Sementes de um sonho a caminho da realização

Sementes de um sonho a caminho da realização
Sanny

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Sanny Lopes Paranhos, Capelinha/MG

Nasci em Capelinha, cidade do Vale do Jequitinhonha, localizada no interior de Minas Gerais. Desde criança, sempre tive acesso a livros, revistas e histórias em quadrinhos, na escola, em casa e na igreja. Meu pai sempre incentivou a leitura; a cada oportunidade, comprava livros para mim e para minha irmã. As prateleiras do meu quarto estão recheadas de livros de diversos gêneros, que possuo desde a infância. Lembro-me perfeitamente de quando ganhei minha primeira coleção de Monteiro Lobato, que incluía vários livros narrando as histórias do “Sítio do Pica-Pau Amarelo”.

Eu também tinha o hábito de ler histórias bíblicas. Minha mãe é católica, então eu ia às missas e participava da catequese, onde tinha contato com livros bíblicos infantis e folhetos da igreja. Às vezes, eu também ia aos cultos com minha avó e ficava em uma área direcionada somente às crianças, onde lia a Bíblia e a interpretava.

Tenho boas recordações de quando aprendi a ler e escrever. Lembro-me da “tia” ensinando a escrever as letras com o pontilhado e, depois de um tempo, nos instruindo a fazer as letras cursivas. Foi uma sensação gratificante aprender a escrever a primeira letra do meu nome. Nessa época, comecei a brincar de escolinha com minhas amigas e amava ser professora, ensinando tudo o que aprendi. Inclusive, elas viviam me chamando de professora no dia a dia, porque eu tinha a mania de explicar tudo repetidamente, nos mínimos detalhes, como se estivesse dando uma aula.

Em todas as escolas onde estudei, havia biblioteca com incontáveis livros. Minhas professoras do fundamental I e II sempre nos levavam para ler, e eu tinha o hábito de pegar livros da biblioteca e levá-los para casa. Da mesma forma, eu pegava livros emprestados na biblioteca pública da cidade. Já no ensino médio, as duas escolas em que estudei me incentivaram a realizar leituras mais profundas, como filosofia e sociologia, e assim comecei a ter contato com a redação, com o objetivo de me preparar para o Enem. Desenvolvi a leitura e a escrita de forma mais crítica.

Também no ensino médio, conheci uma colega de turma chamada Raíssa, que amava ler. Assim como eu, havia muitos livros na casa dela, e fazíamos trocas. Ela escrevia poesias e eu acabei desenvolvendo esse costume e comecei a escrever, mas no meu caso eram contos. Eu sempre lia os poemas dela e ela lia os meus contos. Depois que me formei no ensino médio, perdemos o contato e acabei perdendo a prática e parei de escrever histórias.

Eu também fui uma criança que sempre teve contato com TV, DVDs e CDs em casa. Com minha irmã, escutava e assistia clipes de diversas bandas e desenhos animados. Dentre tantos, alguns foram mais marcantes e me impulsionaram a explorar novas línguas, o que se tornou minha paixão. Por exemplo, a Xuxa, que ensinava as letras do alfabeto e números em inglês, cantoras do gênero pop que cantavam músicas em inglês e despertavam minha curiosidade sobre o que elas estavam falando, e a banda/novela RBD, que desencadeou minha paixão pelo espanhol.

Hoje, com 24 anos, estou me graduando em Pedagogia pela UFVJM e em Letras – Português/Inglês pela Uniube. Faço curso de inglês e estudo de forma autônoma o espanhol. Tudo isso reafirma em mim a paixão pela leitura, escrita, línguas, diversidade e licenciatura. Tenho o grande sonho de um dia ser professora, poliglota e também aprender Libras.



SOBRE A AUTORA:

Sanny Lopes Paranhos, Capelinha/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Histórias de vida e autodescoberta

Histórias de vida e autodescoberta

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Samille Brito Silva, Pedra Azul/MG

Tenho 28 anos e sou natural de Pedra Azul, Minas Gerais. Sou formada em Serviço Social, embora atualmente não atue na área. Trabalho no comércio, mas uma das minhas grandes paixões é a leitura. Adoro mergulhar em livros e me perder em suas histórias. Estar estudando novamente me proporciona a oportunidade de explorar novos temas e expandir meu gosto literário para diferentes gêneros. Sinto que a leitura é uma forma de viagem sem sair do lugar, uma maneira de explorar mundos e vivências diversas. Cada livro que leio me oferece uma nova perspectiva e me ajuda a entender melhor o mundo ao meu redor.

Desde pequena, a leitura sempre fez parte da minha vida. Em casa, sempre tivemos acesso a uma variedade de livros. Meus tios tinham o hábito de ler, e isso influenciou muito o meu amor pelos livros. Além disso, na igreja, também havia o folheto que acompanhava a missa, o que me familiarizou ainda mais com o universo da leitura. Essa exposição precoce aos livros e à leitura foi fundamental para moldar minha relação com o conhecimento.

Minha tia, que sempre foi uma grande incentivadora da minha leitura, já me presenteou com alguns livros marcantes, como O Pequeno Príncipe e A Menina que Roubava Livros. Embora ambos sejam excelentes, gostei mais de O Pequeno Príncipe. Este livro, com sua simplicidade e profundidade, me tocou de uma forma especial. A maneira como ele aborda temas universais de forma tão acessível me fascinou. Já A Menina que Roubava Livros, apesar de ser um dos livros mais queridos e amados por muitos, não teve o mesmo impacto em mim. No entanto, cada leitura tem seu valor e contribui para minha formação literária. Gosto mais de romances e de livros de autoajuda, que me ajudam a entender melhor a mim mesma e o mundo ao meu redor.

Tenho algumas lembranças vagas da minha fase de alfabetização. Lembro-me da professora e de como comecei a aprender sobre esse universo mágico das palavras e dos números quando tinha 6 anos. Naquela época, eu não sabia ler nem escrever. Tudo o que aprendi foi na escola, e esse aprendizado teve um papel crucial na minha vida. Aprendi não só a ler e escrever, mas também a valorizar a matemática e outras matérias fundamentais para o desenvolvimento do pensamento crítico. Meus pais também desempenharam um papel importante, sempre ajudando com as tarefas de casa e incentivando meu interesse pelos estudos. A dedicação deles me deu uma base sólida, essencial para qualquer aprendizado futuro.

Não me recordo exatamente de como era minha caligrafia ou das minhas habilidades em matemática naquela época, mas lembro que a escola tinha uma biblioteca que os alunos podiam usar para pegar livros ou assistir a vídeos educativos. Esse espaço era uma verdadeira fonte de descoberta e conhecimento. A possibilidade de explorar livros sobre diferentes temas despertava minha curiosidade e me fazia querer saber mais. Mesmo assim, o gosto pela leitura que tenho hoje me ajuda em várias situações, como participar da liturgia nas missas dominicais. A leitura enriquece minha vida de várias formas e me ajuda a estar mais conectada com minha espiritualidade.

