Um Livro: Memórias a Contar

Delecy Costa Sardinha, Itamarandiba/MG

Quando criança, tudo parecia novo e empolgante para mim, especialmente quando se tratava de palavras e números escritos. Em um instante, percebi que cada rabisco no papel carregava um significado; não era apenas uma decoração. Isso me motivou a buscar mais informações sobre esse assunto que me interessava. Sempre questionava meus pais sobre as coisas que me chamavam a atenção, perguntando: “O que é isso?” ou “Para que serve?”

Minha curiosidade pela leitura começou quando meu primo trouxe alguns livros e revistas infantis; inclusive, lembro que uma delas era da Turma da Mônica. Ficava intrigada com o conteúdo dos livros e, quando minha mãe não podia me contar do que se tratava a história, eu mesma tentava decifrar as palavras, muitas vezes criando minhas próprias histórias com base nas imagens. Eu tinha cinco anos na época e, embora já tivesse tido contato com a Bíblia e revistas da igreja, minha curiosidade pela leitura ainda não havia despertado. Talvez isso se devesse às letras pequenas ou ao fato de ser algo menos acessível.

Ao longo do tempo, fui me familiarizando com o lápis colorido e o papel para escrever, aprendendo a desenhar e formar letras com a ajuda de minha mãe. No início, parecia uma tarefa difícil e complicada, como um quebra-cabeça confuso que eu não conseguia resolver. Enquanto brincava com o quebra-cabeça, antes mesmo de tentar, eu já dizia que não conseguiria, chorava e culpava quem estava me ensinando. Mesmo assim, meus pais não desistiram da minha educação; eles queriam me oferecer algo que não tiveram quando eram crianças. Quando completei seis anos, comecei a vida escolar, na chamada fase introdutória daquela época. Minha irmã e eu ficamos tão animadas ao saber que iríamos para a escola que foi motivo de comemoração; mal podíamos esperar!

Meus pais se arrependeram de nos contar com tanta antecedência que iríamos para a escola, especialmente porque ainda faltavam muitos dias para o ano letivo começar. Nós não conseguíamos parar de falar sobre isso nem por um segundo, até que minha mãe disse que só iríamos quando meu pai trouxesse os cadernos e o restante do material. A primeira experiência foi marcante, cheia de novidades que me fizeram não querer sair de lá. Ao voltarmos para casa, estávamos tão ansiosas pelo dia seguinte que mal podíamos esperar para retornar ao ambiente escolar.

Para chegar à escola, precisávamos caminhar uma certa distância até o ponto do transporte escolar, mas isso não me desmotivou a continuar meus estudos. Na sala de aula, o início das atividades de escrita foi tranquilo, pois eu já conhecia algumas letras, o que facilitou meu desenvolvimento. Ao longo dos dias na instituição, percebi a existência de uma biblioteca repleta de livros, onde era possível emprestar obras para explorar novos conhecimentos e enriquecer nosso repertório linguístico. Durante os estudos, deparei-me com os desafios dos cálculos matemáticos, que inicialmente me pareceram complexos. No entanto, com o apoio da minha família e dos professores, consegui obter um bom desempenho nas atividades de alfabetização matemática.

A prática da leitura e da escrita foi muito útil para mim, pois me permitiram não depender tanto de lembrar de tudo sozinha, dando-me a oportunidade de escrever sobre temas que não conseguia expressar verbalmente e colocar no papel até mesmo eventos importantes para serem guardados para o futuro. Aprendi a escrever cartas como forma de expressar sentimentos para pessoas próximas ou distantes. Minha primeira carta foi para meus pais, e desde então, em ocasiões especiais, continuo a escrever para eles, aprimorando meu vocabulário e evitando repetições.

