Relatos de leitura e escrita

Daniela

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Daniela de Paula dos Santos, Cristália/MG

Quando eu era criança, muito antes de entrar na escola, não tinha acesso a textos escritos, porque na comunidade onde eu morava com a minha família não havia livros, folhetos, jornais ou revistas. Devido à falta de recursos da comunidade, não havia escola. Era tudo muito difícil, até mesmo o acesso à comunidade.
Algum tempo depois, eu e minha família tivemos que nos mudar, pois a CEMIG iria dar início à barragem de Irapé. Com isso, nos mudamos para outro lugar, onde comecei a ter acesso a alguns textos escritos. Meu primeiro contato com um texto escrito foi através de uma Bíblia. Mesmo não sabendo ler, eu folheava as páginas da Bíblia, sempre com a vontade de aprender.
Um tempo depois, minha mãe me colocou na escola. Eu ainda não sabia ler nem escrever, mas já sabia contar até 10. Na época, eu tinha 5 anos. Meus primeiros anos na escola foram os melhores; eu estava sempre muito ansiosa para ir, porque a cada dia era um aprendizado a mais. Eu ficava muito feliz quando aprendia algo novo e, com o passar do tempo, fui aprendendo a ler e a escrever.
Quando estava no quarto ano do ensino fundamental, minha mãe, juntamente com meu pai, comprou um kit de livros para mim e meus irmãos. No kit, havia um livro com várias continhas de matemática, e assim fui aprendendo aos poucos a somar e a subtrair, sempre com o auxílio dos professores e da minha família.
Lembro que eu pegava giz na escola para brincar de escolinha com minhas irmãs em casa. Na hora da brincadeira, a gente discutia muito, porque eu sempre queria ser a professora. Quando tinha a oportunidade de ser a professora, passava algumas continhas que aprendia na escola para elas resolverem e ditava algumas palavras para que escrevessem. Quando elas terminavam, traziam o caderno para que eu corrigisse as atividades. Nós nos divertíamos muito com isso; para nós, era a melhor brincadeira que existia.
Na minha escola, havia uma biblioteca, e os funcionários permitiam que nós, alunos, levássemos um livro de historinhas para casa todos os dias, com o intuito de ler e devolver no dia seguinte. Uma vez, a escola doou livros didáticos para os alunos, e eu levei alguns para casa. Fiquei muito contente, pois estava sempre lendo, escrevendo e buscando mais conhecimento através dos livros.
Quando passei para o quinto ano do ensino fundamental, já sabia muitas coisas e tive uma excelente professora, que nunca mediu esforços para me ajudar. Ela fazia de tudo para que eu aprendesse, desenvolvendo várias brincadeiras e trabalhos legais com a turma, a fim de ajudar no processo de aprendizagem. No mesmo ano, minha família resolveu se mudar para uma cidade no interior de São Paulo. Para mim, foi muito bom, pois me desenvolvi ainda mais na prática da leitura e da escrita. Fiz o sexto ano também na cidade do interior de São Paulo e tive o prazer de participar da minha formatura no Programa de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD). Tudo isso que vivenciei foi uma experiência incrível, pois fiz muitas coisas que nunca imaginei realizar.
Um tempo depois, minha família decidiu voltar para o norte de Minas. Viemos embora, mas trouxe comigo muito aprendizado e conhecimento. Comecei a estudar na minha escola novamente e já estava no sétimo ano do ensino fundamental. Sempre fazia todas as atividades que meus professores passavam e me esforçava bastante para entregar os trabalhos nas datas previstas.
No oitavo ano, estudei com meu irmão. Ele me motivava muito a fazer todas as atividades e a ir para a escola todos os dias. Estávamos sempre ajudando um ao outro em tudo; fazíamos nossas atividades, trabalhos e tarefas juntos. Isso foi motivo de muita alegria para mim.
No nono ano, tivemos que parar de estudar por conta da pandemia, mas um ano depois voltamos. Ainda não podíamos estudar presencialmente, mas utilizamos os PETS, que nos permitiram estudar em casa. Um tempo depois, já no primeiro ano do ensino médio, tive minha filha e precisei abandonar os estudos para me dedicar a ela.
Mas, algum tempo depois, decidi voltar a estudar. Como não tinha com quem deixá-la, precisei levá-la comigo para a escola. A conclusão do ensino médio foi um desafio para mim. Era muito difícil fazer as atividades, trabalhos e provas com a minha filha, apesar de sempre ouvir das pessoas que eu nunca conseguiria finalizar os estudos com uma criança. Sempre tive o apoio, primeiramente, de Deus e também da minha família. Minha mãe e meu pai estavam comigo em tudo, me incentivando a ser melhor todos os dias. Eles sempre me diziam que meu futuro dependia apenas de mim, então consegui concluir o ensino médio com muita fé e dedicação.
Hoje, no meu primeiro ano de universidade, percebo que me desenvolvi bastante na prática da leitura e estou tentando, aos poucos, me aperfeiçoar na escrita. Acredito que, com o auxílio dos professores e a minha força de vontade, conseguirei.
Essas mudanças podem trazer muitas coisas positivas, pois nos ajudam a aprender mais. Estou sempre acompanhando e lendo o que os professores mandam, porque isso é muito importante para que possamos entender o que é passado para nós e facilitar na hora de fazer as atividades.
Eu tenho um pouco de dificuldade com os textos universitários, mas, de acordo com o ensinamento dos professores, irei conseguir e ter mais facilidade com esses textos. Acredito que o ensino médio me preparou para lidar com questões financeiras e entender a importância do controle financeiro.



SOBRE A AUTORA:

Daniela de Paula dos Santos, de Cristália/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

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