Com a universidade, percebi uma mudança significativa. O tipo de leitura exigido é diferente do que estou habituada, e isso alterou minha forma de adquirir conhecimento. Os temas são variados e desafiadores, o que tem sido um exercício para o meu pensamento crítico. Os textos acadêmicos são mais difíceis de compreender rapidamente, especialmente para quem não está acostumada com esse tipo de leitura. No entanto, vejo isso como uma oportunidade de crescimento e uma chance de desenvolver novas habilidades. Cada desafio acadêmico é uma oportunidade de expandir meus horizontes e aprimorar minha capacidade de análise e reflexão.

Quanto às minhas finanças, sinto que administro bem minha vida financeira. Aprendi, não apenas na escola, mas também em casa, a lidar com questões financeiras de forma responsável. No entanto, acredito que as escolas poderiam oferecer mais suporte na educação financeira. Saber gerenciar finanças é uma habilidade vital, e ter mais recursos e ensinamentos sobre isso nas escolas certamente ajudaria muitos estudantes a se prepararem melhor para a vida adulta. A educação financeira é essencial para garantir um futuro mais seguro e equilibrado.



SOBRE A AUTORA:

Samille Brito Silva, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

A educação nos tempos da minha meninice

A educação nos tempos da minha meninice

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Rose Mary Avelino da Silva, Grão Mogol/MG

Vivi os quase 50 anos da minha vida refletindo como uma mãe de 9 filhos, que, como a minha, em uma época em que quase não existiam recursos, exigia que todos os filhos estudassem e completassem, no mínimo, o ensino médio. Ainda está vívido em minha memória o que minha genitora sempre repetia para nós, ainda crianças: “Meus filhos, se esforcem. Pois a única coisa que eu e seu pai podemos oferecer-lhes são os estudos para que futuramente tenham formação superior gratuita”. Palavras sábias, ditas com tanto amor e esperança por ela. Me recordo de que, quando comecei o jardim de infância, não sabia nem o alfabeto. Não tínhamos recursos nem para comprar o material necessário, mas a minha vontade de conhecer o âmbito escolar era de imensa grandeza.

Na escola, conheci números, letras e pessoas, dentre elas o nosso saudoso professor Jadir, que, com sua grande sabedoria, não media esforços para nos ajudar, sempre nos incentivava à cultura: livros, notícias, músicas e artes. Meu primeiro contato com a leitura foi quando, para um trabalho escolar, precisei ler o livro “Éramos Seis”, de Maria José Dupré, que nunca me saiu da memória.

Na minha comunidade, o acesso à educação não era difícil, mas em casa era quase impossível contar com a assistência de meus pais, pois eles trabalhavam muito para trazer o nosso sustento para um humilde e amoroso lar. Tínhamos que nos esforçar para dar o nosso melhor, para que o aprendizado fluísse da forma mais conveniente possível. Era isso que exigiam de nós, os filhos.

Na escola, não praticávamos muito a produção de texto; os educadores focavam mais em ensinar a escrita e a matemática básicas. Atualmente, noto que a minha realidade não condiz com a de meus tempos de menina, pois hoje temos fácil acesso a diversas ferramentas de aprendizagem graças ao advento da internet e da era da informação.

Me lembro de ter uma biblioteca na escola; quando pegávamos um livro, tínhamos que assinar um termo de compromisso e devolvê-lo no prazo estipulado. Por isso, as leituras tinham que ser as mais breves possíveis, pois havia poucos livros para muitos alunos. Me assusta hoje ter tanto acesso e, ainda assim, ter jovens que não querem desbravar este luxo. Creio que, por ter se tornado fácil demais, a busca por conhecimento ficou em segundo plano. Em meu ponto de vista, a maior riqueza que a humanidade possui é o conhecimento.

Ainda em minha ignorância da meninice, quando perambulava pelas ruas da minha cidade pacata e monótona, vislumbrava inúmeras pessoas lendo jornais impressos enquanto seguiam rumo aos seus destinos. Me impressionava tudo aquilo, pois ainda não tinha conhecimento nenhum sobre tal meio de comunicação. Só anos mais tarde fui tomar nota de que aquilo dependia de poder aquisitivo para gozar do acesso às informações; eram os chamados serviços por assinatura, e só a população de classe média e alta poderia ter uma iguaria como essa em mãos.

Me sinto honrada de vivenciar esse grande avanço tanto na economia quanto na educação. A EaD nos trouxe o privilégio de qualquer pessoa, independente de sexo, raça, religião ou condições financeiras, com um simples acesso a um celular, computador ou tablet, poder realizar sonhos educacionais, tornando assim viáveis mudanças no cenário de sua vida.

Estou no início do primeiro semestre do curso de Pedagogia e faço questão de ler todos os conteúdos propostos nas disciplinas, pois cada aprendizado é um avanço a mais para minha carreira acadêmica.

Sei que não é fácil concretizar sonhos se não houver esforço e dedicação. Sinto falta de conteúdos não aplicados em classe quando cursei o ensino fundamental e médio, pois hoje percebo que seriam de grande valia e relevância na minha formação. Porém, estou muito satisfeita com os avanços que nossa educação teve ao longo dos anos, trazendo inclusão, empatia, novos princípios, inovação e valores que foram ressignificados durante as décadas.

Gosto muito de ler notícias, porque assim me atualizo a respeito dos acontecimentos ao redor do mundo. Temos sempre que estar atentos às atualidades, para que sejamos pessoas decentes e donas do nosso próprio pensamento.

Me esforço ao máximo para que meus descendentes valorizem o que não tive, a chance de obter em uma época tão carente de discernimento.

Os meios de comunicação no município onde cresci eram de difícil acesso; tivemos nossa primeira TV quando eu tinha 10 anos. Ah, que luxo ter um “tubão” em casa! Já não precisava mais assistir aos programas pelas frestas das janelas das casas da elite, sonho realizado com o árduo suor de meu pai garimpeiro e minha mãe lavadeira.

Notícias de parentes distantes só chegavam através de cartas, que demoravam meses para chegar ao destinatário. Telefone? Jamais pensei que sobreviveria para ver um grande feito igual. Ah, que bondade o tempo nos trouxe!

Saudades daquela época? Sim, não vou mentir. Boas lembranças ficaram, mas o tempo passou e só restam vestígios. Agora, como adulta, foco em cultivar memórias boas como estas que ainda guardo dentro de mim.



