Contato Com a Leitura e a Contagem

Contato Com a Leitura e a Contagem

Daniel Xavier da Silva, Espinosa/MG

Ainda na infância me ocorreu o primeiro contato com as letras e os números. Ao adentrar nas séries iniciais do Ensino Fundamental I, fui ensinado pela professora do primário sobre a escrita, a leitura e a contagem dos números. Em casa, embora com baixo grau de escolaridade, meus pais sempre me incentivavam aos estudos.

Ao passo que se avançava os aprendizados, havia também a progressão e o aperfeiçoamento do conhecimento. Sempre me interessei por todas as áreas de conhecimento: ciências humanas, ciências da natureza e, com uma maior afinidade, nas ciências exatas.

Os aprendizados construídos na escola eram plenamente aplicáveis na vida cotidiana. As leituras, os problemas envolvendo operações matemáticas tudo se associava ao meu dia a dia. Ainda sobre o letramento, meus pais me presenteavam, sempre que possível, com revistas de caça-palavras, palavras-cruzadas e gibis.

Ao iniciar o Ensino Fundamental II, foram apresentados pelos novos educadores novos gêneros textuais diferentes daqueles aos quais eu estava acostumado, foi nessa época que se intensificou a prática de redigir redações. Ler e escrever nunca foram atividades penosas para mim, embora houvesse maior preferências pela área de exatas. Iniciado o Ensino Médio, aumentou-se o rigor nos estudos, uma vez que estava cada vez mais próximo de finalizar os estudos, bem como se aproximava da época de se prestar vestibular para ingressar no Ensino Superior.

Consegui ingressar no Ensino Superior aos 18 anos de idade, iniciando os estudos no curso de Ciências Contábeis. Nessa época a prática da leitura se intensificou, posso dizer, que até triplicou. O curso requeria do acadêmico muita leitura e também muita prática na realização de pesquisas acadêmicas. Os gêneros textuais trabalhados eram outros. Havia muitos estudos de artigos científicos e tais textos possuem em sua predominância muitos elementos e dizeres característicos da área de que se estuda, ou seja, na maioria das vezes são utilizados termos extremamente técnicos.

Hoje posso dizer que iniciar o hábito da leitura desde cedo me ajudou demais em todas as fases da minha vida, inclusive a do presente momento. É bem verdade que a prática da leitura e da escrita requerem de todos certo grau de esforço, dedicação e comprometimento. O conhecimento adquirido por meio de livros: literários, científicos, bíblicos e diversos outros, nos possibilita compreender o mundo de outra forma.

Ao atuar na profissão verifica-se ainda que a prática da escrita e da leitura se fazem extremamente necessárias, uma vez que a profissão requer constante atualização de conhecimentos. Dessa forma, posso afirmar que a leitura e a escrita estiveram presentes em minha vida desde a infância, aperfeiçoando-se a cada fase. Além disso, atualmente, tanto a leitura quanto a escrita são partes integrantes da minha rotina.



SOBRE O AUTOR:

Daniel Xavier da Silva, de Espinosa/MG, é acadêmico da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas pelo Professor  Carlos Henrique Silva de Castro e pelos tutores Daniela da Conceição Andrade e Silva, Luís Felipe Pacheco e Patrícia Monteiro Costa.

A Leitura Entre as Páginas da Minha Vida

A Leitura Entre as Páginas da Minha Vida

Arlindo Rodrigues Araújo, Januária/MG

Sou mineiro de nascimento. Precisamente, nasci em Januária, no norte de Minas, numa comunidade chamada Grotinha. Vim ao mundo no dia de Nossa Senhora Aparecida e tenho a certeza de que esse detalhe foi uma proteção divina, pois, segundo relatos dos presentes durante o parto, nasci “morto”, já que não chorei e não me mexia. Minha mãe, já desesperada, resolveu seguir os conselhos da parteira, que sugeriu me colocar deitado e, por cima de mim, colocar uma bacia e começar a bater sem parar. Foi aí que ouviram o meu choro. Devo realmente ter me assustado!

A vida na comunidade onde nasci sempre foi muito difícil e o trabalho era árduo. Ajudava minha mãe e meu pai na roça e no serviço de casa: dar comida aos porcos, pisar arroz no pilão, buscar água no rio, pegar lenha, buscar buriti no brejo. Esses eram apenas alguns dos meus trabalhos diários como criança pequena. Você deve estar se perguntando se eu não brincava. Eu digo que sim, e muito! Nadava, corria, subia nas árvores e brincava com meus irmãos de boizinho de jatobá e de perna de pau.

Aos 7 anos ingressei na escola da comunidade, com incentivo dos meus pais. A professora do meu 1º ano de grupo escolar era minha prima, Maria, professora leiga e regente de turma de uma sala multisseriada. A escola funcionava na despensa da casa do Senhor Daniel. Me lembro que nos sentávamos nas esteiras e colocávamos os nossos cadernos nos bancos.

Nesse lugar, aconteceram meus primeiros contatos com as letras e os números. Apesar de não reconhecer sua grafia, já tinha o conhecimento de seus nomes e da sequência numérica. Recordo-me que contar até pelo menos 50 eu já sabia, pois usava esse conhecimento nas brincadeiras, como contar os boizinhos de jatobá no curral. Todos queríamos ser grandes criadores de gado. Na nossa brincadeira, já fazíamos algumas contas, pois vendíamos ou comprávamos bois e vacas uns dos outros. Então, tínhamos noção de somar e diminuir. Mas aprendi as operações mesmo no segundo ano de escola e, nessa época, já estava com 8 anos.

