Ana Em Um Encontro Com a Leitura

Ana Luiza Neta Muniz De Oliveira, Turmalina/MG

Olá! Vou contar um pouco sobre a minha relação com a leitura ao longo de vários períodos da minha vida. Sinto dizer que não me lembro de muita coisa, mas espero que, ao entregar os contos, as lembranças comecem a aflorar.

No começo da minha infância, não me lembro das relações das pessoas que conviveram comigo com a leitura ou os estudos, mas me lembro de que sempre gostei muito de brincar de escolinha, a famosa brincadeira em que fingíamos ser alunos e professores. Confesso que amava ser a professora e passava horas fazendo as “atividades” para meus “alunos” realizarem. Eu era sempre felizarda em ser professora, pois era a mais velha da turma. Gostava tanto de não largava os cadernos e livros que sobravam dos anos anteriores da escola.

Antes desse período, não tenho lembranças, nem de como comecei a contar ou a ler. Lembro-me vagamente de que sempre tentávamos conseguir uma moedinha para comprar bala em um supermercado próximo à casa onde morávamos.

Eu e meu irmão mais novo chegamos a vender jabuticabas que colhíamos de um pé na casa da minha avó, mas, como não tínhamos noção de administração, chamamos todos os nossos amigos e vizinhos para ajudar. Vendemos o pacote por um real, ao final, o valor mal deu para dividir entre nós. Lembro-me de comentar: “Teria sido melhor se tivéssemos chupado as jabuticabas; teríamos saído no lucro.”

Outra lembrança que tenho é que meu tio pagava R$ 1 para lavarmos o carro dele, e eu e meu irmão ainda brigávamos para fazer o serviço. Mas, em defesa do meu tio, naquela época R$ 1 permitia comprar várias coisinhas; lembro que comprávamos 3 balas por 10 centavos. 

Acredito que meu desempenho na escola não era dos melhores. O contato que eu tinha com o estudo se restringia à escola, pois, como minha mãe era solo, se assim posso dizer, trabalhava muito, saindo de madrugada e chegando somente à noite. O apoio dela era meu irmão mais velho, que, por sinal, também trabalhava muito. 

Após esse período, creio que, ao terminar o Fundamental I, comecei a desenvolver o gosto pela escrita, iniciando com um diário, algo comum entre as meninas da minha sala. Eu gostava de escrever em códigos, nos quais trocava as letras por símbolos que apenas eu sabia o que significavam, ou talvez uma amiga de confiança.

No diário eu costumava escrever basicamente tudo que considerava importante no meu cotidiano, desde coisas boas até ruins. Escrevia desabafos, poemas e, às vezes, letras de música, que eu ficava cantando constantemente para decorar, muitas vezes em vão.

Logo, ao entrar no Fundamental II, acho que foi quando a matemática começou a fazer sentido para mim. Mas, pensando bem, desde as brincadeiras de escolinha, já era a matéria de que eu mais gostava ou com a qual tinha mais facilidade. Não que eu fosse excelente, mas, dentre as outras, era a que eu mais gostava de aprender. Lembro-me que cheguei até a passar para a segunda fase das Olimpíadas de Matemática, mas, como não era tão focada nos estudos, parou por aí.

Nos últimos anos do Fundamental II, lembro de ter encontrado um livro de poemas românticos, cujas letras pareciam desenhadas de tão lindas. Meu interesse passou a ser reescrever todos os poemas para que minha letra, que era um desastre, ficasse igual à do livro, e com muito esforço ficou bem parecida.

Durante o ensino médio, as coisas ficaram mais complexas, tanto nos estudos quanto na vida pessoal, então meu objetivo era “passar de ano”. No último ano do ensino médio, tudo começou igual aos outros, sem nenhuma animação. Então, por já estar casada precocemente nessa idade, descobri que estava grávida e, com todas as dificuldades de uma gravidez, acabei me afastando ainda mais da escola.

Com o final da gestação, a situação ficou mais complicada, e acabei deixando a escola, o que me deixou muito chateada por saber o quão importante e necessário são os estudos para uma pessoa. No ano seguinte, com muita dificuldade, voltei a estudar em uma sala onde todos eram mais novos, mas, como eu já era mãe e tinha uma mentalidade totalmente diferente, realmente aproveitei tudo o que me era ensinado. Nesse momento, senti um breve arrependimento por não ter aproveitado todos os outros anos assim.

Meu arrependimento aumentou quando fui estudar para o vestibular para tentar entrar no curso de Matemática da UFVJM, pois, em várias matérias, eu sentia uma dificuldade enorme, precisando voltar ao conteúdo do Fundamental II para conseguir entender a matéria atual. Percebi que teria sido muito mais fácil se eu tivesse dado o devido valor aos estudos na escola.

Com muito esforço, consegui a vaga para o curso de Matemática. Mas surgiu uma nova dificuldade: os textos acadêmicos, as novas matérias e todas as normas às quais eu não estava acostumada.

Após iniciar a faculdade, despertou em mim o desejo de ler, por acreditar que a leitura é a base do conhecimento. Com isso, tento aprender cada vez mais com as leituras. Assim, além do material escolar, leio alguns outros livros, como os de autoconhecimento, investimento e finanças, sendo os romances os meus preferidos.

Acredito que quanto mais lemos, melhor se torna nossa escrita. Ainda sobre meu hobby de ler sobre investimentos e finanças, creio que ele seja decorrente da carência que temos no nosso ensino regular, onde esses assuntos, que considero de extrema importância para as pessoas, independentemente da classe social ou origem, não são abordados.

Gerir bem sua vida pessoal, financeira e emocional é de suma importância para o bem-estar consigo mesmo e com os que estão ao redor. Assim, início uma nova fase da minha vida, em que ser professora deixou de ser apenas uma brincadeira para se tornar uma realidade.



SOBRE A AUTORA:

Ana Luiza Neta Muniz De Oliveira, de Turmalina/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas pelo Professor  Carlos Henrique Silva de Castro e pelos Tutores Daniela da Conceição Andrade e Silva, Luís Felipe Pacheco e Patrícia Monteiro Costa.

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