SOBRE A AUTORA:

Rose Mary Avelino da Silva, de Grão Mogol/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Minha vida, minha história

Minha vida, minha história

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Robilane Oliveira da Conceição, Pedra Azul/MG

Eu nasci e fui criada em uma família que, em algumas ocasiões, me proporcionou acesso a textos escritos, tanto em casa quanto na igreja que frequentávamos. Aos domingos, era comum minha tia me levar à igreja, onde tínhamos acesso à liturgia do culto de forma impressa, contendo cânticos e alguns versículos da Bíblia. Outras vezes, eu via minha mãe lendo a Bíblia em casa, assim como as professoras da escolinha da igreja, que liam histórias bíblicas.

Certa vez, fiquei encantada com um quebra-cabeça que ganhei de presente na escola, o qual continha imagens de personagens de contos de fadas. Isso despertou meu interesse em conhecer um pouco mais sobre esse gênero textual. As professoras sempre nos contavam histórias assim e, às vezes, assistíamos a filmes com essa temática.

Lembro-me de que a primeira vez que comecei a ter contato com os números foi durante uma brincadeira na minha infância. A “amarelinha” era nossa diversão por horas durante as tardes, onde aprendíamos, de forma divertida e animada, a sequência dos números até o 9. Nesse mesmo período, também começamos a entender o valor do dinheiro, pois era comum meu tio me presentear com algumas moedinhas de R$ 0,10. Aquele dinheiro tinha um destino certo: sempre comprávamos doces e balas para alegrar o nosso dia. Era indispensável, nesse tempo, saber contar, somar e subtrair, afinal, não queríamos ter prejuízo nas compras.

Quando comecei minha vida escolar, aos 6 anos, no pré-escolar, era complicado realizar as operações que eu costumava fazer usando os símbolos que a professora ensinava. Afinal, eu havia me acostumado a realizar operações na prática e não na teoria, utilizando caderno, lápis, borracha e as regras da matemática.

Nesse momento de dificuldade inicial, o apoio da minha família foi muito importante, especialmente da minha tia Maria, que me ensinou as primeiras operações matemáticas e a arte da leitura. Com essa ajuda, ficou mais fácil avançar na escola da forma como a professora exigia.

Lembro-me de que aprendi a escrever meu nome e a ler algumas palavras antes mesmo de entrar na escola, quando eu tinha 5 anos. Era comum ver minha tia ensinando a minha prima as atividades da escola, e eu sempre observava atentamente para aprender. Com isso, consegui dar os primeiros passos nesse mundo encantado da escrita e leitura.

Minha relação com a escrita na escola foi um pouco trabalhosa, pois, apesar de saber ler, eu tinha dificuldades em escrever. Eu era motivada a escrever as letras utilizando cadernos de caligrafia, onde treinávamos as vogais, em seguida o alfabeto e, posteriormente, as sílabas. A escola teve um papel fundamental no meu letramento inicial, pois lá expandi meus horizontes e percebi que o que eu sabia era apenas uma pequena parcela de tudo o que existia em relação à escrita e leitura.

No ensino fundamental I, por exemplo, tive acesso a textos como “O Boi Baba”, frases silábicas, pequenas fábulas e contos. Já no fundamental II, com uma certa bagagem, consegui progredir no estudo de textos mais robustos e complexos, como poemas, poesias e textos dissertativos. No ensino médio, tive acesso ao português de uma forma que eu nem imaginava existir. Foi lá que pude compreender como, de fato, as frases se conectam para formar textos. Aprofundei meus conhecimentos sobre ortografia, fonética, leitura e compreensão de textos, concordância, regência e pontuação.

Nas escolas, sempre tive acesso à biblioteca, que era bastante frequentada para fazermos trabalhos escolares e pegar livros emprestados para ler em casa. Não tínhamos acesso a tecnologias avançadas, como celulares, computadores e tablets, então nossa maior fonte de pesquisa era sempre a biblioteca.

Refletindo sobre minha relação com a leitura, desde os tempos de alfabetização até o ensino médio, é inevitável não notar grandes avanços. No início, ler uma pequena palavra era algo quase impossível, mas, com o esforço pessoal, alinhado à muita vontade de aprender e aos recursos proporcionados pela escola, como o acesso a livros, a biblioteca, os materiais que a professora disponibilizava, aulas atrativas, jogos e brincadeiras, tudo isso resultou em quem sou hoje.

Sinto-me confiante para ler, compreender textos, opinar sobre situações do cotidiano e me posicionar em diversas situações, tudo isso graças a uma vida escolar repleta de aprendizado. A leitura liberta. A maior conquista que qualquer ser humano pode ter é o acesso à universidade, e isso eu conquistei graças a Deus e a tudo o que aprendi ao longo da vida através da leitura.

Em relação aos números, tive muitos incentivos para me desenvolver nessa área. Desde muito cedo, aprendi a arte do crochê, uma atividade simples e fácil de realizar, mas que exige muita atenção, raciocínio lógico e um bom hábito de contagem e operações matemáticas. Um simples erro pode comprometer toda uma peça e, com isso, horas ou até dias de trabalho.

Também utilizei os conhecimentos matemáticos quando trabalhei em negócios do tipo mercearia. Lá, vivenciava diariamente operações como expressões numéricas, adição, subtração, multiplicação e divisão, tudo isso sob a exigência de tempo muito curto, pois precisávamos atender aos clientes de maneira rápida, eficiente e, acima de tudo, cordial.

No meu primeiro ano na universidade, houve mudanças drásticas nos meus hábitos de leitura, pois já fazia algum tempo que eu havia concluído o ensino médio e, naturalmente, não lia como antes. Essas mudanças trouxeram muitos pontos positivos, entre eles: o retorno ao bom hábito da leitura, uma reflexão mais acurada sobre o que estou lendo, discernimento crítico sobre os temas envolvidos e uma visão mais ampla do mundo. Sobre os pontos negativos, fica a preocupação de talvez não conseguir executar o que foi proposto no tempo adequado, levando em conta toda a nossa vida pessoal fora da universidade. Com mais conhecimento, surge também uma maior responsabilidade sobre nossas palavras, o que escrevemos e vivemos.

Tenho procurado sempre me nutrir de tudo o que os professores nos orientam a ler, para assim ter maior conhecimento sobre os temas propostos. Além disso, tenho buscado pesquisar sobre cada tema, para crescer e alcançar meus objetivos.

Estou gostando dessa nova fase da minha vida, especialmente do estudo dos gêneros textuais e de tudo o que escrevi aqui sobre letramento. Minhas expectativas para o futuro são as melhores possíveis. Sonho em ter liberdade financeira, mais conhecimento, contribuir com a formação dos meus filhos e, enfim, ter uma vida de sucesso profissional e pessoal.