Sobre dinheiro, não tenho lembranças, pois, quando raramente aparecia, era nas mãos dos adultos. No meu caso, por exemplo: minha mãe, costureira, e meu pai, marceneiro, juntavam o pouco que recebiam pelos serviços prestados e iam à cidade uma vez por ano para comprar utensílios e mantimentos que não produzíamos na roça, como sal, querosene e peças de tecido.

A escola, apesar de precária, foi minha porta de acesso para aprender o que não sabia e aprimorar os saberes que já possuía. Como não era comum, naquela época, o acesso a livros, jornais, revistas e até mesmo a papéis com algum texto escrito, tudo o que aprendi, pouco ou muito, foi na escola.

As lições eram cópias da cartilha. Aliás, o único livro que havia na escola era esse, e ninguém podia se atrever a pegá-lo. Era de uso somente da professora, de onde eram retiradas as nossas lições. Conheci os gibis na escola quando a professora trouxe a grande novidade. Qualquer aluno que os estragasse recebia os temidos bolos com a palmatória.

Fui alfabetizado no sistema silábico B+A = BA e não me recordo de nenhuma aula com contação de histórias. A metodologia era repetir as famílias silábicas e copiá-las insistentemente. Sou grato por, mesmo diante de tanta dificuldade, ter concluído nesse grupo a terceira série.

Nessa fase, não tive contato com nenhum livro literário, nem com nenhum texto que tenha ficado guardado nas minhas recordações. O que posso descrever é que meus aprendizados não vieram, em sua maioria, de textos escritos e de autores desconhecidos. No meu mundinho, tive histórias e aprendizados passados através da oralidade. Com as instruções dos outros, aprendi com destreza a selar um cavalo, tirar leite de vaca, fazer queijo, plantar, cuidar e colher as roças, plantar hortas. Para tudo isso, recebi muito incentivo, mas havia a exigência de pais que viviam do que produziam, em uma casa com 8 filhos, enfrentando muitas dificuldades e com pouco conhecimento. Estudar era quase um luxo, e algumas famílias não permitiam que seus filhos frequentassem a escola, por não verem futuro nela. Para que decifrar letras e números, se onde morávamos todos viviam praticamente sem livros, e essas crianças precisavam aprender a lidar com a terra? Eu e meus irmãos sempre tivemos apoio de nossos pais, mas em muitos dias não tínhamos o que comer. Mesmo assim, eles nos mandavam para a escola. No caminho, colhíamos frutas e comíamos. Na escola já havia merenda naquela época, mas tínhamos que parar com a lição para buscar lenha para seu preparo.

Sempre achei que os estudos na minha comunidade eram bem fracos, mas a professora passava o pouco que sabia para podermos alçar voos maiores. Pelo menos o caminho que levava a esses voos era maior, mais longo e mais tortuoso. Quando terminamos a terceira série do ensino fundamental, fomos matriculados em um grupo maior, em outra comunidade, chamada Várzea Bonita, que ficava a 9 km de distância da minha casa. Eu e meus outros 7 irmãos, além de primos e colegas, andávamos 18 km por dia para darmos continuidade aos estudos. Levávamos na sacola a vontade de nos aprimorarmos mais na leitura e nas quatro operações.

Nesse grupo, tive como professora a Senhora Dalva. Busco na memória um momento de manuseio com livros, com contação ou leitura de uma história e… nada. Nenhuma lembrança me surge na cabeça. O que ouvíamos eram histórias contadas pelos mais velhos, os ditos causos. Muitas vezes, eram contadas para nos assustar, outras para nos dar exemplos, e muitas delas eram mesmo para nos ensinar sobre a lida do dia a dia.

Nenhuma das escolas em que estudei durante o primário tinha bibliotecas. Naquela época, não eram cobradas produções de texto, apenas tínhamos que produzir frases com palavras dadas. O acesso precário aos livros e outros meios de leitura e escrita me fez, e me faz, muita falta hoje, pois não adquiri o hábito da leitura. Depois de concluir a 4ª série, fui obrigado a desistir dos estudos, porque meus pais não tinham como nos manter na cidade.

Por volta dos 35 anos, me vi forçado a continuar os estudos, e fiz uso do CAED, programa do governo para que pessoas que não puderam frequentar a escola normal pudessem completar o ensino fundamental e médio por meio de provas. Como ficou claro, não tive incentivo à leitura, mas, quando me inscrevi no CAED, percebi a necessidade da leitura, dos números e das operações em minha vida. Adquiri autonomia para estudar para provas, buscava livros na escola onde minha esposa trabalhava como professora para os meus estudos.

Me forcei a ler e ficar inteirado das notícias do Brasil e do mundo, mas, ainda na minha vida adulta, não tinha lido nenhum livro sequer. Durante a realização dessas provas, li minhas primeiras obras literárias. Confesso que, buscando na memória, não me lembro sequer do nome de uma delas, mas tenho a sensação de ter gostado de uma que falava sobre um negro. Sinto falta de tudo que não aprendi, de tudo a que não tive acesso na minha vida escolar e, agora, na minha vida acadêmica, almejo provar sabores e saberes aos quais não fui apresentado.



