Sou uma mãe de 21 anos e venho de uma comunidade tradicional com poucas oportunidades de ingresso em uma universidade federal. Atualmente, estou cursando o sexto período do curso de Licenciatura em Educação do Campo e, ao relembrar as diversas dificuldades e escassas oportunidades de ter uma educação mais completa em minha casa, percebo o quão importante foi cada esforço e superação para alcançar esse objetivo.
Ao relembrar minha trajetória educacional, recordo-me de como o incentivo à leitura e à escrita era quase inexistente em meu ambiente social. Meus pais, por falta de paciência e tempo, não me apresentavam livros e textos. Foi somente no início da minha alfabetização que tive meu primeiro contato com a escrita. A partir daí, fui conhecendo e entendendo, aos poucos, alguns textos. Foi através da escrita que pude descobrir a magia das palavras
Meu primeiro contato com a leitura foi aos seis anos de idade, quando iniciei a fase de alfabetização. Aprendi a escrever meu nome e comecei a utilizar diversos objetos para praticar a escrita. Lembro-me de escrever na areia com um pedaço de madeira e até mesmo nas paredes da minha casa, o que causava brigas com meus pais. Desde criança sempre admirei o hábito da leitura e da escrita, porém, devido às condições financeiras e à falta de incentivo, não tive acesso a uma variedade de livros. Mesmo diante disso, fazia o possível para me envolver com a leitura, seja através de livros emprestados da biblioteca da escola ou de revistas antigas encontradas na casa dos meus avós.
Lembro-me de quando a escola proporcionou um projeto literário que se mostrou bastante acolhedor e me ajudou a melhorar minha leitura. Ele fez com que os estudantes viajassem e mergulhassem em um mundo que se interpreta por si só, pois a leitura tem o seu próprio método de ensinar, na perspectiva de ser libertadora.
O projeto desenvolvido na escola tem uma função especial na minha vida, pois amenizou os impactos gerados pela falta de contato com livros na minha infância. Acredito que a leitura possibilita a emancipação do cidadão, tornando as pessoas críticas e conscientes. Também creio que a literatura é um direito, como defendia Antônio Cândido. Mais do que decodificar signos, ler vai além da palavra escrita e deve promover a compreensão da realidade e permitir que o indivíduo se torne um agente transformador, social e cultural, em seu meio.
Foi através desses pequenos trabalhos desenvolvidos na escola e do curso da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), no qual estou inserida hoje, que fui ampliando meus horizontes e adquirindo novas habilidades. Vejo como a leitura e a escrita se tornaram ferramentas essenciais na minha jornada de aprendizagem e crescimento profissional e pessoal. Mesmo sem as mesmas oportunidades que muitos, percebi que o conhecimento adquirido através da leitura é algo que ninguém pode me tirar.
Hoje, olhando para trás, vejo o quanto a minha admiração pelo hábito de ler e pelo letramento foi fundamental para superar as adversidades e conquistar meus sonhos. Mesmo com poucas oportunidades, nunca deixei de acreditar no poder transformador da educação. Como futura educadora do campo, continuo buscando novas formas de me aprimorar e de compartilhar meus conhecimentos com os outros. A leitura e os letramentos me abriram portas e me mostraram que, com determinação e esforço, é possível ser uma cidadã mais criativa, crítica e reflexiva em relação às questões que me cercam.
SOBRE A AUTORA:
Maria Cláudia Barbosa Nogueira é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), na Licenciatura em Educação do Campo. Produziu este relato na disciplina Gêneros Textuais/Discursivos, ofertada de julho a novembro de 2024.
Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro e faz parte do livro Memórias de letramentos 5, que pode ser baixado gratuitamente. Clique na capa ao lado.
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