SOBRE A AUTORA:

Robilane Oliveira da Conceição, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

O despertar de uma amante das letras

O despertar de uma amante das letras

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Rillary Emanuelly Belaguarda, Itamarandiba/MG

A magia das letras sempre me rodeou e atraiu. Desde pequena, mesmo antes de ingressar na escola, tive contato com diversos tipos de gêneros textuais; livros sempre foram artefatos que despertaram minha curiosidade. Vendo isso, meus pais sempre me incentivaram e auxiliaram a desenvolver essa habilidade, tanto que entrei no meu primeiro ano escolar com um pouco de conhecimento de escrita, leitura e noções numéricas. Assim seguiram os primeiros anos da minha vida estudantil, lendo gibis e livros infantis; inclusive, tinha e ainda tenho uma coleção de almanaques da Turma da Mônica.

Passado algum tempo, quando estava no 2º ano, em 2013, com meus sete anos, me vi querendo escrever minhas próprias histórias. Daí surgiram as mais inusitadas façanhas, inspiradas em diversas fontes. Um exemplo foi uma extensa narrativa que escrevi, denominada “As Formigas Mutantes”. De onde surgiu essa ideia? De um formigueiro enorme que havia em uma das carvoeiras onde meu pai trabalhava; inclusive, quem lançou a fagulha e me desafiou a fazer um conto sobre o assunto foi ele, sempre buscando me fazer explorar meu potencial.

Vale ressaltar que, durante essa fase de mini escritora, além do apoio de meus pais, sempre fui encorajada por minhas professoras. Levava os manuscritos para elas, que, de boa vontade, faziam as correções e me direcionavam para sempre melhorar minha escrita.

O tempo passou, mudanças aconteceram e, em um piscar de olhos, me vi no 7º ano, em 2018, em um ambiente completamente novo. Durante esse tempo, meu gosto pela leitura foi fincando raízes em minha vida, e descobri nos livros bons amigos. Foi também nesse ano que mergulhei nos versos, na poesia e, principalmente, nos cordéis. Foi quando uma professora esplêndida envolveu toda a turma em uma árdua tarefa: lançar um livro de cordéis. Parece familiar?

Com muito esforço e alguns neurônios queimados, lançamos nossa coletânea de cordéis, intitulada Rimando um Verso, Criando um Universo. E, em meio a esse processo, me apaixonei pelas rimas e pela musicalidade dos cordéis. Perdi as contas de quantos escrevi; no fim, contribui com três criações para o livro: um homenageando nossa mentora, um em honra aos pais e um de livre criação, onde rimei sobre os bons sentimentos da vida. Foi uma experiência memorável que me aproximou ainda mais da leitura e da escrita.

O tempo foi passando e, durante o ensino médio, tive nos livros as melhores companhias que alguém poderia ter. Grande parte do despertar dessa paixão foi graças à escola e aos mestres que nela se encontravam. Nunca saberia como é emocionante ler um bom suspense se não fosse pelo primeiro livro que peguei na biblioteca da escola, O Escaravelho do Diabo, ou como pode ser fofo acompanhar um romance de época nacional como A Moreninha, livro que li no meu 3º ano e que ficou marcado em minha mente. Enfim, infelizmente, não posso relatar sobre as emoções que tive em cada título que li; quem sabe em uma próxima obra…

Finalizo aqui dizendo que, agora aos meus 18 anos, início o curso de Pedagogia com o objetivo de, futuramente, no papel de professora, encontrar e despertar em mais almas esse amor pela escrita e, principalmente, pela leitura. Quero ser capaz de mostrar o quanto os livros são capazes de abrir portas para mundos inimagináveis e como eles podem ser um refúgio quando o mundo real se torna demais…



SOBRE A AUTORA:

Rillary Emanuelly Belaguarda, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Minhas memórias

Minhas memórias

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Raquel Azevedo Oliveira, Itamarandiba/MG

Eu vim de uma família analfabeta, onde meus pais e meus avós eram analfabetos. Eles vieram da roça e não tinham muita estrutura nem oportunidades para estudar na época. Não me lembro de livros em casa. Fui ver um livro pela primeira vez na pré-escola, e foi ali que me apaixonei pela leitura. Lembro que, na escola, eles fizeram uma vez aqueles dinheirinhos de papel, e eu fiquei encantada. Pedi à professora para levar pra casa e cheguei toda feliz, contando para minha mãe que, naquele dia, eu tinha aprendido a contar e tinha ganhado dinheiro.

Quando comecei a ler na primeira série, tive um pouco de dificuldade, e minha professora foi um anjo para mim nessa fase. Ela dava aulas para mim na casa dela, fora do horário da escola, o que me ajudou muito. No dia em que finalmente comecei a ler sem tropeçar nas palavras, cheguei em casa e minha mãe ficou muito feliz, pois o sonho dela era ler, mas ela nunca teve a oportunidade de estudar. Ela sempre me incentivou e me pedia para ler as coisas para ela, e eu me achava muito importante por poder ler para ela.

Na minha escola, havia uma biblioteca, mas, como naquela época tudo era difícil, os livros eram poucos e muito usados; alguns até faltavam páginas. Lembro que amava a aula de leitura. Eu ficava fascinada olhando os livros e gostava de escolher aqueles que tinham a capa mais bonita. Sempre pedia à professora para deixar eu levar mais de um livro para ler, mas, como eram poucos livros e muitos alunos, só permitia um. Lia-o em um dia e, no dia seguinte, chegava na escola devolvendo-o e já querendo pegar outro.

Hoje, ao visitar minha antiga escola, vejo o quanto tudo evoluiu; possui uma grande e bonita biblioteca. Porém, percebo pouco interesse dos alunos pela leitura; o mundo digital tomou conta do espaço.

Quanto aos números, nunca gostei de matemática; sempre odiei as aulas de matemática e, até hoje, não lido muito bem com números. Mas hoje me arrependo de não ter me dedicado mais à matemática, pois vejo a falta e a dificuldade que isso gerou para minha vida hoje.

Se eu tivesse a oportunidade de voltar no tempo, teria me dedicado mais às aulas de matemática e de leitura também. Por volta da quarta série, eu não tinha mais tanto interesse, e vejo como isso reflete na minha vida adulta. Mas hoje, com a experiência de vida que tenho, quero incentivar meu filho à leitura e à escrita, porque sei o quanto é importante na nossa vida.

Na universidade, venho lendo autonomamente todos os dias, além do que os professores orientam. Conhecimento é poder, e isso ninguém tira da gente. Espero ser uma pedagoga que saiba conquistar os pequenos com a leitura. Pretendo elaborar atividades interessantes, chamativas e incentivadoras.



SOBRE A AUTORA:

Raquel Azevedo Oliveira, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Memórias da minha formação

Memórias da minha formação

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Paula Tamires Fernandes Guedes Sampaio, Itamarandiba/MG

Ingressei na vida escolar com quatro anos de idade, logo não tenho muitas recordações sobre essa época relacionadas à leitura. Na comunidade em que vivia, tinha acesso a livros escolares dos familiares, a jornais, revistas e panfletos da igreja. Assim, posso perceber que sempre tive contato com a leitura.

