Perspectivas Pessoais Sobre Letras e Números

Mateus Câmara Andrade, Montes Claros/MG

A religião sempre esteve muito presente no ambiente onde cresci. A família do meu pai é evangélica, enquanto a da minha mãe é majoritariamente católica. Essa influência fez com que textos religiosos fossem meu primeiro contato com as letras.

Logo nos primeiros anos de vida, aprendi que meu nome, com essa grafia específica, foi escolhido por ser a forma usada na Bíblia. Inúmeras vezes, em situações como:

— “O nome dele tem H?”

— “Não, é a forma bíblica”, respondia minha mãe.

Ao abrir a Bíblia, hinários e outros livros cristãos, eu não entendia nada do que estava vendo, mas, ainda assim, ali começava a se desenvolver minha curiosidade pela leitura. Aprendi a ler, escrever e fazer contas na escola, e ainda tenho lembranças vívidas dessa época. O processo começou no 2º período da educação infantil. Tia Ção, minha primeira professora, escrevia no quadro uma letra de cada vez e nos ensinava os movimentos que nossas mãos deveriam replicar para que cada traço fosse corretamente colocado no papel.

Entre as várias letras do alfabeto, meu ponto fraco era a letra “S”. Até hoje, lembro-me nitidamente, aos cinco anos, sendo o único da sala a receber uma folha completamente em branco, com a orientação de escrever quantos “S” fossem necessários até alcançar uma forma visualmente adequada.

Algo semelhante aconteceu nas aulas de Matemática: tia Ção não gostava que construíssemos o número “8” com uma bolinha em cima da outra. Pelo menos dessa vez, eu não estava sozinho; muitos colegas também receberam uma folha em branco para praticar a forma que ela desejava.

De maneira geral, a escola sempre me auxiliou muito, oferecendo um ambiente de aprendizagem que incluía o ensino de regras e padrões, avaliação do progresso, incentivo, apoio e intervenções. No meu entendimento, a escola cumpriu bem seu papel.

Com a evolução das habilidades de leitura, surgiu meu primeiro hobby: ler revistas em quadrinhos. Muitas vezes, meu pai chegava do trabalho trazendo um gibi do Pato Donald ou do Pateta. Eu o agradecia e recebia as revistas com um sorriso de orelha a orelha, pois eram minhas favoritas, graças ao estilo atrapalhado, aventureiro e de grande coração dos protagonistas.

De tempos em tempos, eu era levado a uma banca de jornais para escolher a próxima aventura literária e, em certa ocasião, descobri uma revista que marcou minha juventude: a Recreio. Incentivado pela minha mãe, que assinou a revista, eu mergulhava quinzenalmente em uma nova edição.

Durante esse período, comecei a me familiarizar com mais gêneros textuais, já que, além dos quadrinhos, a revista trazia reportagens, entrevistas, contos, propagandas e cartas. Por outro lado, o gosto pela escrita não acompanhou a intensidade do gosto pela leitura. Com o passar dos anos, percebi uma maior facilidade para construir textos objetivos e concisos, e uma dificuldade nos que exigem um estilo mais criativo, algo que atribuo à afinidade pessoal.

Curiosamente, meu interesse pela Matemática não se manifestou durante o Ensino Fundamental e Médio. Nessas etapas, era apenas mais uma das várias disciplinas que eu precisava estudar para ser aprovado.

Após fazer o ENEM, em uma época de muitas dúvidas sobre qual caminho seguir, escolhi e fui aprovado no curso de Engenharia Química, no qual estudei por alguns anos, mas não finalizei. Ainda assim, foi nessa fase da vida que despertei meu interesse pela Matemática, uma vez que todo o ferramental para a resolução de problemas, o pensamento lógico, a estrutura e as aplicações práticas me fascinaram.

Após um tempo fora do ambiente acadêmico, descobri, navegando pela internet, o processo seletivo da UFVJM para licenciatura em Matemática no formato EAD. Não pensei duas vezes e me inscrevi.

Meses se passaram, e foi com muita alegria que recebi a notícia da aprovação, vendo nisso uma grande oportunidade de aprofundar meus conhecimentos, desenvolver-me e me capacitar na área de meu interesse. Em certo momento do curso anterior, também fui motivado a aprender línguas estrangeiras. O que começou como uma busca por uma possível vantagem competitiva no mercado de trabalho se tornou um hobby que mantenho até hoje, com o inglês e o francês.

Nesse processo, adquiri o hábito de praticar imersão nessas línguas através da leitura, o que ajudou a internalizar estruturas e vocabulário. Além disso, escuto podcasts e assisto a vídeos produzidos por falantes nativos diariamente.

Como resultado, adquiri não só novos conhecimentos linguísticos, mas também aprendizados sobre culturas até então desconhecidas para mim. Isso me proporcionou uma nova forma de enxergar o mundo, mais compreensiva e tolerante. A sensação indescritível de poder me comunicar em outro idioma foi um marco significativo nesse processo.

Minha interação com letras e números, seja no aprendizado escolar, no trabalho, nas atividades cotidianas ou nos momentos de lazer, revela como esses símbolos são mais do que simples ferramentas de comunicação e cálculo. Eles moldam a maneira como penso, resolvo problemas e compreendo o mundo, sendo um aspecto fundamental da minha jornada pessoal e intelectual.



SOBRE O AUTOR:

Mateus Câmara Andrade, de Montes Claros/MG, é acadêmico da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas pelo Professor  Carlos Henrique Silva de Castro e pelos Tutores Daniela da Conceição Andrade e Silva, Luís Felipe Pacheco e Patrícia Monteiro Costa.

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