Saudades do Aurélio

Saudades do Aurélio
Karina

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Karina de Matos Fernandes, Itamarandiba/MG

Ah, que saudades que tenho do Aurélio, meu companheiro tão presente na minha vida escolar. Lembro de você como peça fundamental para o meu aprendizado. Hoje, vendo os avanços da tecnologia, fico triste em saber que as novas gerações não conhecem e jamais conhecerão você.

Hoje, as palavras não são mais as mesmas de antigamente; elas perderam algumas letras e é preciso decifrar qual a mensagem que as pessoas desejam passar. Temos “Blz”, “Ñ”, “Ss”, “Pq”, entre muitas outras, e algumas das quais precisamos pesquisar pra compreender.

Ah, que saudades da época da escola! Tantas lembranças: os dias de prova tinham cheirinho de álcool, pois o professor usava os famosos mimeógrafos. Alguns livros ficaram marcados na minha memória, como Os Capitães da Areia, um romance de Jorge Amado. Que estória! O livro relatava uma realidade dura, totalmente distante da minha.

Lembro-me também dos livros de pesquisa que tinham capa dura, de cor vermelha com letras douradas grafadas e centenas de páginas: os elegantes livros Barsa, as bibliotecas com aquelas prateleiras repletas de livros, mundos de experiências e histórias!

Tentando lembrar-me de memórias mais antigas, pois já estou “batendo na porta dos meus 40 anos”, precisei recorrer às informações da minha querida mãe. Eu comecei a estudar e a ter acesso às letras e números aos cinco anos de idade, na Escola Municipal de Educação Infantil de Santa Isabel, no estado de São Paulo. Quando aprendi a ler, todas as placas na rua me fascinavam, e minha mãe sempre brincava quando entrávamos no ônibus e dizia: “Filha, fica caladinha, senão precisaremos pagar a passagem!”

Uma coisa interessante sobre números: não me ensinaram o algarismo romano. Eu morava em outra cidade em São Paulo, e, na metade do ano letivo, mudamos para Minas Gerais, a “terra do queijo”. Passou despercebido pelos meus educadores o fato de essa matéria não ter sido incluída na minha grade curricular, pois se tratava de uma aluna em transição, e os conteúdos não foram os mesmos na mesma sequência entre as escolas.

Minhas experiências com dinheiro não são muito boas (risos). Lembro-me de que, ainda criança, meu pai me deu alguns cruzados e eu não queria gastar. Num belo dia de passeio, levei o meu dinheirinho e o perdi pelo caminho. Ali aprendi a não ter amor pelo dinheiro.

Há algumas memórias que vêm à mente quando me lembro dos meus boletins, todos recheados com notas acima de 20 e muitos totais de 25. Sempre muito estudiosa e inteligente, fui premiada em todos os bimestres.

Na escola, eu tive minha primeira experiência com plágio. Cada aluno teria que fazer uma frase para a formatura da oitava série, e as melhores frases seriam escolhidas. Para minha surpresa, quando recebemos os convites, que tinham o formato de um pequeno livro, minha frase estava estampada em uma das páginas e abaixo o nome da professora. Nesse momento, olhei com deslumbramento para a professora e disse: “Essa frase fui eu que escrevi!” Foi um misto de orgulho e alegria por ver ali o fruto dos meus pensamentos e decepção, pois não me foram dados os devidos créditos. Essa foi a primeira das muitas injustiças que a vida me reservava.

Na minha época, não era importante ser apenas inteligente; era preciso ter uma boa condição financeira. Há vinte e dois anos, não existia a possibilidade de estudo a distância como se tem hoje. Para buscar uma formação profissional, era preciso se deslocar para outra cidade, o que gerava custos. Com a mentalidade e os recursos dos nossos pais, o objetivo era apenas concluir o ensino médio e arrumar um bom emprego. Muitos de nós não tivemos a oportunidade.

Na minha época, não existia internet. Ela chegou à nossa cidade por volta de 2005, mas nem todos tinham acesso e a velocidade era ruim! Ainda lembro da conexão através de modem. A partir daí, ela cresceu e hoje está acessível em todo lugar. Confesso que ela nos deixou um pouquinho mais preguiçosos; já não usamos mais a escrita correta e nem paramos para pensar qual seria, pois o teclado do celular imediatamente se antecipa.

Nem lembramos mais da tabuada; não fazemos mais contas de cabeça, até para o ‘2 + 2’ precisamos da calculadora. Não pesquisamos mais em livros, pois o Google sabe de tudo, e agora, então, com a nova ferramenta, o ChatGPT, cada dia que passa nos leva à comodidade. As fórmulas que aprendemos na escola poucas ainda fazem sentido, mas aquela velha mentalidade de que não havia nada além do terceiro ano não me deixou aprofundar mais!

Ah, se essa geração soubesse a joia preciosa que tem na palma das mãos! A internet, de mãos dadas com a educação, pode nos proporcionar realizações de sonhos que antes eram inalcançáveis: um estudo de boa qualidade, onde você nem precisa sair de casa, com conteúdos de conhecimento usando a internet a nosso favor.

O que posso dizer a essa nova geração? Hoje tenho a oportunidade de cursar a minha tão sonhada faculdade, e meu conselho é: estudem, formem-se e tornem-se bons profissionais. Que essa vontade de conhecimento seja passada de geração a geração, e que a busca pelo conhecimento seja maior do que a busca pelos likes!



SOBRE A AUTORA:

Karina de Matos Fernandes, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Visitando o baú da memória de Júnia

Visitando o baú da memória de Júnia

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Júnia de Almeida Freire, Pedra Azul/MG

Na minha casa, vivia uma grande família. Éramos dez: pai, mãe e oito filhos. Não era uma vida fácil, mas éramos felizes com o pouco que tínhamos. Meus pais faziam questão de ensinar princípios e nos incentivavam a estudar, pois eles não tiveram as oportunidades que nós tínhamos. Na época deles, ou se estudava ou se trabalhava na roça.

Muitas vezes, compartilhávamos a mesma mochilinha: um usava pela manhã e o outro, à tarde. Os cadernos eram encapados com papel de pão ou saquinho de açúcar, e os lápis de escrever eram aguardados com expectativa, como se fossem o tão esperado pacote de macarrão. O uniforme da escola era uma jardineira azul com blusa branca, que precisava ser lavada assim que chegávamos da escola, para ser usada no dia seguinte.

Lembro-me também da ansiedade de esperar a nossa vez de tirar a maravilhosa foto com os bracinhos cruzados ao lado dos livros e do globo terrestre. Tínhamos livros que meus irmãos mais velhos ganhavam na escola e traziam para casa. Eu adorava folheá-los, olhando as gravuras, pois ainda não sabia ler.

Eles também traziam revistas em quadrinhos e álbuns de figurinhas, que compravam na banca de revistas ou nas vendas próximas de casa, sempre na expectativa de encontrar a tão sonhada figurinha premiada. Também tínhamos o hábito de brincar de missa, usando os folhetos que meus pais traziam das missas aos domingos.

Iniciei os estudos aos seis anos, no pré-escolar, com a tia Luiza, uma professora exemplar, dedicada e carinhosa. Já conhecia o alfabeto e, aos poucos, fui aprendendo a escrever meu nome completo, o nome da escola e o da professora, tudo com o auxílio das fichas. Gradualmente, a leitura foi sendo introduzida na minha vida, e fui tomando gosto por ela.

Adorava ler livros, textos e até as provas impressas. O cheiro de álcool do mimeógrafo me fazia sentir parte da história. Adorava ir à biblioteca e pegar livros emprestados para ler em casa. Aprendi também a contar e, quando já dominava as continhas, adorava comprar balas na venda com as moedas que ganhava do meu pai ou dos meus irmãos. Tive uma infância feliz e aprendi a valorizar o pouco que meus pais podiam nos oferecer.

O tempo foi passando, e fui criando o hábito da leitura. Amava o livro “O Barquinho Amarelo”, os contos e a poesia “As Borboletas”, de Vinícius de Moraes, que me marcou muito.

Quando estava na quarta série, perdi meu pai. Meu mundo desabou, mas, aos poucos, aprendi a lidar com a saudade e a seguir em frente. Ocupei minha mente com os estudos pela manhã e com aulas de crochê à tarde.

Quando cheguei ao ensino médio, como já gostava de ler, fui tomando gosto pelos livros de romance, livros espíritas e histórias. É notório que minha letra melhorou muito, assim como minha dicção. Apesar de ainda sentir um pouco de receio ao falar em público, confesso que a leitura me ajudou bastante.

Em meio a tantas dificuldades, formei-me no magistério no ensino médio aos 17 anos. Mas, como não tínhamos o acesso e as facilidades que temos hoje, não consegui fazer uma faculdade naquela época. No entanto, nunca desisti do sonho de ter um curso superior, e hoje tenho essa oportunidade, pela qual agradeço a Deus.

Ao revisitar o passado, muitas memórias vieram à tona. Pude reviver momentos que me fizeram ser a mulher que sou hoje.



SOBRE A AUTORA:

Júnia de Almeida Freire, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Um pouco sobre mim

Um pouco sobre mim

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Jordana Ellen Souza Fróes Duarte, Grão Mogol/MG

Minha infância era preenchida com brincadeiras; eu gostava muito de brincar de escolinha. Como a casa estava sempre cheia, sempre havia alguém por perto para brincar, mas, na maioria dos dias, éramos eu e minha irmã mais velha. Segundo relatos da minha mãe, eu só sabia escrever meu nome e, naquela época, só me lembro da Bíblia em casa. Comecei a estudar mais ou menos aos cinco anos, na escolinha Arco-íris. Era como se fosse uma creche, com muitas brincadeiras e cantigas de roda. As educadoras faziam trabalhos para colorir e contavam histórias. Lembro que era muito divertido e que tinha meus melhores amigos.

Já no ensino fundamental, comecei realmente a aprender a escrever e a ler. Recordo que as professoras incentivavam muito a leitura e pediam para as crianças lerem pedacinhos dos textos para os colegas. Como sempre fui muito tímida, tinha bastante dificuldade para fazer leituras e apresentar trabalhos na frente dos colegas, e quase nunca participava dessas atividades; geralmente, passava minha vez. Comecei a ter um melhor contato com a leitura a partir dos 10 anos, quando peguei algumas histórias em quadrinhos de meus desenhos favoritos.

Outro ponto que me ajudou foi o fato de minha mãe trabalhar na biblioteca municipal. Sempre que tinha oportunidade, ia visitá-la e ficava olhando os títulos dos livros, embora não lesse. Sempre tive preguiça: olhava o início e partia para o final, e, às vezes, olhava apenas as gravuras. Sempre fui uma aluna que gostava de educação física e matemática; as outras matérias eu não gostava.

No ensino médio, comecei a perceber a importância da escola para a vida, mas continuei com a mesma dificuldade de leitura em público. Acredito que, por não gostar de ler e pela timidez, acabei me prejudicando bastante ao longo dos anos. Embora a leitura nunca tenha sido uma paixão para mim, essa falta de interesse me ajudou, de alguma forma, a explorar diversas formas de aprendizado e entretenimento. Gostava de praticar atividade física; sempre gostei de vôlei e futebol, e continuo praticando até hoje.

Hoje me deparo com um novo desafio, o curso de Pedagogia na UFVJM (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri). Confesso que esse início está meio difícil, mas estou me esforçando e sei que tenho capacidade. Na rotina, separei um tempo para estudar e isso tem feito muita diferença. Hoje sei que uma boa formação me ajudaria mais. A leitura continua um desafio, mas, sinceramente, acho que estou indo melhor do que eu esperava.



SOBRE A AUTORA:

Jordana Ellen Souza Fróes Duarte, de Grão Mogol/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Letramento pra vida

Letramento pra vida

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Jocerlane Santos Cardoso, Pedra Azul/MG

Entrei na escola aos 4 anos de idade, e antes disso eu não tinha acesso a textos, livros ou algo do tipo. Sempre fui muito curiosa para saber mais sobre letras e números. Fui uma criança com grande interesse em aprender. Sempre que minha mãe escrevia cartas, algo bem comum na época, eu ficava observando e admirando. Em 2004, comecei o que chamavam de “pré de cinco” e fiquei encantada com tudo o que via na sala de aula, pois antes não tinha acesso a nada semelhante. Antes de entrar na escola, eu conhecia as moedas, mas ainda não sabia fazer contas nem o valor real de cada uma.

Os cálculos só entraram na minha vida quando comecei o “pré de seis”. Nossa, os números pareciam fazer um nó na minha cabeça! Mas, aos poucos, peguei o jeito e descobri que a matemática não era o bicho de sete cabeças que eu pensava. O papel da escola no meu letramento matemático foi crucial para o meu aprendizado, assim como o apoio da minha família. Mesmo sem ter concluído os estudos, minha mãe sempre esteve ao meu lado, incentivando-me a ir à escola e a não faltar, para que um dia eu pudesse ser alguém na vida.

Minha primeira professora se chamava Diana, e nós, alunos, nos apegamos muito a ela. Ela foi quem nos ensinou as primeiras letras. No início, foi um pouco difícil, mas, aos poucos, fui me adaptando. A professora sempre nos incentivava a escrever e a ler as vogais e o alfabeto. Até então, eu não tinha acesso a textos, mas a escola já era essencial nos meus primeiros passos com a leitura e a escrita. No Fundamental I, líamos muitos textos. Na segunda série, lembro que a professora Márcia fez um projeto em que os alunos deveriam produzir textos para criar um livro com todas as produções. Até hoje tenho o texto que fiz para o livro, cujo título é “A Amizade das Letras MN”. A biblioteca da escola era repleta de livros, e lembro que uma vez por mês, ou duas, um senhor chamado Milton ia à escola e avaliava a leitura e a tabuada de todos os alunos.

Lembro também que, na escola, frequentemente passavam pessoas vendendo kits de livros com DVDs de contos de fadas, incentivando a leitura. Meu preferido era “A Bela e a Fera”, da autora Elizabeth Rudnick. Eu me divertia muito lendo esse livro e aprendia com a história, que mostrava uma moça bonita e bondosa que não sentia medo do monstro que todos na pequena cidade temiam, conhecendo o coração bondoso que ele escondia por trás de sua aparência assustadora. A moral da história é que nem tudo é o que parece ser. Foi a partir daí que comecei a me interessar por leituras de textos e histórias.

Sinto falta do que não consegui aprender, pois, no início do segundo ano do ensino médio, engravidei e precisei deixar a escola. Fiquei ausente por cinco anos, retornando em 2019 com o EJA, onde o aprendizado é mais acelerado. O que se aprende em um ano letivo normal, no EJA, se aprende em metade do tempo, o que não nos permite ver tudo em profundidade. Mas me esforcei ao máximo. Concluí o ensino médio em 2020, formando-me no EJA e encerrando mais uma etapa da minha vida, preparando-me para o mundo. Em questões de administração financeira, consigo me virar bem, embora no ensino médio eu não tenha tido uma preparação completa. Ainda assim, aprendi o suficiente para lidar com as situações da melhor forma.

Na escola, sempre fomos incentivados a estudar números e fazer cálculos, preparando-nos para o futuro. O tempo passou e fui morar em São Paulo. Eu não tinha o hábito de ler livros ou textos até conhecer duas irmãs, Jéssica e Valéria. Elas tinham o hábito de ler, e eu achava engraçado, pois estavam sempre comprando livros. Com o tempo, elas me incentivaram a explorar aplicativos de leitura no celular, o que despertou minha curiosidade. Um dia, uma delas me apresentou o aplicativo Dreame, voltado para leitura e histórias. Há cerca de dois anos, venho utilizando esse aplicativo, onde li a maioria dos livros que já li na vida. Um dos meus favoritos é “O Destino Quis 2: O Dilema de Ana”, da autora Célia Mesquita. Identifiquei-me muito com essa linda história.

Hoje, moro em Pedra Azul e passei no vestibular para Pedagogia. Estou cursando Pedagogia na UFVJM. Até o momento, não percebi grandes mudanças no meu hábito de leitura. Leio todos os conteúdos que os professores recomendam, mas ainda estou me adaptando. Tudo é novo nesta fase da minha vida, e estou enfrentando algumas dificuldades, mas estou gostando muito dessa nova experiência.



SOBRE A AUTORA:

Jocerlane Santos Cardoso, Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Descobrindo o mundo das letras

Descobrindo o mundo das letras

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Jessica Yasmini Silva, Pedra Azul/MG

Minha jornada estudantil começou com um misto de curiosidade e encantamento. As primeiras letras que aprendi eram como pequenos segredos, cada uma com seu próprio som, forma e magia. Tinha uma tia dedicada que me guiou pelos caminhos das palavras, transformando o aprendizado em um jogo divertido, onde cada nova letrinha descoberta era uma vitória.

Na minha família, além da minha tia, contava com tios professores que tiveram um papel fundamental na minha educação. Em casa, a sala de estar se transformava em uma sala de aula improvisada, onde os dois irmãos se uniam para ensinar. O conhecimento parecia estar no ar, pronto para ser absorvido.

Aprender com eles não era uma obrigação, mas um privilégio. Isso me ajudou muito com o início da alfabetização, sempre com muitos livros por perto. Um dos momentos mais marcantes da minha infância foi quando li meu primeiro livro sozinha. Lembro-me de como cada palavra parecia ganhar vida à medida que as lia em voz alta. Meus tios celebravam cada frase completa como se eu estivesse conquistando uma nova etapa do aprendizado. Foi ali que descobri o poder das histórias e como as palavras podiam criar mundos inteiros.

Hoje, olhando para trás, vejo como minha infância foi profundamente marcada pela educação. Meus tios plantaram em mim a semente do amor pelo conhecimento. Cada lição, cada história, cada desafio vencido moldou não apenas minha trajetória acadêmica, mas também quem eu sou como pessoa. A educação que recebi foi um verdadeiro presente, um legado que carrego comigo até hoje.

À medida que cresci, o desejo de aprender só aumentou. A educação recebida em casa serviu como um alicerce sólido sobre o qual construí minha trajetória acadêmica. Lembro-me de como aprendi a contar de forma lúdica e gradual. Os números, no início, eram pequenos enigmas que eu descobria pouco a pouco. Minha mãe e tios usavam brinquedos e objetos do cotidiano para me ensinar a contar. A contagem de brinquedos, passos e até mesmo as páginas dos livros tornava-se uma atividade divertida. Quando cheguei à escola, já conseguia contar até 20 sem grandes dificuldades, e esse conhecimento básico me deu uma boa base para iniciar minha jornada matemática formal.

Quanto ao reconhecimento de dinheiro, minhas primeiras memórias são um pouco vagas, mas lembro-me de que meus pais me mostravam moedas e cédulas, explicando seu valor e como usá-los para comprar coisas. Inicialmente, o conceito de dinheiro parecia abstrato, mas, com o tempo e a prática, comecei a entender seu valor real. Percebi que as moedas e as cédulas tinham diferentes valores usados para adquirir bens e serviços, e essa compreensão se desenvolveu à medida que participava das compras e via como o dinheiro facilitava a troca de produtos.

Com tudo que aprendi com familiares e professores, comecei a entender operações básicas como soma e subtração. Na escola, fiz minhas primeiras adições e subtrações com a ajuda de fichas e desenhos, que tornavam esses conceitos mais concretos. Meus tios também ajudavam em casa, usando jogos matemáticos que tornavam o processo mais envolvente. A transição para problemas matemáticos mais complexos na escola foi desafiadora, mas, com o suporte constante dos meus professores e da minha família, consegui superar as dificuldades iniciais.

A colaboração entre a escola e a família foi crucial para meu desenvolvimento matemático. Em casa, o aprendizado era muitas vezes informal e integrado às atividades diárias, como fazer contas enquanto auxiliava nas compras ou resolver pequenos desafios matemáticos durante os jogos. A abordagem prática e envolvente dos meus pais e tios ajudou a construir uma base sólida e a tornar o aprendizado matemático uma parte natural da minha vida. Na escola, os professores complementavam esse aprendizado com métodos mais formais e estruturados. A combinação de diferentes estratégias, como o uso de materiais didáticos e a resolução de problemas, ajudou a consolidar os conceitos matemáticos. A escola também ofereceu um ambiente de socialização onde pude aprender com os colegas e participar de atividades que tornavam a matemática mais atraente e significativa.

Com a escola e o estudo em casa, comecei a desenvolver um gosto pelo aprendizado. Lembro-me de que meus pais e tios me incentivavam a “escrever” usando lápis e papel, muitas vezes tentando reproduzir letras que eles me mostravam. Naquele tempo, meus “textos” eram simples rabiscos e letras imprecisas, mas já era um começo interessante. Eu tinha cerca de 4 ou 5 anos quando comecei a explorar essas primeiras tentativas de escrita. Escrever era mais um jogo do que uma tarefa, e eu estava mais interessada em imitar o que via do que em produzir algo compreensível.

A experiência de escrever na escola foi emocionante e desafiadora. Lembro-me de como era gratificante ver minhas primeiras palavras e frases ganhando forma e de como os professores estavam sempre prontos para me encorajar. Eu era muito motivada a escrever, principalmente porque via a escrita como uma forma de expressar minhas ideias e sentimentos. Escrever pequenas histórias, listas e até mesmo diários era uma parte significativa da minha rotina escolar.

Nos primeiros anos da escola, escrevia sobre temas simples, como meus brinquedos favoritos, minhas férias e minhas atividades diárias. Esses textos eram curtos e muitas vezes consistiam em frases simples, mas eram extremamente importantes para mim. Escrever sobre o que eu conhecia e amava tornava o processo mais envolvente e divertido. Lembro que os professores me incentivavam a expressar minha criatividade e a experimentar diferentes tipos de textos. No começo, escrevia principalmente descrições de coisas do meu cotidiano e pequenos contos que criava a partir da minha imaginação. Gradualmente, à medida que ganhava mais confiança e habilidades, comecei a explorar outros formatos de escrita, como cartas, poemas e narrativas mais elaboradas.

Participar de atividades de escrita criativa e ver meus textos exibidos na sala de aula ou compartilhados com meus colegas foi uma grande fonte de orgulho e incentivo para mim. A escola ofereceu um currículo que incluía a prática constante da escrita, o que ajudou a solidificar os fundamentos que eu já havia começado a explorar em casa. Além disso, as atividades de escrita em grupo e as discussões em sala de aula enriqueceram minha experiência e expandiram minha compreensão da escrita como uma forma de comunicação e expressão.

Lembro de histórias que marcaram o início dessas experiências, como contos de fadas, fábulas e histórias ilustradas, adaptadas para minha faixa etária. Livros como “O Pequeno Príncipe” e “A Turma da Mônica” não apenas me divertiam, mas também começavam a ensinar lições sobre o mundo e sobre como expressar minhas próprias ideias. Na produção de textos, escrevia pequenos contos, descrições sobre meus brinquedos e relatos das minhas férias. Os professores incentivavam a criatividade, e frequentemente participávamos de projetos que envolviam a criação de histórias em grupo. Sempre usávamos a biblioteca da escola, onde eu podia mergulhar em diferentes mundos literários e encontrar materiais para meus projetos escolares. Frequentar a biblioteca também ajudava a cultivar o hábito da leitura e proporcionava uma sensação de autonomia na escolha do que ler.

Com o tempo, o ensino médio trouxe mudanças significativas. A escrita passou a envolver argumentação e análise crítica, exigindo maior rigor e estrutura. Essa mudança foi acompanhada por uma crescente apreciação pelo poder da escrita como ferramenta para influenciar e comunicar de maneira eficaz. Da mesma forma, a matemática no Ensino Médio se integrou em contextos mais complexos, como análise de dados e resolução de problemas práticos em ciências e economia. Essa aplicação prática ajudou a perceber a utilidade da matemática além do ambiente escolar e incentivou uma abordagem mais funcional para o aprendizado dos números.

À medida que avançava para o Ensino Médio e além, percebi que a educação era muito mais do que apenas acumular conhecimento; era sobre desenvolver uma capacidade crítica e uma apreciação profunda pela aprendizagem contínua. As habilidades que construí ao longo dos anos – tanto nas letras quanto nos números – formaram uma base sólida que não apenas me ajudou a ter sucesso acadêmico, mas também me preparou para enfrentar desafios diversos com confiança e criatividade.

A transição da infância para a adolescência trouxe novas responsabilidades e expectativas, mas as lições que aprendi desde cedo permaneceram como um guia constante. O incentivo que recebi da minha família e o suporte dos professores foram fundamentais para me mostrar que aprender é um processo contínuo e que a verdadeira educação é uma jornada de descoberta pessoal e coletiva.

Hoje, ao refletir sobre minha trajetória, sinto uma profunda gratidão por todos que contribuíram para meu desenvolvimento. O amor pela leitura e a paixão pela matemática, que começaram como curiosidades infantis, transformaram-se em ferramentas essenciais para minha vida acadêmica e profissional. Cada etapa dessa jornada me ensinou não apenas sobre o conteúdo que estudei, mas também sobre a importância de ser um aprendiz ao longo da vida.



SOBRE A AUTORA:

Jessica Yasmini Silva, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Minha trajetória escolar

Minha trajetória escolar

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Ilvona Mendes Pereira, Cristália/MG

Meu interesse pelas letras começou antes mesmo de eu ingressar na escola. Na minha infância, vivendo na zona rural, não havia creche ou pré-escola. No entanto, eu tinha a sorte de ter uma irmã e uma prima que frequentavam a escola. Elas chegavam em casa e me mostravam o que haviam aprendido, e eu ficava fascinada com as letras e palavras que começava a descobrir. Esse contato precoce com a leitura, mesmo sem a presença de livros em casa — já que meus pais não tinham frequentado a escola — foi um impulso significativo para o meu amor pela educação.

Aos 7 anos, ingressei na Escola Municipal Clarindo Barbosa. Minha primeira professora, Eriene, carinhosamente chamada de tia Erinha, era extremamente carinhosa e receptiva. A sala de aula era multisseriada, com conteúdos para três etapas diferentes. Apesar de eu ter começado no primeiro ano, a professora percebeu meu avanço e me promoveu para o segundo ano. Eu adorava as histórias dos livros, que me transportavam para mundos de fantasia.

O trajeto até a escola era longo e cheio de aventuras. Junto com minha irmã e minhas primas, percorríamos 60 minutos, atravessávamos dois rios e uma floresta. A caminhada não era cansativa, pois aproveitávamos para brincar e sempre voltava para casa com novas histórias para relatar aos irmãos mais novos.

Na minha casa, não havia energia elétrica. As tarefas que a professora passava eram feitas à luz de lamparina, abastecida por querosene. Nessa mesma época, minha mãe começou a frequentar a Igreja Cristã no Brasil e trouxe para casa uma Bíblia ilustrada. Todas as noites, passamos a ler a Bíblia e a cantar hinos do Cantor Cristão.

As visitas dos irmãos da igreja ocorriam com frequência e, sempre que isso acontecia, eu era chamada para ler a Bíblia. Esses momentos eram muito agradáveis e meu coração transbordava de felicidade ao ver o orgulho nos olhos dos meus pais por eu saber ler e entender o que estava lendo. Eu amava ler, e esses momentos em que todos se reuniam para ouvir a leitura da Bíblia eram especiais.

Meu pai tinha o hábito de contar histórias fascinantes todas as noites, antes de dormir. Todos se reuniam ao seu redor, e ele contava histórias que havia aprendido com sua mãe. Ao final de cada história, ele pegava uma espiga de milho, e cada um de nós contava quantas carreiras tinha. Quem tivesse mais carreiras era o vencedor e ficava isento da tarefa do dia seguinte. Foi assim que aprendi a contar. O próximo passo era contar os grãos, e meu pai usava esse método com sabedoria. Assim, ao mesmo tempo em que nos ensinava a contar, também debulhávamos o milho para alimentar as galinhas no dia seguinte.

Meus primeiros três anos na escola foram marcantes. Eu estudava na mesma comunidade em que morava; a escola não tinha biblioteca, apenas os livros didáticos que a professora usava. Ela tinha métodos para chamar a atenção dos alunos, mas não havia folhas impressas; todo o material era escrito no quadro com giz. A professora era responsável por tudo sozinha na escola: ela limpava a sala, fazia a merenda e ensinava três séries diferentes.

Quando a professora precisava sair para cozinhar, ela sempre deixava um aluno responsável por escrever no quadro. Todos queriam ser escolhidos, mas apenas os que cumpriam as normas da sala eram selecionados. Havia um rodízio, e cada dia a professora tinha um ajudante. Eu era muito tímida, mas amava ser escolhida e aguardava ansiosa pela minha vez. Escrever no quadro para todos era muito satisfatório.

Ao passar para a quarta série, não havia como continuar na comunidade, pois lá eram aulas apenas para os três primeiros anos do ensino fundamental. Então, enfrentei um novo trajeto, uma longa caminhada e novos desafios. Todos os dias, era necessário sair da minha casa às 14h30, fazer um trajeto a pé e pegar o ônibus escolar às 15h40. Dentro do ônibus, circulávamos por estradas de terra por mais seis comunidades até chegar à cidade onde estudávamos. Muitas vezes chovia, e as estradas ficavam escorregadias e barrentas, sendo necessário finalizar o trajeto a pé.

Minha professora do quarto ano se chamava Elizete; ela era muito carinhosa comigo e me apelidou de “minha baixinha”, pois era a aluna mais nova na sala, estudando com 11 anos à noite. Ao final de cada aula, havia uma casa do estudante onde uma senhora servia pão com leite, que era nossa janta, e ela ficava à noite para cuidar das meninas, onde eu dormia. Às 5 da manhã, tinha que estar de pé para voltar pra casa.