SOBRE O AUTOR:

Arlindo Rodrigues Araújo, de Januária/MG, é acadêmico da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas pelo Professor  Carlos Henrique Silva de Castro e pelos Tutores Daniela da Conceição Andrade e Silva, Luís Felipe Pacheco e Patrícia Monteiro Costa.

Minha Infância Escolar

Minha Infância Escolar

Ana Maria da Silva, Contagem/MG

Recordo, com um sorriso no canto da boca, minha infância e o processo de aprendizado pelo qual passei. Foram anos desafiadores; confesso que só na atual conjuntura pude perceber isso. Morava em uma pequena comunidade rural, e a escola ficava a uma hora de caminhada exaustiva. Eu não dava conta; chegava cansada e dormia durante as aulas. Acompanhava minha irmã mais velha.

Éramos muito pobres, e o calçado era o velho chinelo feito de pneu. Na época das chuvas, havia um ribeirão a ser atravessado. Sempre aparecia algum adulto para nos guiar e segurar nossas mãos, para que a correnteza forte não nos levasse. Era perigoso, mas, na minha inocência de criança, com apenas seis anos, aquilo parecia uma aventura.

Meu primeiro contato com os livros foi através da literatura de cordel, por meio de minha mãe e das histórias de Lampião. Durante as aulas, em que acompanhava minha irmã, eu era o xodó da professora Altamira, que gritava e batia nos alunos. Eu tinha medo dela, tanto respeito que nem chegava perto, pois o medo era muito grande.

Não me lembro quanto tempo essa aventura de acompanhar minha irmã durante as aulas dela durou, mas me recordo de ir sempre saltitante para a escola com ela. Comecei minha jornada oficial aos nove anos, na primeira série, e minha mãe fez com que meu pai nos levasse para a escola onde iniciei e concluí meus estudos.

Aprendi os números e as letras sem dificuldade. Meu desafio, e claro, o dos abençoados professores, era me fazer ficar quieta; eu falava demais e era “peralta” na sala inteira. Pobres colegas que tinham dificuldade para aprender, eu os deixava “no chinelo”. A professora ficava de “cabelo em pé” com minhas “levadezas”. Em casa, ouvíamos o rádio. Minha mãe não vivia sem a Rádio Nacional da Amazônia. Lembro que ouvíamos novelas; era emocionante. O radinho funcionava a pilhas, mas minha mãe nunca ficava sem.

A escola era mais perto; morávamos a uns 25 minutos dela. Era uma criançada indo na mesma direção. Como a pobreza era grande, lembro-me de ter que levar lenha para a escola. Funcionava assim: quando o caderno, o lápis ou a borracha acabavam, a professora nos dava outro, mas era uma troca; tínhamos que levar um “pau de lenha” para as cantineiras cozinharem, já que não havia fogão a gás na época.

O caderno era daqueles de páginas amareladas e precisava ser desmanchado com cuidado, caso contrário, a página rasgava. Meu enorme sonho naqueles dias era um caderno com páginas branquíssimas. Sonhava também em ter uma mochila, pois levávamos o material em uma embalagem de arroz.

Só tive o “luxo” da mochila no quarto ano; era uma belezura, feita de um plástico vermelho. Chapeuzinho Vermelho teria inveja da minha maravilhosa mochila.

A hora do recreio era uma farra sem fim: pega-pega, polícia e ladrão, rouba-bandeira, peteca e, é claro, descer a rampa de grama da escola com um papelão como apoio, estilo Velozes e Furiosos.

A merenda, muitas vezes, era escassa. Recordo que a diretora ia de sala em sala pedindo que levássemos uma batata, uma cenoura ou alguma outra leguminosa. Eu sempre levava chuchu, já que tínhamos um pé em casa que produzia o ano inteiro.

Após concluir o ensino médio, mudei para Belo Horizonte para trabalhar e tentar ingressar na faculdade. Isso aconteceu tardiamente; só consegui iniciar a faculdade aos 35 anos. Levei seis anos para concluir, sendo mãe solo e trabalhando. Foi muito exaustivo. A escrita, sem uma base muito sólida, dificultou a conclusão do temido Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), por se tratar de uma escrita mais técnica, e senti muita dificuldade.

No período do ensino médio, tive uma excelente professora de Literatura, que nos incentivava muito à leitura. Autores como Machado de Assis, Cecília Meireles e Paulo Coelho marcaram essa fase. O primeiro livro que li, de que não me recordo o autor, contava a história de uma adolescente que vivia com o pai em uma ilha e seus desafios ao frequentar a escola na cidade pela primeira vez.

A faculdade me proporcionou muitas descobertas; tive que aprender coisas novas e desenvolver novas habilidades. Lembro de passar mais de uma hora assistindo a vídeos no YouTube sobre como formatar uma planilha no Excel. Desafios à parte, venci mais essa etapa.



SOBRE A AUTORA:

Ana Maria da Silva, de Contagem/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas pelo Professor  Carlos Henrique Silva de Castro e pelos Tutores Daniela da Conceição Andrade e Silva, Luís Felipe Pacheco e Patrícia Monteiro Costa.

Ana Em Um Encontro Com a Leitura

Ana Em Um Encontro Com a Leitura

Ana Luiza Neta Muniz De Oliveira, Turmalina/MG

Olá! Vou contar um pouco sobre a minha relação com a leitura ao longo de vários períodos da minha vida. Sinto dizer que não me lembro de muita coisa, mas espero que, ao entregar os contos, as lembranças comecem a aflorar.

