Túnel do tempo

Viviane

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Viviane Fernandes, Capelinha/MG

Minha infância foi cheia de brincadeiras, como queimada, peteca, bonecas, entre outras. Porém, quando o assunto era estudo ou algo relacionado, eu não tinha muito interesse, até porque meus pais não tinham muito letramento e priorizavam as brincadeiras.

Mas me lembro de uma prima mais velha que adorava ler e estudar a história do Brasil, e também ensinar as pessoas. O pai dela fez um lindo quadro verde, comprou vários livros e a incentivava a vivenciar cada momento desse mundo mágico. A dedicação dela era recíproca, e eu só podia admirar todo o empenho dela de longe, pois minha mãe não deixava que seus filhos saíssem de casa para nada; estávamos sempre ao lado dela e das pessoas que ela queria por perto. Sempre que eu conseguia fugir um pouco, ia parar na casa dessa prima. Sinceramente, era um momento mágico e muito diferente da minha realidade. Ali, havia uma sala separada com muitos livros e revistas, mas esses momentos eram poucos e muito rápidos. Mesmo assim, o que ela conseguia me ensinar era de grande valor, e ela sempre o fazia com muita boa vontade.

Depois desses momentos com ela, comecei a buscar outros recursos para adquirir livros e revistas. Conheci a moça que fazia a limpeza da biblioteca da minha escola na época, e sempre, no final do ano, havia a necessidade de organizar e descartar algumas coisas. Eu juntava tudo que me interessava e levava para casa – eram cartazes, revistas, gibis, mapas e alguns livros. Nessa fase, comecei a ler melhor, pois já tinha mais ou menos 10 anos, embora ainda sem muita prática.

Com a matemática, demorei a aprender. Tinha algum conhecimento com moedas, pois era o que mais usava, e, assim, fui aprendendo os valores. Depois dos meus 12 anos, minha avó, que sempre vinha nos visitar, começou a me presentear com dinheiro, e, para não ficar perdida com os valores que ela aumentava a cada ano, tive que aprender a controlar os gastos para não ficar sem dinheiro.

De tudo isso, concluo que o cotidiano e a família têm grande importância nos primeiros e seguintes passos das pessoas na escola e no aprendizado. Digo que tive pouca influência da minha família, mas, com minha prima, foi totalmente diferente; com o apoio do pai dela, ela já entrou na escola sabendo ler e escrever.

Não tenho muita lembrança, mas acredito que aprendi a ler só depois dos 8 anos, já na escola, e tive muitas dificuldades. O que me deu suporte foram os livros que consegui adquirir. Infelizmente, os professores não dedicavam muito tempo aos alunos com dificuldades, e éramos deixados de lado. Minha avaliação é negativa sobre esses anos iniciais.

Lembro que tínhamos que fazer leituras para a sala toda de textos de contos, e isso era torturante. A nossa biblioteca era pequena e muito incompleta, mais decorada com mapas do mundo e do corpo humano, e era raro frequentá-la.

Hoje vejo que, com muito esforço e dificuldade, consegui aprender a ler. Percebo que a leitura é fundamental para uma boa escrita. Não estou satisfeita com minha leitura; sei que quero e preciso melhorar muito mais. Acho bonito quando alguém consegue expressar-se bem em um texto ou discurso, e desejo melhorar isso em mim também.

Embora a escola não tenha me motivado, consegui adquirir algum conhecimento pela curiosidade, buscando outros meios, até mesmo pela televisão, vendo como as pessoas falavam. Por isso, considero-me boa em falar, mas não em escrever.

A leitura é algo que ainda me traz preguiça; prefiro escutar a ler. Hoje, percebo a falta que isso me faz, pois não é uma prática comum em minha vida, principalmente nos dias atuais. A matemática também me traz muitas dificuldades, especialmente nos cálculos mais complexos. Hoje, só consigo fazer o básico e um pouco de porcentagem, que aprendi na marra, fora da escola. Considero que não tive uma boa base, tanto na leitura quanto na matemática. A vida foi me mostrando como lidar com os prejuízos e a falta de diálogo.



SOBRE A AUTORA:

Viviane Fernandes, de Capelinha/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

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