de sexo, raça, religião ou condições financeiras, com um simples acesso a um celular, computador ou tablet, poder realizar sonhos educacionais, tornando assim viáveis mudanças no cenário de sua vida.
Estou no início do primeiro semestre do curso de Pedagogia e faço questão de ler todos os conteúdos propostos nas disciplinas, pois cada aprendizado é um avanço a mais para minha carreira acadêmica.
Sei que não é fácil concretizar sonhos se não houver esforço e dedicação. Sinto falta de conteúdos não aplicados em classe quando cursei o ensino fundamental e médio, pois hoje percebo que seriam de grande valia e relevância na minha formação. Porém, estou muito satisfeita com os avanços que nossa educação teve ao longo dos anos, trazendo inclusão, empatia, novos princípios, inovação e valores que foram ressignificados durante as décadas.
Gosto muito de ler notícias, porque assim me atualizo a respeito dos acontecimentos ao redor do mundo. Temos sempre que estar atentos às atualidades, para que sejamos pessoas decentes e donas do nosso próprio pensamento.
Me esforço ao máximo para que meus descendentes valorizem o que não tive, a chance de obter em uma época tão carente de discernimento.
Os meios de comunicação no município onde cresci eram de difícil acesso; tivemos nossa primeira TV quando eu tinha 10 anos. Ah, que luxo ter um “tubão” em casa! Já não precisava mais assistir aos programas pelas frestas das janelas das casas da elite, sonho realizado com o árduo suor de meu pai garimpeiro e minha mãe lavadeira.
Notícias de parentes distantes só chegavam através de cartas, que demoravam meses para chegar ao destinatário. Telefone? Jamais pensei que sobreviveria para ver um grande feito igual. Ah, que bondade o tempo nos trouxe!
Saudades daquela época? Sim, não vou mentir. Boas lembranças ficaram, mas o tempo passou e só restam vestígios. Agora, como adulta, foco em cultivar memórias boas como estas que ainda guardo dentro de mim.
SOBRE A AUTORA:
Rose Mary Avelino da Silva, de Grão Mogol/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.
A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.