No começo da minha infância, não me lembro das relações das pessoas que conviveram comigo com a leitura ou os estudos, mas me lembro de que sempre gostei muito de brincar de escolinha, a famosa brincadeira em que fingíamos ser alunos e professores. Confesso que amava ser a professora e passava horas fazendo as “atividades” para meus “alunos” realizarem. Eu era sempre felizarda em ser professora, pois era a mais velha da turma. Gostava tanto de não largava os cadernos e livros que sobravam dos anos anteriores da escola.

Antes desse período, não tenho lembranças, nem de como comecei a contar ou a ler. Lembro-me vagamente de que sempre tentávamos conseguir uma moedinha para comprar bala em um supermercado próximo à casa onde morávamos.

Eu e meu irmão mais novo chegamos a vender jabuticabas que colhíamos de um pé na casa da minha avó, mas, como não tínhamos noção de administração, chamamos todos os nossos amigos e vizinhos para ajudar. Vendemos o pacote por um real, ao final, o valor mal deu para dividir entre nós. Lembro-me de comentar: “Teria sido melhor se tivéssemos chupado as jabuticabas; teríamos saído no lucro.”

Outra lembrança que tenho é que meu tio pagava R$ 1 para lavarmos o carro dele, e eu e meu irmão ainda brigávamos para fazer o serviço. Mas, em defesa do meu tio, naquela época R$ 1 permitia comprar várias coisinhas; lembro que comprávamos 3 balas por 10 centavos. 

Acredito que meu desempenho na escola não era dos melhores. O contato que eu tinha com o estudo se restringia à escola, pois, como minha mãe era solo, se assim posso dizer, trabalhava muito, saindo de madrugada e chegando somente à noite. O apoio dela era meu irmão mais velho, que, por sinal, também trabalhava muito. 

Após esse período, creio que, ao terminar o Fundamental I, comecei a desenvolver o gosto pela escrita, iniciando com um diário, algo comum entre as meninas da minha sala. Eu gostava de escrever em códigos, nos quais trocava as letras por símbolos que apenas eu sabia o que significavam, ou talvez uma amiga de confiança.

No diário eu costumava escrever basicamente tudo que considerava importante no meu cotidiano, desde coisas boas até ruins. Escrevia desabafos, poemas e, às vezes, letras de música, que eu ficava cantando constantemente para decorar, muitas vezes em vão.

Logo, ao entrar no Fundamental II, acho que foi quando a matemática começou a fazer sentido para mim. Mas, pensando bem, desde as brincadeiras de escolinha, já era a matéria de que eu mais gostava ou com a qual tinha mais facilidade. Não que eu fosse excelente, mas, dentre as outras, era a que eu mais gostava de aprender. Lembro-me que cheguei até a passar para a segunda fase das Olimpíadas de Matemática, mas, como não era tão focada nos estudos, parou por aí.

Nos últimos anos do Fundamental II, lembro de ter encontrado um livro de poemas românticos, cujas letras pareciam desenhadas de tão lindas. Meu interesse passou a ser reescrever todos os poemas para que minha letra, que era um desastre, ficasse igual à do livro, e com muito esforço ficou bem parecida.

Durante o ensino médio, as coisas ficaram mais complexas, tanto nos estudos quanto na vida pessoal, então meu objetivo era “passar de ano”. No último ano do ensino médio, tudo começou igual aos outros, sem nenhuma animação. Então, por já estar casada precocemente nessa idade, descobri que estava grávida e, com todas as dificuldades de uma gravidez, acabei me afastando ainda mais da escola.

Com o final da gestação, a situação ficou mais complicada, e acabei deixando a escola, o que me deixou muito chateada por saber o quão importante e necessário são os estudos para uma pessoa. No ano seguinte, com muita dificuldade, voltei a estudar em uma sala onde todos eram mais novos, mas, como eu já era mãe e tinha uma mentalidade totalmente diferente, realmente aproveitei tudo o que me era ensinado. Nesse momento, senti um breve arrependimento por não ter aproveitado todos os outros anos assim.

Meu arrependimento aumentou quando fui estudar para o vestibular para tentar entrar no curso de Matemática da UFVJM, pois, em várias matérias, eu sentia uma dificuldade enorme, precisando voltar ao conteúdo do Fundamental II para conseguir entender a matéria atual. Percebi que teria sido muito mais fácil se eu tivesse dado o devido valor aos estudos na escola.

Com muito esforço, consegui a vaga para o curso de Matemática. Mas surgiu uma nova dificuldade: os textos acadêmicos, as novas matérias e todas as normas às quais eu não estava acostumada.

Após iniciar a faculdade, despertou em mim o desejo de ler, por acreditar que a leitura é a base do conhecimento. Com isso, tento aprender cada vez mais com as leituras. Assim, além do material escolar, leio alguns outros livros, como os de autoconhecimento, investimento e finanças, sendo os romances os meus preferidos.

Acredito que quanto mais lemos, melhor se torna nossa escrita. Ainda sobre meu hobby de ler sobre investimentos e finanças, creio que ele seja decorrente da carência que temos no nosso ensino regular, onde esses assuntos, que considero de extrema importância para as pessoas, independentemente da classe social ou origem, não são abordados.

Gerir bem sua vida pessoal, financeira e emocional é de suma importância para o bem-estar consigo mesmo e com os que estão ao redor. Assim, início uma nova fase da minha vida, em que ser professora deixou de ser apenas uma brincadeira para se tornar uma realidade.



