Edilson José da Costa, Santa Cruz de Salinas/MG
Eu não tinha muito acesso a textos escritos em casa, pois moro na zona rural desde pequeno, e nem na cidade mais próxima havia esse acesso. Mas, graças a Deus, eu tinha alguns livros bem antigos que pertenciam aos meus avós. Gostava muito de pegá-los para ler e ver as imagens, que sempre chamavam minha atenção. Me lembro de que, antes mesmo de frequentar a escola, via meus primos e irmãos fazendo as atividades dos livros que os professores passavam para fazerem em casa. Eu ficava só observando, morrendo de vontade de pegar os livros para ler o que eles estavam copiando, mas, infelizmente, ainda não sabia ler nem escrever. Me lembro de que pegava o lápis e tentava desenhar, porém o que eu queria mesmo era frequentar a escola para aprender a ler e escrever o quanto antes.
Quando era criança, ganhei uns quebra-cabeças e ficava quase o dia inteiro tentando montá-los; era uma diversão enorme para mim, pois, antigamente, era a coisa mais rara de se ganhar. Esses quebra-cabeças me ajudaram muito no aprendizado e desenvolvimento como criança. Me lembro também de ter ganhado uns dominós que me ajudaram bastante; aprendi a contar antes mesmo de ir para a escola. Tenho lembranças que usava caroços de feijão e de milho e ficava os contando. Só que eu sabia contar só até cem; daí para frente, não sabia mais contar. Quando entrei na escola, consegui contar mais de cem.
Comecei a reconhecer o dinheiro só depois que entrei na escola, pois não tinha muito contato com ele, já que venho de uma família humilde, que passava por muitas privações. Só depois que entrei na escola fui tendo os meus primeiros contatos com o dinheiro. Me lembro que, na escola onde estudava, morava uma mulher pertinho dali que fazia geladinhos para vender, e me dava uma vontade enorme de comprar, mas eu não tinha dinheiro. Quando chegava em casa, eu falava para meus pais que havia essa mulher e, quando sobravam umas moedas, eles me davam para comprar os geladinhos que eu sempre desejava. Assim, fui tendo meus primeiros contatos com o dinheiro e fui aprendendo a reconhecê-lo também.
Me lembro que aprendi a contar usando caroços de feijão antes de ir para a escola. Eu tinha muita vontade de fazer contas, mas não sabia nem por onde começar; só fui aprender mesmo depois que entrei na escola e cada vez mais ao resolver problemas matemáticos. Desde criança, tenho facilidade com a matemática, mesmo com tantas dificuldades e sem aprender todas as matérias que queria muito ter aprendido. Porém, os professores nunca passavam a matéria toda; sempre ficava faltando.
A escola onde estudei teve um papel muito importante no meu aprendizado e nos letramentos matemáticos. Tive a grande sorte de ter um professor muito experiente, que, além de ser professor, era um grande amigo. Minha família não teve esse papel importante no meu aprendizado nos letramentos matemáticos, mas não por culpa deles; meus pais eram analfabetos, e o restante da família não tinha muito estudo naquela época.
Desde os cinco anos de idade, já gostava de ter contato com lápis e canetas. Me recordo que tentava desenhar no caderno e só fazia rabiscos, pois não conseguia desenhar. Antes de entrar na escola, só sabia fazer meu nome e contar até cem. Minha relação com a escrita nos primeiros anos da escola não foi muito boa. Quando entrei na escola, faltava muito material para os alunos estudarem; eu mesmo tinha que dividir um livro com quatro colegas para poder ler e responder às atividades, pois não havia livros suficientes para todos os alunos. Me lembro de que meu professor me colocava para ler e escrever bastante, a fim de melhorar minha escrita e leitura. Depois, surgiu o quadro na minha escola, pois até então não havia. Isso me ajudou muito, pois tornou o processo de aprendizado mais fácil, permitindo que eu melhorasse ainda mais na leitura e na escrita.
Eu gostava muito de escrever e ler poemas, além de contos folclóricos que o professor me pedia para copiar do livro. Além disso, ele pedia que eu perguntasse à minha família sobre algum conto folclórico brasileiro que conhecessem, para que eu o escrevesse no caderno e, posteriormente, lesse para todos os colegas da sala. O papel da escola nos meus letramentos iniciais foi fundamental, apesar das diversas dificuldades que a instituição enfrentava, como a frequente falta de material.
Mesmo com as dificuldades, a escola sempre se esforçava ao máximo para nos ensinar tudo o que precisávamos aprender. Na época em que comecei a estudar, meu professor morava muito longe e precisava ir a cavalo, já que naquele tempo poucas pessoas tinham acesso a algum meio de transporte. Eu gostava muito de ler histórias em quadrinhos, lendas do folclore brasileiro e poemas. Quando comecei a estudar, adorava produzir poemas, especialmente aqueles com rimas engraçadas.