Antes de entrar para a escola e até nos primeiros anos da vida escolar, lembro-me de que os adultos me contavam muitas histórias infantis. As que mais me recordo são as histórias dos Três Porquinhos, em que o lobo mau tentava assoprar as casas dos três porquinhos para derrubá-las; a história de Joãozinho e Maria, dois irmãos que viviam na floresta com seus pais e tinham várias aventuras; e o clássico Chapeuzinho Vermelho, em que a Chapeuzinho ia levar doces para sua vovozinha e encontrava o lobo mau no caminho, que a seguia e tentava comê-la.

Desde a minha primeira infância, recordo-me das idas às missas na igreja, onde ouvia o padre e os leitores fazendo a leitura da Bíblia. Com sete anos de idade, logo quando ingressei no ensino fundamental, também comecei a fazer a catequese, que é a preparação para a Primeira Eucaristia (Sacramento da Igreja Católica Apostólica Romana). Nesse curso, ouvia muitas histórias bíblicas lidas pelos catequistas e tive muito contato com a Bíblia nessa época. Isso continua até hoje, uma vez que faço a leitura da Bíblia em casa e ouço a leitura nas missas às quais participo. Além disso, faço parte da equipe de liturgia da minha paróquia, realizando leituras durante as celebrações de missas na igreja.

Assim que ingressei na vida escolar, sempre fui incentivada pela minha mãe a me dedicar aos estudos, sempre fui apaixonada pela escola. Recordo-me de que, se minha mãe quisesse me castigar, bastava ameaçar não me deixar ir para a escola, e eu rapidamente me comportava bem. Após iniciar o pré-escolar, lembro-me de fazer colagens com bolinhas de papel crepom sobre as letras do meu primeiro nome e os numerais, de fazer desenhos e de ouvir muitas histórias infantis, como a de Chapeuzinho Vermelho.

Quanto aos números, desde cedo me familiarizei com o dinheiro e gostava muito de ganhar moedas para comprar guloseimas na venda da esquina (mercadinho). Com sete anos de idade, já sabia contar as moedas, notas de dinheiro e conferir o troco.

Nos primeiros anos do ensino fundamental, tive muito acesso a livros de histórias, e havia uma biblioteca na escola onde podíamos pegar os livros emprestados para ler em casa e depois devolver. A partir da quinta série do ensino fundamental, passei a ler livros clássicos da literatura brasileira, tais como Senhora, de José de Alencar, e Dom Casmurro, de Machado de Assis. Esses e outros livros eram leitura obrigatória na disciplina de português. Após a leitura, tínhamos que fazer um resumo em uma ficha literária e depois realizar uma prova escrita sobre o conteúdo do livro, o que estimulava bastante a leitura. Nessa época, eu me destacava com as melhores notas nas provas de literatura e, como tinha facilidade em interpretar textos, mesmo quando não conseguia ler os livros por completo, conseguia interpretar com a leitura de resumos e conversas com colegas sobre as histórias narradas nos livros.

Nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, lembro das frequentes idas à biblioteca da escola para fazer pesquisa na Barsa, uma enciclopédia de A a Z, onde encontrava assuntos multidisciplinares para resolver minhas tarefas. Naquela época, não tinha acesso à internet e nem podia fazer cópias xerográficas dos livros. Então, as respostas coletadas na Barsa eram transcritas à mão, o que facilitava a assimilação do conteúdo.

No ensino médio, continuaram as leituras obrigatórias de livros para a produção de resumos e a realização de provas. Naquela época, por volta do segundo ano do ensino médio, a internet estava em alta, e para acessá-la era necessário ir a lanhouses, locais com computadores conectados à internet, onde se pagava por hora para utilizá-los.

As redes sociais eram muito utilizadas, e nelas a leitura e a escrita eram empregadas para fazer os famosos depoimentos (mensagens declarando a importância das pessoas) para os amigos que conversavam no antigo Orkut, rede social muito famosa na época.

Quanto às finanças, sempre fui familiarizada com números, especialmente com dinheiro, e, desde a adolescência, passei a fazer os serviços bancários da minha mãe e do meu avô. Assim, aprendi a administrar desde cedo e, quando comecei a ter meu próprio salário, já sabia controlar meus gastos.

Percebo que a vida escolar foi muito importante para o processo de aprender a administrar minhas finanças, em especial porque, nas aulas de matemática, frequentemente resolvíamos problemas matemáticos que envolviam dinheiro.

A partir da facilidade que desenvolvi em interpretar textos, passei a pesquisar e estudar como resolver os assuntos do meu cotidiano. Assim, consigo analisar contratos e proposições de empréstimos e financiamentos, avaliando se compensa ou não ingressar nos mesmos.

Atualmente, faço a minha declaração anual do imposto de renda da pessoa física para a Receita Federal do Brasil e faço a declaração para meu marido e alguns familiares. Além disso, consigo gerir investimentos tanto no meu trabalho quanto no meu próprio patrimônio e dou dicas a alguns familiares com base em muita leitura de relatórios do mercado financeiro.

Quanto à vida universitária, percebo que o incentivo à leitura ao longo dos anos na vida escolar facilitou bastante a interpretação e compreensão de textos que ajudam no dia a dia. O conhecimento adquirido ao longo dos anos escolares até o ensino médio preparou-me com êxito para a vida na universidade.

Como já frequentei a universidade antes, com formação em Administração e pós-graduação em Gestão Municipal, já tenho conhecimento da rotina acadêmica, podendo assim administrar a metodologia e rotina de estudos e entrar no ritmo da vida acadêmica, apesar de já ter se passado 10 anos desde que concluí minha primeira graduação.

Atualmente, leio os livros e textos propostos na grade curricular do curso de Pedagogia e tenho facilidade em interpretar os textos e as questões propostas, pelo conhecimento que adquiri tanto no ensino fundamental e médio quanto na faculdade e até no trabalho.

Enfim, vejo que o curso de Pedagogia irá contribuir bastante para o meu currículo e, quem sabe, para ingressar em uma nova carreira. Espero poder chegar ao final do curso com a bagagem necessária para exercer atividades na área da pedagogia, especialmente na supervisão pedagógica.



SOBRE A AUTORA:

Paula Tamires Fernandes Guedes Sampaio, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Entre lembranças e aprendizados

Entre lembranças e aprendizados

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Patrícia Pereira de Andrade,  Turmalina/MG

A vida escolar nem sempre é fácil. Nos primeiros anos de vida, já enfrentamos grandes desafios, e assim iniciou a minha trajetória: uma pequena menina do campo, de condições financeiras difíceis. A comunidade onde vivíamos não oferecia muitas condições para estudar, mas minha mãe, mesmo com pouco conhecimento, sonhava com o estudo dos filhos.