SOBRE A AUTORA:

Ana Luiza Neta Muniz De Oliveira, de Turmalina/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas pelo Professor  Carlos Henrique Silva de Castro e pelos Tutores Daniela da Conceição Andrade e Silva, Luís Felipe Pacheco e Patrícia Monteiro Costa.

Menino Maluquinho, Pequeno Príncipe e Turma da Mônica: Histórias Que Me Apaixonei

Menino Maluquinho, Pequeno Príncipe e Turma da Mônica: Histórias Que Me Apaixonei

Alessandra Ketlei Fernandes B. Melo, Monte Azul/MG

Minhas primeiras lembranças de leitura remontam a muito cedo, quando os únicos livros que eu conhecia eram a Bíblia e o livro de louvores. Recordo-me de como, todos os domingos na igreja, meus olhos se fixavam nas páginas desses livros sagrados. Mesmo sem saber ler, as letras e palavras me intrigavam, e eu sentia um desejo profundo de entendê-las. Minha mãe sempre lia a Bíblia para mim e para meus irmãos e, com isso, cresci com uma enorme curiosidade e vontade constante de aprender a ler e escrever.

Com o tempo, chegou o momento de meu início escolar, em 1999, quando eu tinha quatro anos. Entrei na Escola Estadual Rodrigues Alves, e lembro claramente do meu primeiro dia de aula. Minha mãe me levou pela mão até a sala, e tudo parecia muito diferente. O quadro negro ocupava a maior parte da parede da frente e as cadeirinhas enfileiradas aguardavam os pequenos alunos, como eu, prestes a descobrir o mundo das letras.

A professora, Tia Luciana, nos recebeu com um sorriso acolhedor e nos apresentou as vogais e o alfabeto logo na primeira semana. Letras coloridas coladas no quadro eram fascinantes para mim. Naquela época, as cartilhas eram a base do nosso aprendizado. A minha tinha uma capa azul vibrante, com figuras de animais e objetos do cotidiano. Eu passava horas em casa folheando aquelas páginas, tentando decifrar os sons e as imagens.

Quando finalmente consegui juntar as letras para formar minha primeira palavra, senti uma alegria imensa. Uma das minhas atividades favoritas na escola era a hora do conto. A professora se sentava em uma cadeira grande, enquanto nós nos reuníamos ao redor dela no chão, atentos às histórias que ela lia. Livros como O Patinho Feio, João e o Pé de Feijão e As Princesas eram como portas de entrada para mundos mágicos. Mesmo sem saber ler completamente, eu já imaginava as palavras ganhando vida nas páginas. Fiquei com essa maravilhosa professora no 1º e 2º períodos.

Aprender a escrever foi outra grande aventura. Lembro-me do orgulho que senti ao escrever meu nome pela primeira vez. As letras saíam tortas e desalinhadas, mas a sensação de ver meu nome no papel era indescritível. Recordo-me também de quando consegui fazer o numeral cinco pela primeira vez. Foi um dia surreal, e eu passei o resto do dia repetindo o numeral cinco. Meu lugar favorito na escola era a colorida e aconchegante biblioteca, cheia de livros. Eu amava passar o tempo lá, olhando aqueles livros.

Na primeira série, a leitura começou a se tornar mais fluente. Já não éramos mais iniciantes; agora eu conseguia ler frases inteiras e até pequenos parágrafos. A professora incentivava a leitura em voz alta, e cada um de nós tinha a chance de ler para a turma. Embora nervosa no início, eu adorava a sensação de conseguir ler uma história inteira.

As aulas de caligrafia também se tornaram mais desafiadoras. As linhas dos cadernos ficaram mais estreitas, e eu precisava escrever com mais precisão. A professora corrigia meus cadernos com uma caneta vermelha, mas sempre elogiava meus esforços. A leitura de livros infantis tornou-se uma parte regular das aulas, e comecei a me apaixonar por histórias mais longas e complexas, como O Menino Maluquinho e O Pequeno Príncipe, além dos gibis da Turma da Mônica.

As atividades de leitura e escrita evoluíram para a produção de pequenos textos. Lembro-me da minha primeira redação, cujo tema era “Minha família”. Dediquei-me a escrever sobre minha mãe e meus irmãos. Foi desafiador, mas a sensação de ver minhas palavras organizadas em um texto completo foi muito recompensadora.

Na escola, eu também participei de eventos como o JIRA (Jogos Internos Rodrigues Alves), e minha equipe ganhou o campeonato de queimada e porta-bandeiras, recebendo uma linda medalha. O ensino fundamental na Escola Estadual Rodrigues Alves foi maravilhoso. Levava livros para casa para ler e amava cada um deles. Os professores, com tanto amor e carinho, fizeram da escola um grande ponto de partida para mim, servindo como um sólido alicerce para meu ingresso no ensino médio.

No ensino médio, na Escola Estadual Tancredo Neves, percebi que a leitura e a escrita eram muito mais do que apenas juntar letras e palavras. Os textos que lia nas aulas de Língua Portuguesa eram mais longos e abordavam temas mais complexos. A professora apresentou-nos os primeiros contos e crônicas, e foi nessa época que descobri autores como Monteiro Lobato. Escrever também se tornou um exercício mais profundo.