Mesmo nessa trajetória cansativa, eu nunca pensei em desistir; aproveitava o tempo no ônibus para dormir. Amanhecia o dia dentro do ônibus; para mim, era sempre uma aventura. Aproveitava o trajeto para ler o que tinha estudado em sala de aula. Com o passar dos anos, surgiu o interesse em ler romances. Conseguia pegar os livros emprestados com as colegas, e na nova escola havia biblioteca, tornando o acesso aos livros bem mais fácil.

Durante meu período de estudos, a comunidade onde eu residia passou a receber visitas frequentes dos responsáveis pela barragem de Irapé. Eles frequentemente traziam cartilhas informativas sobre o processo de reassentamento. Devido à construção da barragem, a área onde minha família vivia seria inundada, obrigando-nos a mudar para outro local. Meu pai assumiu o cargo de presidente da associação de moradores, e eu me tornei membro da diretoria, onde era responsável pela elaboração das atas e pela tesouraria.

Ainda na adolescência, fiz parte de um projeto, o “Pró Jovem”, do qual recebíamos uma bolsa do governo para estudar. Para isso, era necessário prestar serviço em alguma repartição pública como um estágio, uma preparação para a vida adulta.

Cada vez mais, sentia interesse pela educação, e nessa nova fase de reassentamento, a comunidade recebeu a doação de uma biblioteca. Minha família disponibilizou um espaço para receber a biblioteca chamada de Arca das Letras. Cada pessoa pegava um livro, lia e devolvia para que outras tivessem acesso. Tive acesso a vários livros, tanto didáticos quanto de famosos escritores.

No final do ensino fundamental I, aprendi a fazer redação a partir de um projeto em que o melhor texto de cada sala ganharia uma medalha. Fui homenageada e recebi a medalha de melhor redação da turma. Fiquei imensamente feliz e mais motivada a ler e buscar mais conhecimento.

Quando completei 18 anos, meu primeiro emprego foi em um projeto de alfabetização de Jovens e Adultos, o “Cidadão Nota 10”. O governo elaborava material voltado para a formação de adultos que não tiveram acesso à escola; com esse material em mãos, eu tinha a missão de transmitir um pouco do meu conhecimento. Foi um tempo de desafios, ensinamentos e muito aprendizado.

Em 2022, concluí o ensino médio e recebi meu primeiro livro com dedicatória da diretora, “Romeu e Julieta”, que guardo com carinho. Depois disso, cursei Técnico em Informática e Técnico em Alimentação Escolar, e finalmente obtive o Bacharelado em Administração Pública em 2022.

Atualmente, continuo buscando novos conhecimentos e mantendo o hábito da leitura, agora com foco em notícias e artigos científicos, pois estou ingressando no curso de Licenciatura em Pedagogia. Minha trajetória educacional é uma jornada de desafios e conquistas, marcada pelo amor pela aprendizagem e pela busca constante de crescimento pessoal e profissional.

Cada etapa da minha trajetória escolar contribuiu para moldar meu caráter e minhas aspirações. A jornada que começou em uma pequena escola rural me preparou para enfrentar desafios maiores e buscar novos horizontes no campo acadêmico e profissional.



SOBRE A AUTORA:

Ilvona Mendes Pereira, de Cristália/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Recordações

Recordações

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Glauciene Souza Rosa, Itamarandiba/MG

Meu sonho sempre foi fazer uma faculdade e, 22 anos depois, hoje, com 40 anos, estou realizando esse sonho. Voltando lá atrás, na minha infância, lembro-me da minha primeira escola. Ela era linda, muito grande e espaçosa, e o melhor: ficava no bairro onde eu morava, bem pertinho da minha casa. O que eu mais gostava nela era o laboratório; havia coisas tão esquisitas lá, mas eu achava interessante. Havia uma biblioteca muito grande e, como não existia esse tal de celular na minha época, nos reuníamos na biblioteca da escola para fazer pesquisas, estudar e realizar nossos trabalhos escolares, ou simplesmente para pegar um livro para ler. Era muito legal.

Lembro também de algumas professoras: umas eram muito bravas, outras mais boazinhas, mas todas eram muito dedicadas. Assim, comecei a aprender as primeiras palavrinhas, os primeiros números e a fazer continhas. Tudo isso aprendi só quando entrei na escola.

Vim de uma família muito simples e humilde, e meus pais eram analfabetos; não tiveram a oportunidade de estudar como eu tive e, sendo assim, não podiam me ajudar a ler, escrever e fazer contas. Para fazer as tarefas escolares, eu pedia ajuda para minha tia, que já era professora e me ajudou muito. Na minha época, poucas pessoas tinham televisão, e os jornais e revistas eram o nosso meio de notícias mais comum. Ficou um bom tempo assim até a tecnologia avançar e o jornal em papel diminuir. Hoje se vê pouco, mas ainda se vê.

O tempo foi passando e muita coisa foi mudando. Hoje, estou começando uma nova etapa na minha vida: estou tendo a oportunidade de fazer um curso superior, que era um sonho para mim anos atrás. Agora estou concretizando esse sonho, graças a Deus, que abriu essa porta pra mim.

Estou muito feliz e sei que há muita coisa diferente para eu aprender. Está sendo uma novidade atrás da outra, cada matéria diferente, cada aprendizado novo, coisas que eu nunca ouvi falar, mas que agora tenho a oportunidade de aprender. É bom ter novos desafios e novas experiências. Essa forma de estudo online, pra mim, será um desafio muito grande, pois é o primeiro curso online que faço na vida, e sei que vai exigir de mim muito esforço e dedicação pra seguir adiante. Mas sei que, com Deus à frente, tudo vai dando certo; o importante é não perder a fé.



SOBRE A AUTORA:

Glauciene Souza Rosa, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Relatos de leitura e escrita

Relatos de leitura e escrita

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Giovana Fernandes Lopes Silva, Grão Mogol/MG

Desde pequena, sempre tive muito interesse pelos estudos. Mesmo antes de ir à escola, já tinha contato com livros e cadernos dos irmãos mais velhos que já estudavam. Mesmo sem saber ler, folheava livros e observava as imagens, imaginando o que estaria escrito ali.

Quando pisei na escola pela primeira vez, não imaginava que aquele interesse aumentaria. A Escola Municipal Juvenal Andrade, uma escola pública localizada na zona rural, foi onde comecei a adquirir mais conhecimentos sobre leitura e escrita.

No primeiro dia de aula, estava um pouco ansiosa e comecei a chorar para voltar para casa, mas a professora da minha turma era como uma mãe; me acolheu e me convenceu a ficar. Daí em diante, não tive problemas com a adaptação. Lembro-me das folhas de desenhos impressas, com cheiro de álcool, dos recreios longos e até da merenda escolar. Estudava no turno da tarde e permaneci nessa escola até a quinta série. Logo depois, mudei para outra escola para continuar o ensino fundamental II.

Quando iniciei na nova escola, notei imediatamente as diferenças: era uma escola maior, com pessoas diferentes, disciplinas e regras distintas. O letramento já havia iniciado e começava a ser mais lapidado. A professora de Língua Portuguesa era exigente e determinada a nos ensinar para tirarmos as melhores notas nas produções de texto. Lembro-me também das viagens, gincanas e projetos educativos que complementavam o ensino. Ainda no ensino fundamental, havia projetos desenvolvidos pelos professores, que determinavam um tempo para lermos um livro e contarmos o que tínhamos entendido ou escrever um resumo das histórias.

Minhas notas sempre foram boas; sempre gostei de Biologia e de Língua Portuguesa. Minha dificuldade se concentrava em Matemática, mas não era algo que me reprovasse. Apresentar trabalhos à frente e falar ao microfone também eram meus pontos fracos. Apresentações de danças e teatros eram comuns em algumas datas.

A sala de informática era pouco usada, pois grande parte dos alunos tinha celular e acesso à internet, o que facilitava as pesquisas. Já a biblioteca era mais frequentada, pois os livros didáticos e de histórias eram utilizados em sala de aula. A televisão para ver filmes também estava na biblioteca da escola.

Ao longo do ensino fundamental, foram muitos aprendizados, e no Ensino Médio não foi diferente. Continuamos a jornada, porém com mais responsabilidade e maturidade, levando os ensinamentos mais a sério. As turmas eram divididas em primeiro, segundo e terceiro ano. Consegui fazer os dois primeiros anos presencialmente, mas o último não foi muito proveitoso, pois foi a época da pandemia de COVID-19 e tive que continuar os estudos em EaD.

Sem experiência em estudar praticamente sozinha, surgiram dificuldades, desde o uso da internet até entender e resolver as questões em casa, tópicos que ainda não haviam sido estudados em sala de aula. A conexão difícil também era um desafio. Tudo era visto com dificuldade, mas como novos desafios também.

Acredito que isso tenha diminuído não só o meu aprendizado, como o de muitos alunos da época, pois o estudo presencial e o EaD são, de certa forma, diferentes. Principalmente naquela situação, demorei a me adaptar a ter disciplina com os horários de estudos e a organizar minha rotina. Mesmo assim, terminamos o ano escolar; deu tudo certo, porém sem formatura.



SOBRE A AUTORA:

Giovana Fernandes Lopes Silva, de Grão Mogol/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Recomeços

Recomeços

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Geisiele Vieira Fernandes, Itamarandiba/MG

Minha história começa em um ambiente onde a educação formal era um privilégio inalcançável. Meus pais, que cresceram na roça, eram analfabetos e nunca tiveram contato com livros ou qualquer tipo de ensino escolar. A vida deles foi marcada por uma rotina de trabalho intenso e contínuo, com poucas oportunidades além da luta diária pela sobrevivência. Na roça, a realidade era dura: as dificuldades financeiras e as questões sociais se entrelaçavam, tornando cada dia uma batalha.
A ausência de educação formal na minha família não foi por falta de desejo, mas por falta de acesso e recursos. Essa ausência de oportunidades educacionais significava que a vida de meus pais era repleta de desafios, e o foco era simplesmente garantir o sustento, que muitas vezes vinha de trabalho em troca de farinha e fubá para termos o que comer à noite.
Apesar das limitações, o exemplo de força e perseverança que meus pais me proporcionaram foi uma lição valiosa. Eles enfrentaram as adversidades com dignidade e coragem, e esses valores foram passados para todos nós, filhos. A determinação deles, principalmente da minha mãe, para criar um futuro melhor, mesmo sem as ferramentas da educação formal, foi uma fonte constante de inspiração.
Hoje, ao refletir sobre minha trajetória, reconheço a importância das lições que aprendi com meus pais e a força que encontrei para superar os obstáculos. A história da minha família é uma prova de resiliência e de como a força interior pode transformar desafios em oportunidades para crescer e aprender.
Minha experiência com o ensino básico foi marcada por desafios significativos que refletiam a realidade difícil da vida na roça. A escola mais próxima ficava a cerca de duas horas de caminhada de nossa casa, o que tornava a ida e a volta muito cansativas. Sem acesso a mochilas, improvisávamos com sacolas de arroz para carregar nossos livros e cadernos. Cada ida à escola era uma jornada que exigia muito mais do que apenas tempo; era um teste constante de perseverança e resiliência.
Em casa, a falta de eletricidade nos obrigava a usar lamparinas para realizar as tarefas escolares à noite. O óleo diesel utilizado nas lamparinas frequentemente acabava sujando nossos cadernos e livros, tornando a tarefa de estudar ainda mais desafiadora. As condições precárias de iluminação e o desgaste constante dos materiais eram apenas alguns dos obstáculos que enfrentávamos.
As provas na escola eram realizadas em mimeógrafo, uma tecnologia simples que, embora útil, também refletia as limitações dos recursos disponíveis. A professora Elizabete Gonçalves fazia o possível para enriquecer nosso aprendizado. Ela distribuía as provas mimeografadas e fornecia revistas para que recortássemos e colássemos em nossos exercícios, tentando tornar o aprendizado mais dinâmico e envolvente.
Durante o período do ensino fundamental, minha jornada escolar foi marcada por dificuldades intensas e muitos desafios. A escola que frequentava estava localizada a cerca de 40 km de distância, no município de Itamarandiba/MG. Para chegar até lá, meu dia começava muito antes do amanhecer. Em dias secos, eu acordava às 3h30 da manhã; nos dias chuvosos, o despertador tocava ainda mais cedo, às 2h30. A caminhada até o ponto de ônibus escolar, que fazia o trajeto da roça até a cidade, levava aproximadamente 1h30. O retorno para casa era super desgastante, ocorrendo por volta das 14h30. Esse longo percurso não apenas demandava uma enorme dedicação e resistência física, mas também era um verdadeiro teste de perseverança diante das adversidades diárias.
Além das dificuldades no transporte, a fome era uma preocupação constante. Muitas vezes, a merenda oferecida pela escola não era suficiente para todos os alunos, e nossa família não tinha condições financeiras para suplementar nossa alimentação com comida comprada. Esse problema era agravado pela longa jornada, que fazia com que a fome se tornasse um desafio constante e uma fonte de desconforto.
A situação no ônibus escolar também era complicada. A estrada em péssimas condições causava grande desconforto devido à poeira e ao balanço do ônibus. Esses fatores, combinados com a fome, frequentemente resultavam em dores de cabeça intensas e episódios de náusea. Era um esforço constante para manter a concentração e a disposição durante todo o trajeto.
A situação tornou-se ainda mais difícil com a perda da nossa mãe. Sua ausência significava que não tínhamos ninguém para preparar a comida que precisávamos após a escola. Essa falta de apoio afetou profundamente nossa vida escolar e pessoal, tornando ainda mais difícil manter o foco nos estudos e lidar com as exigências diárias.
Após enfrentar inúmeras dificuldades durante o ensino básico e fundamental, consegui chegar ao ensino médio, um período que, embora ainda desafiador, trouxe algumas melhorias na minha trajetória educacional e pessoal. Durante o ensino médio, minha vida passou por algumas mudanças. Eu e duas irmãs, junto com meu pai, nos mudamos para o distrito de Itamarandiba/MG, conhecido como Contrato.
Essa mudança foi um ponto de virada, pois a escola onde passei a estudar, a Escola Estadual Betina Gomes, ficava a apenas 10 minutos de nossa nova residência. A proximidade da escola facilitou muito o acesso e aliviou algumas das dificuldades logísticas que enfrentávamos anteriormente. Com essa mudança, nossa rotina também começou a se transformar.
Na Escola Estadual Betina Gomes, minha experiência escolar teve momentos marcantes. Lembro-me com carinho da professora de Português, Carla, que nos desafiava a fazer encenações relacionadas a livros clássicos como “O Guarani” e “Iracema”. Mas eu tinha uma enorme dificuldade em participar; sempre fui muito tímida e calada, no meu canto. Além disso, no campo da matemática, tive a sorte de ser aluna do professor Marcos, que reconheceu meu empenho e dedicação. Ser considerada uma das melhores alunas da sala, apesar dos desafios que ainda surgiam, foi um grande reconhecimento.
O ensino médio, portanto, trouxe uma combinação de desafios e conquistas que foram fundamentais para meu desenvolvimento acadêmico e pessoal. Essa experiência mais estável e o esforço definiram minha trajetória educacional até então.
Após concluir o ensino médio, tive a oportunidade de iniciar meus estudos em Geografia na universidade. Esse foi um momento de grande esperança e entusiasmo, pois representava a continuidade da minha jornada educacional e o início de uma nova fase na minha vida acadêmica. No entanto, logo enfrentei desafios significativos que se mostraram difíceis de superar. Apesar do esforço e da dedicação que coloquei em meus estudos, questões financeiras acabaram se tornando um obstáculo intransponível. Infelizmente, fui forçada a interromper minha faculdade no segundo semestre.
A interrupção dos estudos superiores foi um período de adaptação e reflexão, pois precisei lidar com a realidade de que, por enquanto, a continuidade acadêmica não seria possível. Após essa experiência, um pouco mais tarde, iniciei a faculdade de Pedagogia em um processo seletivo pela UFVJM. Esse episódio, embora desafiador, faz parte da minha jornada e reflete a resiliência necessária para enfrentar as adversidades.



SOBRE A AUTORA:

Geisiele Vieira Fernandes, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Minha trajetória escolar e a pedagogia

Minha trajetória escolar e a pedagogia

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Eva Mendes Pereira, Cristália/MG

Na minha casa, éramos sete irmãos: cinco meninas e dois meninos. Desde cedo, eu já tinha contato com cadernos e livros das minhas irmãs mais velhas, que já sabiam ler e escrever. A curiosidade de aprender a ler, escrever e contar números como elas era enorme. Elas levavam livros da escola, cheios de histórias e imagens que eu adorava explorar. Passava horas observando as ilustrações e ouvindo os relatos sobre as histórias. Eu ansiava pelo dia em que pudesse ir à escola também.

Enquanto isso não acontecia, aproveitávamos qualquer tempo livre para estudar juntos. Usávamos pedras como quadros e carvão para escrever, criando salas de aula improvisadas debaixo das árvores ou cercadas com paus e folhagens. Essas atividades eram extremamente divertidas, e as merendas feitas com verduras colhidas da roça e da horta da minha mãe proporcionavam momentos deliciosos e simples.

Morávamos na zona rural, sem acesso a tecnologia ou energia elétrica. A iluminação era garantida por lamparinas com algodão e querosene. Minha mãe tinha uma bíblia que ela gostava de ler e compartilhar com a família, e os cânticos dos louvores tornavam os momentos em família ainda mais especiais. Meu pai e meus tios costumavam contar histórias que se tornaram preciosas memórias da minha infância.

O rádio de pilhas do meu pai era nosso meio de contato com o mundo exterior, permitindo-nos ouvir músicas e notícias da região.

Aos seis anos, comecei a frequentar a escola. Na zona rural, as turmas eram pequenas e a professora era atenciosa. No início, tive muita dificuldade com a escrita, mas minha irmã me ajudava sempre que eu precisava, sentando comigo para me ensinar.

O caminho até a escola era longo, e meus pais, ocupados com o trabalho na roça, não podiam me levar. Então, eu ia com meus primos. A distância era de quase uma hora, e eu precisava atravessar um rio e enfrentar as intempéries do tempo. Havia momentos em que meus primos me deixavam para trás, o que me deixava com muito medo. Eventualmente, mudamos para uma escola mais próxima, mas ainda assim, o percurso era de 30 a 40 minutos. A experiência na nova escola foi um pouco mais tranquila, e aos poucos fui aprendendo a ler e escrever bem.

Na quinta série, fui para a cidade para continuar meus estudos. O trajeto para a cidade era exaustivo: saía de casa às 9 da manhã, enfrentava uma longa ladeira até o ponto de ônibus e passava cerca de três horas no ônibus até chegar à escola. Voltava para casa à noite, por volta das 19 horas. A escola na cidade tinha uma biblioteca impressionante e uma sala de vídeos, o que era uma grande novidade para mim. Ter um caderno para cada matéria era fascinante, e eu não via a hora de começar as aulas para ganhar um caderno novo.

Sempre me dediquei a ser uma aluna exemplar e adorava participar de apresentações e peças teatrais na escola. Na oitava série, mudei-me para a cidade para morar com minha irmã e comecei a trabalhar em uma casa de família durante o dia, estudando à noite.

Após concluir o ensino médio, comecei um curso de Alimentação Escolar, que foi muito valioso para mim, e depois completei um curso técnico em Gestão de Administração, que ampliou significativamente meus conhecimentos. Em 2017, iniciei um bacharelado em Administração Pública, um campo que sempre me interessou pela sua relevância e impacto na sociedade, mas não consegui concluir devido a uma mudança de cidade.

Em 2019, comecei um curso técnico em Enfermagem. Estudei por dois anos e aprendi muito sobre a área da saúde, o que foi uma experiência enriquecedora e desafiadora. No entanto, quando engravidei, precisei trancar o curso para me dedicar à gravidez e ao novo papel de mãe.

Agora, estou iniciando um novo e empolgante capítulo da minha trajetória: a licenciatura em Pedagogia. Este curso representa a realização de um sonho antigo e uma oportunidade de aprofundar meu conhecimento na área da educação. Estou ansiosa para aprender novas abordagens pedagógicas e desenvolver habilidades que me permitirão impactar positivamente a vida de outras pessoas. A paixão pela educação, que começou na minha infância, nas simples aulas ao ar livre e na dedicação aos estudos, continua a me guiar e inspirar nesta nova etapa da minha jornada.



SOBRE A AUTORA:

Eva Mendes Pereira, de Cristália/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Meus letramentos e a pedagogia

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Erika Guimarães de Souza, Crisolita/MG

Do pouco que me lembro do início da minha alfabetização, recordo-me de minhas irmãs mais velhas com seus fichários, mas, por ser pequena, o que realmente me interessava eram as folhas com vários desenhos em suas bordas. Lembro também da minha mãe me dando um livrinho com a oração de “Salve Rainha” para folhear enquanto ela cuidava dos meus cabelos. Assim como nas missas, com os folhetos da liturgia, naquela época eu tinha conhecimento somente das letras do meu nome, por ter frequentado a creche desde muito cedo.

Recordo-me de aprender a escrever meu nome quando ingressei na escola, com minha primeira professora, tia Celeste, em 2005. Nesse mesmo período, aprendi a contar; lembro-me de me sentar debaixo da mesa enquanto minha mãe lavava roupas e contar de 1 a 100. Era bem certinho, mas, quando chegava a 101, eu dizia “cem um, cem dois” e assim por diante.

Sempre rolava uma briguinha pela televisão: quando minha mãe mandava desligar, minhas irmãs sempre pediam mais cinco minutos, e eu, por não saber diferenciar, pedia mais cinco segundos e não entendia por que o tempo que elas pediam parecia demorar mais, enquanto o tempo que eu pedia passava muito rápido.

Sempre estudei na mesma escola, do fundamental até concluir o ensino médio. Às vezes, tínhamos encontros na biblioteca, mas não eram para leitura, e sim para ver filmes ou vídeos. Já no ensino médio, tive bastante dificuldade em matemática, mas gostava muito de interpretação de textos. Contudo, mesmo gostando de interpretar, não gostava de ler.

Vejo que a leitura e a interpretação são onde devo dar mais atenção, pois sei que a leitura tem o poder de nos transportar para lugares e épocas diferentes. Enriquece nosso vocabulário e nos mostra um mundo cheio de possibilidades.

Agora, ao me ingressar no curso de pedagogia da UFVJM, um curso que sempre foi meu sonho, mas que, por um tempo, parecia tão distante, estou começando, graças ao incentivo da minha irmã.



SOBRE A AUTORA:

Erika Guimarães de Souza, de Crisolita/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Meu caminho

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Elaine Pereira de Sousa, Pedra Azul/MG

Meu primeiro contato com material escolar aconteceu quando eu era uma criança de seis anos. Filha de pais analfabetos, minha mãe precisou fazer um tratamento de saúde em São Paulo e ficamos hospedadas na casa de uma tia, onde meu primo estava começando a dar seus primeiros passinhos no mundo literário. Nesse primeiro momento, tive acesso a recortes de revistas, desenhos e letras para colorir, pequenos livros de contos e histórias; conheci também a TV e o teatro.

Ao retornar para minha fazenda natal em Minas Gerais, fui matriculada em uma escolinha da zona rural. Parecia uma casinha simples feita de pau a pique; a sala de aula era multisseriada, com uma professora à moda antiga. Ela carregava uma vara enorme, utilizada para apontar o conteúdo no quadro negro e também para bater nas carteiras, fazendo um barulho chato para chamar nossa atenção.

Meu caminho para a escola era cansativo, mas também divertido. Todos os dias, acordava bem cedinho com o cantar do galo e o cheirinho de café feito no fogão a lenha. Era um percurso de cinco quilômetros; meu maravilhoso pai me levava todos os dias montada em um jumentinho. No caminho, cantávamos, ríamos, contemplávamos a natureza e chorávamos também. É claro que havia dias mais difíceis.

Na segunda série, tive o privilégio de conhecer o carinhoso tio Joaquim, um professor dedicado que não media esforços para ensinar. Assim, apaixonei-me pela escola e todo o seu conteúdo. Os recursos na zona rural eram bem limitados, então eu aproveitava as aulas prestando bastante atenção e, em casa, brincava de escolinha, utilizando as paredes da minha casa e carvão vegetal para reproduzir os ensinamentos aprendidos. Brincava também de escrever na areia e nas árvores.

Meu primeiro contato com matemática — somar e dividir — foi na escola. Logo colocamos isso em prática. No caminho, havia uma vendinha onde eu e uma colega comprávamos balas e nos sentávamos no chão dizendo: “uma para você, uma para mim”. No final, contávamos quantas balas restavam para cada uma. Assim, fomos aprendendo. Nesse mesmo período, tive contato com dinheiro, mas lembro que, no início, reconhecia as cédulas pelos animais ali representados.

Meus pais, embora analfabetos, foram fundamentais para minha formação. Sempre ao meu lado, minha mãe fazia questão de sentar à mesa e acompanhar o fazer do dever de casa. Embora não soubesse me ensinar, eu guardo com orgulho esse apoio moral. O cansaço de toda a jornada escolar, as horas em um ônibus, morar longe de meus pais e conciliar trabalho com os estudos à noite no ensino médio não me ajudaram muito. Eu realmente passei a me apaixonar por ler livros em 2015, quando fui apresentada a eles por uma amiga de trabalho.

Nesse mundo rico em saber, com infinitas possibilidades de um novo dia, quero continuar no meu caminho, buscando cada vez mais e aproveitando cada chance para dar um passo mais alto.



SOBRE A AUTORA:

Elaine Pereira de Sousa, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Lembrando da minha vida escolar

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Débora Ferreira Passos Souza, Águas Formosas/MG

Acho que o primeiro livro com o qual tive contato em casa foi a Bíblia da minha mãe. Desde pequena, ela me levava, a mim e aos meus irmãos, à Igreja Presbiteriana. Lá, tive meus primeiros contatos com os livros infantis, que eram sobre personagens da Bíblia, e eu ficava fascinada com as histórias que as professoras contavam. Na escolinha dominical da igreja, havia teatro de fantoches, apresentações, jogral e cantatas. Em casa, eu gostava de folhear as revistinhas da escola dominical, admirando as imagens e imaginando o que estava escrito. Lembro que, uma vez por semana, alguns vizinhos se reuniam em nossa casa para um estudo bíblico, onde minha mãe usava um livro grande chamado “Grupos Familiares”, que continha as lições que ela lia a cada semana.

Quando entrei na escola aos 5 anos, já conhecia os números e as letras, então não demorou muito para eu começar a escrever e ler. Recentemente, ao mexer em uma gaveta que guarda alguns dos meus tesouros (bilhetes, cartinhas, livro de recordações que as colegas de sala escreviam, coisas antigas), encontrei um caderno da minha turma do pré e meu convite de formatura do “prézinho”. Minha mãe guardou tudo com muito carinho e, quando me casei, levei-o pra minha casa.

Como eu choro por qualquer coisa, chorei ao lembrar daquele tempo e do dia em que fiz o convite. A capa foi escrita à mão por cada aluno, com um girassol, e cada pétala tinha o nome de um colega. No dia da formatura, cada aluno ganhou um livro de presente. O meu livro tinha o título “Dom Gatão”, e eu amava esse livro; lia e relia, e ele ficou comigo por longos anos. Lembro que, alguns anos depois, minha mãe comprou uma coleção de doze livros infantis, um para cada mês do ano, e cada livro tinha uma história para cada dia. Nós amávamos ler essas histórias.

Todas as escolas em que estudei tinham bibliotecas, e os professores nos incentivavam a ter o hábito da leitura. Alguns livros que me marcaram durante o ensino fundamental foram “Cachorrinho Samba”, em suas versões “Na Fazenda” e “Na Floresta”, além de “Viagem pelo Ombro de Minha Jaqueta”. No ensino médio, eu lia por obrigação e não tinha prazer na leitura. A disciplina de Literatura nos obrigava a ler clássicos, que eram livros bem mais difíceis de entender. Li “Os Sertões”, “Quincas Borba”, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, entre outros. Porém, o que me traz uma boa lembrança é o livro “Iracema”.

Lembro que a professora dividiu a turma em grupos, e todos tinham que fazer um trabalho sobre o livro. Meu grupo fez um filme representando a história, e um pai de um colega tinha uma câmera filmadora em VHS, algo raro na época. Ele filmou e nós encenamos com figurino e tudo, à beira de um rio. No dia da apresentação na escola, foi um evento passar essa filmagem, e fomos o grupo com o melhor trabalho. Então, guardo com carinho a lembrança da índia dos lábios de mel.

Quando tive meus filhos, preocupei-me em incentivá-los à leitura. Em casa, sempre havia livros para eles, mesmo antes de aprenderem a ler. Na hora de dormir, eles já sabiam que era hora da história. Pegavam a Bíblia ilustrada e a gente contava histórias até eles adormecerem.

Vinte e quatro anos depois de me formar no ensino médio, aqui estou eu, abraçando a oportunidade de fazer o curso de Pedagogia pela UFVJM. Hoje, não tenho o mesmo gosto pela leitura que tinha quando era mais nova. No entanto, a vida acadêmica está me cobrando e estou tentando me adaptar.



SOBRE A AUTORA:

Débora Ferreira Passos Souza, de Águas Formosas/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Relatos de leitura e escrita

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Daniela de Paula dos Santos, Cristália/MG

Quando eu era criança, muito antes de entrar na escola, não tinha acesso a textos escritos, porque na comunidade onde eu morava com a minha família não havia livros, folhetos, jornais ou revistas. Devido à falta de recursos da comunidade, não havia escola. Era tudo muito difícil, até mesmo o acesso à comunidade.

Algum tempo depois, eu e minha família tivemos que nos mudar, pois a CEMIG iria dar início à barragem de Irapé. Com isso, nos mudamos para outro lugar, onde comecei a ter acesso a alguns textos escritos. Meu primeiro contato com um texto escrito foi através de uma Bíblia. Mesmo não sabendo ler, eu folheava as páginas da Bíblia, sempre com a vontade de aprender.