Aos 6 anos, mudamos para a cidade para que pudéssemos ir à escola. Iniciei o pré-escolar em uma escola estadual e ainda não sabia ler nem escrever. Neste período, enfrentei muitas dificuldades, pois, naquela época, a desigualdade social prevalecia com força. Foi complicado para uma criança ter que enfrentar a maldade humana e a discriminação. Além disso, eu era muito tímida, e vencer essa timidez foi desafiador e um pouco traumático.

Nos anos iniciais, tive dificuldades na fase de alfabetização. Eu não conseguia juntar as letras e tentava adivinhar as palavras; quando falavam a letra “A”, eu gritava: “Abacate!” No entanto, a vontade de aprender era maior que qualquer dificuldade, e consegui superá-las.

Antes de entrar na escola e ao longo de toda a minha vida escolar, tive o apoio e a cobrança da família; porém, eles não conseguiam me ajudar com as atividades. Meus pais não tiveram a mesma oportunidade que eu de estudar. Em minha casa, não tínhamos livros, mas me lembro de minha mãe sempre lendo a Bíblia, e com ela aprendi a ter amor pela palavra de Deus. A escola foi fundamental para meu desenvolvimento, pois foi lá que aprendi a ler, escrever e ter o primeiro contato com os números.

Demorei um pouco para, enfim, reconhecer o dinheiro. Lembro que certa vez ganhei R$10,00 e meu irmão, R$1,00, e chorei porque queria trocar com ele, achando que ele tinha ganhado mais do que eu.

As escolas onde estudei tinham biblioteca, mas não lembro de frequentá-las; tenho mais recordação da biblioteca comunitária da cidade. Lá, sim, era um lugar calmo e tranquilo. Meus colegas e eu a usávamos para fazer pesquisas e trabalhos escolares.

Minha mãe, na adolescência, teve a oportunidade de ler alguns livros e, de tanto ler os mesmos, decorou muita informação. Para as partes que não conseguia decorar, usava a imaginação. Meus irmãos e eu amávamos assistir a ela contar as histórias. Era como se eu me transportasse para dentro dos livros.

Por volta dos 12 anos, eu amava escrever poemas e tinha uma agenda onde falava muito dos meus sentimentos, medos e sonhos. Quando cheguei ao ensino médio, comecei a me interessar mais pelos livros de romance; eram os únicos que eu conseguia ler com concentração. A verdade é que eu não gostava de ler, mas sabia a importância e a diferença que isso faria em minha vida.

A cada ano que se passava, percebi que não tinha outra saída a não ser me dedicar mais à leitura. A cada dificuldade que aparecia, aprendi a me superar. Eu sempre tive uma paixão pela matemática e, mesmo sendo difícil, gostava da sensação de estar diante de um problema e tentar resolvê-lo. Não tenho memórias de quando aprendi a contar ou resolver problemas, mas sei da importância que teve um professor do ensino fundamental II, que despertou em mim um amor ainda maior pela matemática.

Eu nunca questionei o uso da matemática; muito pelo contrário, vejo a matemática e o português em tudo; elas andam lado a lado. Assim como a matemática é usada para entender a economia, ou pelo médico para interpretar dados ou dosagens de medicamentos, ela também é usada pelo agricultor para maximizar sua produção ou minimizar os riscos de doenças e pragas em suas plantações. A matemática está presente em vários momentos de nossas vidas e me ajudou a resolver muitas situações.

Apesar de ter algumas dificuldades, reconheço que a escola me preparou. As regrinhas básicas da matemática estão gravadas na minha memória e têm contribuído ano após ano para melhorar minha vida financeira, ajudando-me a calcular juros e saber se algumas opções de parcelamento são favoráveis ou não. Se quiser um dia pegar um empréstimo, consigo avaliar se vale a pena ou não. O conhecimento nos proporciona isso: ser pessoas críticas e questionadoras.

Já na vida adulta, fui presenteada no Dia dos Professores com um excelente livro de Paulo Freire chamado “Medo e Ousadia”. Freire é uma inspiração para muitas gerações e para mim também. Foi maravilhoso receber um presente assim, e gosto muito da ideia de presentear crianças com livros, para que elas percebam desde cedo o poder que a leitura pode exercer sobre elas. Embora o tempo seja pouco e corrido na universidade, tenho me dedicado a estar sempre ligada às propostas de leitura que os professores orientam. Tenho dificuldades em alguns textos, mas a maioria compreendo bem e gosto de ler artigos, reportagens e bulas de medicamentos.



SOBRE A AUTORA:

Patrícia Pereira de Andrade,  de Turmalina/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Relembrando conhecimentos

Relembrando conhecimentos

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Natalia Azevedo da Costa, Capelinha/MG

Meus pais não tiveram estudos, eram analfabetos, então não tínhamos muitos livros em casa. Só depois de um tempo na escola, minha irmã mais velha começou a se interessar pela leitura e sempre trazia livros para casa. Vendo-a ler, despertei o interesse de ler também; então, ia à biblioteca da escola com frequência para escolher livros. A escola emprestava os livros, mas a gente tinha que ter muito cuidado com eles. Na época, conferiam até as páginas quando íamos devolver o livro.

Não me lembro muito bem de quando comecei a contar, mas lembro quando tive conhecimento sobre o dinheiro. Minha mãe sempre nos dava moedas para fazermos cofres, e entendi que era algo que tinha valor. Somas e diminuição aprendi depois que já estava na escola. Os “problemas” de matemática, para mim, eram muito difíceis.

Antes de frequentar a escola, aprendi a escrever meu nome na creche; tinha uns 4 anos. Foi uma sensação incrível ver meus pais festejarem a cada etapa. Minhas professoras nos motivavam a escrever, passando os deveres de casa. Não me recordo muito bem das produções de texto que fazia, mas sempre tínhamos que ler livros e fazer resumos deles.

Em todas as vezes, a escola nos motivou a ir à biblioteca para procurarmos livros. Quando algum professor faltava, eles nos levavam para a biblioteca, e achávamos o máximo. Enquanto estávamos na escola, estávamos focados para dar o nosso melhor em tudo: na caligrafia, na leitura, nas notas. Enfim, dávamos o nosso melhor.

Depois que nos formamos, dá uma esfriada nos estudos, e precisamos nos reencontrar novamente para que esse ânimo volte e busquemos mais conhecimento. Minha mãe sempre nos motiva, dizendo: “Estuda, meu filho, porque o que ninguém tira de você é o conhecimento.”

Notei que a leitura, a escrita e os números são muito importantes em qualquer área de nossas vidas, na faculdade, no trabalho, e devem estar presentes também no nosso lazer. Para mim, a leitura e escrita têm sido positivas; tenho lido tudo o que os professores nos orientam. Não tenho muita experiência com textos universitários, pois esta é minha primeira faculdade.

A escola tem, sim, o seu papel, mas, como tudo, é praticando que se aprende. Da mesma forma, se não se pôr em prática o que aprendeu, não resolverá nada.