Ao mudar de escola, tudo se transformou para mim. Havia mais professores, as matérias eram bem mais difíceis, e, no início, enfrentei muita dificuldade. Minhas notas no primeiro bimestre foram praticamente todas ruins. Apenas a partir do segundo bimestre, as notas começaram a melhorar um pouco, e eu sempre me destacava em matemática, a matéria de que mais gostava.
No ensino médio, tive dificuldades similares, pois foram acrescentados mais matérias e professores. Assim como no ensino fundamental, minhas notas do primeiro bimestre não foram boas. Somente no segundo bimestre, após me adaptar melhor, elas começaram a melhorar.
Na minha primeira escola não havia biblioteca; só fui ter contato com uma biblioteca depois que entrei na segunda escola. Meus professores me pediam para frequentar a biblioteca, e eu aproveitava os horários vagos, ou então a hora do recreio, para ler um livro e fazer uma visita. Quando estudava na primeira escola, nos anos iniciais, cometia muitos erros de escrita e tinha certa dificuldade para formar frases longas. O pior é que meu professor não chamava a atenção para esses erros que eu cometia naquela época. Ao mudar de escola, minha escrita e leitura evoluíram bastante, e, a cada ano, eu aprendia mais a escrever e ler corretamente. Hoje, não tenho mais aquelas dificuldades que enfrentava no início dos estudos.
Assim que entrei no ensino médio, precisei mudar muito minha relação com a leitura e a escrita, pois estava prestes a fazer minha primeira redação no ENEM e sabia que os erros precisavam ser mínimos. Meus problemas com a escrita e leitura se devia ao fato da falta de correção pelos meus professores, o que dificultava bastante o aprendizado correto. Houve várias vezes em que alguns professores erraram ao escrever no quadro e, como resultado, todos os alunos também copiavam errado.
Os números sempre fizeram muito sentido para mim, mesmo antes de entrar na escola. Hoje, utilizo-os em praticamente tudo que faço. Me recordo de quando fazia doces para vender, precisava somar diariamente os gastos e ganhos para, ao final do mês, calcular se estava lucrando ou não com a venda. Imagine se eu não tivesse facilidade com os números; provavelmente teria que pedir ajuda a alguém para fazer essas contas diariamente.
Entrei na universidade recentemente, então ainda não consegui observar muitas mudanças, pois faz pouco tempo que comecei. Mesmo assim, venho me cobrando diariamente para melhorar cada vez mais minha leitura e escrita, pois sei da responsabilidade que é estudar em uma universidade, onde os erros devem ser evitados. Um ponto muito positivo é que, a partir de agora, estou me dedicando ao máximo para aprimorar ainda mais minha escrita e leitura, sabendo que, em um futuro próximo, colherei grandes frutos. Um ponto negativo é a quantidade de material disponível ao mesmo tempo; há muitas atividades para ler e responder, e é preciso estar atento aos prazos de envio. Por isso, sempre procuro responder primeiro as atividades com prazos menores.
Mesmo com algumas dificuldades, estou me esforçando ao máximo para ler e concluir tudo que meus professores solicitam. Quando se trata de atividades avaliativas, gosto de enviar as respostas antes do prazo final, para não acumular. No início, estou tendo algumas dificuldades com os textos acadêmicos, mas estou me esforçando para me adaptar rapidamente às novas formas e perspectivas de leitura.
Tenho muito interesse em aprender, aprimorar meus conhecimentos e melhorar significativamente minha escrita e leitura. Após ingressar na faculdade, percebi algo muito importante: o ensino que recebi nas escolas anteriores foi bastante frágil. Por isso, hoje enfrento dificuldades em alguns conteúdos. Os gêneros textuais que mais gosto são o narrativo, o dissertativo e o expositivo.
Neste começo de faculdade, sinto muita falta de conteúdos que meus professores anteriores não abordaram. As matérias de que mais sinto falta são língua portuguesa e matemática. Administro bem minhas finanças e procuro gastar dentro dos meus limites. No entanto, não foi o ensino médio que me ensinou a lidar com questões financeiras, mas sim meus pais, que, desde cedo, me aconselharam a lidar com a vida de forma responsável.
SOBRE O AUTOR:
Edilson José da Costa, de Santa Cruz de Salinas/MG, é acadêmico da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.
A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas pelo Professor Carlos Henrique Silva de Castro e pelos Tutores Daniela da Conceição Andrade e Silva, Luís Felipe Pacheco e Patrícia Monteiro Costa.