Um tempo depois, minha mãe me colocou na escola. Eu ainda não sabia ler nem escrever, mas já sabia contar até 10. Na época, eu tinha 5 anos. Meus primeiros anos na escola foram os melhores; eu estava sempre muito ansiosa para ir, porque a cada dia era um aprendizado a mais. Eu ficava muito feliz quando aprendia algo novo e, com o passar do tempo, fui aprendendo a ler e a escrever.

Quando estava no quarto ano do ensino fundamental, minha mãe, juntamente com meu pai, comprou um kit de livros para mim e meus irmãos. No kit, havia um livro com várias continhas de matemática, e assim fui aprendendo aos poucos a somar e a subtrair, sempre com o auxílio dos professores e da minha família.

Lembro que eu pegava giz na escola para brincar de escolinha com minhas irmãs em casa. Na hora da brincadeira, a gente discutia muito, porque eu sempre queria ser a professora. Quando tinha a oportunidade de ser a professora, passava algumas continhas que aprendia na escola para elas resolverem e ditava algumas palavras para que escrevessem. Quando elas terminavam, traziam o caderno para que eu corrigisse as atividades. Nós nos divertíamos muito com isso; para nós, era a melhor brincadeira que existia.

Na minha escola, havia uma biblioteca, e os funcionários permitiam que nós, alunos, levássemos um livro de historinhas para casa todos os dias, com o intuito de ler e devolver no dia seguinte. Uma vez, a escola doou livros didáticos para os alunos, e eu levei alguns para casa. Fiquei muito contente, pois estava sempre lendo, escrevendo e buscando mais conhecimento através dos livros.

Quando passei para o quinto ano do ensino fundamental, já sabia muitas coisas e tive uma excelente professora, que nunca mediu esforços para me ajudar. Ela fazia de tudo para que eu aprendesse, desenvolvendo várias brincadeiras e trabalhos legais com a turma, a fim de ajudar no processo de aprendizagem. No mesmo ano, minha família resolveu se mudar para uma cidade no interior de São Paulo. Para mim, foi muito bom, pois me desenvolvi ainda mais na prática da leitura e da escrita. Fiz o sexto ano também na cidade do interior de São Paulo e tive o prazer de participar da minha formatura no Programa de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD). Tudo isso que vivenciei foi uma experiência incrível, pois fiz muitas coisas que nunca imaginei realizar.

Um tempo depois, minha família decidiu voltar para o norte de Minas. Viemos embora, mas trouxe comigo muito aprendizado e conhecimento. Comecei a estudar na minha escola novamente e já estava no sétimo ano do ensino fundamental. Sempre fazia todas as atividades que meus professores passavam e me esforçava bastante para entregar os trabalhos nas datas previstas.

No oitavo ano, estudei com meu irmão. Ele me motivava muito a fazer todas as atividades e a ir para a escola todos os dias. Estávamos sempre ajudando um ao outro em tudo; fazíamos nossas atividades, trabalhos e tarefas juntos. Isso foi motivo de muita alegria para mim.

No nono ano, tivemos que parar de estudar por conta da pandemia, mas um ano depois voltamos. Ainda não podíamos estudar presencialmente, mas utilizamos os PETS, que nos permitiram estudar em casa. Um tempo depois, já no primeiro ano do ensino médio, tive minha filha e precisei abandonar os estudos para me dedicar a ela.

Mas, algum tempo depois, decidi voltar a estudar. Como não tinha com quem deixá-la, precisei levá-la comigo para a escola. A conclusão do ensino médio foi um desafio para mim. Era muito difícil fazer as atividades, trabalhos e provas com a minha filha, apesar de sempre ouvir das pessoas que eu nunca conseguiria finalizar os estudos com uma criança. Sempre tive o apoio, primeiramente, de Deus e também da minha família. Minha mãe e meu pai estavam comigo em tudo, me incentivando a ser melhor todos os dias. Eles sempre me diziam que meu futuro dependia apenas de mim, então consegui concluir o ensino médio com muita fé e dedicação.

Hoje, no meu primeiro ano de universidade, percebo que me desenvolvi bastante na prática da leitura e estou tentando, aos poucos, me aperfeiçoar na escrita. Acredito que, com o auxílio dos professores e a minha força de vontade, conseguirei.

Essas mudanças podem trazer muitas coisas positivas, pois nos ajudam a aprender mais. Estou sempre acompanhando e lendo o que os professores mandam, porque isso é muito importante para que possamos entender o que é passado para nós e facilitar na hora de fazer as atividades.

Eu tenho um pouco de dificuldade com os textos universitários, mas, de acordo com o ensinamento dos professores, irei conseguir e ter mais facilidade com esses textos. Acredito que o ensino médio me preparou para lidar com questões financeiras e entender a importância do controle financeiro.



SOBRE A AUTORA:

Daniela de Paula dos Santos, Cristália/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

A improvável que tem dado certo

A improvável que tem dado certo

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Daiane Monteiro Rocha, Pedra Azul/MG

Caro e gentil leitor, vamos voltar um pouco no tempo. O ano era 1990, mais precisamente 19 de maio. Naquele dia, nascia no Hospital Ester Faria de Almeida, na pequena cidade de Pedra Azul, Daiane Oliveira Rocha, que mais tarde passou a se chamar Daiane Monteiro Rocha. Eu era a filha caçula de um casal que tinha mais sete filhos, sendo duas meninas e cinco meninos, moradores da zona rural em uma fazendinha a 4 km da cidade.

Minha infância foi bem divertida, sem muito luxo, mas cheia de amor e carinho; repleta de sorrisos fáceis, abraços quentinhos e, no fim das tardes, quase sempre fazíamos uma roda ao redor do fogão a lenha para ouvirmos meu pai contar suas histórias de antigamente, sempre acompanhados de uma garrafinha de café e biscoitos de chuva passados no açúcar com canela. Hum… posso dizer que vivi intensamente, sendo rica em tudo o que o dinheiro não pode comprar, colecionando, assim, memórias afetivas que moldaram a pessoa que sou hoje. Na época, a vida escolar era um pouco mais difícil em relação às melhorias que vejo hoje.

Hoje, as crianças que moram na zona rural não precisam se mudar para a cidade para estudar; temos vans e ônibus que levam e trazem esses estudantes. Quando meus irmãos chegaram à época de estudar, fomos separados; cada um se mudou para a casa de um familiar. Sofremos muito na época porque éramos bem próximos e, com isso, só nos víamos aos fins de semana e nas férias. Quando chegou a minha vez de estudar, felizmente, os parentes não queriam ficar comigo, pois eu adoecia muito com asma, e uma criança com asma traria muitos problemas para eles. Minha mãe, então, decidiu comprar uma casinha na cidade e reunir todos os filhos espalhados para que pudéssemos ficar juntos novamente, debaixo do mesmo teto. Mas foi necessário que meu pai continuasse morando e trabalhando na fazenda, pois o sustento de toda a família vinha de lá. Sendo assim, aos fins de semana, íamos todos para a fazenda ficar com ele; às vezes arrumávamos carona, outras vezes era necessário irmos a pé. Minha mãe me matriculou na escola Dr. Carlos Américo, que ficava na mesma rua da casa que compramos. Quando comecei a estudar, tinha 6 anos e faria 7 no meio do ano.

Lembro-me de ver minha mãe preocupada, sem saber se eu daria conta de acompanhar a turma, pois meus coleguinhas já haviam feito o pré-escolar, ou seja, já tinham uma certa noção das coisas e, inclusive, uma coordenação motora bacana para a idade. Eu sabia contar até vinte, que meu primo Marcos me ensinava sempre que ia para a fazenda, e as cores que minha irmã Andrea me ensinou. Eu até via eles fazendo as tarefas e lendo os livros deles, mas queria mesmo que eles terminassem logo para brincarem comigo.

Quando nos mudamos para começar os meus estudos, conheci uma amiga muito especial que me convidou para ir ao culto infantil da Igreja Presbiteriana do Brasil. Eles faziam um trabalho maravilhoso com as crianças. Fui a esse culto e recebi minha primeira revistinha em quadrinhos, bem colorida e cheia de desenhos. Quando recebi a notícia de que era minha e que eu podia levar para casa, fiquei muito feliz. A revista contava a história de Noé colocando os animais na arca após ouvir o Senhor.

Logo depois de alguns meses, comecei a aprender a escrever, ler e reconhecer cédulas, o que foi maravilhoso para mim, pois pude ajudar meu pai a vender queijos na feira livre. Lembro-me de como ele ficou orgulhoso e brincou dizendo que eu já podia sair rapidinho e voltar já sabendo vender. Não tínhamos acesso a computador; meus pais tinham pouco estudo e não passaram da quarta série. Eles relatam que a vida deles ainda era bem mais difícil que a nossa; por isso, faziam questão de nos incentivar a estudar.

Voltando a dizer o quão maravilhoso foi aprender a escrever, lembrei-me de que passava na televisão uma novela chamada “O Diário de Daniela.” Todas as meninas da época queriam um diário e saber escrever nesse diário, então, ah, era incrível. Eu escrevia tudo o que se passava durante o dia, desde o que comia no café da manhã, as travessuras do dia e a última oração à noite. E, pasmem, achei esse diário outro dia; foi tão gostoso ver minha letrinha infantil, algumas palavrinhas erradas, mas ao mesmo tempo fiquei tão orgulhosa de mim. Na minha escola, não tínhamos uma biblioteca; as leituras dos livros eram feitas debaixo de grandes árvores cheias de flores que nos forneciam uma sombra fresca.



SOBRE A AUTORA:

Daiane Monteiro Rocha, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Vida escolar

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Charline Lima Silva Marques, Águas Formosas/MG

Lembro-me pouco da minha infância na vida escolar, mas, claro, alguns acontecimentos ficaram guardados na minha memória. Quando comecei a ler, por volta dos seis para sete anos, tudo que via escrito nas ruas — nomes de lojas, placas, propagandas, pacotes de biscoitos, estampas de ônibus, entre outras coisas — eu sempre passava lendo em voz alta. Tudo era novidade, e eu achava o máximo conseguir juntar as letras.
No 2º ano do ensino fundamental I, a diretora da escola queria aplicar uma prova para me pular para o 3º ano, mas minha mãe preferiu que eu continuasse no ano de acordo com minha idade. Lembro-me de que, naquele ano, consegui ajudar bastante meus colegas nas atividades de sala. Isso aconteceu porque tinha acabado de mudar de cidade, e a escola anterior em que eu estudava estava bem mais adiantada em comparação à nova escola.
Sempre tive mais facilidade nas áreas exatas; minhas melhores notas sempre foram em matemática, física e química. Minha mãe teve um papel importante nesse fator, pois acho que parte dessa facilidade, principalmente em matemática, foi herança genética. Ela já era professora do ensino fundamental e, quando completei onze anos, terminou a graduação em matemática. Acho que posso usar a expressão “filho de peixe, peixinho é”; com ela, aprendi a amar matemática.
Nos anos iniciais na escola, não tive dificuldades em aprender as letras e juntá-las, talvez pelo fato de ser filha de professora e de ter sido sempre incentivada em casa com histórias e livros infantis. Com o passar dos anos escolares, mesmo com esse incentivo na infância, o português nunca foi uma paixão, mas sempre tive boas notas nessa matéria. Toda semana, pegava um livro na biblioteca da escola para ler, e lembro que muitas vezes fazíamos até teatro sobre alguns livros no ensino fundamental.
A prática com os números sempre fez mais sentido para mim; aprendi com muita facilidade a trabalhar com dinheiro, por exemplo, e fazia contas de cabeça com muita agilidade. A língua portuguesa também foi de suma importância, pois sem a leitura não conseguimos fazer praticamente nada. Durante todo o período escolar, sempre tive excelentes professores de língua portuguesa e matemática, o que foi muito importante para meu desempenho.
Minha habilidade com números sempre ajudou muito em minhas questões financeiras. O ensino médio fez parte disso, assim como a língua portuguesa, pois é através dela que consigo ler, compreender e interpretar várias situações no meu cotidiano.
Esse primeiro ano de graduação, assim como os próximos, será cheio de desafios, e espero que traga muitas mudanças nos meus hábitos de leitura e escrita, pois sei que preciso melhorar muito nessa área. Sou encantada por quem escreve um bom texto com facilidade. Espero me encantar pelas letras assim como sou encantada pelos números durante o curso de graduação em Pedagogia.



SOBRE A AUTORA:

Charline Lima Silva Marques, Águas Formosas/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Memórias da minha vida escolar

Memórias da minha vida escolar

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 Catiane Aparecida Mezede Gomes, Capelinha/MG

Lembro-me de que o primeiro contato que tive com a escrita na minha infância foi antes mesmo de iniciar minha vida escolar. Através de jornais que chegavam à minha casa, embalando compras que minha mãe fazia no supermercado, eu os folheava. Como não sabia ler nem escrever, e meus pais não tinham muito tempo para me incentivar na leitura e na escrita antes de eu entrar na escola — por trabalharem na roça — era muito corrido e difícil para eles darem esse apoio a mim e a meus irmãos. Portanto, era apenas uma curiosidade de criança olhar as gravuras ou fotos que havia nos jornais. Como era comum usar jornais para embalar compras, para mim eram simplesmente papéis.

Aos seis anos de idade, comecei a frequentar a escola. Tudo era novo para mim; não sabia contar os números, não conhecia as letras do alfabeto; tudo era novidade, mas fui aprendendo conforme me ensinavam. Estudava em uma escola rural que, naquela época, não tinha muito a oferecer: não havia biblioteca, muito menos livros. Era apenas uma sala de aula, e o professor nos conduzia. Lembro-me bem desse início: a leitura não era muito incentivada porque não tínhamos acesso a livros, então a prática da escrita era trabalhada na sala de aula, com o professor escrevendo no quadro ou através de fichas e textos que reescrevíamos em casa. E assim foi até eu concluir a fase pré-escolar.

Quando entrei no primeiro ano, minha família se mudou para a cidade, onde tive acesso a uma escola melhor, com biblioteca. Comecei a ouvir as primeiras histórias que a professora contava, como contos, fábulas e outros, tendo a oportunidade de ter contato com os livros. Assim, nos primeiros anos da minha vida escolar, foi assim: mais prática na escrita e, aos poucos, na leitura.

O tempo passou, concluí o ensino fundamental e desenvolvi uma boa relação com os números e a escrita. No entanto, por ter tido pouco incentivo e prática com a leitura, surgiram dificuldades em interpretação e produção de textos. No ensino médio, comecei a ter mais contato com a leitura, e o incentivo à leitura de livros literários e atividades com eles na sala de aula se tornaram mais frequentes. Contudo, devido à falta de prática da leitura durante o tempo na escola, a dificuldade persistia no dia a dia. Com muito esforço e dedicação, fui progredindo nas minhas produções de textos e até mesmo em atividades como interpretação.

Ainda assim, sentia a necessidade de mais melhorias. No último ano do ensino médio, despertei o desejo de tentar concursos públicos e tive a oportunidade de fazer um cursinho para essa finalidade. Isso representou um grande avanço para mim e proporcionou um aprimoramento na escrita como um todo.

Sem dúvida, a falta de leitura ao longo da minha trajetória escolar na infância comprometeu um pouco meu desenvolvimento intelectual. Contudo, com muito esforço e dedicação, consegui superar essas dificuldades. Hoje, estou feliz por poder ingressar na faculdade de Pedagogia, onde pretendo aprimorar ainda mais meus conhecimentos na área da educação. Com toda a minha bagagem de infância, desejo contribuir de forma positiva na vida das crianças, incentivando a leitura.



SOBRE A AUTORA:

Catiane Aparecida Mezede Gomes, de Capelinha/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Minha jornada literária pessoal

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Cassie Fernandes, Águas Formosas/MG

Desde a minha infância, o acesso a textos escritos sempre foi presente em minha vida. Minha mãe e minha avó, sendo evangélicas, constantemente liam a Bíblia, além de panfletos da igreja e outros materiais religiosos, como livros e revistas. Meu avô, sempre sentava comigo em um banco velhinho de madeira que tinha no quintal e me contava inúmeras histórias (às vezes repetia várias vezes a mesma, porque eu implorava pra ele contar de novo) sobre as aventuras de Pedro Malasartes, e todas as suas travessuras.

Ele sempre me contava também, diversas histórias de quando ele era jovem e trabalhava na roça, sobre os animais selvagens que ele já tinha visto de longe e de perto, sobre as plantações e sobre a linhagem familiar de todo mundo que ele conheceu, e que eu não fazia ideia de quem eram, mas ouvia tudo atentamente, tentando guardar cada detalhe comigo. Esse ambiente familiar me proporcionou um contato precoce e frequente com materiais de leitura, histórias e produção de textos, pois eu vivia imaginando diversas aventuras e histórias como as de Pedro Malasartes.

Minhas primeiras lembranças relacionadas à leitura e contagem estão associadas ao meu avô, que me ensinou a contar até vinte. Embora os detalhes desse aprendizado sejam um pouco vagos e mesclados pelo tempo, eu me lembro que ele desempenhou um papel fundamental nesse processo. Da mesma forma, foi com ele que aprendi a reconhecer e entender o valor do dinheiro. Apesar de ser analfabeto naquele período, meu avô me ensinava a utilizar as moedas que me dava para comprar doces na vendinha próxima da minha casa, explicando o valor de cada uma e o que poderia ser comprado com elas, assim como o troco.

Eu tenho uma lembrança muito carinhosa que eu guardo comigo, e essa é uma das únicas que eu me lembro com perfeição, pois eu já tinha uns 13 anos, e eu e meu avô estávamos deitados no chão, olhando pro céu, na área de casa e ele estava me contando pela milionésima vez uma história de Pedro Malasartes (eram minhas favoritas, e eu nunca me cansava delas) e eu estava tão entretida na história que não percebi um filhotinho de lagartixa entrando na minha blusa, até ser tarde demais. E quando eu a senti encostando em mim, foi o caos absoluto, mas também foi um dos melhores dias da minha vida, pois daquele dia em diante eu tinha minha própria história engraçada pra contar, e o melhor, era compartilhada com a pessoa que eu mais amava nesse mundo.

Quando eu estava na pré-adolescência, meu avô decidiu iniciar seus estudos e conseguiu se formar no ensino fundamental. Ele aprendeu, entre outras coisas, a escrever o próprio nome, um dos maiores orgulhos que ele tinha. Tive o privilégio de acompanhar e ajudá-lo nas atividades escolares, fazendo as tarefas e ajudando-o com a leitura. Esse período foi muito especial, pois pude retribuir um pouco de tudo que ele fez por mim, ajudando-o a conquistar algo tão importante. Infelizmente, ele não está mais aqui para me ver formada, mas o amor e a gratidão que sinto por tudo o que ele me ensinou permanecerão comigo para sempre.

Ao ingressar na escola, não tenho uma lembrança clara se já sabia realizar operações matemáticas, mas sempre me destaquei na resolução de problemas nos anos iniciais do ensino fundamental. Naquela fase, os problemas eram bastante simples, e eu costumava obter notas máximas nas provas de todas as matérias. No entanto, ao avançar para o ensino médio, comecei a enfrentar dificuldades maiores com matemática e exatas no geral, e passei a concentrar meus esforços na área que eu mais gostava e tinha facilidade que era e é, linguagens.

Tanto a escola quanto a minha família desempenhou um papel crucial em meus letramentos matemáticos iniciais. Esse período da vida é marcado por uma grande facilidade de aprendizado, e contar com o apoio e a dedicação de pessoas dispostas a me ensinar, mesmo com suas próprias limitações, foi de extrema importância para meu desenvolvimento e motivação para aprender cada vez mais.

Em relação à escrita nos primeiros anos escolares, embora minhas memórias não sejam tão detalhadas, lembro-me de ser incentivada a escrever, desde pequenas frases até textos mais elaborados. Sempre fui uma aluna dedicada, o que fez com que os professores me dessem atenção especial. Embora isso possa ter criado um ambiente de favoritismo, o que é péssimo em uma sala de aula, contribuiu significativamente para desenvolver meu gosto pela leitura e escrita.

Quanto aos textos que lia e produzia ao longo da escolaridade, me lembro de, no ensino fundamental, ter ganhado de minha mãe um kit de livrinhos com histórias bíblicas, que se tornou um verdadeiro tesouro para mim. No ensino médio, já era uma leitora ávida, frequentando bibliotecas e construindo um acervo pessoal de livros, além de ler em formato digital, primeiro através do celular, mas logo comprei meu dispositivo Kindle, e pude realmente criar minha própria biblioteca digital.

Todas as escolas que frequentei tinham bibliotecas, e os professores sempre incentivaram o uso desse espaço. Contudo, muitas vezes, as atividades escolares relacionadas à leitura não despertavam meu interesse, pois os livros sugeridos não condiziam com minhas preferências e com os gêneros literários que eu costumava amar ler. Minha relação com a leitura sofreu uma mudança significativa aos 14 anos, quando ganhei o livro “O Chamado do Monstro” de presente. Esse livro teve um impacto tão profundo em mim, me levando a desenvolver um amor intenso e profundo pela leitura.

 Como uma pessoa LGBTQIAPN, minha vida foi marcada por desafios como bullying e repressão em todos os lugares que eu costumava frequentar, especialmente na escola e na igreja evangélica que minha mãe frequentava e me levava junto, e a leitura se tornou uma forma de escapar disso e viver outras realidades mais afáveis que a minha. Em 2016, descobri a plataforma Wattpad, onde escrevi meu primeiro livro, que estou atualmente reescrevendo para disponibilizar na Amazon Kindle em formato de ebook.

No meu primeiro ano de universidade, em 2018, a principal mudança em meus hábitos de leitura e escrita foi o foco nos conteúdos acadêmicos. O maior desafio foi a escrita do meu artigo de conclusão de curso, que, apesar de ser sobre um tema que eu amo, exigiu muito de mim devido à sua complexidade, mas apesar disso eu consegui entregar um trabalho completo e coerente com meu tema escolhido.

Ainda mantenho a prática da leitura autônoma, principalmente sendo artista, estou sempre lendo peças teatrais e estudando sobre teatro, mas agora, ao iniciar um novo curso, ajusto minha rotina para conciliar as leituras orientadas pelos professores com aquelas que escolho por conta própria, reconhecendo o valor e a importância de ambas. Dito isso, meus gêneros literários preferidos são fantasia, romance, ficção científica e poesia.

Quanto à administração das minhas finanças, percebo que o ensino médio não me preparou adequadamente para os desafios econômicos e burocráticos da vida adulta. Atualmente, busco aprender por conta própria, utilizando os recursos tecnológicos disponíveis para adquirir novas habilidades e conhecimentos necessários para a vida cotidiana. Atualmente a tecnologia e a informação estão literalmente nas nossas mãos, e eu odeio me sentir ignorante diante de qualquer tema, então estou sempre pesquisando e aprendendo sobre coisas novas e relevantes para meu crescimento pessoal e profissional.

Hoje, o Kindle é meu dispositivo de leitura preferido. A praticidade de transportá-lo, o vasto acervo digital disponível, e a possibilidade de ler diversos ebooks em inglês para aperfeiçoar minhas habilidades de leitura e escrita nesse idioma tornaram-se ideais para minhas necessidades. Além disso, o Kindle permite que eu tenha acesso a uma infinidade de títulos sem ocupar espaço físico, o que é especialmente importante considerando o tamanho limitado do meu quarto. Dito isso, estou ansiosa para adquirir um modelo mais recente e ampliar minha rotina de leitura.

Por fim, a leitura e a escrita sempre foram paixões que me acompanharam ao longo da vida, moldando quem sou e ampliando meus horizontes. Meu amor por essas atividades continua a crescer, e é meu desejo um dia ver alguns dos meus livros publicados em formato digital e físico, compartilhando com outros as histórias e ideias que significam tanto pra mim.



SOBRE A AUTORA:

Cassie Fernandes, de Águas Formosas/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Letramento e religião

Letramento e religião

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Bruna Tiele Gomes, Itamarandiba/MG

Minha mãe não terminou os estudos, embora seu sonho fosse se formar e ser professora, um objetivo que estava distante da sua realidade. Ela compreendia o valor da educação e o quanto ela faz falta; por isso, sempre incentivou a mim e aos meus dois irmãos a estudarmos e nos deu todo o seu apoio. Recordo-me de quando estava aprendendo a ler: ela constantemente me perguntava o que formava B com A, C com E, e assim me ajudava a treinar as sílabas.

Durante minha alfabetização, meu pai estava fazendo supletivo, já que ele também não havia concluído os estudos. Nós tínhamos horários dedicados para as tarefas: no tapete da sala, ele escrevia em seu caderno enquanto eu fazia o meu dever de casa. Esse apoio da minha família foi fundamental para que eu desenvolvesse o gosto pela aprendizagem e valorizasse a educação.

Quando comecei a ler, a escola não tinha uma biblioteca, então nosso acesso à literatura era restrito aos textos dos livros didáticos ou às folhas que a professora trazia, passadas no mimeógrafo. No entanto, em casa, eu tinha acesso a diversos livros e revistas porque meus pais eram Testemunhas de Jeová e, devido à nossa religião, a leitura era uma prática comum. Eu possuía dois compêndios de histórias: “Meu Livro de Histórias Bíblicas”, um livro de capa dura amarela que era meu favorito, e um outro chamado “Aprenda Com O Grande Instrutor”.

Na adolescência, eu não me enturmei muito e, para passar o tempo, mergulhei na leitura. Eu baixava livros em PDF e os lia no computador e, depois, no celular que ganhei. Conheci muitos personagens inspiradores, histórias envolventes, vivi enredos dramáticos e, assim, me apaixonei por ler.

Hoje, infelizmente, não tenho tanto tempo para ler como antes, mas ainda mantenho o gosto pela leitura, tanto de histórias quanto das matérias da minha religião. Acredito que o hábito de ler constantemente me tornou uma pessoa mais inteligente e consciente. Todos deveriam ter a oportunidade de explorar o universo da literatura e se beneficiar dele.



SOBRE A AUTORA:

Bruna Tiele Gomes, Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Da roça eu via no horizonte a educação

Da roça eu via no horizonte a educação

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Ana Paula Chaves Lopes, Pedra Azul/MG

Nasci em uma fazenda no município de Pedra Azul, MG, em uma família extremamente humilde. Minha infância foi marcada pela simplicidade e pelas dificuldades que enfrentávamos no dia a dia. A vida no campo era dura e desafiadora, mas também repleta de aprendizados valiosos e experiências únicas.

Nos primeiros anos de vida, meu acesso a livros e números era muito limitado. A educação formal parecia distante, e eu só comecei a frequentar a escola aos sete anos, quando passei a morar com meus avós na cidade. Naquele momento, ainda não sabia ler nem escrever. Minha única interação com a leitura vinha dos folhetos da igreja frequentada por meu avô, onde eu passava o tempo observando as imagens e tentando compreender o que elas significavam.

Minha jornada educacional começou na escola Levy Roberto, com a ajuda fundamental da professora Clarisse. Ela desempenhou um papel crucial no meu desenvolvimento, usando histórias para despertar meu interesse pela leitura. Através de suas aulas envolventes, aprendi a escrever meu nome e a reconhecer algumas palavras. Foi um momento decisivo, pois a leitura se tornou uma nova paixão, e comecei a entender a importância da educação para meu futuro.

Na casa dos meus avós, havia uma televisão e um aparelho de DVD. Enquanto meus avós escutavam música religiosa, eu comecei a explorar desenhos e filmes. Um dos meus favoritos era “Scooby-Doo”. Eu adorava acompanhar as aventuras de Scooby e seus amigos, tentando desvendar os mistérios e descobrir quem eram os verdadeiros “monstros”. Esses momentos de lazer foram importantes para meu desenvolvimento emocional e para a construção da minha imaginação.

Durante o período escolar, minha timidez era uma barreira significativa. Eu tinha dificuldade em interagir com meus colegas e em me expressar na sala de aula. No entanto, um projeto especial sobre a história da formiguinha foi um ponto de virada. A professora Clarisse introduziu um trabalho em grupo que envolvia cantar e apresentar para a turma. Esse desafio me ajudou a superar minha timidez e a me integrar melhor com meus colegas. A experiência me ensinou a importância da colaboração e da comunicação.

Na infância, a noção de dinheiro era bastante rudimentar. Eu só conhecia o valor de um real, que meus pais e avós me davam para comprar balas. Para mim, esse valor era significativo, pois era uma forma de adquirir algo que me trazia prazer. Aos sete ou oito anos, comecei a aprender noções básicas de matemática, como adição e subtração. Ajudar meus avós na feira livre foi crucial para desenvolver minha compreensão de somas e valores. Eu vendia café, requeijão, queijo e laranja, e essas atividades me deram uma perspectiva prática sobre a economia e a matemática.

Quando comecei a frequentar a escola, enfrentar problemas matemáticos era um grande desafio. A falta de atenção dos meus pais, que estavam ocupados com as tarefas da fazenda, e a necessidade de trabalhar para garantir nosso sustento contribuíram para a minha dificuldade inicial. No entanto, a escola foi essencial para meu progresso. A dedicação da professora Clarisse e minha motivação para aprender foram fatores determinantes para superar esses desafios.

Aos oito anos, comecei a entender o alfabeto e a escrever com mais clareza. Meu entusiasmo por escrever era evidente, e eu passava horas praticando, especialmente com o meu nome. A escola foi um ambiente fundamental para meu crescimento educacional, e o apoio dos meus avós, que tinham uma barraquinha na feira, foi vital para meu desenvolvimento.

Durante o ensino fundamental, lembro-me das aulas de história com a professora Dinorá. Aprendi sobre a evolução da sociedade desde o homem das cavernas até o Brasil contemporâneo. Esses conhecimentos foram aprofundados no ensino médio, onde explorei temas como a Descoberta, a Colonização, o Imperialismo e a República.