O ensino médio também trouxe desafios adicionais, como cálculos que misturavam números e letras. Foi um período de grande aprendizado, que me proporcionou conhecimentos valiosos para a vida adulta, como a administração da minha vida financeira, tomada de decisões, trabalhos, economias, investimentos e consumos. Agora sou universitária. Tudo o que aprendi nos anos acadêmicos serviu como combustível para minha vida pessoal e cotidiana.



SOBRE A AUTORA:

Alessandra Ketlei Fernandes B. Melo, de Monte Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas pelo Professor  Carlos Henrique Silva de Castro e pelos Tutores Daniela da Conceição Andrade e Silva, Luís Felipe Pacheco e Patrícia Monteiro Costa.

Memórias de Letramentos 7: Apresentação

Memórias de Letramentos 7: Apresentação

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Nas próximas semanas publicaremos os 19 texos que compõem o volume 7 da obra. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Somos mais de 200 vozes com este sétimo volume da Coleção MEMÓRIAS DE LETRAMENTOS, iniciada em 2017 na Licenciatura em Educação do Campo da UFVJM. Mais precisamente, dezenove vozes unem-se às 198 anteriores em uma ode pelo e para os letramentos e as aprendizagens. Este novo volume traz narrativas de futuros professores de Física, Matemática e Química à distância, acadêmicos da nossa universidade.

Entre os diversos relatos sobre o impacto positivo da leitura e da educação, oriundos de diversos cantos e Minas, especialmente dos Vales, algumas histórias se destacam pela profundidade das experiências e pela dedicação dos protagonistas. De Espinosa, uma história reflete uma relação duradoura e multifacetada com as palavras e a contagem. De Turmalina, surge a experiência de uma estudante apaixonada por romances e participante das Olimpíadas de Matemática. O contato inicial com caça-palavras, palavras-cruzadas e gibis da Turma da Mônica marcou o início dessas trajetórias e de muitos outros autores e autoras no universo da leitura. Os contos infantis, como Chapeuzinho Vermelho, Branca de Neve e A Bela Adormecida, têm espaço cativo.

O carinho pelos professores é uma constante em todos os relatos. Enquanto alguns relembram com afeto o apoio do professor que “segurava sua mão” e os conduzia nas primeiras letras e sílabas, outros mencionam obras indicadas por esses educadores. Altamira, Maria Luiza, Tia Ção e Tia Gisele recebem declarações de amor explícito. Foi através delas e de várias outras que conheceram Dom Quixote, O Cortiço, Meu Pé de Laranja Lima e Chapeuzinho Amarelo. Outros, inspirados por diferentes motivações, relatam suas leituras de obras estrangeiras, como O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, Os Miseráveis, de Victor Hugo, e até Shakespeare. Machado de Assis, Cecília Meireles e Paulo Coelho são outros nomes que aparecem nas ecléticas práticas de leitura relatadas.

Partindo de um início no mundo da leitura com gêneros infantis, hoje esses leitores relatam uma dedicação a leituras mais complexas, como artigos literários e científicos. Para a maioria, a leitura não é apenas um passatempo, mas uma verdadeira jornada de aprendizado e expansão de horizontes, ilustrando como os livros podem ser ferramentas poderosas na construção de uma mente curiosa e engajada. Esse percurso demonstra um contínuo amadurecimento intelectual e ilustra como o letramento pode ser um processo dinâmico e transformador na vida dessas pessoas. Ao leitor, advertimos: cada nova página certamente acrescentará novas cores e camadas ao seu entendimento do mundo.

 

Carlos Henrique,

Daniela,

Luís Felipe e

Patrícia (Orgs.)



A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas pelo Professor  Carlos Henrique Silva de Castro e pelos Tutores Daniela da Conceição Andrade e Silva, Luís Felipe Pacheco e Patrícia Monteiro Costa.

Túnel do tempo

Túnel do tempo

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Viviane Fernandes, Capelinha/MG

Minha infância foi cheia de brincadeiras, como queimada, peteca, bonecas, entre outras. Porém, quando o assunto era estudo ou algo relacionado, eu não tinha muito interesse, até porque meus pais não tinham muito letramento e priorizavam as brincadeiras.

Mas me lembro de uma prima mais velha que adorava ler e estudar a história do Brasil, e também ensinar as pessoas. O pai dela fez um lindo quadro verde, comprou vários livros e a incentivava a vivenciar cada momento desse mundo mágico. A dedicação dela era recíproca, e eu só podia admirar todo o empenho dela de longe, pois minha mãe não deixava que seus filhos saíssem de casa para nada; estávamos sempre ao lado dela e das pessoas que ela queria por perto. Sempre que eu conseguia fugir um pouco, ia parar na casa dessa prima. Sinceramente, era um momento mágico e muito diferente da minha realidade. Ali, havia uma sala separada com muitos livros e revistas, mas esses momentos eram poucos e muito rápidos. Mesmo assim, o que ela conseguia me ensinar era de grande valor, e ela sempre o fazia com muita boa vontade.

Depois desses momentos com ela, comecei a buscar outros recursos para adquirir livros e revistas. Conheci a moça que fazia a limpeza da biblioteca da minha escola na época, e sempre, no final do ano, havia a necessidade de organizar e descartar algumas coisas. Eu juntava tudo que me interessava e levava para casa – eram cartazes, revistas, gibis, mapas e alguns livros. Nessa fase, comecei a ler melhor, pois já tinha mais ou menos 10 anos, embora ainda sem muita prática.