Ainda não pensei em lançar um livro, mas, se houver oportunidade, quem sabe esse interesse pode ser despertado em mim.



SOBRE A AUTORA:

Natalia Azevedo da Costa, de Capelinha/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

O jardim dos sonhos perdidos

O jardim dos sonhos perdidos

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Michele Santos Marques, Pedra Azul/MG

Desde os primeiros anos de vida, o acesso a textos escritos foi muito restrito para mim. Meus pais, humildes trabalhadores de uma pequena cidade, lutavam para garantir o básico para nossa família e mal tinham condições financeiras para adquirir livros ou materiais educativos. A casa onde vivíamos era pequena e envelhecida, e o ambiente não era ideal para o desenvolvimento de uma criança.

Lembro-me de ver minha mãe frequentemente folheando revistas antigas, buscando um pouco de distração e conforto. Essas revistas acabavam se tornando meus brinquedos improvisados. Eu usava as páginas rasgadas para inventar minhas próprias histórias, criando mundos onde a dura e sem cor realidade da minha vida não tinha vez. Era minha forma de escapar, mesmo que por um breve momento.

Quando comecei a frequentar a escola, estava ansiosa para aprender. No entanto, a escola também não tinha muitos recursos. Os livros didáticos eram antigos e a biblioteca, se é que se podia chamar assim, era uma sala pequena com poucas prateleiras. Os professores se esforçavam para compensar a falta de materiais, mas eu sentia que estava sempre atrás dos outros alunos que vinham de famílias mais abastadas. Entre os livros lidos nessa época estavam “Chapeuzinho Vermelho”, “Pinóquio” e “O Barquinho Amarelo”.

Aprender a escrever foi um desafio. As palavras pareciam dançar nas páginas dos cadernos surrados, e minhas tentativas de escrever eram frequentemente frustradas pela falta de apoio. No entanto, tentava com perseverança, escrevendo pequenos textos sobre meus sonhos e esperanças, que guardava com carinho.

Aprendi a contar com a ajuda de minha mãe. Usávamos pequenos objetos encontrados em casa para tornar o aprendizado mais visual. Eu sabia contar até dez, mas esse conhecimento era limitado, e a matemática na escola se tornou um desafio ainda maior. Cada problema matemático parecia um obstáculo insuperável, e eu frequentemente me sentia desmotivada ao ver outros alunos superando essas dificuldades com mais facilidade.

A situação financeira da minha família piorou com o tempo. Meu pai perdeu o emprego devido a problemas de saúde e, sem uma fonte de renda estável, enfrentamos dificuldades ainda maiores. Comecei a trabalhar meio período para ajudar, fazendo pequenos serviços e vendendo produtos que eu mesma fazia. Essa nova realidade significava menos tempo para estudar e mais estresse, o que me deixava exausta.

Em um inverno particularmente rigoroso, a situação chegou ao ponto crítico. Nossa casa ficou fria e úmida, e eu frequentemente passava as noites em claro tentando me manter aquecida com roupas empilhadas. A falta de alimentos se tornou uma realidade constante, e o sonho de um futuro melhor parecia cada vez mais distante. Meus cadernos de histórias, uma vez cheios de esperanças e sonhos, estavam agora cobertos de poeira e esquecidos em uma prateleira.

Apesar de tudo, nunca perdi completamente a paixão pela leitura e pela escrita. Cada livro emprestado da pequena biblioteca local era um pedaço do mundo que eu sempre desejei conhecer. Mesmo nos momentos mais difíceis, eu buscava consolo nas páginas desses livros, que se tornaram meu refúgio e uma forma de escape das adversidades.

Finalmente, após muitos anos de luta, a situação financeira da minha família se estabilizou um pouco. No entanto, o impacto emocional e psicológico das dificuldades anteriores era profundo. Agora, como adulta, tentava reconstruir minha vida, lidando com as cicatrizes deixadas pela pobreza e pelo esforço constante para sobreviver.

Mesmo que os sonhos de uma infância cheia de livros e aventuras literárias tenham sido substituídos por uma realidade de trabalho árduo e sobrevivência, a paixão pela leitura e pela escrita nunca me abandonou.

O jardim dos sonhos perdidos, como eu o chamo, é um símbolo da minha luta e resiliência. É uma lembrança constante de que, apesar das adversidades, nunca abandonei meus sonhos de aprender e crescer. A jornada foi difícil e marcada por muitas dificuldades, mas o desejo de continuar explorando o mundo através da leitura e da escrita sempre foi uma luz em meio à escuridão.



SOBRE A AUTORA:

Michele Santos Marques, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Alfabetização e letramento

Alfabetização e letramento

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Maurizete Máximo da Fonseca Santana, Cristália/MG

A memória tem papel essencial no processo de alfabetização, no qual são criadas várias memórias que podem ser de curto ou longo prazo. Ao refletir sobre nossas memórias, podemos aprender lições valiosas com as experiências vividas. A memória é fundamental na construção da nossa identidade, pois acredito que nossa percepção de quem somos é moldada por experiências passadas, lembranças e vivências. Ela nos permite compreender quem somos, como chegamos aonde estamos e para onde estamos indo, ao mesmo tempo em que nos ajuda a nos relacionar com os outros e com o mundo ao nosso redor. O tempo passa, mas as lembranças permanecem em nossas memórias. Não me recordo claramente, mas minha mãe sempre dizia que, quando eu tinha apenas 5 anos, chorava para poder ir para a escola com meus irmãos. Naquela época, porém, não havia como eu frequentar a creche, pois, vivendo na zona rural, o transporte escolar passava muito cedo para pegar os alunos, e a rota era extensa. Meus pais, então, acharam melhor não me matricular e esperar até que eu completasse 7 anos para estudar na escola da minha comunidade.

Naquela época, não era comum termos acesso a textos em nossa casa; sequer tínhamos um aparelho de televisão. Mas me recordo que havia uma bíblia e alguns livros didáticos que meus irmãos traziam da escola para fazer suas tarefas. Curiosa, pegava esses livros escondido para brincar de escolinha. Foi através dessa brincadeira e com a pouca ajuda que recebia dos meus irmãos que comecei a aprender desde cedo, e antes mesmo de ingressar na escola eu já conhecia o alfabeto e até sabia escrever meu primeiro nome. Não poderia deixar de citar a professora que trabalhava em minha comunidade, tia Rosimeire Barroso, que me incentivava muito nas horas vagas e até me levava para a escola, de vez em quando, para assistir às suas aulas. Isso contribuiu muito para meu desenvolvimento, tanto escolar quanto pessoal. Quando finalmente ingressei na escola no ano de 2000, já sabia muitas coisas. Para mim, foi muito gratificante, pois estava bem adiantada, e as dificuldades foram menores.