Em 2009, tive a oportunidade de estudar em uma escola maior, que possuía uma biblioteca bem equipada. Eu passava horas lendo o dicionário, sempre curiosa para descobrir o significado das palavras e expandir meu vocabulário. A presença de computadores nas bibliotecas também foi um marco importante, permitindo-me acessar novas informações e aprofundar meus conhecimentos.

Quando chegou o ensino médio, um mundo de descobertas se abriu à minha frente, mas que logo teve que ser interrompido devido a uma gravidez na adolescência, que ocorreu no segundo ano. Fiquei quase um ano afastada, pois a gravidez era de risco. De tempos em tempos, a escola me enviava uma prova ou outra para que eu fizesse em casa e não ficasse tão prejudicada. Graças a Deus, a gravidez seguiu com tranquilidade até o fim, e no ano seguinte retornei.

Atualmente, estou cursando Pedagogia e continuo buscando aprimorar minhas habilidades. Fiz um curso de magistério que me aprofundou ainda mais no amor pela leitura e pelo ensino. A rotina de trabalho tem limitado meu tempo para leitura, mas pretendo equilibrar melhor meu tempo entre estudos e leitura. A faculdade tem sido uma experiência enriquecedora, e estou ansiosa para aplicar o conhecimento adquirido para contribuir com a educação e ajudar outras crianças a superar desafios semelhantes aos que enfrentei.

Minha jornada desde a infância na fazenda até a atualidade tem sido marcada por desafios e superações. Cada etapa foi essencial para moldar quem sou hoje, e a educação desempenhou um papel fundamental em minha vida. Agradeço a todos que contribuíram para meu desenvolvimento e espero poder retribuir, ajudando outros a encontrar oportunidades e superar obstáculos.



SOBRE A AUTORA:

Ana Paula Chaves Lopes, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Um mundo de descobertas através da leitura

Um mundo de descobertas através da leitura

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Ana Carolina de Oliveira, Itamarandiba/MG

Sou a irmã mais velha de cinco irmãos e, desde pequena, tive inúmeras atividades em casa, como ajudar a cuidar dos irmãos menores e nas tarefas domésticas. Sempre fui apaixonada por leitura, e ir para a escola era meu sonho. Mesmo antes de começar a frequentar a escola, minha mãe me ensinou o alfabeto e os números, e eu sempre tive muita curiosidade para aprender coisas novas, o que despertava meu interesse em aprender a ler e escrever.

Iniciei na escola aos cinco anos e me lembro de que, ao começar a aprender a ler, eu parava para ler todas as fachadas nas ruas e fazia minha mãe me esperar para terminar de ler. Assim como os livros e revistas aos quais tinha acesso em casa, na escola e na igreja, eu juntava as sílabas e nutria um grande desejo de aprender a ler. Recordo que tinha um relógio despertador com aquele toque estrondoso que me acordava todas as manhãs para ir à escola. Quando ele parava de funcionar ou a pilha acabava e eu perdia a hora de ir à escola, chorava muito porque não gostava de faltar às aulas; realmente amava estar ali para aprender.

O tempo passou, e eu passei a ler rapidamente, o que foi uma vitória, pois agora poderia mergulhar no mundo da leitura. Na escola, havia um dia de leitura na biblioteca em que cada aluno deveria ler um livro e contar à supervisora o que havia lido. Lembro-me de uma vez em que fui à biblioteca e li o livro tão rapidamente que me perdi na história e não consegui explicar corretamente para a supervisora, que me chamou a atenção por isso. O que mais amava ler eram as histórias em quadrinhos; eu me sentia vivendo aquelas narrativas. Minha mãe e minhas tias me incentivavam a ler, dando-me livros e gibis.

Quando me reunia com meus primos na roça, debaixo de uma árvore, brincávamos de escolinha, fazíamos a lição de casa e eu gostava de ler as histórias e livros da escola, assim como usar feijões para somar e subtrair, ensinando minha prima, que tinha dificuldade em matemática, porque eu amava ensinar e brincar de ser professora. Também ajudava meus irmãos a fazer a lição de casa, utilizando lápis nas contas, feijões e o que tínhamos disponível.

Eu lia muito, e isso contribuiu para que eu tivesse uma boa escrita em comparação aos meus colegas. Gostava tanto de escrever que até escrevia cartas para o namorado da minha tia a pedido dela, pois ela não gostava de escrever. Achava isso o máximo e, em toda oportunidade, estava eu lendo ou escrevendo. Também amava copiar no quadro quando a professora solicitava; assim, escrevia a matéria e depois transcrevia para o meu caderno, o que me proporcionava ter mais contato com a escrita e a leitura. No entanto, percebo que os professores da época incentivavam a leitura e a escrita, mas não nos ensinavam a interpretar, o que ocasionou uma deficiência, visto que toda leitura requer interpretação.

Mesmo gostando de ler, também amo matemática e me recordo de que, no terceiro ou quarto ano do ensino fundamental, a professora nos pediu um caderno para a tabuada. Durante um tempo, todos os dias, ela solicitava que fizéssemos os fatos de 2 a 9 de multiplicação e divisão, e ainda nos chamava para perguntar, o que contribuiu muito para meu desenvolvimento com os cálculos. Os trabalhos de matemática eu fazia com êxito e ainda ajudava os colegas.

Os anos se passaram e, bem jovem, comecei a trabalhar como babá. Todos os dias, lia histórias infantis para a menina que cuidava, com tanto amor e entrega que ela decorou todos os livrinhos. Ela pegava os livros e falava como se estivesse lendo, mas na verdade havia decorado as histórias de tanto que eu as contava para ela. As tardes eram maravilhosas, despertando nela o gosto pela leitura, e hoje ela é uma moça super estudiosa e dedicada aos estudos. Depois, trabalhei com a mãe dela, que era uma professora que tinha uma escolinha de reforço. Ali, eu ajudava a ensinar as crianças a fazerem suas lições e a estudar para as provas, o que me permitiu ter mais contato com livros e números. Muitos achavam que eu tinha jeito para professora, me incentivando a fazer pedagogia ou áreas afins.

O contato que tive com a leitura ao longo do tempo foi fundamental para minha jornada estudantil. No entanto, com o passar dos anos, ao parar de estudar e com a correria do dia a dia, fui diminuindo o interesse pela leitura, lendo apenas livros que me interessavam. Hoje, para mim, é um desafio conseguir me sentar, concentrar e ler um livro acadêmico, pois às vezes não compreendo por ser uma leitura mais formal. Isso se deve ao grande incentivo que tive para ler, mas não ao mesmo para interpretar o que lia. Assim como o contato com os números, aprendendo cálculos e equações diversas, saí do ensino médio sem aprender nada de gestão financeira e investimentos.

Observo que o ensino que recebi era mais teórico do que prático, e hoje isso faz falta na realidade em que vivo, pois o mercado de trabalho exige muito de nós, mas a escola nos ensina muitas coisas que nunca utilizaremos. Ao ingressar em uma faculdade ou tentar um concurso público, percebemos o quanto achávamos que estávamos preparados e descobrimos que não estávamos. O ensino oferecido até o ensino médio é bom, mas pode melhorar muito mais para que possamos sair mais bem preparados para o mercado de trabalho e/ou para a faculdade.



SOBRE A AUTORA:

Ana Carolina de Oliveira, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Vida: amor sem limites

Vida: amor sem limites

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Alice Cleia Lopes Pereira

Capelinha/MG

Nasci em uma família simples e humilde, e vou contar um pouco da minha história para vocês. Somos cinco irmãos, vindos de uma família simples. Desde pequenos, meus pais saíam cedinho para trabalhar. Conosco, em casa, vivia a minha avó, que era viúva; havia perdido o marido em um acidente no passado. Ela era nossa avó e babá ao mesmo tempo, e todos os dias, de manhã, meus pais, com aquela mesma rotina sofrida de trabalho duro na roça, saíam de casa bem cedo e só retornavam à tardezinha, com o sol se pondo. Vovó estava sempre ali, cuidando de nós.

Anos se passaram e aqui começa a fase mais empolgante e curiosa da vida de todos nós. Quando somos crianças, os pais chegam e falam com a gente: “Filho, te matriculei na escola. No ano que vem, você vai estudar.” Isso era no final do ano, para começar a estudar no início do próximo. A gente fica contando nos dedos cada dia e cada semana, ou seja, é um modo de dizer. Todo dia eu perguntava: “Mãe, que dia é hoje? Mamãe, falta muito para a escola começar?” A gente estressava a mãe tanto com as perguntas que ela quase dava umas varadas na gente.

Antigamente, em minha casa, o acesso a textos escritos era muito raro e difícil, pelo fato de morarmos em uma roça bem distante da cidade. O pouco acesso que tínhamos naquela época era através de livros e textos religiosos, como, por exemplo, a Bíblia.

Minha avó frequentava muito a igreja, como faz até hoje, e sempre recebia aqueles livrinhos de lições bíblicas. Então, levava para casa e nos dava para olharmos aquelas imagens de Jesus. Nós ficávamos tão felizes quando víamos e ouvíamos as histórias da arca de Noé, de Jesus e seus discípulos, Caim e Abel. Eu amava essas histórias, como a do irmão que tinha inveja do outro e acabou o matando, Sansão, e muitas outras.

Chegando ao fim do mês, meus pais iam à cidade fazer compras, e, como éramos cinco irmãos, havia aquela combinação: cada mês um de nós ia. Eu ia à cidade uma vez por ano e, quando chegava lá, via aqueles senhores de idade sentados nos bancos da praça, lendo aquele maravilhoso jornal. A gente, todo abobalhado, olhava com enorme curiosidade, perguntando por que os velhos ficavam escondidos atrás daquelas enormes folhas. Voltávamos para casa pensando naquilo tudo e contando os dias para voltar à cidade e ver aquela cena maravilhosa, que hoje, praticamente, no nosso dia a dia, não se vê mais.

Eu não gostava muito de ler, mas passei a conhecer a leitura e a gostar um pouco através de um livro chamado A Princesa de Théo, que uma colega havia me emprestado algum tempo atrás e contado uma parte do que acontecia no livro. Então, despertei o interesse em ler e gostei.

No ano de 2012, meu pai, Valdir Pereira Rodrigues, foi candidato a vereador. Gente, nessa hora eu falo que você sabe até quem é parente. As pessoas te menosprezam, te maltratam com palavreados, e outras usam a política para pedir. Entre esses constrangimentos todos, nos trajetos e caminhadas, tive a oportunidade de conhecer uma escritora maravilhosa: Marlene Mendes. Fui presenteada por ela com um de seus livros, Escrito no Olhar. Concluí então a leitura do livro que havia pegado emprestado anteriormente. Os livros publicados por ela são apaixonantes. Eu amava, e toda a juventude que lê também ama.

Voltando um pouco no tempo, sou de pouca memória, não me lembro muito bem de como e quando aprendi, mas lembro que eu já estava na escola e não conseguia somar nem diminuir. Minha mãe, para nos ajudar, ensinava a fazer uns risquinhos com o lápis e contá-los. Para diminuir, da mesma forma, ela fazia os risquinhos e apagava a quantidade que era para diminuir, contando quantos sobravam. E assim sucessivamente.

Quando cheguei à escola, tive uma dificuldade imensa de aprendizagem por ser tímida, e, até hoje, tenho essa dificuldade. Falando em somar e diminuir, me lembro de quando eu e meus irmãos íamos “catar café”. Na época, vendíamos o que chamávamos de “medidas”. Uma medida de café por 1 real. Quando chegávamos em casa, nossos pais ensinavam assim: “Tira 10 centavos para vocês comprar bala, vai dar três balas, o resto vocês juntam para comprar algo de mais valor quando forem à cidade.” Assim fomos aprendendo a somar com as moedas que guardávamos e a diminuir com as que tirávamos. A matemática, para mim, foi difícil, mesmo com os grandes esforços dos professores.

Tenho muito pouca lembrança de antes de frequentar a escola, de como aprendi a ler e escrever. As primeiras letras, lembro que minha avó, lendo o livro bíblico, nos ensinava as letras da capa do livro. E assim por diante, já comecei a ter curiosidade pelas letras e pelos números. Logo, os anos se passaram e era hora de começar a estudar. Comecei na escola com 7 anos de idade. Estava ali todo dia, mesmo sendo um sacrifício, como falei anteriormente. A escola era longe de casa, e não havia transporte coletivo.

Os anos foram passando, cada dia ficando mais difícil e mais cansativo, mas eu amava a nova experiência que era o estudo. Eram grandes as motivações dos professores, que estavam ali, tentando dar o máximo, impulsionando e ajudando da melhor forma, começando pelas histórias em tirinhas, frases e versos, para os alunos ficarem mais interessados pelo aprendizado.

Desde criança, eu “amava” ir à escola. No fundamental I, eu não podia perder um dia de aula. Eu chorava o dia todo; mesmo se fosse por doença, não queria saber. Com atestado em casa, minha mãe tinha que me deixar ir. Quando chegava à escola, passava mal e tinha que ficar esperando na secretaria até acabar a aula para ir embora. Junto, ia um bilhete para não deixar eu ir enquanto não melhorasse.

Já no fundamental II, as coisas se complicaram um pouco mais. Comecei a repetir de ano e a ter muita dificuldade no aprendizado. Eu estava chegando ao ponto em que o professor explicava a matéria, e eu não entendia nada. Nunca fui uma criança bagunceira na escola. Chegou a um certo ponto em que minhas notas escolares começaram a ficar muito baixas. Foi então que os professores começaram a reclamar para meus pais. Me lembro que, sempre que tinha reunião, eu apanhava ou ganhava um castigo, e isso só ia piorando cada vez mais.

Chegando ao ensino médio, ainda enfrentava a mesma dificuldade de aprender, guardar e memorizar as coisas. Um professor notou que, apesar de prestar atenção nas aulas e não brincar, minha nota era muito baixa. Ele percebeu que havia algo errado e me chamou em particular para ver o que estava acontecendo. Como eu disse a ele que não sabia o porquê, ele convocou meus pais sobre a situação e sugeriu procurar um tratamento para entender o que estava acontecendo. Passei então por um especialista em neuro e faço tratamento até hoje. Tomo medicamento para ansiedade, mas ainda não consegui superar essa parte do meu desenvolvimento e raciocínio. Tenho muita dificuldade.

No segundo ano do ensino médio, casei-me aos 16 anos e fui embora da minha cidade natal para Nova Serrana, à procura de emprego. Chegando lá, comecei a trabalhar durante o dia e estudar à noite, mas não consegui ir muito longe. Estava se tornando uma rotina muito cansativa e estressante a cada dia. Acabei abandonando os estudos.

Em 2012, retornei para minha terra natal. Estava desempregada, então comecei a me dedicar novamente aos meus estudos. Não estava trabalhando, mas tinha um filho pequeno, então foi um pouco complicado. Muitas vezes, tive que levar a criança para a escola, mesmo com o pai cuidando, mas a criança chorava muito. Com o apoio de toda a minha família, principalmente meu marido, que me apoia até hoje, estou onde estou. Só tenho que agradecer.

Sempre corro atrás para tentar melhorar minha leitura e escrita. Já fiz aulas para corrigir erros ortográficos, mas não tive sucesso. No início, a gente pergunta para que servem os números, mas, quando vamos crescendo e desenvolvendo, e precisando deles no dia a dia, sabemos o quão grande é a importância deles. Eles se tornam uma necessidade em praticamente tudo.

Agora que estou começando um novo nível da minha vida, com força e vontade para caminhar, aproveitar e desenvolver minha leitura e minha escrita, percebo que tudo na vida, nos primeiros dias, é complicado, até entendermos, compreendermos e pegarmos a prática dia a dia. As mudanças nas nossas vidas são novidades que vêm para renovar, trazer coisas novas e nos motivar.

Sempre que possível, tento me orientar, ler as matérias que os professores mandam, mesmo que, em um dia, já tenha esquecido tudo. Tenho preguiça, mas gosto de ler. Falando em texto, não só universitário, mas qualquer tipo de texto, tenho enorme dificuldade. Sempre há alguns gêneros adoráveis, como romance e relatos de viagens. A matemática, por sua vez, faz a diferença nas vidas de todos nós. Onde quer que se ande, precisamos dela. Gosto muito, mas não deixa saudades. Adoro a matemática simples, mas aquela matemática moderna de hoje, meu Deus, me deixa perdida.

Falando em condições financeiras, ainda não posso dizer muito sobre isso, pois não tenho um salário, não tenho uma renda, mas não sou aquela pessoa que gasta à toa, sem precisão. Consigo lidar em qualquer situação. Eu, particularmente, acredito que sim, administro muito bem. Não vou dizer 100%, mas 70% é o que afirmo hoje, na posição em que me encontro.



SOBRE A AUTORA:

Alice Cleia Lopes Pereira, de Capelinha/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Aprender a ler e escrever sem ter o que comer

Aprender a ler e escrever sem ter o que comer

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Abelino Reis Sales, Fronteira dos Vales/MG

Na minha vida, tudo começou de forma difícil. Nasci em uma pequena cidade do interior da Bahia chamada Itanhém. Aos 4 meses de idade, fui abandonado pelo meu pai, que nem sequer quis colocar o nome na minha certidão de nascimento.

Minha mãe e minha avó foram as minhas bases familiares. Mulheres analfabetas, lavradoras do campo, plantavam e colhiam frutas da roça para levar até o mercado municipal da cidade de Itanhém/BA e vendê-las. Com os lucros, podiam trazer o sagrado alimento para o humilde lar.

No deslocamento entre a roça e a cidade Itanhém/BA, por vezes, minha mãe contava histórias sobre mitos folclóricos. Eram quilômetros de caminhada a pé para chegar até a cidade, mas, fizesse sol ou chuva, as duas mulheres guerreiras ainda assim levavam no lombo do seu jegue uma criança e balaios com farinha de mandioca, entre outros itens, para vender.

Fui crescendo e observando o modo de vida sofrido que essas pessoas levavam; contudo, não tenho recordações do que ocorreu na roça, lembrando apenas da vida na cidade. Lembro-me de que, aos 6 anos, surgiram as lembranças da escola, dos amigos de infância e do trabalho árduo de minha mãe para que seu filho pudesse estudar. Por vezes, ela trabalhava em casas de família para trazer apenas um pouco de alimento para que eu pudesse ir à escola.

Lembro-me de que, naquela época, só poderia ir para a escola com uniforme, porém minha família não podia arcar com os custos. A solução eram as doações de uniformes de estudantes do ano anterior, que não lhes serviam mais. Com eles, eu me vestia e ia para o colégio. Outra motivação era a merenda, alimento que não tinha em minha casa.

Não gostava de faltar às aulas por nenhum motivo, pois ali encontrava colegas, brincadeiras e voltava para casa de barriga cheia. Na minha sala de aula, havia muitas pessoas com mochilas, estojos, cadernos de capa dura, canetas de colorir, tênis, entre outros objetos que eu não possuía. Meu material escolar era uma sacola de pano onde levava um caderno brochurão, lápis, borracha e apontador, que era um pedaço de ponta de faca.

Na época da minha escola, nos anos iniciais, não sofri bullying e, mesmo sendo negro, nunca me senti discriminado. Contudo, a única separação que existia era que a turma A era dos filhos de professores e a turma B, do restante dos alunos.

Certa vez, aos 10 anos, escrevi minha primeira carta para minha querida madrinha, que havia me pedido que escrevesse contando o que eu queria de presente no meu aniversário. Eu escrevi que queria um carrinho de mão para poder trabalhar e ajudar minha mãe. Ganhei o carrinho de mão e comecei a pegar feira para as pessoas idosas, ganhando minhas primeiras moedas. Com elas, podia comprar um pastel ou alguma guloseima no intervalo da escola.

Na quarta série, percebi que tinha facilidade em matemática, pois comecei a aprender a decorar a tabuada e a tirar as melhores notas da sala e do colégio. Com isso, comecei a ser mais bem visto pelos colegas, a ser admirado pelas meninas e a ganhar notoriedade.

Minha forma de aprender era prestando atenção e memorizando o que o professor falava em sala de aula, pois os livros naquela época eram comprados. Como eu não tinha condições financeiras, escrevia tudo no caderno para fazer uma boa prova. No ensino fundamental, começou uma revolução, pois no colégio começamos a ter aulas de inglês e informática, uma situação nova para mim. Alguns colegas tinham computador em casa, e eu, como sempre, não tinha nem televisão nem geladeira. Para aprender inglês, alguns colegas diziam que assistiam a filmes e ouviam músicas estrangeiras. Com certa razão, inglês não é o meu forte.

Era preciso vencer todos esses obstáculos que a vida colocava na minha frente; e eu, como sempre, uma pessoa destemida, encarava tudo isso sem medo e sem vergonha, mantendo o foco. Ano após ano, eu fazia mais amigos na escola e era convidado para ir à casa dos colegas fazer trabalhos escolares. Muitos queriam ficar perto de mim para receber “cola” nas provas de matemática. Certa vez, no ensino médio, já nas provas finais, quando eu, claro, já havia alcançado as notas para aprovação no terceiro bimestre, fiz a prova de duas colegas para que não ficassem de recuperação.

Uma vez, peguei recuperação em história, e foi aquele chororô, pois jamais tinha acontecido. Mostrei novamente a minha capacidade intelectual. Peguei um livro na biblioteca, estudei durante duas semanas e, no dia da prova, fiz 95 pontos; ou seja, minha dedicação foi determinante.

Estudar é prazeroso, e na época da minha escola não havia recursos tecnológicos para imprimir provas. Lembro-me de que precisávamos levar papel “chamequinho” para as professoras usarem em nossas atividades. As atividades eram primeiro datilografadas e, depois, passavam por uma máquina manual chamada mimeógrafo, que magicamente transferia a tinta de um papel para o outro. Às vezes, até os alunos ajudavam.

Na minha rua moravam duas professoras. Uma delas sempre me dava revistas velhas para eu ler e recortar para fazer alguns trabalhos escolares. A gente percebia o quanto era corrida a vida delas, pois chegavam em casa com aquele monte de provas para corrigir, além de fazer plano de aula para o dia seguinte; era um amontoado de material. Eu, certa vez, ajudei-as a corrigir provas.

Hoje, entendo por que nossos pais, parentes e professores sempre diziam que, para ter um futuro melhor, “tem que estudar”. Assim, fui estudando e cheguei à graduação. No ensino médio, quando saí do interior para procurar uma vida melhor em Belo Horizonte/MG, tive dificuldade em concluir o terceiro ano.

A escola ficava cerca de 4 quilômetros da minha residência e, como não tinha dinheiro para pagar o ônibus, era uma hora de caminhada entre carros, motos e caminhões, o que atrasou minha formação. Na cidade grande, há inúmeros desafios, e os professores já não eram tão acolhedores como no interior. Além disso, as pessoas eram desconhecidas, com relações mais complexas do que aquelas que a gente conhece desde a infância.

Foi com muita luta, determinação, coragem e sabedoria que a minha história de vida mudou para melhor. Foi através da educação que conheci uma amiga e colega de classe chamada Enedineia, que me apoiou quando morei em Belo Horizonte/MG. Após o ensino médio, comecei a estudar matemática com ela.

Ela desejava fazer o concurso da PMMG (Polícia Militar de Minas Gerais). Eu, como sempre, não tinha dinheiro para comprar a apostila. Aos sábados, após o meu trabalho, deslocava-me a pé para o bairro onde ela morava, a uns 5 quilômetros do meu, e ensinava matemática para ela, além de aprender mais com as apostilas.

Comecei a ver que as matérias exigidas não eram muito difíceis, e foi ali, todos os fins de semana, ensinando e aprendendo, que ela falou: “Você tem capacidade de fazer essa prova.” Fiquei pensando, mas não tinha dinheiro para pagar a inscrição nem computador para fazê-la. Criei coragem e pedi um adiantamento ao meu patrão. Com o dinheiro, fui a uma lan house e fiz a inscrição.

Novamente, com esforço e dedicação, e com os conhecimentos adquiridos no ano de 2006, em meu primeiro grande concurso, com mais de 50 mil candidatos inscritos, fiquei entre os 2 mil classificados e ingressei como soldado na PMMG. Estou na instituição há 18 anos, na atual função de sargento.

E aquelas palavras de minha mãe e dos professores sempre serão levadas enquanto eu viver: “Estude, estude!” Acredito que a mudança em cada um de nós depende de sacrifício, dedicação e força de vontade.



SOBRE O AUTOR:

Abelino Reis Sales, de Fronteira dos Vales/MG, é acadêmico da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Apresentação

Apresentação

Logo abaixo pode ser lido o texto de apresentação do sexto volume da coleção Memórias de Letramentos. Cada um dos 50 textos serão publicados nesta página, além do formato e-book e impresso (clique no banner ao lado ou no fim da página.

É com satisfação que apresentamos uma nova coletânea de narrativas, a sexta da série, que reflete diferentes experiências de vida marcadas por práticas sociais com a leitura, a escrita, os números e as aprendizagens decorrentes. Trata-se de cinquenta textos que nos levam a refletir sobre a importância da educação em nossas vidas e o poder transformador da palavra escrita e da leitura de mundo.  Os autores e autoras são futuros pedagogos, estudantes da disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, em que o processo de escrita e edição deste livro ocorreu. Neste volume, desde os primeiros anos de vida até os desafios da vida adulta, cada autor e autora compartilha suas memórias, aprendizados e reflexões sobre o papel da escola, da família e de suas relações sociais em suas trajetórias com as letras e os números.

Essas histórias vêm sobretudo de Minas, mas os cenários da Bahia e de São Paulo também têm espaço. As professoras e professores aparecem como os maiores influenciadores da leitura, junto a algum parente ou madrinha. Ganhando destaque especial nos corações, estão as professoras Clarisse, Dinorá, Lilian, Eriene, Eliana, a Tia Luiza e o Tio Zezinho. Entre os futuros professores, há filhos de professoras e uma escritora em formação, usuária bem-sucedida de ferramentas típicas da era digital, como Wattpad e Kindle. O acesso à leitura, às vezes, era dificultado até pela burocracia de uma biblioteca ou outra, mas elas também são cenário de lindas viagens e descobertas. As barreiras nunca foram poucas para grande parte desses sujeitos dos Vales de Minas, como o acesso, a timidez e até uma língua presa, mas a superação dos desafios dá o tom dos relatos aqui reunidos.

Sobre as experiências de leitura, os clássicos infantis e infantojuvenis são os mais citados, a exemplo dos gibis. Clássicos como nacionais como A Turma da Mônica, Sítio do Pica-Pau Amarelo e O Barquinho Amarelo perpassam as experiências literárias junto a clássicos universais do gênero como Chapeuzinho Vermelho, Pinóquio e João e o Pé de Feijão. Na infância, é notável como a Bíblia já faz parte da rotina da maioria das famílias. Mais tarde, sobretudo por influência da escola, outros clássicos e diferentes épocas foram apresentados à maioria dos autores desses 50 relatos. Do século IXX, são citadas as obras Dom Casmurro, Quincas Borba, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Iracema, O Guarani e Senhora. Ora acompanham o nome do autor, ora o foco são as personagens e ó título da obra. Antes disso, apenas o shakespeariano Romeu e Julieta é citado. Do século XX aparecem autores de prosa e poesia como Clarice Lispector, Cecília Meireles, José Lins do Rego, Vinícius de Moraes, Jorge Amado e Maria José Dupré.

De maneira geral, autores e autoras demonstram orgulho de suas trajetórias e conquistas, como fazer o tão sonhado curso superior em uma instituição pública federal. É fundamental destacar a importância de trazer mais um grupo de narrativas dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, regiões ricas em história, cultura e linguagem. Essas áreas, muitas vezes negligenciadas, possuem um vasto repertório de experiências que merecem ser compartilhadas.

Que este livro seja um convite para explorar as experiências e particularidades de letramentos de cinquenta autores e autoras, futuros professores e professoras, bem como celebrar essa diversidade de vozes, que se somam às outras 148 das cinco edições anteriores, enriquecendo nosso debate sobre aprendizagem e ensino das letras e sobre uma leitura mais genuína do mundo.

Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista (Orgs.)

Outubro de 2024

Minhas trajetórias de letramento

Minhas trajetórias de letramento

 

Sou uma mãe de 21 anos e venho de uma comunidade tradicional com poucas oportunidades de ingresso em uma universidade federal. Atualmente, estou cursando o sexto período do curso de Licenciatura em Educação do Campo e, ao relembrar as diversas dificuldades e escassas oportunidades de ter uma educação mais completa em minha casa, percebo o quão importante foi cada esforço e superação para alcançar esse objetivo.

Ao relembrar minha trajetória educacional, recordo-me de como o incentivo à leitura e à escrita era quase inexistente em meu ambiente social. Meus pais, por falta de paciência e tempo, não me apresentavam livros e textos. Foi somente no início da minha alfabetização que tive meu primeiro contato com a escrita. A partir daí, fui conhecendo e entendendo, aos poucos, alguns textos. Foi através da escrita que pude descobrir a magia das palavras

Meu primeiro contato com a leitura foi aos seis anos de idade, quando iniciei a fase de alfabetização. Aprendi a escrever meu nome e comecei a utilizar diversos objetos para praticar a escrita. Lembro-me de escrever na areia com um pedaço de madeira e até mesmo nas paredes da minha casa, o que causava brigas com meus pais. Desde criança sempre admirei o hábito da leitura e da escrita, porém, devido às condições financeiras e à falta de incentivo, não tive acesso a uma variedade de livros. Mesmo diante disso, fazia o possível para me envolver com a leitura, seja através de livros emprestados da biblioteca da escola ou de revistas antigas encontradas na casa dos meus avós.