Com a matemática, demorei a aprender. Tinha algum conhecimento com moedas, pois era o que mais usava, e, assim, fui aprendendo os valores. Depois dos meus 12 anos, minha avó, que sempre vinha nos visitar, começou a me presentear com dinheiro, e, para não ficar perdida com os valores que ela aumentava a cada ano, tive que aprender a controlar os gastos para não ficar sem dinheiro.

De tudo isso, concluo que o cotidiano e a família têm grande importância nos primeiros e seguintes passos das pessoas na escola e no aprendizado. Digo que tive pouca influência da minha família, mas, com minha prima, foi totalmente diferente; com o apoio do pai dela, ela já entrou na escola sabendo ler e escrever.

Não tenho muita lembrança, mas acredito que aprendi a ler só depois dos 8 anos, já na escola, e tive muitas dificuldades. O que me deu suporte foram os livros que consegui adquirir. Infelizmente, os professores não dedicavam muito tempo aos alunos com dificuldades, e éramos deixados de lado. Minha avaliação é negativa sobre esses anos iniciais.

Lembro que tínhamos que fazer leituras para a sala toda de textos de contos, e isso era torturante. A nossa biblioteca era pequena e muito incompleta, mais decorada com mapas do mundo e do corpo humano, e era raro frequentá-la.

Hoje vejo que, com muito esforço e dificuldade, consegui aprender a ler. Percebo que a leitura é fundamental para uma boa escrita. Não estou satisfeita com minha leitura; sei que quero e preciso melhorar muito mais. Acho bonito quando alguém consegue expressar-se bem em um texto ou discurso, e desejo melhorar isso em mim também.

Embora a escola não tenha me motivado, consegui adquirir algum conhecimento pela curiosidade, buscando outros meios, até mesmo pela televisão, vendo como as pessoas falavam. Por isso, considero-me boa em falar, mas não em escrever.

A leitura é algo que ainda me traz preguiça; prefiro escutar a ler. Hoje, percebo a falta que isso me faz, pois não é uma prática comum em minha vida, principalmente nos dias atuais. A matemática também me traz muitas dificuldades, especialmente nos cálculos mais complexos. Hoje, só consigo fazer o básico e um pouco de porcentagem, que aprendi na marra, fora da escola. Considero que não tive uma boa base, tanto na leitura quanto na matemática. A vida foi me mostrando como lidar com os prejuízos e a falta de diálogo.



SOBRE A AUTORA:

Viviane Fernandes, de Capelinha/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Minha vida escolar

Minha vida escolar

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Vaneide Cardoso dos Santos, Águas Formosas/MG

Nasci na cidade de Águas Formosas em 22/06/1987, tenho 37 anos, sou mãe de dois filhos: Luiz, meu primogênito de 14 anos, e Lisbela, minha caçulinha de 6 anos. Sou casada e sonho com um futuro melhor para mim e para a minha família.

Comecei meus estudos na pré-escola; foi lá que tive contato com os livros infantis e gostei muito das histórias ilustradas. Recordo que uma tia comprou alguns livros para mim e para minha irmã. Lembro do título de um deles, que era a história do “Sapo Cururu”, e cantávamos a música: “Sapo Cururu na beira do rio, quando o sapo grita a maninha é porque tem frio, a mulher do sapo deve estar lá dentro fazendo rendinha a maninha para o casamento…” Acredito que muita gente conhece essa história, e ela fez parte da minha infância. Eu gostava muito dela por conta das imagens; relembro as cenas das ilustrações, com cores vibrantes que me encantavam.

Quando entrei na escola, aos 7 anos, ainda não sabia somar nem diminuir. Aprendi tudo lá. Meus professores foram exemplos de aprendizagem para mim. Como meus pais eram analfabetos, não tinha ninguém para me ajudar, então a escola foi fundamental. Aprendi a ler e a escrever, além do alfabeto e dos números. Foi uma experiência muito boa, pois tudo era novo. Lembro mais da merenda escolar e das brincadeiras no pátio. Também recordo que os professores escreviam as lições no quadro negro com giz branco e rosa, e que apagávamos o quadro com um apagador que deixava um pozinho branco no ar. Ah, que saudade daquele tempo em sala de aula!

Sou muito grata a Deus pela oportunidade de ter estudado, pois a escola foi essencial na minha vida. Foi lá que obtive o conhecimento que carrego comigo. Muitas coisas que aprendi na escola nunca foram explicadas por meus pais. O que não aprendi na escola, aprendi com o mundo. Por isso, acredito que a escola e a família devem estar unidas para o melhor aproveitamento e formação dos alunos, tanto na educação quanto no caráter e para a vida.

Recordo de alguns textos que estudei, como poemas, contos e charges. Nas escolas em que estudei, havia biblioteca. No primário, sempre tínhamos um dia para pegar livros para ler em sala de aula. No fundamental, tínhamos o dia da leitura, sempre nas sextas-feiras, que era uma aula inteira dedicada a isso. Também precisávamos pegar livros no final de semana para levar para casa e fazer o resumo, pois o professor passava atividades relacionadas ao livro. A escola sempre nos motivou a ler. Eu sempre gostei de livros com muitas ilustrações; achava mais interessante ler aqueles com gravuras, desenhos e muitas cores, além de histórias de suspense e romances. Adorava ler naquela época.

