Flaviana Moreira da Silva, Turmalina/MG
Morava em uma comunidade rural com meus familiares (pai, mãe e meus dois irmãos). Era uma grota sombria, longe do barulho da cidade; isso foi há quase 30 anos. Naquele lugar, tudo era muito difícil. Livros, revistas e jornais eu jamais tinha visto ou pegado, apenas ouvia falar. Tínhamos um rádio a pilha onde ouvíamos “Zé Betio” falar. Ah, que saudade daquele “boa noite” do “Zé Betio” que eu tanto amava escutar!
Comecei a escrever e ler somente a partir dos sete anos, quando comecei a frequentar a escola. Tenho lembranças da escola apenas dos poucos rabiscos que o professor sempre apagava, porque a escrita estava sempre errada. Mas o cheiro do pó da borracha emaranhado ao perfume do professor nunca saiu da minha memória.
Antes dos sete anos, quando iniciei a vida escolar, nunca tinha pegado um lápis, caderno e afins. Como eu era a mais velha dos irmãos e meus pais não liam, infelizmente não havia nada em casa com o qual eu pudesse ter contato com esse tipo de material.
Após completar os sete anos, vieram o medo e a insegurança, mas, ao mesmo tempo, muita alegria, porque iria estudar. Logo, meu pai e eu fomos à procura de materiais escolares para o ano letivo.
No mês de fevereiro, a aula inicia, e um frio na barriga me consome. Eu, uma criança fina (magrela), caminhava 5 km para poder estudar.
No primeiro dia de aula, o professor estava todo contente, enquanto os alunos estavam desconfiados. Logo vejo os numerais, AEIOU e, em seguida, o alfabeto. O que era aquilo que ele falava e mostrava? Entrava em um ouvido e saía pelo outro. Com muita dificuldade, custava sair um A. O professor, sempre muito paciente, estava disposto a auxiliar.
O primeiro ano escolar foi tudo muito difícil, sem acesso a nada (livros, revistas, TV); inclusive, não tínhamos energia elétrica. Como foi difícil! Mas, com a determinação do professor em lecionar com extrema sabedoria, conseguimos concluir o primeiro ano.
Penso que, sem a ajuda da escola e do professor, eu hoje não seria nada. A escola foi e sempre será uma peça fundamental na minha vida de estudante.
Lá no início, quando ainda era criança, não via muito sentido em estudar, ler e escrever. Mas agora, como estudante universitária, sinto muito prazer nos estudos. Pegar um livro para ler e, em apenas três dias, ter lido tudo foi uma verdadeira virada de chave na minha vida.
A leitura me ajuda muito na concentração e me desvia das redes sociais por longos períodos. Isso me afasta um pouco de estar mais presente com os amigos, mas amo o que faço e faço por amor.
O ensino médio me abriu portas onde jamais imaginei chegar. O ensino médio é o início de um grande sonho: a tão sonhada faculdade. Sinto-me hoje muito feliz e honrada por tudo que estou trilhando. Sigo o caminho do sucesso; o futuro é logo ali.
SOBRE A AUTORA:
Flaviana Moreira da Silva, de Turmalina/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.
A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas pelo Professor Carlos Henrique Silva de Castro e pelos Tutores Daniela da Conceição Andrade e Silva, Luís Felipe Pacheco e Patrícia Monteiro Costa.