Lembro-me de quando a escola proporcionou um projeto literário que se mostrou bastante acolhedor e me ajudou a melhorar minha leitura. Ele fez com que os estudantes viajassem e mergulhassem em um mundo que se interpreta por si só, pois a leitura tem o seu próprio método de ensinar, na perspectiva de ser libertadora.

O projeto desenvolvido na escola tem uma função especial na minha vida, pois amenizou os impactos gerados pela falta de contato com livros na minha infância. Acredito que a leitura possibilita a emancipação do cidadão, tornando as pessoas críticas e conscientes. Também creio que a literatura é um direito, como defendia Antônio Cândido. Mais do que decodificar signos, ler vai além da palavra escrita e deve promover a compreensão da realidade e permitir que o indivíduo se torne um agente transformador, social e cultural, em seu meio.

Foi através desses pequenos trabalhos desenvolvidos na escola e do curso da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), no qual estou inserida hoje, que fui ampliando meus horizontes e adquirindo novas habilidades. Vejo como a leitura e a escrita se tornaram ferramentas essenciais na minha jornada de aprendizagem e crescimento profissional e pessoal. Mesmo sem as mesmas oportunidades que muitos, percebi que o conhecimento adquirido através da leitura é algo que ninguém pode me tirar.

Hoje, olhando para trás, vejo o quanto a minha admiração pelo hábito de ler e pelo letramento foi fundamental para superar as adversidades e conquistar meus sonhos. Mesmo com poucas oportunidades, nunca deixei de acreditar no poder transformador da educação. Como futura educadora do campo, continuo buscando novas formas de me aprimorar e de compartilhar meus conhecimentos com os outros. A leitura e os letramentos me abriram portas e me mostraram que, com determinação e esforço, é possível ser uma cidadã mais criativa, crítica e reflexiva em relação às questões que me cercam.



SOBRE A AUTORA:

Maria Cláudia Barbosa Nogueira é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), na Licenciatura em Educação do Campo. Produziu este relato na disciplina Gêneros Textuais/Discursivos, ofertada de julho a novembro de 2024.

 

 

 

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro e faz parte do livro Memórias de letramentos 5, que pode ser baixado gratuitamente. Clique na capa ao lado.

 

Para adquirir a versão impressa, a preço de custo, CLIQUE AQUI! 

Minhas vivências aprendendo

Minhas vivências aprendendo

 

 

Tenho 25 anos e sou natural da comunidade Quilombola do Peixe Bravo, localizada em Riacho dos Machados, Minas Gerais. Desde a infância, sempre fui uma pessoa curiosa, interessada em compreender o motivo das coisas, mesmo sem saber ler ou escrever. Desde cedo, já estava em contato com o significado das palavras, dos objetos e dos sentimentos ao meu redor.

Aos 4 anos, comecei a questionar a origem das palavras, observando minhas primas mais velhas indo à escola, fazendo tarefas de casa e utilizando materiais de papelaria. Eu tinha um grande desejo de acompanhá-las, mas naquela época era pequena demais para frequentar a escola. Como não podia frequentar a escola, uma das minhas primas me presenteou com um livro antigo para que eu pudesse rabiscar e estudar. Assim, mesmo sem ter aulas formais, eu aproveitava cada momento para explorar aquele livro: rabiscava, desenhava e tentava decifrar as letras e palavras ali escritas. Foi com ele que aprendi a contar os números. 

A sensação que tenho é que tudo isso aconteceu “ontem”. Quem poderia imaginar que um simples livro velho despertaria em mim tantos sentimentos e me motivaria a gostar do aprendizado. Um dos motivos pelos quais minha mãe relutava em me matricular na escola das minhas primas era a distância considerável que eu teria que percorrer. Eram vários quilômetros a pé até chegar ao ponto de ônibus, seguidos por mais horas de viagem até chegar à escola.

Quando completei cinco anos, minha mãe decidiu me matricular na escola, apesar de suas preocupações. Ela conversou com uma professora da escola e explicou que, apesar de minha vontade de estudar ser forte, ela tinha receios devido à longa caminhada até o ponto de ônibus.

Foi nesse momento que a querida professora Selma sugeriu à minha mãe que, se eu realmente queria estudar e já estava matriculada, ela poderia me levar até o ponto de ônibus e pedir a alguém que me acompanhasse dentro do ônibus. Assim, minha mãe fez. Quando ela voltou para casa, trouxe a notícia de que eu poderia ir para a escola todos os dias, na companhia das minhas primas.

Chegou o grande momento do primeiro dia de aula. Acordei cedo, cheia de empolgação, pedindo à minha mãe para me arrumar logo, pois estava prestes a realizar um sonho. Ao entrar na sala cheia de crianças, experimentei uma mistura de ansiedade, nervosismo e empolgação. A professora Selma, com seu sorriso acolhedor, ajudou-me a encontrar minha carteira e logo percebi que ali, naquele ambiente repleto de livros, quadros e lápis coloridos, eu estava exatamente onde sempre quis estar.

Lembro-me de ser a única na turma que sabia escrever meu nome corretamente, embora ainda não soubesse ler completamente. Foi minha mãe quem me ensinou a escrevê-lo em casa, o que me fez sentir inteligente desde cedo. Além disso, meus pais sempre me contavam histórias, discutiam passagens da Bíblia e tocavam músicas em CDs no rádio. Assim, quando entrei no “pré”, já conhecia algumas letras do alfabeto e alguns números. Na escola, me dediquei bastante e aprendi a ler minhas primeiras palavras com muito entusiasmo.

Quando entrei para o primeiro ano, meu desejo era continuar na mesma classe dos meus colegas, pois adorava aprender junto com eles. Já dominávamos melhor o alfabeto e conseguia facilmente formar palavras. Pouco tempo depois, já era capaz de escrever pequenos textos inspirados nas histórias que a professora contava em sala de aula. 

Foi nesse momento que descobri a biblioteca. Ela era pequena e ficava ao lado da sala, onde a professora nos levava para estimular nossos letramentos e também a nossa imaginação. Lá, tínhamos a oportunidade de escolher um livro por mês para levar para casa, cujas histórias compartilhávamos com a classe. Essa descoberta foi marcante para mim, pois sentia que podia viajar sem sair de casa. O universo dos livros se abriu diante de mim. 

No Ensino Fundamental II, vivi um período de transição marcado por uma mistura de sentimentos: não era mais tão criança, mas ainda estava longe de ser adulta. A pressão na escola aumentou significativamente, com mais atividades e provas mais exigentes, mas mantive minha determinação porque realmente gostava de aprender. Nessa nova fase, comecei a identificar as matérias que mais me interessavam, como português e história, enquanto outras, como Matemática, não despertavam tanto meu entusiasmo. No entanto, o apoio da minha turma de amigos foi fundamental. Lembro-me vividamente de escrever uma carta pela primeira vez, seguindo um modelo, o que foi bastante divertido e educativo.

Sempre tive o desejo de cursar uma faculdade. Esse sonho começou a se aproximar durante o ensino médio, quando as matérias se tornaram mais desafiadoras e a ansiedade tornou-se parte da minha rotina diária. Nesse momento, precisei aprender a lidar com essa ansiedade, então estabeleci um cronograma de estudos mais definido e reservei tempo de qualidade para passar com minha família e amigos, que me ajudavam a manter a calma.

No segundo ano do ensino médio, enfrentei uma mudança significativa ao me mudar para a cidade de Fruta de Leite – MG e passar a viver com minha avó para estudar na Escola Estadual Aníbal Gonçalves das Neves. Foi um período um tanto tenso devido ao recente falecimento do meu avô, além de estar longe dos meus amigos me deixou apreensiva.

Tudo se resolveu quando fiz novas amizades e com a companhia da minha avó, com quem passei momentos significativos, além de começar a me dedicar melhor aos estudos. Lembro-me vividamente de como a leitura foi fundamental nesse período. Era um momento reservado para mim e meus pensamentos. Uma professora, muito especial, sempre me indicava livros e filmes que ampliaram meu horizonte.

Me formar no ensino médio foi um momento muito gratificante, quando pude ver minha família orgulhosa e me sentir preparada para a próxima etapa. A nostalgia daquele tempo ainda persiste: a sala colorida, meus amigos e o apoio constante da minha família com as tarefas iam além das simples aulas.

Após a formatura, sabia que o próximo passo seria a faculdade. Embora inicialmente assustador, em 2021, decidi ingressar na Licenciatura em Educação do Campo na UFVJM, decisão que hoje me preenche de satisfação. A cada dia, me encanto mais com a complexidade dos estudos, explorando de maneira ampla e específica temas que sempre me fascinaram. Descobrir que há tanto a aprofundar nesses assuntos e ter a perspectiva de ensiná-los futuramente me inspira profundamente.

 

 

 



SOBRE A AUTORA:

Márcia Vicente de Sales é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), na Licenciatura em Educação do Campo. Produziu este relato na disciplina Gêneros Textuais/Discursivos, ofertada de julho a novembro de 2024.

 

 

 

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro e faz parte do livro Memórias de letramentos 5, que pode ser baixado gratuitamente. Clique na capa ao lado.

 

Para adquirir a versão impressa, a preço de custo, CLIQUE AQUI! 

Construção dos meus letramentos: da infância à universidade

Construção dos meus letramentos: da infância à universidade

 

Aprender a “ler o mundo”, como dizia Paulo Freire, significa compreender os contextos e localizar-se no espaço social mais amplo, por meio da relação entre a palavra e o mundo. Na minha infância, comecei a ter percepção do “mundo”, das “coisas de adulto” com certa facilidade, pois a vivência diária com minha família me trazia muitos aprendizados, que eram um tipo de letramento vindo da visão “popular” de mundo que tinham.

Os ensinamentos sobre a forma de ver e entender as coisas se davam a partir dos conhecimentos que os mais velhos da comunidade tinham. Era muito comum ver as pessoas cantando, trabalhando e lendo, de forma que elas entendiam as coisas; muitos não liam letras do alfabeto, mas liam as imagens que estavam vendo, e demonstravam interpretações complexas daquilo tudo. No entanto, minha relação com o mundo da leitura e da escrita na minha infância era difícil, uma vez que poucos no meu entorno eram alfabetizados.

No momento desta escrita, estou com 25 anos e sou moradora da comunidade de Capivari, uma comunidade Quilombola localizada no município de Serro, no Vale do Jequitinhonha. Sempre fui uma menina muito estudiosa, apaixonada por leituras, linguagem, literatura e diversas outras formas de conhecimento. Cada uma dessas áreas me proporcionou enxergar diferentes aspectos de mim mesma e do mundo ao meu redor, ampliando minha visão de mundo, meus letramentos, meus significados. Também sou mãe de uma menina chamada Kemylly, que tem 5 anos de idade.

Venho de uma família formada por dez pessoas. Minha mãe, Enilce, tem 50 anos e cursou a escola até o 5º ano. Meu pai, Anirton, com 52 anos, também estudou até o 5º ano. Juntos, eles buscaram me ensinar o que sabiam, da forma que podiam. Somos seis irmãs, sendo que Katia tem vinte e sete anos e atualmente está cursando o ensino superior comigo. Na nossa infância, não tínhamos recursos para a educação e nem acesso à internet. Os poucos livros eram oferecidos pela prefeitura municipal, ou os livros religiosos. Lembro-me da escola pequena de tijolos de barro e telha de amianto, com apenas duas salas onde as aulas eram ministradas de forma multisseriada, com duas professoras de manhã e duas à tarde.

Durante esse tempo, as professoras eram muito atenciosas e nos ajudavam na leitura, na compreensão das imagens e outros elementos. Fiquei nessa escola até o 5º ano, pois a escola não oferecia os anos subsequentes. Assim, tivemos que ir para a comunidade vizinha para continuar nossos estudos até o segundo grau. Minhas irmãs Indiamara, Beatriz, Kassia e Berenice viveram suas experiências de estudo em um período em que a escola passou por reformas, tanto na estrutura física, quanto nos recursos disponíveis, incluindo acesso a mais livros e à internet.

Durante a minha infância, recordo-me com carinho do auxílio que minha irmã mais velha e minhas primas me proporcionavam ao compartilhar conhecimentos adquiridos na escola e em conversas com outras pessoas. Além disso, elas também me incentivavam a ler ao trazerem livros da escola para enriquecer meu aprendizado.

Logo após concluir meus estudos na escola da comunidade vizinha, ingressei na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), no curso de Licenciatura em Educação do Campo, com ênfase em Ciências da Natureza. Nesse ambiente acadêmico, tive a oportunidade de conhecer pessoas que desempenharam papel fundamental em minha formação, como professores, técnicos e principalmente os colegas, que me auxiliaram de maneira significativa ao longo desse processo.

Meu letramento no início foi difícil, pois a forma de estudar e como as coisas aconteciam eram novas para mim. Tive muita dificuldade em compreender as aulas e em me concentrar nas leituras e nos livros indicados pelo professor, devido à linguagem ser diferente do que eu estava acostumada. 

Durante meu curso, essa evolução gradual tornou-se evidente, especialmente a partir do quarto período. Com o auxílio dos colegas, pude compreender melhor as exigências do curso e as leituras necessárias. Isso me permitiu concentrar mais os meus esforços. Comecei a realizar não apenas as leituras obrigatórias em sala de aula, mas também as complementares, que foram fundamentais para minha formação. Percebi a existência de visões de mundo distintas, porém, ao mesmo tempo, semelhantes. Inicialmente, trazia o conhecimento popular como minha base principal, mas ao me inserir no ambiente acadêmico, fui integrando-o ao saber científico. Embora essas duas bases fossem diferentes, percebi que compartilhavam semelhanças essenciais. O conhecimento popular, embora não reconhecido pela ciência, mostrou-se igualmente valioso ao lado do conhecimento científico.

Durante minha trajetória formativa, participei de grupos de leitura, projetos de ensino, atividades de extensão como o projeto Vídeo Cartas, entre outros, nos quais a leitura desempenhava um papel central. A partir do quinto período, intensificou-se o contato com novas leituras, livros e autores, especialmente durante meu estágio, momento de significativo aprendizado.

No oitavo período, tive minha filha e concluí minha formação na área das ciências em 2020. Atualmente, estou cursando outra graduação na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), na área de Linguagem e Códigos. Nesta nova formação, tive a oportunidade de participar do PIBID, onde pude exercer funções que enriqueceram significativamente meus conhecimentos como futura educadora do campo. Além disso, essa experiência tem me permitido enxergar com maior clareza questões em minha comunidade que antes passavam despercebidas.

Hoje, só tenho a agradecer pelo processo de formação ao qual me inseri. Agradeço imensamente à minha família e a todos os colegas da Licenciatura em Educação do Campo, que me apoiaram e continuam me apoiando em cada etapa dessa jornada.



SOBRE A AUTORA:

Katiane da Cunha Ribeiro é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), na Licenciatura em Educação do Campo. Produziu este relato na disciplina Gêneros Textuais/Discursivos, ofertada de julho a novembro de 2024.

 

 

 

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro e faz parte do livro Memórias de letramentos 5, que pode ser baixado gratuitamente. Clique na capa ao lado.

 

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Minha vida, meus letramentos

Minha vida, meus letramentos

Tenho 27 anos, sou da comunidade quilombola de Capivari, no município de Serro, ao pé do Pico do Itambé. Eu sempre fui uma menina curiosa desde cedo, um pouco tímida e acanhada, mas sempre em busca dos meus objetivos. Tive a oportunidade de ter contato com letramentos pela primeira vez através da televisão e do rádio, pois quando era criança gostava muito de assistir. Com o tempo passando e eu crescendo, passei a participar do teatro da comunidade, que se chama Quatro Gerações, onde minhas tias nos ensinavam através de canções, poemas e versos na produção oral.

Passado o tempo, comecei a brincar de casinha com minhas primas, que também me ensinavam a escrever. Como na época não tínhamos lápis nem caderno, pois os pais só os compravam quando íamos para a escola, usávamos pedaços de carvão e um pedaço de papelão. Eu gostava muito. Pegando em minha mão, mesmo com toda a dificuldade, as primas começaram a me ensinar, junto aos outros menores, a fazer os traços das letras que elas aprendiam na escola. Tinha hora que perdiam a paciência, aí era hora das brigas, mas logo passava.

E assim a vida foi seguindo. Aos 7 anos de idade, comecei a ir para a escola da minha comunidade, que atendia os estudantes até a 4ª série. Naquela época, a turma era multisseriada, com duas turmas juntas, quando comecei meu processo de alfabetização. As professoras eram muito prestativas e pacientes conosco. Naquele tempo, mesmo sem muitos recursos, sempre buscavam promover letramentos.

Quando começamos a aprender o alfabeto, lembro que a professora cantava assim conosco: “A de amor, B de baixinho, C de casa, D de docinho…” e no final… “…e X o que é que é: É Xuxa! E Z é zunzunzum.” Sim, ela ensinava cantando o abecedário da Xuxa. Começamos a escrever no caderno brochura de capa vermelha, que ficavam com as pontas das folhas dobradas com o uso, e um lápis preto. Era um lápis que vivia quebrando a ponta, mas era uma alegria ter aquele material. Como brincava muito com minhas primas, esse processo foi até fácil. Todos os dias estudávamos o alfabeto e a formação de sílabas e palavras, até conseguirmos aprender. Já nas aulas de matemática, lembro que a professora “cantava” a tabuada conosco para irmos aprendendo os números também através da música.

Como não havia biblioteca na nossa comunidade, lembro que o meu primeiro contato com um livro foi no catecismo, onde tive a oportunidade de tocar uma Bíblia Infantil pela primeira vez. Lembro que era de capa vermelha e suas páginas eram lindamente ilustradas. Com o passar do tempo, ganhei alguns livros infantis como Branca de Neve e os Sete Anões, Cinderela etc. Na escola também havia alguns livros que ficavam em um armário aberto, de fácil acesso. A maioria era de contos infantis ou didáticos. Nos reuníamos em grupos de até três pessoas para ler, pois não havia um livro para cada um; eram poucos. Lembro também que havia um dicionário Aurélio, que pegávamos para ler palavras novas.

Ao terminar a quarta série do ensino fundamental, fomos estudar na comunidade vizinha, chamada Milho Verde, onde fiquei até o 3º ano do ensino médio. Nessa escola, tive mais acesso a livros, pois já havia uma biblioteca maior com mais livros. A única professora que nos incentivava a ler foram a professora Antonina, que sempre nos pedia para ler alguma história, e o professor de geografia que era muito focado na escrita. Assim, o tempo foi passando e eu me formei.

Em 2013, a internet chegou na minha comunidade. Havia alguns poucos computadores que ficavam no centro comunitário, onde comecei a fazer pesquisas para o trabalho escolar. Ali comecei a desenvolver o que hoje chamamos de letramento digital. Depois que me formei, me afastei da escola por nove anos, pois comecei a trabalhar. Minha irmã Katiane sempre me chamava para fazer o vestibular da Licenciatura em Educação (LEC), mas eu nunca conseguia, por causa do trabalho. Em 2021 ela me chamou novamente, pensei bastante e decidi que era hora de voltar. Fiz a inscrição, a prova… cheguei em casa e falei com minha mãe: “Mãe, não vou conseguir, acho que fui mal na prova.” Quando chegou o dia do resultado, me surpreendi ao ver que tinha conseguido passar. Hoje estou aqui, em busca de construir novos conhecimentos para que, no futuro, eu possa ajudar os meus alunos e a minha filha Jasmim.



SOBRE A AUTORA:

Katia da Cunha Ribeiro Jesus é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), na Licenciatura em Educação do Campo. Produziu este relato na disciplina Gêneros Textuais/Discursivos, ofertada de julho a novembro de 2024.

 

 

 

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro e faz parte do livro Memórias de letramentos 5, que pode ser baixado gratuitamente. Clique na capa ao lado.

 

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Leituras de minha vida

Leituras de minha vida

Tenho 20 anos e sou da comunidade quilombola de Capivari, localizada no município do Serro, Minas Gerais. Embora tenha poucas lembranças do meu contato com a leitura antes da escola, sei que comecei a aprender com minha família. Assistia às apresentações do Teatro Quatro Gerações, um grupo da minha comunidade; no rádio, meu pai, todas as manhãs, sintonizava a FM 98, no programa do João de Nico.

Antes de entrar para a escola, tive meus primeiros contatos com a leitura através dos folhetos da igreja, do terço e do livro de músicas do teatro, com os quais eu interagia frequentemente. Gostava de desenhos na TV e acho que aprendi muito com as narrativas presentes neles. Meu primeiro contato com Ziraldo foi por meio do desenho animado do Menino Maluquinho, que eu não perdia. Com o Sítio do Pica-pau Amarelo conheci Monteiro Lobato.

Naquela época, eu não tinha tanto interesse pela leitura; queria aproveitar minha infância, e os livros não faziam parte dos meus hábitos. Quando entrei na escola aos 5 anos de idade, comecei a ter contato com livros que toda criança conhece, como histórias de fadas e contos clássicos, como Chapeuzinho Vermelho e Cachinhos Dourados. Mesmo assim, ainda não tinha muito interesse pela leitura, pois sempre gostei mais de matemática, já que tinha mais facilidade nessa área do que em português.

Meus primeiros contatos com a leitura aconteceram na escolinha que funcionava no centro comunitário da minha comunidade, enquanto a escola estava em obras. Esse contato inicial foi graças às aulas da tia Aparecida. Sempre tentei ler, mas preferia observar as palavras com os olhos, pois tinha grandes dificuldades na leitura.

Quando estava estudando com a professora Eni, comecei a frequentar o fonoaudiólogo para melhorar minhas habilidades de leitura. No entanto, tive que parar porque o atendimento deixou de ser oferecido na comunidade. Assim, precisei me esforçar por conta própria para melhorar nesse aspecto, e esse desafio continua até hoje.

Na escola de Capivari, havia um cantinho da leitura, mas não muitos livros, o que nos levava a ler principalmente textos impressos pelos professores ou encontrados nos livros didáticos disponíveis na escola. Ao contrário desse período, quando passei a estudar na escola de Milho Verde, no final do ensino fundamental e no ensino médio, tive a oportunidade de acessar uma maior variedade de livros para leitura. Mesmo assim, meu interesse pela leitura ainda era limitado.

Contudo, durante o oitavo ano do ensino fundamental, dei um passo diferente: fui até a biblioteca da escola e peguei um livro para ler. O livro se chamava “A Última Pedra”, mas não me lembro o nome do autor. Tentei começar a leitura, mas não consegui finalizá-la. Também tive contato com outros textos durante esse período, mas minha vontade de ler ainda não era grande. Talvez isso se devesse ao fato de já ter ouvido que eu “lia errado” ou por outro problema, algo que escutei no ensino fundamental e que me marcou. Sempre pensava: ‘E se eu começar a gaguejar ou ler errado? E se alguém rir de mim?’, passei um bom tempo com medo de ler em voz alta. Lembro até hoje de um dia em que fui ler na igreja e me olharam com cara de julgamento. Como eu era pequena, morria de vergonha de ler em público. Desde aquele dia, nunca mais quis ler na igreja.

Durante o ensino médio, tive a oportunidade de ter um professor que nos incentivava a ler: o professor Heráclito. Ele dedicava um dia da semana para a leitura, toda quinta-feira. Um dos livros que li nesse dia foi “Quatro Vidas de Um Cachorro”, de W. Bruce Cameron, e “Querido John”, de Nicholas Sparks, livros emprestados por uma colega de classe. Foi aí que me desafiei mais a ler. Quando fiz 18 anos, ganhei dois livros de presente: “Cidades de Papel” e “Sereia”, da coleção de uma amiga, Raquel, que conhecia desde criança. Também tive a oportunidade de participar de um encontro quilombola, onde ganhei mais um livro em um sorteio, ou, como falamos, “de sorte”. Assim conheci Lélia Gonzalez a partir do livro “Por um Feminismo Afro-latino-americano”.

A leitura estava presente em diversas disciplinas, como matemática e física. Para fazer cálculos, era preciso ler e escrever sobre eles. Além disso, os números romanos também exigiam, já usam letras ao invés dos números “normais” da matemática. Durante o tempo em que estive na escola, tanto no ensino fundamental quanto no médio, a leitura esteve sempre presente.

Infelizmente, finalizei meus estudos do ensino médio durante a pandemia de Covid-19, o que foi bastante desafiador. O incentivo que eu tinha dos professores deixou de existir e minha vontade de ler acabou ficando de lado naquele momento. No entanto, quando entrei para o curso da LEC, a leitura voltou a ser constante, desde quando entro na sala de aula até quando estou fora dela, tanto na faculdade quanto na minha comunidade.

A leitura tornou-se parte de mim novamente, especialmente agora que sou representante da diretoria da minha comunidade, ocupando um cargo onde a leitura é essencial para o desempenho das minhas funções. Percebo que sempre estou rodeada pela leitura e sempre estarei. Fico feliz em esperar o futuro com essa companhia.



SOBRE A AUTORA:

Indiamara Aparecida Ribeiro Da Cunha é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), na Licenciatura em Educação do Campo. Produziu este relato na disciplina Gêneros Textuais/Discursivos, ofertada de julho a novembro de 2024.

 

 

 

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Uma jornada de descobertas

Uma jornada de descobertas

Tenho 21 anos e sou da cidade de Coronel Murta, localizada na região do Médio Jequitinhonha. Sou filha de pequenos agricultores rurais, Marlene e Manoel, que sempre me incentivaram a estudar. Desde cedo, aprendi a valorizar a educação como uma ferramenta essencial para o desenvolvimento pessoal e profissional. Meus pais, apesar das limitações e desafios enfrentados na vida no campo, nunca mediram esforços para apoiar meus estudos e me motivar a buscar sempre mais.

Minha jornada com os letramentos começou de forma simples com os recursos disponíveis em casa: revistas e cadernos antigos dos meus irmãos se tornaram meus primeiros materiais didáticos. Desde cedo, eu adorava brincar de “aulinha”, mesmo sem ainda saber ler. As letras começaram a se tornar familiares, principalmente porque minha irmã me ensinava pacientemente. Mesmo sem estar oficialmente matriculada, eu frequentava a escola da comunidade. As professoras, de maneira gentil, me entregavam atividades simples como letrinhas para colorir, o que gradualmente me aproximou do mundo das palavras.

Aos seis anos, finalmente fui matriculada na Escola Municipal Manoel Costa Barreto, localizada na comunidade Olhos D’Água. O primeiro dia de aula foi uma explosão de emoções, meu coração parecia querer saltar do peito, pois ali começava uma longa jornada educacional. A professora Udilene, com sua paciência e dedicação, foi essencial para guiar-me nesse caminho inicial. No segundo ano, algo mágico aconteceu: aprendi a ler e adorava me sentar no cantinho de leitura e imergir nas histórias em quadrinhos da Turma da Mônica. Era um verdadeiro encanto. Sempre comparava as aventuras da Vovó Bastião comendo feijão com as histórias do meu avô, que também se chamava Bastião.

Em 2014, dei início ao sexto ano na escola municipal do distrito de Freire Cardoso, localizado em Coronel Murta. Essa nova fase trouxe consigo desafios significativos. O transporte escolar me levava diariamente por quilômetros de distância, atravessando estradas poeirentas e muitas vezes áridas sob o sol escaldante, tornando o retorno para casa uma verdadeira luta diária. As condições climáticas severas e a longa jornada afetavam não apenas o meu ânimo, mas também a disposição dos colegas. Em alguns dias, a merenda escolar, por mais que fosse bem-vinda, não era suficiente para nutrir-nos adequadamente, resultando em mal-estar durante a volta para casa. Esses desafios cotidianos moldaram não apenas a minha resistência física, mas também fortaleceram o meu compromisso com os estudos e a determinação em superar adversidades.

Apesar das dificuldades enfrentadas na escola do distrito de Freire Cardoso, em Coronel Murta, durante o sexto ano em 2014, essa experiência deixou marcas profundas em minha vida acadêmica. No entanto, lamentavelmente, o ensino de português não alcançou o padrão desejado. A professora concentrava-se excessivamente na gramática, deixando a leitura em segundo plano, o que limitava nosso desenvolvimento linguístico e cultural. Felizmente, por iniciativa própria, muitos alunos buscavam enriquecer seus conhecimentos frequentando a biblioteca da escola. Lá, descobrimos novos mundos através dos livros, expandindo nossos horizontes para além das limitações do currículo escolar. Essa autonomia na busca pelo conhecimento não só complementava, mas também compensava as lacunas no ensino formal, preparando-nos melhor para os desafios futuros na educação e na vida.

Minha trajetória no mundo do conhecimento começou de forma única. Desde cedo, descobri que tinha facilidade com as partes gramaticais da língua, mas ao mesmo tempo, a literatura, que sempre me cativou, acabou perdendo espaço para o foco nas disciplinas exatas. Os elogios dos professores de matemática eram como notas musicais para mim, embora minha timidez muitas vezes me limitasse a expressar plenamente meu potencial. Foram quatro anos intensos de esforço e aprendizado, nos quais busquei equilibrar minha dedicação aos estudos gramaticais com o desafio constante das ciências exatas. A cada conquista e desafio superado, percebia que essa jornada não apenas fortaleceu minha base acadêmica, mas também moldou minha perseverança e determinação para enfrentar novos desafios no futuro.

Em 2018, tudo mudou. Ingressei no ensino médio na Escola Família Agroecológica de Araçuaí. Enfrentei o desafio de estar longe da família, o que foi difícil no início, mas consegui me adaptar. Houve momentos em que pensei em desistir, mas a motivação para continuar meus estudos sempre prevaleceu. A escola tinha uma abordagem pedagógica inovadora, focada na agroecologia e na sustentabilidade, o que me permitiu aprender não apenas o currículo tradicional, mas também práticas agrícolas sustentáveis e gestão ambiental. Tive a sorte de contar com professores de alta qualidade, que, apesar de alguns deslizes, sempre me incentivaram e apoiaram. 