Entre os anos de 2014 e 2015, pude perceber uma variedade de abordagens em textos que exigiam interpretação para responder às perguntas de maneira clara e completa. Essa prática foi positiva, pois, além de aprender novos conteúdos, também contribuiu para o aprimoramento da minha escrita e para uma melhor compreensão do que eu lia ou escrevia. Durante esse período de 2014 a 2015, desenvolvi habilidades em cálculos com dinheiro, que ainda não dominava. Embora no papel fosse simples, a prática era um pouco demorada, especialmente ao lidar com trocos. Também aprendi a tabuada e fiquei empolgada ao perceber que esse conhecimento é essencial para a matemática e utilizado no dia a dia. No sétimo ano, minha paixão pela matemática cresceu ainda mais. Foi nessa época que comecei a explorar equações complexas cheias de símbolos, o que me deixou completamente encantada pelos números.

Eu sempre buscava desafios matemáticos e me maravilhava ao encontrar respostas para questões inimagináveis. Percebi, então, a importância dos algarismos, que se mostraram fundamentais tanto nos cálculos quanto na expressão escrita. Dessa forma, compreendi que a matemática vai além das operações e também nos permite exercitar nossa capacidade de comunicação escrita.

A biblioteca era um lugar frequentado regularmente por mim, especialmente durante as aulas de Educação Física. Sempre encontrava um tempinho para pegar um livro. Quando um determinado conteúdo me chamava a atenção, não conseguia resistir a levá-lo, mesmo que fosse mais extenso. Na biblioteca havia livros que não despertavam tanto interesse, mas eu os lia mesmo assim, pois muitas vezes eram sugeridos pelos professores. Percebi, naquele momento, a importância de desenvolver narrativas como se eu fosse uma autora. Sempre tive facilidade em criar imagens na mente, principalmente quando lia; no entanto, encontrava desafios ao tentar colocá-las no papel, muitas vezes repetindo informações de forma diferente no parágrafo seguinte ou perdendo o foco da história.

Durante o ensino médio, tanto nas disciplinas de Língua Portuguesa quanto de Matemática, os temas abordados eram mais variados e complexos, exigindo um maior raciocínio. Esses novos assuntos visavam nos preparar para avaliações futuras, como o ENEM. Os textos tornaram-se mais elaborados, principalmente os dissertativos, que eram os mais cobrados, assim como a produção textual, na qual era necessário apresentar argumentos claros e objetivos.

No início do ensino médio, enfrentei dificuldades para elaborar uma introdução adequada; porém, com as orientações da professora e bastante prática, fui melhorando progressivamente. Percebi que os textos não precisavam ser elaborados com palavras complexas; podiam ser simples, desde que transmitissem todas as informações necessárias e fossem claros em relação ao que se queria comunicar.

Ao longo da minha trajetória escolar, sempre valorizei a presença regular, e até mesmo quando não pude ir devido a problemas de transporte, como chuva na roça, me senti muito triste, lamentando como se meus pais fossem responsáveis pela situação. Até meus últimos dias na escola, participei ativamente, inclusive aos sábados, porque acreditava que os professores poderiam trazer experiências novas e interessantes. Em diversas ocasiões, isso se confirmou com atividades dinâmicas e inovadoras em disciplinas como Língua Portuguesa e Matemática, o que contribuiu para expandir minha forma de aprendizado.

Atualmente, constato que meu vocabulário está consideravelmente ampliado; no entanto, grande parte desse enriquecimento não foi obtida unicamente por meio da instituição de ensino, uma vez que esta não nos fornece todas as informações que necessitamos. A escola nos instrui apenas nos conceitos básicos, de modo que frequentemente somos cobrados por conteúdos que não nos foram apresentados. Isso ocorreu diversas vezes porque esses temas foram incluídos nos planos de aula depois de termos saído ou até mesmo foram substituídos por outra temática.



SOBRE A AUTORA:

Delecy Costa Sardinha, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.

A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas pelo Professor  Carlos Henrique Silva de Castro e pelos Tutores Daniela da Conceição Andrade e Silva, Luís Felipe Pacheco e Patrícia Monteiro Costa.

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