Nunca gostei muito de português; minha preferência sempre foi matemática. Amava fazer as contas usando o método dos milhos e feijões, e cada problema matemático apresentado me encantava cada vez mais pela disciplina. Até hoje, tenho preferência por ela. Naquela época, os incentivos eram poucos, e, apesar do apoio que recebi, não foram suficientes. Meus pais não tinham muito estudo, e meus irmãos, no tempo livre, ajudavam nas tarefas de casa e na roça.

Ao avaliar o papel da escola e da família nos meus letramentos iniciais, posso dizer que fui privilegiada. Na minha família, fui a única que teve tempo para dedicar-se aos estudos, pois meus irmãos, além de estudar, precisavam trabalhar em tarefas pesadas. Recebi também grande apoio dos professores, que, mesmo com poucos recursos, usavam os livros didáticos e o quadro de giz para leituras e práticas de escrita. Esses materiais eram armazenados em uma prateleira no canto da sala de aula e estavam sempre disponíveis quando precisávamos. Era uma época de poucos recursos, mas o que aprendi foi de grande importância para minha vida. Ainda acredito que faltou incentivo, especialmente por parte da minha família, pois, se tivesse contado com mais apoio familiar, talvez hoje tivesse menos dificuldade em leitura e interpretação. Sinceramente, a leitura nunca foi meu forte; perco facilmente a concentração e foco em textos longos. Penso que, se tivesse recebido mais motivação, hoje minha relação com a leitura e a escrita seria melhor, facilitando, inclusive, a produção de textos acadêmicos.

Minha trajetória escolar inicial foi na Escola Municipal Francisco Máximo, localizada na comunidade de São João, no município de Cristália-MG, onde estudei da 1ª à 4ª série dos anos iniciais. A escola ficava próxima de casa, e eu adorava ir às aulas, não faltava um dia. Em 2004, ingressei no ensino fundamental, na Escola Estadual Professor Tutu, localizada na Avenida Teodomiro Borges, na cidade de Cristália-MG. Andava de ônibus todos os dias cerca de 50 km até a escola. Lá, fiz novas amizades e conheci novos professores. No início, senti-me meio perdida, pois a escola era muito maior e a movimentação era intensa. O que mais me assustou foi a quantidade de professores; a cada 50 minutos trocava o professor da aula. No começo foi difícil, mas me adaptei rapidamente, pois sempre fui uma aluna dedicada e buscava constantemente aprender para meu aperfeiçoamento.

Nesta mesma escola, concluí o ensino médio em 2010. Sempre gostei de estudar e não parei por aí. Em 2013, a cidade de Cristália foi contemplada com um processo seletivo aplicado pela Universidade Aberta do Brasil (UAB), que ofereceu várias graduações. Gosto sempre de tentar os vestibulares disponíveis no meu município. No dia 14 de julho de 2013, fiz a prova para a licenciatura em Educação Física, mas, infelizmente, não consegui uma das vagas. Fiquei triste, pois sempre sonhei em me formar nessa área, por gostar muito de esportes. Não desisti! Três meses depois, Deus me abriu uma porta de emprego na educação como alfabetizadora de jovens e adultos no programa Travessia Nota 10. Foi uma experiência inovadora e me mostrou que é possível educar de forma diferente, sem repressões, incentivando a participação dos alunos e valorizando o conhecimento prévio que cada um traz de seu cotidiano.

Nesse mesmo ano, tive a oportunidade de realizar um curso técnico em Secretaria Escolar oferecido pelo Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG). Durante o curso, fiz estágio na secretaria da Escola Municipal Dona Caroline Ursine, o que enriqueceu minha vida tanto pessoal quanto profissionalmente. Esse curso não era o que sonhava, mas agradeço a Deus por tudo. O importante é nunca desistir. Em 2018, tive a oportunidade de fazer minha primeira graduação em Administração Pública. E hoje estou aqui novamente buscando enriquecer meu currículo e minha vida profissional. Como já disse, nunca desisti das oportunidades. Surgiu o vestibular para Pedagogia e Matemática no meu município e, ao me inscrever, apesar da paixão pela Matemática, acabei escolhendo Pedagogia. Confesso que me arrependo, mas agora é seguir em frente, manter o foco e aproveitar essa nova oportunidade de fazer outra graduação.



SOBRE A AUTORA:

Maurizete Máximo da Fonseca Santana, de Cristália/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Minhas memórias

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Martha Fernandes, Pedra Azul/MG

O desejo da nossa mãe sempre foi que fôssemos à escola, eu e minhas irmãs, mas, como de costume, ela nos deixava na creche a caminho do trabalho. Logo em seguida, nosso pai ia nos buscar; na cabeça dele, éramos muito novas para ir à creche. Como meus pais eram muito jovens, minha mãe, que morava na roça, teve que parar de estudar. Ela não queria que a gente perdesse o gosto de estudar e ler, então meu pai, aos poucos, foi se acostumando com a ideia.

Eu, curiosa, queria aprender rápido para sair logo da escola. (rsrs) Mas fui pegando gosto. Aos 7 anos, aprendi a realmente ler. Lembro-me que gostava muito das minhas professoras do fundamental I. Uma especial, eu queria que chegasse logo o dia seguinte para frequentar sua aula. Ela passava uma segurança total, que é um ponto muito importante para quem está aprendendo a conhecer novas coisas. Brincalhona e meiga, contava histórias e fazia teatro com fantoches. Fui ficando mais fascinada e, para não errar no dia da leitura, parava na rua antes de chegar à escola e lia tudo.

Fui crescendo e conhecendo novos professores. Eu achava a minha primeira professora era boa, assim como as outras, nunca tive professores ruins. Nas outras aulas, como ortografia, tinha um policial que ia à escola pegar a tabuada; eu morria de medo e nem dormia direito, mas na hora era tranquilo. Tudo foi uma questão de tempo para eu evoluir cada vez mais.

À medida que fui crescendo, às vezes tinha vontade de parar de estudar, mas lembrava: quero um emprego bom, quero minhas conquistas, então parei de pensar em parar. Engravidei aos 17 anos, em uma gravidez de risco, e não passei de ano por falta. Esse foi mais um motivo para não desistir e concluir o ensino médio. Para me ajudar e incentivar, meu pai me levava até a escola para eu terminar.

Hoje, eu digo a elas que estudar nunca é demais; adquirir conhecimento nunca é demais. Lembro que coloquei minha filha na escola muito cedo e gritava para aprender a ler. Isso me faz lembrar da minha infância: muita calma e segurança para ela. E hoje estou aqui, adquirindo novos conhecimentos. Parei de ler por muito tempo, mas estou voltando às origens; ler nunca é demais. Isso é um pouco do que vivi. Tem algumas coisas que não me recordo mais, mas lembro que fui muito feliz a cada descoberta.



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Martha Fernandes, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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