Além das aulas teóricas, participei de várias atividades práticas e projetos comunitários, que fortaleceram meu entendimento sobre a importância da agricultura sustentável para a comunidade local. Fiz amizades valiosas, que me ajudaram a superar a saudade de casa e contribuíram para meu crescimento pessoal.

Essa experiência me proporcionou um crescimento pessoal significativo e solidificou minha determinação em buscar meus objetivos acadêmicos e profissionais. A convivência com colegas e professores me ensinou a importância da cooperação e do trabalho em equipe, habilidades que levarei comigo para o futuro.

A parte mais complexa? Formar-me durante a pandemia. Não foi apenas difícil para mim, mas para meus colegas, professores e o mundo inteiro. A EFA se tornou uma das minhas maiores conquistas. O período de alternância, com quinze dias na escola e quinze em casa, proporcionou uma educação diferenciada. Lá, o jovem do campo convive com a sustentabilidade, a liderança e a formação crítica.

No ano de 2021, realizei minha inscrição para o vestibular da Licenciatura em Educação do Campo (LEC). Hoje, estou aqui, enfrentando mais uma nova jornada na área de Linguagens e Códigos. Embora não seja minha zona de conforto, estou determinada a aprimorar meus conhecimentos e expandir minhas habilidades. Essa escolha representa um passo significativo na minha trajetória. A licenciatura em Educação do Campo me oferece a oportunidade de aprofundar meus estudos em linguagens e códigos, áreas fundamentais para a comunicação e a educação. Estou ciente dos desafios que essa nova etapa traz, mas acredito que cada obstáculo superado me fortalece e fortalecerá ainda mais. Entre lembranças e saudades, compartilho minha jornada de letramentos, uma jornada de descobertas.



SOBRE A AUTORA:

Elidiana Martins da Silva é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), na Licenciatura em Educação do Campo. Produziu este relato na disciplina Gêneros Textuais/Discursivos, ofertada de julho a novembro de 2024.

 

 

 

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro e faz parte do livro Memórias de letramentos 5, que pode ser baixado gratuitamente. Clique na capa ao lado.

 

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Meu desenvolvimento com a prática da leitura e da escrita

Meu desenvolvimento com a prática da leitura e da escrita

Na infância, não havia livros nas estantes de casa. Apenas canetas e panfletos da igreja preenchiam os espaços, com riscos e linhas deixados por mim e minha irmã no rosto de cada personagem. Em alguns domingos, na comunidade rural onde morávamos, diversas associações realizavam reuniões para ajudar famílias pobres que não podiam comprar materiais ou brinquedos para seus filhos. Lembro-me também de quadrinhos e livros sobre a Arca de Noé e Sansão que levávamos para casa. Quando chegávamos em casa, nos entregávamos à imaginação, já que não sabíamos ler.

Iniciei a pré-escola aos quatro anos sem estímulo para ler ou escrever. Ao chegar à escola, sentia vergonha de interagir com os colegas. Durante dois anos, não falei com ninguém. Os professores não interagiam, e saí da pré-escola sem nunca ter usado a própria voz. Às vezes, tinha dificuldades para ir ao banheiro e precisava esperar pelo lanche, o que resultava em constrangimentos na sala de aula. Nessa fase, as professoras ajudaram minha mãe a buscar ajuda médica, já que meu ‘atraso’ estaria afetando minha aprendizagem nas aulas.

Até o segundo ano da pré-escola, ainda não sabia o alfabeto. Foi uma fase de descoberta das dificuldades em socializar. Aprendi a escrever o nome na fase introdutória, com a ajuda dos professores, que seguravam minha mão para eu formar as letras e as palavras. Na perspectiva de ajudar, as professoras faziam um caderno de caligrafia para ligar pontos e formar palavras. Esse caderno era feito à mão, devido à falta de recursos na escola. Elas escreviam pequenos textos de forma pontilhada, para que eu pudesse desenhar por cima e formar as palavras. Mesmo mudando de escola e de professores, continuei recebendo suporte de uma fonoaudióloga e uma psicóloga.

Essa ajuda psicológica contribuiu para que eu pudesse ter foco e desenvolver o raciocínio lógico. As consultas eram realizadas a cada 15 dias, onde eu fazia montagens de quebra-cabeça, visualização e interpretação de cores e formação de palavras. Pelo fato de meus pais se considerarem analfabetos na época, acreditavam que os filhos teriam o mesmo pensamentos e atitudes que eles. O estímulo e a valorização da leitura eram nulos; a realização das atividades até essa fase não teve ajuda deles.

Após essa fase introdutória, as visitas semanais à biblioteca começaram no primeiro ano, permitindo contato inicial com livros e escrita. Durante o segundo e terceiro ano, as matérias ficaram mais difíceis e tive que me adaptar. No final do terceiro ano, fui reprovado por falta de preparo para o quarto ano. Inicialmente, foi difícil me ajustar à nova turma, mas com o tempo comecei a levar livros da biblioteca para casa, incluindo gibis e histórias da Bíblia, que eram mais fáceis de compreender.

Nessa fase também houve a inserção do trabalho com números. De início, contávamos até 3 e posteriormente até 10. Quando pulava algum dedo e chegava ao final com 9 números, causava estranhamento; os dedos acabavam e eu não sabia o que fazer. Sempre me enrolava no numeral 7, pois o dedo que seria o 2 da mão esquerda se tornava o número 7. Inicialmente, aprendi a contar até o número 10, depois 100, 200 e, com custo, até 1.000.000.

No quinto ano, começamos a fazer redações e até ganhei um prêmio por uma delas. Foi no final do fundamental 1 que a leitura começou a se consolidar, embora ainda com dificuldades na escrita.

No ensino fundamental 2, iniciaram-se aulas de inglês, novas matérias e novos colegas. A escola tinha uma biblioteca grande, e a professora, como forma de incentivo à leitura, nos fazia levar alguns livros durante os bimestres para casa, desenvolvia questões sobre os livros nas provas e organizava rodas de conversa para discuti-los. No dia da apresentação, sempre virava o rosto; calafrios de medo me faziam suar. Às vezes, era proposto escrever algumas linhas da parte que mais havia gostado da leitura. Eu sempre escrevia umas seis linhas. As obras que melhor me recordo são Dom Casmurro, Iracema, O Cortiço, mas houve diversas outras.

No ensino médio, li livros mais extensos, porém em menor quantidade. Aprendi a calcular juros, o que trouxe uma perspectiva boa e contribuiu para meu primeiro emprego, escrevi redações e cartas formais. Com a pandemia, a leitura foi deixada de lado até o início das aulas na faculdade, o que retornou quase dois anos depois.

No início das aulas na universidade, houve um certo estranhamento devido ao tipo de leitura. Em minha concepção, as leituras seriam baseadas em obras literárias brasileiras simples, como as que fazíamos na escola. Isso contrariou minha expectativa, pois os professores já esperavam que os alunos tivessem contato com obras mais complexas. Os diálogos com pensamentos científicos e filosóficos mudaram a percepção e minha mentalidade enquanto estudante, antes pouco crítico. A escrita melhorou devido às regras gramaticais, concordância e o uso do plural, algo que na prática com textos mais formais se mostra tão importante.

Atualmente, leio diariamente jornais e revistas online, e por vezes vou até a biblioteca municipal do bairro onde moro ou até a biblioteca universitária e pego algum livro. Pretendo cultivar o hábito de leitura diária e manter-me atualizado, pois esse mecanismo desenvolve o pensamento crítico e muda a mente do cidadão. A leitura crítica mudou minha concepção da realidade e tornou-se uma forma de interação com o mundo, levantando questões que antes não faria ou não consideraria importantes no cotidiano. Com essa nova visão, muitos assuntos se transformaram e ganharam uma perspectiva e entendimento diferentes. As aulas de matemática contribuíram para que na realidade o cálculo dos juros sobre as faturas e contas pudessem ser entendidos ou servissem de base para os estudos de futuros conhecimentos.

Minha trajetória de aprendizado foi marcada por desafios e superações. Desde a infância sem estímulo para a leitura até o desenvolvimento gradual de habilidades fundamentais na escola, cada etapa contribuiu e contribuirá significativamente para minha contínua formação. O apoio de professores, o incentivo à leitura e a ajuda psicológica foram essenciais para o meu progresso. A introdução ao universo dos livros e o trabalho com números moldaram minha capacidade de raciocínio e compreensão.

Atualmente, a leitura diária, aliada às visitas frequentes às bibliotecas, fortalece meu hábito de me manter informado e aprimorar meu pensamento crítico. A leitura crítica, em particular, revolucionou minha percepção da realidade, permitindo uma interação mais profunda e questionadora com o mundo ao meu redor. Em suma, minha jornada acadêmica e pessoal destaca a importância da persistência, do apoio e da leitura no desenvolvimento integral do indivíduo.



SOBRE O AUTOR:

Edmilson Oliveira Silva é acadêmico da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), na Licenciatura em Educação do Campo. Produziu este relato na disciplina Gêneros Textuais/Discursivos, ofertada de julho a novembro de 2024.

 

 

 

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro e faz parte do livro Memórias de letramentos 5, que pode ser baixado gratuitamente. Clique na capa ao lado.

 

Para adquirir a versão impressa, a preço de custo, CLIQUE AQUI! 

Palavras e passados: recordações literárias

Palavras e passados: recordações literárias

 

 

As memórias são janelas para o passado, pois revelam os caminhos que trilhamos e os momentos que nos moldaram. Elas carregam consigo as experiências, emoções e aprendizados que construíram nossa identidade ao longo dos anos. Em um mundo cada vez mais acelerado, revisitar nossas memórias é uma forma de valorizar nossa trajetória e compreender melhor quem somos.

Este texto de memórias pretende resgatar as recordações da minha relação com a leitura e a escrita, desde a infância até os dias atuais. Por meio dessas lembranças, espero compartilhar a evolução da minha jornada literária e destacar as influências que foram fundamentais para o desenvolvimento do meu amor pelos livros e pela palavra escrita. Segundo a professora Sara Rojo, o progresso da linguagem escrita ou do processo de letramento infantil está relacionado ao nível de letramento das instituições sociais onde a criança se encontra, assim como as diversas formas de engajamento em práticas discursivas orais através de atividades cheias de significado.

Para iniciar este relato de memória, irei falar um pouco sobre a minha infância. Passei minha infância em um lugar chamado Serra da Bicha, que era afastado de tudo e de todos. A casa mais próxima ficava a cerca de 20 minutos de distância. Não havia estrada para carro; para fazer compras, meus pais iam a Capivari ou pegavam o burro e iam para São Gonçalo do Rio das Pedras. Dormiam na casa de parentes e, de manhã, pegavam o ônibus de Diamantina, faziam uma compra bem grande e voltavam para São Gonçalo do Rio das Pedras. Colocavam as compras no burro e voltavam para casa. Minha mãe e minha avó eram analfabetas, e meu pai mal sabia escrever o nome.

Antes dos meus sete anos, pelo que me lembro, minha infância não foi marcada por uma forte presença de textos escritos. Só tive contato com um livro de matemática, que tinha muitos desenhos e que era da minha avó, e mesmo assim ele desapareceu rapidamente. Não era comum ver livros, jornais ou revistas em minha casa. Antes de frequentar a escola, minha relação com a escrita era quase inexistente. Aprendi as primeiras letras na escola, aos sete anos de idade. A experiência foi desafiadora no início, pois não tinha muita familiaridade com o universo das letras e das palavras.

Quando comecei os estudos, fui morar com minha madrinha (mãe) na comunidade de Capivari. Nos primeiros anos escolares, comecei a desenvolver uma relação mais próxima com a escrita. As aulas de alfabetização eram momentos de descoberta, e lembro-me de escrever pequenas palavras e frases simples. Todos os dias, minha professora escrevia no quadro o nome da escola, o dia, o mês e o ano por extenso. Eu tinha muita dificuldade, mas fui aprendendo aos poucos. A escola desempenhou um papel fundamental em meus letramentos iniciais. Foi no ambiente escolar que tive o primeiro contato consistente com livros e outros materiais de leitura. As atividades escolares me ajudaram a melhorar minhas habilidades de leitura e escrita.

Minha relação com a matemática também começou na escola. Aprendi a contar e a reconhecer números com a ajuda dos professores. Não tenho lembranças claras de saber contar antes de ingressar na escola. Com o tempo, aprendi a somar e subtrair, e essas habilidades se consolidaram com a prática contínua ao longo dos anos escolares. Quando entrei na escola, não sabia fazer contas complexas. Os problemas matemáticos eram desafiadores, mas, com o apoio dos professores e a prática regular, comecei a entender melhor os conceitos matemáticos.

Durante minha vida escolar, não tive acesso a diferentes gêneros textuais. No ensino fundamental I, a escola era bem pequena, tinha somente duas salas, dois banheiros pequenos e uma cozinha. As professoras davam aula para duas turmas ao mesmo tempo. Não havia muitos livros; até os livros didáticos tínhamos que compartilhar com os colegas. Lembro-me de que, no quinto ano, minha professora, chamada Marina, nos obrigava a escolher um livro, ler e depois contar para os colegas. Porém, não havia livros para todos, e os que havia não eram de fácil entendimento.

No ensino fundamental II, perdi meu grande herói, meu pai. Fui morar com minha mãe em outra cidade e lá não tive professores que incentivavam a leitura. Também não era madura o suficiente para entender a importância da leitura e ler por conta própria. No ensino médio, comecei a trabalhar e tinha pouco tempo, pois trabalhava das sete às 17 horas, arrumava no serviço e ia direto para a escola. Chegava em casa por volta das 22h30, tinha apenas tempo para comer, tomar um banho e dormir. As escolas que frequentei tinham bibliotecas, mas eu não era muito motivada a frequentá-las. Minhas visitas à biblioteca eram geralmente para cumprir tarefas escolares específicas.

Comecei a ler depois de me formar no ensino médio. Nessa época, sentia-me sozinha, pois havia me mudado para Belo Horizonte para trabalhar. Depois do horário de trabalho, não tinha nada para fazer ou ver. Foi quando comecei a ler romances, que me permitiram imaginar vários cenários na minha cabeça. A leitura me transportou para outros mundos, proporcionando uma fuga e um conforto que não encontrava na minha nova rotina.

Segundo Brito (2010), ler é uma prática agradável e poderosa, pois estimula a capacidade criativa, amplia o conhecimento e oferece uma nova perspectiva sobre o mundo. O leitor estabelece uma conexão dinâmica entre a fantasia dos livros e a realidade de seu ambiente social. Nesse cenário fascinante, a criatividade, a imaginação e o raciocínio se destacam, abrindo um leque de possibilidades.

Na universidade, meus hábitos de leitura e escrita mudaram. Passei a ler mais textos acadêmicos e a escrever de forma mais crítica e analítica. Essas mudanças trouxeram aspectos positivos; minha capacidade de compreensão e análise textual melhorou significativamente. Atualmente, leio tanto autonomamente quanto os textos recomendados pelos professores e participo de grupos de leitura, o que enriquece ainda mais minha experiência literária.

No entanto, sinto que os professores do ensino fundamental e médio poderiam ter me preparado melhor. Se tivesse tido um contato mais profundo e constante com a leitura desde cedo, talvez minha transição para a leitura acadêmica e a escrita crítica tivesse sido mais natural. Mesmo assim, valorizo cada etapa da minha jornada, pois cada livro e cada texto lido contribuíram para o meu desenvolvimento pessoal e intelectual.

Como futura professora, pretendo cultivar uma relação constante e significativa com a leitura e a escrita. Quero inspirar meus alunos a descobrir o prazer da leitura, proporcionando-lhes as ferramentas necessárias para desenvolver essas habilidades de forma plena e enriquecedora. Pretendo criar um ambiente de aprendizado onde a curiosidade e a criatividade sejam incentivadas, permitindo que cada aluno encontre seu próprio caminho no mundo das palavras.

Cada etapa da minha vida contribuiu para o desenvolvimento das habilidades que valorizo e que continuarei a aprimorar no futuro. Minha experiência pessoal mostrou como a leitura pode ser uma fonte de conforto, conhecimento e crescimento. Desejo transmitir essa paixão aos meus alunos, ajudando-os a reconhecer o poder transformador da leitura e da escrita. Assim, espero não apenas educar, mas também inspirar uma nova geração de leitores e escritores apaixonados, preparados para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades que surgirem em suas vidas.

Ao refletir sobre minha trajetória de leitura e escrita, percebo como cada etapa, desde minha infância até minha vida adulta, desempenhou um papel crucial no desenvolvimento das minhas habilidades literárias. As dificuldades e limitações que enfrentei, tanto em termos de acesso quanto de motivação, foram superadas pela descoberta do prazer da leitura e pelo impacto transformador que os livros tiveram em minha vida.

Minha experiência pessoal me ensinou que a leitura é uma janela para outros mundos e uma ferramenta poderosa para o crescimento intelectual e emocional. Essas memórias moldaram não apenas quem sou hoje, mas também meus objetivos futuros como educadora. Como futura professora, estou determinada a criar um ambiente de aprendizado que valorize e incentive a leitura e a escrita, proporcionando aos meus alunos as oportunidades que me faltaram no início.

Quero ser uma fonte de inspiração para meus alunos, ajudando-os a descobrir o prazer da leitura e a importância da escrita em suas vidas. Ao transmitir minha paixão pelos livros e pelo conhecimento, espero cultivar uma nova geração de leitores e escritores apaixonados, preparados para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades que a vida lhes oferecer.

Assim, cada livro lido, cada texto escrito e cada memória revisitada não só enriqueceram minha vida, mas também me prepararam para inspirar e educar aqueles que cruzarem meu caminho. Continuarei a aprimorar minhas habilidades e a valorizar cada etapa da minha jornada literária, sempre buscando transmitir aos meus alunos o poder transformador da leitura e da escrita.



SOBRE A AUTORA:

Claudiana Silva Sincurá é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), na Licenciatura em Educação do Campo. Produziu este relato na disciplina Gêneros Textuais/Discursivos, ofertada de julho a novembro de 2024.

 

 

 

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro e faz parte do livro Memórias de letramentos 5, que pode ser baixado gratuitamente. Clique na capa ao lado.

 

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Entre laços literários e desafios acadêmicos

Entre laços literários e desafios acadêmicos

Como diz Chimamanda Ngozi Adichie, “Todas essas histórias fazem de mim quem eu sou. Mas insistir somente nessas histórias negativas é superficializar minha experiência e negligenciar as muitas outras histórias que me formaram. A única história cria estereótipos. E o problema com estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos.” Não só Chimamanda, mas observando as tendências atuais na literatura, tenho percebido um incentivo crescente à valorização da diversidade. Isso se reflete, por exemplo, na representação da minha identidade como mulher negra e quilombola.

Um exemplo notável é a obra de Chimamanda Ngozi Adichie, que tem impactado profundamente a cena literária global, especialmente no contexto da cultura afro. Essa influência ressoa fortemente com minha posição na produção literária, alinhando-se com minha visão de mundo e com o letramento que adquiri até o momento.

Mas por que focar na literatura e entender minha posição na produção literária, quando talvez eu devesse apenas registrar uma simples memória de letramento? A resposta é simples: o letramento vai muito além da alfabetização (a habilidade de ler e escrever). No entanto, vou me concentrar nas minhas experiências pessoais e na minha evolução com a leitura e a escrita ao longo da minha vida, mostrando como essas experiências moldaram meu desenvolvimento educacional e pessoal de maneira profunda e significativa.

Lembranças de livros específicos que abriram minha mente para novos mundos, professores inspiradores que despertaram minha paixão pelo conhecimento e atividades escolares que transformaram minha visão do aprendizado estarão no centro desta narrativa. Cada uma dessas experiências está intimamente ligada ao letramento, que nos permite viver, sonhar e nos inspirar. Através dos diversos gêneros literários, especialmente aqueles que mais me emocionam ao recordá-los, quero compartilhar o impacto transformador da leitura e da escrita.

Uma das obras que considero marcantes na minha infância é “Menina Bonita do Laço de Fita”, de Ana Maria Machado. Essa história se destaca como uma das minhas favoritas, exercendo profunda influência na minha percepção da beleza negra. Pela primeira vez, vi uma personagem que refletia minha própria imagem, e isso teve um impacto significativo na minha autoestima. Eu e meus colegas de turma encenamos um teatro baseado na história, o que incentivou minha criatividade e meu amor pelas obras literárias. Essa experiência pessoal, juntamente com minha vivência na comunidade, reforça a importância do acesso à literatura desde cedo.

Um trecho da historinha que mais me marcou foi: “Por isso, um dia ele foi até a casa da menina e perguntou: – Menina bonita do laço de fita, qual é teu segredo para ser tão pretinha? A menina não sabia, mas inventou: – Ah deve ser porque eu caí na tinta preta quando era pequenina… O coelho saiu dali, procurou uma lata de tinta preta e tomou banho nela. Ficou bem negro, todo contente. Mas aí veio uma chuva e lavou todo aquele pretume, ele ficou branco outra vez”. Recriar essa cena, interpretando e narrando juntamente com meus colegas, abriu minha mente para novos horizontes.

Considerando que desde criança sempre fui incentivada a ler, durante o Ensino Fundamental 1 na escola XV de Novembro da minha comunidade local, a Comunidade Quilombola do Paiol, a professora Eliana, nossa querida professora daquela época e até hoje, sempre demonstrou grande dedicação à leitura e aos poemas. Ela costumava nos passar livrinhos literários e históricos, incentivando a criação de contos e recontos. Essa prática constante contribuiu para que eu desenvolvesse um profundo gosto pela literatura e pela leitura. Além disso, vivendo na nossa comunidade, ela contextualizava todas as aulas com nossa experiência de vida, o que significou um avanço significativo no nosso letramento.

Quando ingressei no Ensino Fundamental II, meu amor pela leitura continuou evidente. Adorava passar o tempo na biblioteca durante o recreio. No entanto, a proximidade com a literatura não era mais tão intensa quanto no Ensino Fundamental I. Tínhamos uma aula por semana chamada “Literatura”, onde estudávamos barroco, cordel, entre outros. Embora interessante, não era tão estimulante quanto às atividades criativas do Fundamental I. Mesmo assim, mantive o hábito de ler e comecei a apreciar também a ficção científica, que me proporciona visões do futuro. Quando se trata de ficção científica, pode parecer loucura, mas num mundo tão interconectado e dinâmico, desde pequenos somos rápidos em nos adaptar às tecnologias atuais; no entanto, é crucial sabermos utilizá-las para o bem maior. Além disso, eu amava mergulhar nos quadrinhos da “Turma da Mônica”, do autor Maurício de Sousa, especialmente pelos variados personagens como Chico Bento, Mônica, Magali, entre outros, porque eles me proporcionavam momentos de diversão e me permitiam mergulhar em histórias cativantes e cheias de aventuras.

Havia um aspecto que me desagradava em algumas histórias: o desfecho trágico. Muitas vezes, começavam felizes, mas terminavam de maneira dolorosa e triste. Na escola, participei de eventos onde conquistei títulos, como o primeiro lugar em uma gincana sobre “Reconto”, interpretação e produção de texto de poema, e o segundo lugar em outras competições. Com a chegada da pandemia, o acesso aos livros físicos ficou mais difícil, mas a internet proporcionava alternativas. No entanto, acabei me distanciando um pouco da leitura nesse período.

Ao ingressar na faculdade e explorar a Linguagem e Códigos, percebi que, mesmo antes, tinha contato constante com a literatura, mas minha visão sobre ela não era tão apurada como é hoje. O percurso acadêmico trouxe uma compreensão mais profunda e uma conexão ainda maior com o mundo literário, tornando-me letrada em várias etapas da minha vida. Durante esse período, um docente lançou um desafio: quem fizesse a melhor interpretação em áudio de um trecho do livro “Torto Arado”, de Itamar Vieira Junior, ganharia o livro “Do Amor e Outros Demônios”, de Gabriel García Márquez. Aceitei o desafio, fiz uma interpretação envolvente e ganhei o livro. Depois disso, ao decorrer dessa jornada universitária fui presenteada com vários outros livros: “Como Educar as Crianças no Mundo das Telas” de Igor Amin, “Linguagem e Autismo: Conversas Transdisciplinares,” organizado por Luiz Magnani e Gustavo Ruckert. “Os Vales que Educam,” de Lemes et al. Futuramente, pretendo criar uma pequena biblioteca dentro da minha casa, que é um sonho de infância. Os docentes me deixam feliz quando me presenteiam com um bom livro. Gratidão!

Para mim, a literatura desempenha um papel crucial em minha formação e no meu letramento. Através dela, é possível educar, desmantelar estereótipos, sonhar e imaginar, influenciando meus futuros docentes. Ela se torna um veículo essencial para o desenvolvimento pessoal, proporcionando um meio de expressão e compreensão do mundo que vai além das barreiras cotidianas.



SOBRE A AUTORA:

Caroline Rodrigues Ferreira é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), na Licenciatura em Educação do Campo. Produziu este relato na disciplina Gêneros Textuais/Discursivos, ofertada de julho a novembro de 2024.

 

 

 

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro e faz parte do livro Memórias de letramentos 5, que pode ser baixado gratuitamente. Clique na capa ao lado.

 

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Memórias de meus letramentos

Memórias de meus letramentos

Resido na comunidade Quilombola Paiol, localizada no município de Cristália-MG. Sou filha de mãe analfabeta e pai alfabetizado. Acredito que meu primeiro contato com os letramentos foi quando ouvia minha mãe contar histórias e causos sobre a comunidade, que me lembro até hoje. Também recordo diversas brincadeiras que tinham a ver com gêneros escritos, como amarelinha e quebra-pedra, entre outras. Aos 6 anos, tive meus primeiros contatos com a Escola Municipal da cidade de Cristália, que fica a nove quilômetros de distância da comunidade.

Naquela época, enfrentei muitos desafios para estudar, inclusive para pegar o transporte escolar, pois tinha que caminhar meia hora a pé, já que o ônibus não chegava até a porta da minha casa. Embora houvesse uma escola dentro da comunidade, minha mãe optou por me matricular na cidade, pois a escola da zona rural funcionava apenas pela manhã. Assim, não havia como eu ir todos os dias a pé, sozinha, até a escola, que ficava a 5 quilômetros de casa. Como meus irmãos estudavam na cidade, facilitava meu deslocamento, já que eles cuidavam de mim e ajudavam a levar meus materiais até o ponto de ônibus.

No ensino fundamental, passei por algumas dificuldades para aprender a ler, embora já tivesse uma boa coordenação motora, desenvolvida nas brincadeiras de ‘escrever’ no chão de terra batida com pedaços de madeira. Na escola, viajantes vendiam livrinhos de histórias de princesas, e meu sonho era adquirir aqueles livros com lindas imagens. Mesmo sem saber ler perfeitamente, eu podia olhar as imagens e, com o CD que acompanhava o kit, ouvir as histórias. Apesar das dificuldades financeiras, meus pais sempre compravam esses kits para mim. Quando eu os adquiri, já tinha uma imaginação de contos de fadas, e minha vontade de ler todos os parágrafos das histórias e interpretá-los era muito grande. Isso foi um dos incentivos para aprender a ler.

Ao longo dos anos, meu desejo pelos estudos foi aumentando, mas sempre tive dificuldade em matemática; as contas eram algo que complicava minha cabeça. Nos anos iniciais, aprendi a contar os primeiros números e depois a fazer operações de soma e subtração. Sempre levava moedas para comprar meu lanche, mas não sabia o valor de muitos números e tinha que perguntar aos funcionários o que poderia comprar. Isso me causava muita vergonha, pois eu queria saber o valor de cada moeda.

Minha família sempre influenciou na escola e no papel dos letramentos, inclusive nos conteúdos voltados à área da matemática. Os principais incentivos partiram do berço familiar, antes mesmo de me alfabetizar, sendo de certa forma influenciada pelo meio social em que vivia. Aos poucos, fui aprendendo a reconhecer o dinheiro e as horas.

Na escola que frequentei durante os anos iniciais, não havia uma biblioteca. Assim, quando precisávamos de algum material ou livro didático-pedagógico, tínhamos que nos deslocar até a Secretaria de Educação, que ficava a cerca de um quilômetro de distância da escola. A locomoção e a distância entre os dois locais dificultavam o acesso contínuo aos livros didáticos. Nos anos finais do ensino fundamental, já não tive mais problemas em relação à biblioteca e às leituras, uma vez que fui estudar na Escola Estadual. Naquele período, os docentes sempre nos incentivavam a realizar atividades articuladas aos livros. No entanto, enfrentei grande dificuldade com leitura crítica e interpretação de texto, e acredito que isso foi um dos resultados da falta de diversidade de leitura no início da alfabetização.

Ao iniciar os estudos na universidade, tive bastante dificuldade com diversos gêneros textuais, com a escrita e com a leitura engajada, entre outros. No entanto, ao longo do tempo, fui praticando e, assim, melhorando tanto na forma de escrever quanto na forma de expressar minhas opiniões sobre diversos temas. Atualmente, me identifico com a linguagem e temas e consigo acompanhar os conteúdos das unidades curriculares, pois são bem contextualizados com a realidade dos educandos.

Vale ressaltar o quanto os estudos, práticas e pesquisas desenvolvidas até aqui têm fortalecido meu processo formativo como educadora do campo. Pretendo enriquecer ainda mais meu conhecimento acadêmico e, assim, no futuro, ter a capacidade de articular conteúdos diversos à realidade dos meus alunos, proporcionando desenvolvimento tanto no processo de aprender quanto de ensinar.