Concluí meus estudos em 2005. Geralmente, quando terminamos o segundo grau e começamos a trabalhar, deixamos os estudos de lado e já não nos preocupamos mais em ler livros. Então, veio a tecnologia: celulares, tablets, computadores, e com eles nos afastamos ainda mais dos livros, jornais e revistas. Deixamos de lado o papel e passamos a nos dedicar apenas às máquinas tecnológicas. Hoje em dia, não sou muito de ler livros; tenho dificuldade em ler textos longos e sem figuras, mas estou me esforçando para ler mais, dedicando-me à leitura.

Relembro de quando tive contato com números fora da escola. Minha mãe sempre me mandava comprar algo nas vendinhas da esquina. Recordo que, naquele ano, o dinheiro ainda era o cruzeiro. Eram notas grandes, mas de pouco valor. Certa vez, minha mãe me deu 50 cruzeiros para ir à venda, mas na minha lembrança, não trouxe muita coisa. Logo depois, veio a mudança do cruzeiro para o real. Lembro da primeira nota de 1 real que peguei e que conseguia comprar várias coisas com 1 real: salgadinhos, doce de amendoim, pirulito. Eu fazia a festa com 1 real naquela época.

Acredito que, nos dias de hoje, administro bem minhas finanças. Minha passagem pelo ensino médio foi muito proveitosa e me ajudou bastante. Consigo entender e administrar minha movimentação bancária, somar dívidas e calcular os juros que podem ser cobrados. Quando fazemos uma compra pela internet usando cartão de crédito e optamos por parcelar, muitas vezes são cobrados juros abusivos. Precisamos ficar atentos e fazer as contas de quanto será esse acréscimo, caso contrário, ficamos no prejuízo. É necessário estar atento em todo lugar.

Trabalhei em uma mercearia; na época, ainda não havia internet, então tínhamos que decorar os preços das mercadorias e os nomes dos produtos disponíveis no estoque. Acredito que isso me ajudou muito no processo de aprendizagem da vida, e o conhecimento que obtive na escola foi essencial. Se eu não tivesse estudado, como poderia ter me desenvolvido tanto? Portanto, minha passagem pela escola foi crucial na minha formação de vida.



SOBRE A AUTORA:

Vaneide Cardoso dos Santos, de Águas Formosas/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Minha infância

Minha infância

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Thaís Gonçalves Rodrigues, Cristália/MG

Minha infância foi repleta de momentos marcantes e alegres, e a leitura desempenhou um papel fundamental nela. Desde pequena, eu era apaixonada por livros e gibis. Minha mãe costumava me presentear com alguns gibis, e o meu preferido era a Turma da Mônica, criada por Maurício de Sousa. Tinha vários; de início, eu só folheava, pois ainda não sabia ler, mas posso dizer que era encantada.

Infelizmente, apesar da minha curiosidade e desejo de aprender, não aprendi a ler e escrever em casa. Rabiscava como muitas crianças, mas não aprendi em casa porque meus pais não tiveram a oportunidade de acessar a escola para obter conhecimentos escolares. Meus irmãos, todos mais velhos, já estavam frequentando a escola. Morávamos em uma comunidade rural, onde o acesso à escola era complicado; assim, meus irmãos não conseguiam estudar e ainda me ensinar em casa. Também não tive a oportunidade de fazer a pré-escola pelos mesmos motivos de morar em uma área de difícil localização.

Quando finalmente comecei o primeiro ano na escola, aos 7 anos, em poucos meses já aprendi a ler, escrever e contar os números. Lembro-me com carinho da minha professora, que sempre elogiava meu desempenho e meu amor por conversar. Recordo-me de que ela era uma pessoa adorável, sabia exatamente o que fazia e o fazia por amor. Escrever era como se eu estivesse entrando novamente, com ela, toda semana, na sala de leitura, que era um espaço único, repleto de livros, sonhos e histórias incríveis. Era uma das partes da escola que eu mais amava. Naquele tempo, não percebia o quanto era afortunada por ter uma professora tão dedicada e por ter acesso a um ambiente tão enriquecedor. Assim, fui avançando nos níveis de escolaridade e aprendi a multiplicar, dividir, somar, resolver probleminhas e escrever pequenos textos.

Recordo-me de que meu hobby passou a ser escrever cartas. Não havia um conhecido meu que não recebesse uma cartinha; minha mãe já não sabia mais onde colocar tantas cartas. Uma atividade bastante importante que eu fazia para o meu desenvolvimento escolar era apresentar peças em público e ler poemas, entre outras coisas que eu amava, juntamente com minhas coleguinhas de classe.

À medida que fui crescendo, minha paixão pelos livros só aumentou. No ensino médio, frequentava a biblioteca durante os intervalos, pegando gibis e livros para ler em casa. A leitura se tornou um hábito tão presente que, muitas vezes, passava noites inteiras devorando histórias para descobrir os finais. Hoje, reconheço os benefícios dessas leituras, como a habilidade de interpretar textos, e vejo como a educação me proporcionou um sólido alicerce para a vida acadêmica.

Sou grata por todas as oportunidades que a escola me proporcionou até agora. Embora ainda tenha muito a aprender, reconheço que a educação é um privilégio e uma oportunidade valiosa. A nossa geração tem acesso a grandes oportunidades, e é crucial incentivarmos as crianças e adolescentes a valorizar o estudo e o aprendizado. A leitura e a escrita são fundamentais para o desenvolvimento educacional e têm um impacto significativo em nossas vidas futuras.



SOBRE A AUTORA:

Thaís Gonçalves Rodrigues, de Cristália/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.