SOBRE A AUTORA:

Amanda Pereira dos Santos é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), na Licenciatura em Educação do Campo. Produziu este relato na disciplina Gêneros Textuais/Discursivos, ofertada de julho a novembro de 2024.

 

 

 

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro e faz parte do livro Memórias de letramentos 5, que pode ser baixado gratuitamente. Clique na capa ao lado.

 

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Memórias de Letramentos 5 – Apresentação

Memórias de Letramentos 5 – Apresentação

Este é o quinto volume da coleção Memórias de Letramentos, iniciada em 2017 em parceria com meu compadre Luiz Henrique Magnani, também professor da nossa Universidade, a UFVJM. Outros colegas contribuíram em outras edições, como Rosana Baptista dos Santos e Mauricio Teixeira Mendes. Neste volume, sete anos depois, trago para os leitores 10 narrativas autobiográficas de sujeitos dos nossos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Já somos 148 vozes, cada uma com sua identidade, mas muitas similaridades em termos de formação e letramentos. Não necessariamente nesta ordem, o livro conta com dois textos oriundos da Comunidade Quilombola Paiol, situada em Cristália-MG, município que conta também com um terceiro texto. Quatro outras narrativas vêm da Comunidade Quilombola Capivari, situada no Serro-MG; e a Comunidade Quilombola do Peixe Bravo, situada em Riacho dos Machados-MG, é a origem do último dos textos quilombolas. Completam a edição um texto de Diamantina-MG e outro de Coronel Murta-MG.

Temos um livro cheio de emoção, com histórias e reflexões importantes, não apenas para os autores e autoras, estudantes da Licenciatura em Educação do Campo, mas também para pesquisadores e cidadãos comuns que se preocupam com reflexões sobre letramentos, diversidade e educação, ou gostam de textos autobiográficos. São novas vozes que se juntam a outras tantas eternizadas em nossa coleção, com questões antigas, como acesso à educação e certos bens culturais, mas também com experiências lindas de superação, generosidade e criatividade.

Refletir sobre como aprendemos, especialmente com as letras e seus contextos, nos torna cidadãos mais críticos e conectados com a realidade. Pensar sobre como aprendemos nos ajuda a melhorar nossas práticas de aprendizagem e ensino, a promover a autonomia e o diálogo. Em um mundo cheio de informações e armadilhas, altamente letrado em termos de presença da escrita, o professor precisa ser reflexivo e precisa saber lidar com essas mudanças. A ‘leitura de mundo’, defendida por Paulo Freire na Conferência de Abertura do 3° Congresso de Leitura do Brasil (COLE), em Campinas, 1981, vai além da palavra escrita e continua tão necessária quanto nos tempos difíceis que levaram o educador ao exílio. Refletir sobre a realidade de uma educação real, dos vales, que, como tantas existentes em nossos territórios, promove ‘leitura de mundo’.

A escrita dessas memórias fez parte das atividades da disciplina Gêneros Textuais/Discursivos, oferecida para estudantes da Licenciatura em Educação do Campo, habilitação Linguagens e Códigos, em julho de 2024, no período que denominamos Tempo Universidade, que, grosso modo, é um período em que os nossos estudantes do campo comparecem presencialmente à Universidade. Quando não estão na Universidade, aguardam as visitas dos professores em suas comunidades, tarefa que sempre me traz imenso prazer e muitas aprendizagens.

A disciplina incluiu reflexões teóricas e pesquisas práticas sobre letramentos e práticas nas áreas de formação dos alunos-autores e futuros professores. Promover o diálogo entre os estudantes e o público externo à universidade também foi um dos objetivos da disciplina. Para isso, este material foi produzido em etapas que incluíram oficina de escrita de narrativas, revisão, diagramação e edição final. Adicionalmente, cada texto é acompanhado de um podcast, que, em conjunto com estes dez textos que aqui apresento, serão publicados no site do Projeto de Extensão Aula Digital – auladigital.net.br – e divulgados nas redes sociais – instagram.com/auladigital.net.br.

O material também promove troca de saberes, trazendo para a universidade reflexões e ensinamentos sobre como nossa gente aprende, especialmente na adversidade. Assim, nós, os professores, aprendemos com eles em uma saudável inversão de papéis que nos auxilia a descobrirmos os caminhos do saber junto a eles, aprendendo a arte de ensinar e a melhor forma de guiar, transformando-nos em estudiosos e orientadores mediadores mais conectados com o mundo.

Nesse processo de troca e crescimento, vemos a urgência de não apenas abrir os portões das universidades, mas de possibilitar que o caminho seja virtuoso com políticas de permanência, além da necessidade de se manter sempre as janelas abertas para que não se percam o diálogo, as mudanças e a complexidade do mundo.

Para adquirir a obra gratuitamente em formato digital, ou impresso a preço de custo, clique na imagem com as capas dos livros acima, ou na capa do volume 5 abaixo, ou AQUI!

Carlos Henrique Silva de Castro

Outubro/2024

Licenciatura em Educação do Campo (LEC)

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM)



SOBRE O AUTOR DO TEXTO E ORGANIZADOR DO LIVRO:

Carlos Henrique Silva de Castro é um professor e pesquisador brasileiro que atua no Ensino Superior pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) no curso Licenciatura em Educação no Campo, em cursos de licenciatura da Diretoria de Educação Aberta e a Distância (DEAD) e no Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas (PPG-CH), Linha de Pesquisa Práticas Educacionais, Culturais e Linguagens. Licenciado e bacharel em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG / 2000-2005), atua nas áreas Linguagem e Tecnologia e Ensino de Português. É doutor em Estudos Linguísticos / Linguística Aplicada pela UFMG (2011-2015), com período sanduíche na University of California, Santa Barbara (UCSB / 2013-2014). Fez estágio pós-doutoral na UFMG (2018-2019) com pesquisa acerca de letramentos digitais e educação. Atuou como consultor da Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, Ciência e Cultura (OEI). Como professor visitante, fez estágio pós-doutoral na Universidad Complutense de Madrid em associação com a Universidade de Aveiro (2021-2022), com pesquisa de viés etnográfico sobre educação linguística, plurilíngue e multicultural. Mais detalhes sobre sua produção na seção DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA e no currículo lattes: https://lattes.cnpq.br/8846976753165320.

 

 

 

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro e faz parte do livro Memórias de letramentos 5, que pode ser baixado gratuitamente. Clique na capa ao lado.

 

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Refletindo sobre minha jornada de aprendizados

Refletindo sobre minha jornada de aprendizados

 

 

Desde pequena, o acesso a textos escritos era algo comum na minha casa e na comunidade em que vivia. Lembro-me claramente de ver meu tio lendo gibis, principalmente nos finais de semana. Era como um ritual para ele: pegava sua coleção de gibis, se acomodava no sofá e mergulhava nas histórias em quadrinhos. Eu achava aquilo fascinante, como ele parecia tão concentrado e entretido.

Além disso, meu tio-avô é escritor. Ele passava horas escrevendo ou editando algum texto. Às vezes, eu o via em sua escrivaninha, cercado de papéis e livros, com uma expressão séria enquanto digitava no computador ou fazia anotações. Ele sempre foi uma figura inspiradora para mim, mostrando o quanto a escrita e a leitura podem ser prazerosas. Crescer nesse ambiente me fez valorizar muito o mundo dos textos escritos, fosse lendo, escrevendo ou apenas observando os outros fazerem isso.

Antes de começar a frequentar a escola, eu já brincava de escrever letras de músicas. Eu devia ter uns cinco anos quando comecei a fazer isso. Não sabia escrever direito ainda, mas adorava imitar as letras das músicas que ouvia. Eu rabiscava no papel, fingindo que estava criando minhas próprias canções. Foi uma experiência divertida e, de certa forma, meu primeiro contato com a escrita.

Nos primeiros anos da escola, minha relação com a escrita foi muito positiva. Eu era motivada a escrever e adorava as atividades de redação. Lembro-me de escrever pequenas histórias, poemas e, claro, continuar com minha brincadeira de criar letras de músicas, mas agora de uma forma mais estruturada. A escola sempre incentivava a criatividade, e isso me fez gostar ainda mais de escrever.

Avalio o papel da escola nos meus letramentos iniciais como essencial. Foi na escola que aprendi as bases da leitura e da escrita, o que me permitiu explorar essas habilidades de formas mais complexas com o tempo. O ambiente escolar oferecia muitos estímulos e oportunidades para praticar e melhorar a escrita, e os professores sempre foram muito encorajadores.

A escrita teve um papel fundamental na minha decisão de fazer licenciatura em matemática. Embora pareça algo mais voltado para os números, a habilidade de se comunicar claramente através da escrita é muito importante. Além disso, a disciplina e a lógica que adquiri ao praticar a escrita ajudaram bastante nos meus estudos e na compreensão dos conceitos matemáticos.

Eu me recordo bem dos textos que lia e produzia na escola. Passei boa parte do meu tempo na biblioteca da escola, sempre em busca de novos livros e histórias. No Fundamental I, eu gostava de ler contos de fadas, fábulas e livros ilustrados. Produzia textos simples, como pequenas histórias sobre animais e amigos imaginários. No Fundamental II, meus interesses começaram a se diversificar. Eu lia muitas aventuras, mistérios e, claro, continuava apaixonada por gibis. Escrevia redações mais elaboradas, pequenos poemas e crônicas sobre o cotidiano escolar.

No Ensino Médio, comecei a me interessar por literatura clássica e textos mais complexos. Lia romances, poesias e livros de filosofia. Nessa época, me apaixonei por “A Moreninha”, de Joaquim Manuel de Macedo. Minhas produções textuais incluíam análises literárias, ensaios e reflexões sobre temas diversos. Minhas escolas sempre tinham biblioteca, e eu era muito motivada a frequentá-las. Os professores incentivavam o uso da biblioteca, e muitas atividades escolares envolviam pesquisas e leituras que eu adorava fazer.

Avaliando toda a minha vida escolar, noto várias mudanças nas minhas relações com a leitura e a escrita. No início, a leitura era mais recreativa e a escrita, uma forma de expressão simples. Com o tempo, ambas se tornaram mais profundas e críticas, passando a incluir análises e reflexões mais complexas. Notei que algumas mudanças na minha relação com a leitura e a escrita não foram motivadas diretamente pela escola. Por exemplo, o hábito de ler para relaxar e a prática de escrever diários e poesias surgiram por influência de familiares e amigos, e não necessariamente de atividades escolares.

Quanto às práticas com os números, elas sempre fizeram muito sentido para mim. Desde cedo, eu amava matemática. Encontrava prazer em resolver problemas e adorava quando percebia como os conceitos matemáticos se aplicavam a questões da vida real, como orçamento familiar, medições em projetos de arte ou até mesmo em jogos e estratégias.



SOBRE A AUTORA:

Rhanna Carolliny Santos Costa é graduanda da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos, ofertada no primeiro semestre de 2024. A organização e edição do material foi feita pelo Projeto de Extensão Aula Digital.

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro.

Dos quadrinhos à universidade

Dos quadrinhos à universidade

Antes de frequentar a escola, os textos aos quais eu tinha acesso eram a Bíblia, jornais e revistas. Em minha casa, eu sempre via meus pais lendo a Bíblia ou revistas, e meu irmão lendo livros didáticos. Eu amava tiras de quadrinhos, especialmente as da Mafalda. Como ainda não sabia ler, sempre pedia ao meu irmão para ler para mim, mas já entendia algumas coisas pelas figuras. Os primeiros livros que ganhei eram de uma coletânea de livros bíblicos, que vinha com um CD contendo histórias em áudio e algumas músicas para complementar.

Eu aprendi a contar com meu irmão e meus primos, brincando de esconde-esconde. Antes de ir para a escola, eu já reconhecia o dinheiro porque meus avós e minha bisavó sempre me davam moedas por executar determinadas tarefas, e eu sempre comprava guloseimas com essas moedas. Entrei na escola sem saber somar ou subtrair, mas tive muita facilidade para aprender e sempre me destaquei na matemática. A escola e a família desempenharam papéis importantes e diferentes quanto ao meu letramento matemático, mas avalio que a escola foi mais importante.

Eu aprendi minhas primeiras letras com uma amiga mais velha. Brincávamos de escolinha, e ela me ensinou a escrever meu segundo nome, Camila, e palavras simples quando eu tinha 5 anos. Entrei na escola aos 6 anos, e minha professora me pediu para escrever meu nome, mas eu não sabia escrever o primeiro nome, Elida. Assim, meus primeiros dias foram traumáticos. Nos meus primeiros anos de escola, sempre fui motivada a escrever pelas professoras. Cheguei a ganhar um prêmio de melhor redação da turma, recebendo um chaveiro, o que foi o máximo para mim. Sempre gostei mais de ler do que escrever. Acho que sou uma ótima leitora, mas não tão boa escritora.

A escola foi crucial para meu letramento inicial. No ensino fundamental I, eu sempre lia histórias infantis, mas foi no fundamental II que comecei a ler diversas obras literárias e me apaixonei pela leitura. No 6° ano, conheci a Turma da Mônica, e foi amor à primeira vista. No ensino médio, tive acesso na biblioteca da escola a grandes obras literárias, como Orgulho e Preconceito e O Morro dos Ventos Uivantes. Nessa época, a leitura para mim já era quase como um vício.

Agora, na universidade, leio os textos orientados pelos professores, mas não gosto tanto de ler esses textos quanto gosto de ler livros literários. Acho que o ensino médio não nos prepara para os desafios econômicos e burocráticos da vida adulta. O que mais sinto que não aprendi na escola foi a língua portuguesa. Acho que, se consigo escrever bem, é porque li muito e ainda leio, mas a escola em si nunca me cobrou ser melhor. Acho que os alunos que se formaram comigo, que não tinham o hábito de ler autonomamente, enfrentaram muitas dificuldades após o término do ensino médio.



SOBRE A AUTORA:

Elida Camila de Souza Marques é graduanda da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos, ofertada no primeiro semestre de 2024. A organização e edição do material foi feita pelo Projeto de Extensão Aula Digital.

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro.

Os livros e a leitura: portas abertas para o conhecimento

Os livros e a leitura: portas abertas para o conhecimento

 

 

 

 

Como a maioria das crianças da minha geração, fui alfabetizado em uma escola da zona urbana de uma pequena cidade do interior. Em 2004, no auge dos meus 6 anos, não era comum ter em casa computadores, smarTVs e muito menos celulares. Logo, toda a minha alfabetização ocorreu por meio de livros e cartilhas.

Antes mesmo de começar a primeira série, já sabia ler, fato esse que me enchia de orgulho. Saber ler me permitia participar das leituras nos cultos e missas aos domingos. Minha família me considerava extremamente inteligente por ter aprendido a ler tão cedo. Eu era o orgulho da vovó, que na época também estava aprendendo a ler e assim podia ajudá-la escrevendo cartas para o Divino Pai Eterno, pois ela tinha um sonho de receber uma carta do padre Robson.

Ler bem me fazia receber muita atenção dos meus familiares. Apesar dos poucos recursos, adorava ler o nome das capitais com meu pai e descobrir o nome dos países nos mapas. Meu pai sempre me dava livrinhos com historinhas, e minha mãe comprava aquelas revistas que vendedores levavam na escola. Tudo isso me incentivava a ler mais. Assim, a leitura se tornou uma paixão que me acompanha até hoje.

Na minha primeira série, minha primeira professora, a de Aparecida, além de suas aulas regulares, organizava grupos de estudos em sua casa pela manhã, onde ela avaliava a nossa leitura com o intuito de aprimorá-la. Eu adorava participar, pois sempre que lia corretamente, ganhava um doce. Nunca perdia um. A professora de Aparecida sempre dizia: “Quem lê mais, sabe mais.” Hoje, compreendo essa verdade e, trabalhando em uma escola, percebo a importância de os alunos aprenderem a ler e gostarem de ler o quanto antes. Isso abrirá um novo mundo para eles de todas as formas, fazendo com que de fato saibam mais.

Atualmente, curso duas faculdades e uma pós-graduação. Grande parte das minhas leituras são artigos, textos acadêmicos ou livros com enfoque educacional, que enriquecem meu conhecimento e aprimoram meu senso crítico. Portanto, ter o hábito de ler não só enriquece nosso conhecimento, mas também abre portas para novos mundos e possibilidades. Leia mais e descubra o quanto você pode aprender e crescer.



SOBRE A AUTORA:

Ritha de Kassia Coelho Fernandes é graduanda da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos, ofertada no primeiro semestre de 2024. A organização e edição do material foi feita pelo Projeto de Extensão Aula Digital.

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro.

Minhas memórias de letramento

Minhas memórias de letramento


Desde cedo, o acesso a textos escritos em casa e na comunidade era algo comum para mim. Lembro-me de ver outras pessoas lendo, escrevendo ou manuseando livros, folhetos, jornais e revistas, principalmente durante momentos de lazer ou em situações cotidianas, como na escola ou em reuniões familiares. Minha introdução aos livros e textos mais elaborados também ocorreu cedo, por meio de quebra-cabeças, CDs interativos e outros materiais semelhantes, que despertaram minha curiosidade e interesse pela leitura.

Minha experiência com a matemática começou em casa, onde aprendi a contar e a reconhecer o valor do dinheiro. Quando entrei na escola, já tinha alguma noção de contas básicas, mas foi lá que aprofundei esses e outros conhecimentos. Acredito que tanto a escola quanto a família desempenharam papéis fundamentais nesse processo, complementando-se na construção do letramento matemático inicial.

Antes de frequentar a escola, eu já escrevia algumas coisas simples, como meu nome e palavras básicas, mas foi na escola que aprendi as primeiras letras de forma mais estruturada, aos sete anos de idade. Nos primeiros anos escolares, minha relação com a escrita era bastante exploratória, escrevendo principalmente textos narrativos simples e descrevendo experiências pessoais.

Ao longo da vida, ocorreram mudanças significativas na minha relação com a leitura e escrita. Inicialmente, eram atividades mais lúdicas e exploratórias, mas com o tempo, tornaram-se mais acadêmicas e direcionadas a objetivos específicos, como estudos e trabalhos universitários. No que diz respeito à matemática, as práticas com números sempre fizeram sentido para mim, pois eram facilmente aplicáveis à vida real. Essa relação prática contribuiu para uma compreensão mais sólida desses conceitos.

No primeiro ano de universidade, meus hábitos de leitura e escrita passaram por transformações significativas. A exigência de textos mais complexos e a necessidade de produção acadêmica trouxeram desafios, mas também possibilitaram um maior aprofundamento nos estudos. Essas mudanças trouxeram aspectos positivos, como o desenvolvimento de habilidades mais avançadas de leitura, escrita e matemática, além de uma maior autonomia intelectual. No entanto, também trouxeram desafios, como a necessidade de lidar com textos mais densos e complexos e a pressão pelo desempenho acadêmico.

No que se refere à veracidade dos textos diversos que nos cercam, acredito que seja importante estar atento e utilizar fontes confiáveis. Quanto aos conteúdos de língua e matemática que tive acesso ao longo da minha vida escolar, sinto que poderiam ter sido mais abrangentes em alguns aspectos. No entanto, considero que administro bem minhas questões financeiras, e acredito que o ensino médio tenha contribuído para isso, preparando-me para lidar com desafios nessa área.



SOBRE A AUTORA:

Maria Aparecida Luiz dos Santos é graduanda da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos, ofertada no primeiro semestre de 2024. A organização e edição do material foi feita pelo Projeto de Extensão Aula Digital.

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro.

A importância do incentivo

A importância do incentivo


Desde minhas memórias mais tenras, lembro-me de ficar sentadinha na biblioteca do meu avô, em seu escritório, enquanto ele estava à mesa lendo seu jornal Estado de Minas. Eu ficava ali ao lado com uns lápis e um pedaço de papel que embrulhava as flores. Às vezes, ia para a prateleira onde havia várias enciclopédias, mas sempre era alertada: “Muito cuidado, esses livros não são para você!”. O máximo que podia fazer era viajar pelo atlas gigante que ali existia. Quando me cansava de estar ali ou quando ele ia receber algum cliente, saía para brincar no meio das plantas e brincar de vendedora.

Em minha casa, com minha mãe, sempre fazíamos o devocional, mas era chato por ser sempre muito cedo, e as leituras eram longas e monótonas. Mas todos os dias tínhamos, e o que eu gostava mesmo era ver minha mãe todos os dias de madrugada fazendo sua leitura da Bíblia. Na igreja, era divertido, pois a tia gostava de contar histórias em um livro ilustrado bem grande, e ela sempre contava as histórias com entusiasmo e alegria.

Mas, infelizmente, quando fui para a escola, foi minha maior tristeza, pois na minha sala só havia meninos e apenas eu de menina. A professora tinha seis dedos em cada pé, uma história de palmatória e uma régua de madeira de metro. Eu, sentadinha lá atrás, no canto da sala, me esforçava para reconhecer e aprender. Era surpreendida com uma reguada na mesa que me fazia pular, e também me lembrava das gargalhadas dos meus colegas com meu susto. Era sempre chamada de burra no recreio, e para piorar, ainda tinha meu nome, que por ser de uma história bíblica que minha mãe lia, eu sempre falava assim: “Hadassa rainha Ester”, e isso sempre era motivo de chacota, além de me colocarem todo tipo de apelido. No final, ainda repeti de ano mesmo tendo conseguido nota. Me lembro que no meu boletim era 63, mas a professora, com todo seu conhecimento, convenceu minha mãe a me fazer repetir a 1ª série, pois na 4ª série eu teria dificuldade para acompanhar os demais. Escrevo isso e ainda me vem uma tristeza, pois me lembro do quanto me esforçava. Fato é que lá na bendita 4ª série estava eu repetindo, pois realmente era péssima em português e na leitura. E por aí fui rompendo, e sinceramente, as experiências com a leitura foram apenas piorando a cada dia.

Na adolescência, minha mãe, ao descobrir que eu estava namorando, ao invés de conversar comigo, me deu três livros como castigo. Nem me pergunte o nome, pois não faço ideia, apesar de ter feito um resumo de cada um deles. E toda vez que fazia algo de errado, era me dado um livro para ler, e o ódio pela leitura apenas aumentava.

Mas, depois de já crescida, ao me ver grávida, decidi pegar um livro sobre educação infantil para aprender algo sobre ser mãe. Esse livro foi o primeiro que devorei. Tinha 587 páginas com letras minúsculas, e lá, além de descobrir o quanto era benéfico a leitura, percebi o quanto a literatura me fez crescer como pessoa. Depois desse, passei a andar pelas lojas sempre buscando um novo título interessante. E cada vez mais fui evoluindo na leitura e na grafia. Ainda não tenho uma gramática perfeita, mas já evoluí bastante do que era. Depois veio o desejo de estudar, de crescer mentalmente, pois ali descobri que o conhecimento poderia me abrir horizontes. Também entendi que minha mãe, da maneira dela, queria apenas que eu abrisse a minha mente, mas eu não tinha tido boas experiências com a literatura, pois ela sempre me era colocada de maneira chata, como castigo.

Em minha casa não tinha televisão nem rádio, pois era coisa do capeta, assim dizia minha mãe. “Deus não está nisso, se você assistir, Deus vai te castigar”, dizia ela. Meu pai trazia umas televisões pequenas de tubo que tinham aqueles botões redondos preto e branco, mas minha mãe pegava e jogava pela janela, e meu pai ficava triste, calado, e ia ler os livros de faroeste dele, que minha mãe também odiava que ele ficasse ali deitado lendo. Quando ele saía, ela pegava aqueles livros e fazia fogueira, sempre xingando e falando que era do capeta.

Após meu conhecimento e evolução, procuro ponderar os meus incentivos literários e tecnológicos, pois acredito que minhas ações vão influenciar positivamente ou negativamente na evolução das pessoas ao meu redor. Busco fazer minhas leituras em horários que minhas filhas estão acordadas, para que elas vejam e desejem, e isso tem dado certo. Por elas mesmas, têm buscado suas leituras. Além disso, quando elas eram menores, sempre tiveram livros disponíveis entre os brinquedos para que pudessem ter acesso a eles. Quando íamos à casa do meu avô, buscava orientá-las para que tivessem cuidado ao folhear os livros da prateleira, as auxiliando para que não viessem as broncas do bisavô. Inclusive, elas adoram ler o livro das baleias que está ali.

As séries, filmes de princesa e desenhos são liberados, e alguns são orientados para que evitem, pois não as edificam. Mas sempre com cuidado para não ter ruptura de laços e encanto. Acredito que tenho grande impacto na evolução das gerações que estão chegando. Busco sempre orientar e viver como desejo que o mundo seja.

Sei o poder que a literatura tem sobre a evolução do ser humano. Ela pode levar a outros mundos, reais, ilusórios, criativos, e apresenta a diversidade social e cultural. É uma contribuição real para a disseminação de culturas. Por isso, acredito que ao fomentar um ambiente rico em leituras e aprendizagens, estamos não só moldando o presente, mas também plantando as sementes de um futuro mais consciente e informado.



SOBRE A AUTORA:

Hadassa Altivo Ferraz  é graduanda da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos, ofertada no primeiro semestre de 2024. A organização e edição do material foi feita pelo Projeto de Extensão Aula Digital.

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro.

Construindo memórias

Construindo memórias


 

Durante a minha infância, eu não tinha contato com livros ou textos. Morava com a minha avó e, creio que pelo fato de ela não saber ler, não havia opções de livros em casa. Lembro que, quando ia brincar na casa das minhas amigas, percebia que a mãe delas sempre deixava uma bíblia aberta em uma mesa ao lado da imagem de Nossa Senhora Aparecida. Como toda criança curiosa, eu a olhava e folheava, mas não compreendia o que havia escrito.

Outro local em que tive contato com textos foi na igreja. Todo domingo frequentava a missa com minha avó, onde sempre eram distribuídos folhetos com a liturgia. Eu gostava muito de olhar aquela folha cheia de letras, mas ainda não conseguia compreender sobre o que se tratava.

Outro momento em que tive acesso a outras mídias foi com CDs e DVDs. Em nossa casa, havia um som e uma televisão daquelas de tubo. Meu tio sempre escutava música no som, e enquanto ele fazia a troca dos CDs, eu observava curiosa as capas, que me chamavam a atenção. Sempre perguntava a ele o que estava escrito na capa. Ele me respondia lendo o nome de várias músicas e as colocava para tocar para que eu pudesse escutar. Já a televisão era mais utilizada pela minha avó, que adorava assistir a novelas à noite. Eu sempre gostei de assistir aos desenhos que passavam logo após o almoço.

Com seis anos, comecei a frequentar a escola e foi aí que tive meu primeiro contato com outros livros, além da bíblia. No início, não tinha conhecimento de quase nada em relação à escrita, não conhecia os números nem as letras. No meu primeiro dia de aula, fiquei com um pouco de medo, pois nunca havia ficado em um ambiente sem alguém da minha família, mas logo fui me acostumando.

De início, a professora começou a trabalhar letras e números. Logo depois, ela nos ensinou a escrever nosso nome. Ela sempre nos levava para um espaço onde havia vários livros, escolhia um e fazia uma roda para que começasse a ler a história. Todos nós ficávamos muito encantados com o fato de um livro cheio de letras conter uma história tão boa. Após a leitura, a professora nos perguntava sobre o que foi lido, e nós respondíamos o que havíamos entendido. Depois da leitura em conjunto, ela nos deixava olhar os outros livros daquele espaço, e eu amava folheá-los, principalmente os que tinham imagens.

Ao final do primeiro ano do ensino fundamental, eu já sabia juntar sílabas e formar palavras, além de ler pequenos textos. Como toda criança em período de alfabetização, eu tinha minhas dificuldades na escrita, que foram corrigidas através de atividades que a professora passava. Uma lembrança muito boa que tenho dessas atividades é a forma como eram impressas no mimeógrafo, um tipo de impressora antiga que utilizava álcool para possibilitar que a tinta de uma matriz transferisse as imagens e a escrita para uma folha de sulfite.

Outra atividade que a professora passava muito era o ditado, usado para avaliar nossa ortografia e, assim, trabalhar mais nas dificuldades diagnosticadas. Até o quinto ano do ensino fundamental foi uma época de muito aprendizado e evolução na escola. Foi nesse período que aprendi a ler, somar, criar textos e interpretá-los.

Do sexto ao nono ano, no ensino fundamental II, começaram novos desafios na minha aprendizagem, como as várias disciplinas, que me ensinaram, antes de tudo, a me organizar para que pudesse compreender cada uma delas. Um dos momentos que mais gostava nesse período era quando íamos para a biblioteca escolher um livro para ler e depois fazer resumos sobre o que foi lido. Um dos livros que escolhi se chamava “Capitães da Areia”, de Jorge Amado, que narrava a vida de crianças abandonadas que viviam nas ruas de Salvador. Esse é um dos melhores livros que já conheci.

Já no ensino médio, novos desafios foram surgindo. Lembro-me de que realizei muitos trabalhos, e um que me marcou foi um teatro que retratou momentos do modernismo, baseado em obras literárias. Nesse período, também tive a oportunidade de fazer a prova do Enem, cujo resultado me trouxe ao curso de pedagogia na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, a UFVJM. Essa trajetória de descobertas e desafios me mostrou o poder transformador da educação e da leitura, e é essa paixão que pretendo levar adiante na minha carreira de pedagoga.



SOBRE A AUTORA:

Eliane Simões de Oliveira  é graduanda da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos, ofertada no primeiro semestre de 2024. A organização e edição do material foi feita pelo Projeto de Extensão Aula Digital.

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro.

Revivendo minhas lembranças da escola

Revivendo minhas lembranças da escola


Nas minhas lembranças, sempre me vêm minha mãe e minha irmã mais velha, Jussara, me ensinando muitas coisas sobre as letras e os números. As duas sempre brincavam de escolinha comigo e minhas outras duas irmãs, Jessica e Tatiana. Tive contato com outros tipos de textos não escritos, como o rádio, por intermédio do meu pai, que gostava de ouvir. Minha mãe me apresentou as novelas e os jornais, dizendo que nos mantinham informados sobre o que acontecia pelo mundo.

Quando minha mãe começou a trabalhar em uma creche, ela conseguiu vaga para mim e para minha irmã mais nova, Jessica, estudarmos lá. Foi um mundo novo para nós, pois interagir com novas crianças era muito legal. Dentre as tarefas dadas, o que mais gostava de fazer era pintar e ouvir histórias. Aqueles eram os melhores momentos na creche.  Contudo, não via a hora de chegar em casa e ouvir minha irmã Jussara ler os gibis da Turma da Mônica para mim. Sempre amei como ela lia, pois me fazia viajar em cada cena.

Quando fui para a escola, graças à minha mãe e à Jussara, já sabia muita coisa, como escrever meu nome e outras palavras, contar e até ler um pouco. Minha mãe sempre dizia que a escola é nossa segunda casa, pois era onde passávamos mais tempo depois da nossa casa, e onde as famílias deviam estar inseridas, como uma só família. Ela defendia que esse contato influenciava nosso desenvolvimento, tanto em aprendizados formais quanto nas interações sociais.

A lembrança mais marcante que tenho da escola foi na 3ª série, com a professora Jadete. Após aquele ano de estudo com ela, eu quis seguir a profissão de professora, pois, no meu ponto de vista, a metodologia dela era perfeita para o aprendizado. Ela procurava maneiras de interagir com os alunos de forma que todos participavam. Usava jogos matemáticos, disputas de escrita, leituras, dentre outras artimanhas. Com a professora Jadete, cada conquista no aprendizado era motivo de festa.

Nesse período do ensino fundamental, todo ano eu mudava de escola, o que parou de acontecer após a 5ª série. Contudo, foi uma época em que todas essas escolas contavam com bibliotecas, e cada uma delas tinha uma maneira de incentivar a leitura e a escrita. Podia ser no recreio, com a barraca de leitura, onde havia livros, gibis e revistas para todos os estudantes terem um acesso mais rápido à leitura durante o intervalo. Já na barraca móvel, eram oferecidos outros lugares para ler e havia disputas de qual turma declamava melhor sobre o texto. Em outra escola, havia a caixa do correio, onde qualquer um podia mandar cartas para os outros colegas e professores; todos aqueles envolvidos no ambiente escolar podiam participar. Era muito legal, com declarações de amor anônimas e cartas de amizade, entre outras. Em outra escola, havia o recital poético, onde os próprios estudantes realizavam seus poemas e poesias e depois os declamavam para os outros, com premiações no final. Esses projetos tinham ênfase em incentivar a leitura e a escrita.

Em 2008, entrei para a faculdade de licenciatura em física no IFNMG de Januária, curso que, infelizmente, não concluí por motivos particulares. Mas, no período que frequentei, pude perceber o sentido de estudar certos conteúdos, principalmente na área de matemática, que na época do ensino fundamental e médio não via sentido. Com todas essas experiências, tanto na infância quanto na minha breve passagem pela faculdade, compreendi a importância de um ambiente educativo enriquecedor e o impacto duradouro que ele pode ter no desenvolvimento e nas escolhas de uma pessoa.



SOBRE A AUTORA:

Christiany Dias Mota é graduanda da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos, ofertada no primeiro semestre de 2024. A organização e edição do material foi feita pelo Projeto de Extensão Aula Digital.

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro.

Minha breve história com a educação

Minha breve história com a educação


 

Tenho 24 anos, moro na cidade de Grão Mogol, Minas Gerais, na zona rural do município. Trabalho na Escola Francisco Pereira do Nascimento, onde também sou estagiária, uma etapa necessária para me tornar professora. Estou cursando o 6° período de Pedagogia na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), o que me proporcionou a oportunidade de ingressar na área da educação.

Sinto imensa gratidão pelo curso, que me permite realizar meus sonhos e alcançar meus objetivos. É muito gratificante adquirir e construir novos conhecimentos junto aos colegas e professores da universidade. No entanto, enfrento alguns desafios ao longo do meu percurso, como o estudo a distância, que exige total dedicação e disciplina do aluno. Com perseverança, vou alcançando minhas metas.

Minha história na educação começou na pré-escola, onde estudei na escola em que trabalho atualmente. Tenho boas lembranças das apresentações de trabalhos teatrais e culturais, que despertavam bastante interesse e proporcionavam diversão, como nas “Tardes Literárias”, onde os alunos realizavam teatros, declamação de poemas e leituras de diversos textos. Lembro-me também do período em que terminei o 9° ano e estava prestes a começar o 1° ano do ensino médio, quando descobri minhas habilidades nas artes. Foi nesse momento que comecei a desenhar e pintar quadros. Recordo-me dos elogios da diretora e dos professores às minhas pinturas e desenhos. Na escola, também lembro de como sempre fui uma criança muito tímida, o que me trazia desvantagens no ambiente escolar e na socialização. Com o tempo, fui me adaptando melhor.

Por isso, acredito na importância de um bom desempenho escolar, que proporciona aos alunos um acolhimento fundamental para o aprendizado, contribuindo na formação e no desenvolvimento de habilidades essenciais, por meio do exemplo e da edificação de valores. Cada estudante que chega traz um turbilhão de sentimentos, como medo do novo, a necessidade de fazer novos amigos e a expectativa de um novo ano escolar. Assim, espero continuar a crescer e a contribuir positivamente para a educação, ajudando a construir um ambiente acolhedor e estimulante para todos os alunos.



SOBRE A AUTORA:

Milena Oliveira Murça de Aguiar é graduanda da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos, ofertada no primeiro semestre de 2024. A organização e edição do material foi feita pelo Projeto de Extensão Aula Digital.

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro.

Das histórias bíblicas à minha pequena biblioteca

Das histórias bíblicas à minha pequena biblioteca

Era muito comum o acesso a vários textos na minha casa quando eu era mais jovem. Quando aprendi a ler, o acesso a livros, revistas e jornais, tanto no ambiente escolar quanto no cotidiano, era fácil. Era comum ver diversas pessoas lendo revistas, folhetos e, principalmente, a Bíblia. Por crescer em um ambiente muito religioso, meu primeiro contato com a leitura foi um livro de histórias intitulado “Meu Livro de Histórias Bíblicas”. A leitura constante desse livro me ajudou a melhorar meu aprendizado e, hoje em dia, ainda leio artigos religiosos. Também gosto muito de livros e mangás

Não tenho lembranças de como aprendi a contar, mas lembro muito bem de que comecei contando até o número 13, que hoje em dia é meu número da sorte. Acho que cada um tem um número especial, e o meu é esse. Em relação a valores monetários, sempre tive dificuldade, pois minha infância foi muito difícil no aspecto financeiro, já que minha família não tinha muito dinheiro. Porém, lembro-me muito bem do meu primeiro contato com dinheiro, quando comecei a vender sobremesas para minha avó no centro da cidade, em “dias cheios”.

Na escola, eu sempre fui bem em matemática. Muito curioso, comecei a somar um pouco antes de aprender na escola, mas, como é de se esperar, eu conseguia realizar apenas operações bem simples, como 10 – 2. Mas, pelo fato de já saber, deixei minha professora impressionada. Em matemática sempre fui avançado, principalmente quando comecei a ter acesso à internet, pois gostava bastante de resolver problemas e ver vídeos curtos sobre eles, o que me ajudou muito quando entrei no Ensino Fundamental II. Na época, tive bastante incentivo familiar, mas o que mais me ajudou foi o incentivo dos meus colegas de escola. Acho que o fato de sempre ficarem surpresos com o meu conhecimento me fazia querer continuar sendo essa pessoa sábia.

Quando entrei na escola, eu tinha pouco domínio da escrita, mas sabia escrever meu nome e algumas palavras. Com relação à leitura, sempre tive dificuldades. A escola, logicamente, foi o que mais teve impacto em minha educação, pois foi fundamental para meu aprendizado na escrita e leitura.

Meus gostos de leitura sempre se mantiveram em quadrinhos. No Ensino Fundamental I, eu amava histórias em quadrinhos como Turma da Mônica e O Menino Maluquinho. No Ensino Fundamental II, mantive os mesmos gostos, porém com outras obras, como, por exemplo, o livro do “Demolidor”, que eu gostava tanto que ganhei o primeiro lugar em uma apresentação sobre o livro. Já no Ensino Médio, minhas obras favoritas eram os mangás, que nada mais são do que histórias em quadrinhos japonesas. Atualmente, esse é meu estilo dominante de leitura.

Em ambas as escolas em que estudei havia biblioteca, que eram espaços muito legais. A frequência sempre foi motivada pelos professores para lermos. Acho que isso me ajudou muito, pois até hoje tenho gosto pela leitura.

A minha prática com os números sempre era colocada em prática no meu dia a dia. Como dito anteriormente, meu número favorito é o 13 e até hoje, quando eu saio na rua, eu sempre tenho a mania de olhar as placas de carros e, com os números, fazer cálculos até chegar ao resultado 13. É divertido. Há outras maneiras que coloco os números nas minhas práticas, como, por exemplo, quando dou passos um pouco mais largos, a fim de que tenham mais ou menos 1 metro.

Mas nem tudo são flores e notei bastante diferença entre a universidade e a escola. Por exemplo, na escola, por termos que aprender regras sobre a língua portuguesa formal, não íamos com grande frequência à biblioteca, mas no Ensino Médio éramos incentivados a ler livros que eram cobrados no plano de ensino. Já na universidade, temos grande frequência de práticas de leitura de uma grande diversidade de livros que nos auxiliam no aprendizado. Isso acarreta, de forma positiva, em nosso aprendizado, pois temos várias fontes de estudo. O lado negativo é a dificuldade de conciliar tudo com a vida pessoal, especialmente para quem trabalha e tem família.

Atualmente, eu tenho lido bastante, não só as recomendações de professores, como também obras à parte. Estou com um projeto em andamento de uma pequena biblioteca, que conta com vários livros e coleções, de “Sherlock Holmes” a “One Piece”. No entanto, tenho leve dificuldade em ler recomendações universitárias.

Felizmente, sei lidar bem com minha questão financeira, porém esse aprendizado não veio por meio da escola, onde não eram abordadas questões econômicas. Ou seja, eu aprendi várias coisas por vontade própria, ou passaria dificuldades. Atualmente, sigo, nas redes sociais, diversas pessoas que mostram o bom resultado de saber lidar com seu dinheiro, e leio muitas obras a respeito, como, por exemplo, a obra “O Homem Mais Rico da Babilônia”.

A jornada de aprendizado e crescimento que experimentei ao longo dos anos, desde a infância até a universidade, moldou profundamente minhas habilidades e interesses. O amor pela leitura, iniciado com histórias bíblicas e expandido para quadrinhos e mangás, foi essencial para meu desenvolvimento intelectual e pessoal. Da mesma forma, minha curiosidade e aptidão em matemática, incentivada tanto pela família quanto pelos colegas, estabeleceram uma base sólida para meu sucesso acadêmico. Hoje, vejo como cada etapa, cada livro lido e cada problema resolvido contribuíram para quem sou. Continuo a valorizar o conhecimento e a busca por novas aprendizagens, sempre equilibrando os desafios acadêmicos com a vida pessoal. Esse equilíbrio e a contínua dedicação à leitura e ao aprendizado são, sem dúvida, a chave para um futuro promissor. Espero conseguir me empenhar para continuar minha jornada.



SOBRE O AUTOR:

Natanael Gomes é graduando da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos, ofertada no primeiro semestre de 2024. A organização e edição do material foi feita pelo Projeto de Extensão Aula Digital.

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro.

Memória de letramento escrito e matemático

Memória de letramento escrito e matemático

 

Nos meus primeiros anos de vida, em casa, o ambiente era permeado por jornais e revistas que minha mãe trazia das casas onde trabalhava como empregada doméstica. Lembro-me vividamente de observar meus pais, especialmente minha mãe, folheando os jornais para se atualizarem com as notícias do dia. Era um ritual diário, onde eles se sentavam à mesa da cozinha, mergulhavam nas páginas impressas e discutiam os acontecimentos do mundo.

Naquela época, minha casa também abrigava uma vitrola imponente, com uma coleção diversificada de discos de vinil que adornavam a estante. Aquelas tardes em que os vinis eram colocados para tocar eram momentos de pura magia para mim, perdido na melodia e nas histórias contadas pelas músicas.

Foi somente na escola que tive meu primeiro contato sistemático com a matemática. Lá, em salas de aula repletas de crianças curiosas, aprendi os fundamentos dos números, das operações básicas e da resolução de problemas. Esses conceitos matemáticos, que antes pareciam tão abstratos, tornaram-se cada vez mais tangíveis e aplicáveis à medida que avançava nos anos escolares. Foi naquele ambiente de aprendizado que também desbravei o mundo da leitura e escrita. Lembro-me da emoção de decifrar as primeiras palavras e de formar as primeiras frases com o auxílio paciente dos meus professores.

A escola desempenhou um papel fundamental nos meus processos de letramento. Apesar de, na época, eu não demonstrar muito interesse pela leitura, os esforços e incentivos dos meus professores plantaram sementes que floresceriam mais tarde na minha vida. Hoje, reconheço a importância daqueles momentos de aprendizado e como foram essenciais para moldar minha relação com a linguagem escrita e os números.

No contexto profissional, percebo claramente como o letramento adquirido na escola se tornou uma ferramenta indispensável. Seja na redação de relatórios, na interpretação de dados ou na comunicação escrita com colegas e superiores, as habilidades desenvolvidas ao longo dos anos escolares se revelam cruciais para o desempenho eficaz das minhas funções.

Na minha jornada acadêmica, a paixão pela leitura que sempre carreguei desde a infância foi um grande trunfo. Quando ingressei no curso de física, já tinha o hábito de devorar livros e artigos, o que facilitou a adaptação aos textos universitários mais densos. O gosto pela literatura não apenas tornou a absorção do conhecimento mais prazerosa, mas também contribuiu para o aprimoramento da minha comunicação escrita e oral.



SOBRE O AUTOR:

Robson Rodrigues Dias é graduando da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos, ofertada no primeiro semestre de 2024. A organização e edição do material foi feita pelo Projeto de Extensão Aula Digital.

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro.

Minha vida escolar

Minha vida escolar

Ao iniciar minha jornada escolar, eu não sabia ler nem escrever. A contagem de números, aprendi de forma lúdica, nas brincadeiras de rua, com meus irmãos e vizinhos, como pique-esconde. Logo no primeiro ano do ensino fundamental, descobri a magia de escrever meu próprio nome, um marco inicial em minha trajetória educacional. Apesar de já ter alguma noção de números, adquirida nas brincadeiras infantis, logo percebi que o universo dos números ia muito além do que imaginava, infinitamente, o que despertou em mim uma verdadeira paixão pelos cálculos e pela matemática.

Naquela época, tive acesso a alguns livros de leitura pertencentes à minha irmã mais velha, que já frequentava a escola. Além disso, observar as pessoas lendo a Bíblia e os folhetos nos cultos religiosos despertava minha admiração pela habilidade deles na leitura. A interação entre a escola e minha família desempenhou um papel essencial na minha jornada de letramento. Lembro-me vividamente de um diário customizado pela professora, tia Cláudia, no qual éramos encorajados a registrar nossa rotina durante as férias, uma prática que contribuiu significativamente para o desenvolvimento da minha escrita.

A trajetória escolar foi marcada pela influência positiva dos professores e pela atmosfera acolhedora do ambiente educacional. No ensino fundamental, as aulas eram repletas de brincadeiras, músicas e histórias, o que tornava o aprendizado leve e prazeroso. No entanto, ao adentrar o ensino médio, percebi a necessidade de assumir responsabilidades e compromissos mais sérios. Enquanto na matemática me destacava, desafiando-me com cálculos complexos e tabuadas, enfrentava dificuldades em disciplinas como geografia e biologia, que me exigiam um esforço adicional para compreender os conteúdos.

O desejo de seguir a carreira de professora e proporcionar um futuro melhor para minhas filhas foi o principal impulso para cursar o ensino superior. Lembro-me com carinho das aulas de matemática, repletas de desafios lançados no quadro e tabuadas, que sempre foram minha paixão. No entanto, no ensino médio, enfrentei dificuldades com gráficos e figuras geométricas, mas, mesmo diante dos obstáculos, mantive um desempenho acadêmico exemplar. Os professores, embora sérios, transmitiam o conteúdo de forma envolvente, despertando em mim uma verdadeira paixão pela matemática e servindo como inspiração para minha futura carreira.

Ao ingressar na faculdade, redescobri o prazer pela leitura, algo que havia perdido após a formatura no ensino médio. A experiência acadêmica me proporcionou não apenas o desenvolvimento intelectual, mas também a oportunidade de retomar hábitos de leitura que haviam sido negligenciados. Atualmente, após um ano de curso, percebo uma mudança significativa, pois agora busco avidamente o conhecimento em todas as formas de texto, não apenas nos conteúdos sugeridos pelos professores, mas também em notícias, folhetos e jornais. Estou preparada para enfrentar um novo semestre, repleto de desafios e aprendizados, com a experiência adquirida e uma sede insaciável por conhecimento.



SOBRE A AUTORA:

Viviane Soares Silva é graduanda da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos, ofertada no primeiro semestre de 2024. A organização e edição do material foi feita pelo Projeto de Extensão Aula Digital.

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro.

Memórias da Cartilha Caminho Suave

Memórias da Cartilha Caminho Suave


 

Durante minha infância, até os 5 anos de idade, morávamos na zona rural eu, meus pais e minha irmã mais velha, que naquela época tinha 6 anos. O acesso à escola apresentava algumas restrições, como a distância. Mesmo diante de tais dificuldades, foi possível ter contato com os primeiros textos escritos através da cartilha alfabetizadora da época, chamada “Cartilha Caminho Suave”.

O livro era emprestado por uma tia que lecionava na zona urbana. Naquele momento, ainda sem frequentar a escola, foi minha mãe, com muita determinação e carinho, que nos pré-alfabetizou, a mim e a minha irmã mais velha.

Recordo-me que a cartilha era bem simples e associava imagens e letras com o objetivo de facilitar a aprendizagem. Graficamente, apresentava as letras escritas na imagem, relacionando as duas formas de maneira visual. Por exemplo, a letra “V” era escrita com a silhueta no formato dos chifres da vaca, semelhante a um V, entre outras.

Ao completar 6 anos de idade, mudamos para a cidade e então tivemos acesso à escola formal. O fato de já estarmos pré-alfabetizadas facilitou minha compreensão e permitiu acompanhar a turma sem muitas dificuldades. Minha relação com os números, por sua vez, começou quando ingressei na escola da zona urbana. Sempre me esforcei para aprender matemática e acompanhar a classe, mas tenho consciência das minhas dificuldades na assimilação de alguns conteúdos da área de exatas em geral. Tenho melhor afinidade com a escrita e a leitura, apesar de perceber minhas dificuldades na sintaxe.

Minhas recordações com a escrita e a leitura no ensino fundamental referem-se aos ditados e às leituras feitas em classe e na biblioteca. Para ler na biblioteca, éramos organizados em grupos que, em determinado horário de aula, eram direcionados para a biblioteca para lermos um texto. O nível de leitura avançava na medida em que a complexidade dos textos aumentava. Em outros momentos da educação básica, éramos sorteados para fazer a leitura em voz alta dos textos trabalhados em sala para os demais colegas de classe, até então lidos apenas em voz baixa. Os ditados dos textos visavam à correta grafia. Meu hábito de ler livros de literatura varia de acordo com minha necessidade momentânea. Geralmente, minhas leituras mais cotidianas são referentes a temas do serviço que desempenho, o qual demanda conhecimentos diversos.

O ingresso na UFVJM para o curso de pedagogia me possibilitou uma visão diferente dos métodos de ensino e de letramento das crianças. O fato de ter filhos na idade de alfabetização, aliado à minha formação como futura professora, me proporciona o contato com a aprendizagem da escrita, da leitura e da matemática. Sobretudo, os filhos me despertam um interesse amplo no assunto, visto a necessidade de ampará-los e auxiliá-los neste momento primordial da alfabetização.

Sou grata à minha querida mãe por me incentivar a buscar o conhecimento formal, uma pessoa que, mesmo com suas limitações, me proporcionou o acesso aos letramentos na idade adequada. Tenho consciência de que o conhecimento abre portas e nos permite desfrutar do melhor da vida, desde que tenhamos determinação, coragem e oportunidades de acessá-lo. Pretendo concluir o curso com o objetivo de contribuir para o ensino daqueles que buscam formação e acesso ao conhecimento, bem como para a troca de saberes.



SOBRE A AUTORA:

Aline Pereira Lopes Dias  é graduanda da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos, ofertada no primeiro semestre de 2024. A organização e edição do material foi feita pelo Projeto de Extensão Aula Digital.

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro.

Leitura e escrita na minha vida

Leitura e escrita na minha vida

Por Wesley Rodrigues de Almeida [1]



Comecei a estudar com 5 anos de idade, numa escola municipal chamada Casinha Feliz, em Taiobeiras/MG. Aos 6 anos, sabia escrever o meu nome. Aos 8, tinha uma pequena noção de valor do dinheiro e de soma e subtração de números. Quando criança, os meus pais me davam livros clássicos de literatura infantil (Chapeuzinho Vermelho, Os Três Porquinhos, A Bela e a Fera e outros) e histórias em quadrinhos. Era uma forma de estimular a leitura. Eu gostava dos meus livros e guardava-os muito bem para não estragar.

Lembro-me de alguns detalhes do Ensino Fundamental I: eu treinando as letras do alfabeto, aprendendo as sílabas e a juntá-las para formar palavras. Estudava bastante a tabuada para poder acertar no dia que a professora fizesse as perguntas. Começava assim o meu gosto pelos números. Recordo também do material dourado no ensino do sistema de numeração decimal. A minha mãe era quem geralmente me ajudava nas tarefas escolares. Com muita paciência e dedicação, ela estava sempre pronta a me ajudar.

Em relação ao Ensino Fundamental II, as professoras de Português costumavam solicitar a leitura de uns livros de literatura, os quais eram emprestados pela biblioteca escolar. Elas davam provas ou trabalhos sobre eles. No 9º ano consegui uma bolsa de estudos no Centro Educacional Beliza Corrêa em Taiobeiras. Foi principalmente com os professores da área de exatas dessa escola que aprendi a interligar os conteúdos matemáticos aprendidos na busca de solução para as questões de exercícios e provas, ou seja, o desenvolvimento do raciocínio lógico.

Durante o Ensino Médio li alguns livros para prestar vestibular e escrevi textos dissertativo-argumentativos. Agora, após mais de dez anos do término dessa etapa escolar, estou nos passos iniciais de uma jornada em busca da conclusão de um curso superior, a Licenciatura em Matemática. Assim, a minha noção de escrita e leitura foi aperfeiçoando ao longo do tempo através da escola e da minha família, mas sei que ainda tenho muito a aprender.



[1] Wesley Rodrigues de Almeida é graduanda da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos, ofertada no primeiro semestre de 2023. A organização e edição do material foi feita pelo Projeto de Extensão Aula Digital.

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, com as ricas contribuições na revisão e organização do tutor Marcos Roberto Rocha.

Minha reminiscência escrita

Minha reminiscência escrita

Por Wágner Gomes da Rocha [1]



 

“Oh! que saudades que eu tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida.

Que os anos não trazem mais!”

 

(Casimiro de Abreu, 1859)

Tal qual o eu-lírico evoca as memórias de sua infância, assim recordo-me saudosamente das reminiscências de minha meninice para a escrita deste relato. Eu morava na zona rural, juntamente com minha família. Minha irmã mais velha estudava na escola do distrito mais próximo; meus pais, por sua vez, não tiveram a oportunidade de concluir o primário (Ensino Fundamental I) devido à necessidade de trabalhar na roça para ajudar suas famílias. Entretanto, meu pai sabia ler e escrever, ainda que pouco e com dificuldades. Na minha casa, eu não tinha acesso a livros literários. Os textos escritos presentes advinham dos livros didáticos que minha irmã utilizava na escola, da Bíblia, dos rótulos de alimentos e medicamentos, dos relógios, dos panfletos comerciais e das faturas de energia elétrica. Ademais, sempre gostamos muito de escutar o rádio. Ele era o nosso grande aliado para acesso às informações e notícias da região, e entretenimento, já que por ele escutávamos as narrações dos jogos de futebol – principalmente do Atlético Mineiro, do qual eu era torcedor.

Meu primeiro contato com as letras e números se deu antes de ingressar no jardim de infância, quando me reunia com minha irmã, meus primos e vizinhos e brincávamos de “escolinha”. Foi assim que conheci e aprendi as primeiras letras do alfabeto e números. Contudo, ainda não sabia ler nem escrever palavras. Em relação aos números, estes me foram apresentados principalmente pelo meu pai que, ao regressar para casa após as safras de cana de açúcar, sempre trazia moedas e me ensinava a contá-las, de modo que à medida que eu acertava, ele me concedia as moedas. Assim, aprendi a contar os números, somar e subtrair dinheiro, sendo este um exercício do qual eu sempre gostei e tive muita facilidade em aprender.

Ao ingressar na “pré-escola” (jardim de infância), eu já conhecia as letras e números. Todavia, foi lá onde aprendi a desvendar o mundo das palavras, onde aprendi a formar sílabas e palavras, escrevê-las e lê-las. Recordo-me que no pré-escolar eu já conseguia “tirar do quadro” as lições ensinadas pela professora que, diariamente, nos instruía a escrever um mesmo trecho com a única alternância da data do dia. Nesta altura eu já sabia ler e escrever palavras; e também sabia contar dinheiro e não apresentava dificuldades com os números.

 Posteriormente, ao ingressar no Ensino Fundamental, numa escola estadual, tive acesso a outros textos escritos por meio da biblioteca da escola, como gibis de “O Menino Maluquinho”, de Ziraldo, livros de poesias, dentre os quais recordei-me inicialmente do poema “Meus oito anos”, de Casimiro de Abreu, que a professora de Português levava para lermos, decorar e recitar, e “O Barquinho Amarelo”, de Iêda Dias da Silva, um dos primeiros livros literários que li e um dos mais conhecidos na minha escola, já que todas as crianças tinham que lê-lo por solicitação da professora. Eu não gostava muito de ler livros, mas sempre o fazia, já que todo ano ou bimestre a professora de Português nos pedia que lêssemos um livro, o apresentássemos à turma e fizéssemos uma resenha acerca do mesmo. Ao longo de todo meu ensino básico sempre gostei muito de matemática, de fazer cálculos, interpretar e desvendar problemas, usar o raciocínio lógico, e sempre tive facilidade com os mesmos, fato este que me guiou até a escolha do meu primeiro curso de graduação em Ciências Contábeis, onde imergi em outros tipos de textos, agora universitários e científicos, que construíram e moldaram meu aprendizado e me deram sede pelo aprendizado da matemática para, posteriormente, o ensino da mesma, o que me impulsionou a chegar até aqui.

Agora, ao reviver minhas memórias, noto a presença do letramento e do letramento matemático em minha vida e o modo como estes contribuíram para a construção do “Wágner” que sou hoje, desde o meu aprendizado até meus gostos, escolhas e anseios. Assim, emergem as lembranças “(…) que os anos não trazem mais”, como disse Casimiro de Abreu (1859). e projetam-se sonhos que se tornam cada dia mais reais.



[1] Wágner Gomes da Rocha é graduando da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos, ofertada no primeiro semestre de 2023. A organização e edição do material foi feita pelo Projeto de Extensão Aula Digital.

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, com as ricas contribuições na revisão e organização do tutor Marcos Roberto Rocha.

O início de um sonho

O início de um sonho

Por Viviane Soares Silva [1]



Comecei na vida escolar aos 7 anos de idade, em uma escola pequena em meu bairro. Foram momentos incríveis, desde as atividades em sala de aula, as músicas infantis cantadas e dançadas no pátio da escola, até o hino nacional nas segundas-feiras. Antes de entrar na escola, eu só tinha conto com textos escritos por meio de revistas de novelas e de signos, compradas pela minha tia.

No ano de 2007, passei para a 5ª série (hoje 6º ano). Como minha escola era pequena, fomos transferidos para a escola maior do bairro vizinho, onde estudei até me formar. Foram novos hábitos, novos colegas, professores, tudo novo. Lá conheci minhas melhores amigas, onde vivi anos inesquecíveis, pude presenciar a maldade e covardias decorrentes do tom de pele, ou espessura corporal, dentre outros motivos, os quais sempre terminavam em socos e pontapés.

No ano de 2014, aproximava-se o tão sonhado dia, o da nossa formatura do 3º ano do ensino médio. Trabalhamos o ano todo, vendendo rifas, bingos, caderno de ouro, todos com os mesmos objetivos, arrecadar dinheiro para a formatura. Fizemos várias festas para arrecadar dinheiro para quando chegasse o dia, para garantir que o dinheiro era suficiente para nossa festa. O tão sonhado dia foi 20/12/2014. Tivemos a missa de formatura, que foi muito linda, cm uma igreja impecável. O jantar de formatura foi na escola. Naquele momento vimos que todo esforço valeu a pena, que cada bingo, rifa, festas, tudo foi compensado.

Sete anos após a formatura do 3º ano, estou realizando o sonho de ingressar em uma universidade federal, a  UFVJM, para me tornar uma excelente profissional.



[1] Viviane Soares Silva é graduanda da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos, ofertada no primeiro semestre de 2023. A organização e edição do material foi feita pelo Projeto de Extensão Aula Digital.

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, com as ricas contribuições na revisão e organização do tutor Marcos Roberto Rocha.