Saudades do Aurélio

Saudades do Aurélio
Karina

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Karina de Matos Fernandes, Itamarandiba/MG

Ah, que saudades que tenho do Aurélio, meu companheiro tão presente na minha vida escolar. Lembro de você como peça fundamental para o meu aprendizado. Hoje, vendo os avanços da tecnologia, fico triste em saber que as novas gerações não conhecem e jamais conhecerão você.

Hoje, as palavras não são mais as mesmas de antigamente; elas perderam algumas letras e é preciso decifrar qual a mensagem que as pessoas desejam passar. Temos “Blz”, “Ñ”, “Ss”, “Pq”, entre muitas outras, e algumas das quais precisamos pesquisar pra compreender.

Ah, que saudades da época da escola! Tantas lembranças: os dias de prova tinham cheirinho de álcool, pois o professor usava os famosos mimeógrafos. Alguns livros ficaram marcados na minha memória, como Os Capitães da Areia, um romance de Jorge Amado. Que estória! O livro relatava uma realidade dura, totalmente distante da minha.

Lembro-me também dos livros de pesquisa que tinham capa dura, de cor vermelha com letras douradas grafadas e centenas de páginas: os elegantes livros Barsa, as bibliotecas com aquelas prateleiras repletas de livros, mundos de experiências e histórias!

Tentando lembrar-me de memórias mais antigas, pois já estou “batendo na porta dos meus 40 anos”, precisei recorrer às informações da minha querida mãe. Eu comecei a estudar e a ter acesso às letras e números aos cinco anos de idade, na Escola Municipal de Educação Infantil de Santa Isabel, no estado de São Paulo. Quando aprendi a ler, todas as placas na rua me fascinavam, e minha mãe sempre brincava quando entrávamos no ônibus e dizia: “Filha, fica caladinha, senão precisaremos pagar a passagem!”

Uma coisa interessante sobre números: não me ensinaram o algarismo romano. Eu morava em outra cidade em São Paulo, e, na metade do ano letivo, mudamos para Minas Gerais, a “terra do queijo”. Passou despercebido pelos meus educadores o fato de essa matéria não ter sido incluída na minha grade curricular, pois se tratava de uma aluna em transição, e os conteúdos não foram os mesmos na mesma sequência entre as escolas.

Minhas experiências com dinheiro não são muito boas (risos). Lembro-me de que, ainda criança, meu pai me deu alguns cruzados e eu não queria gastar. Num belo dia de passeio, levei o meu dinheirinho e o perdi pelo caminho. Ali aprendi a não ter amor pelo dinheiro.

Há algumas memórias que vêm à mente quando me lembro dos meus boletins, todos recheados com notas acima de 20 e muitos totais de 25. Sempre muito estudiosa e inteligente, fui premiada em todos os bimestres.

Na escola, eu tive minha primeira experiência com plágio. Cada aluno teria que fazer uma frase para a formatura da oitava série, e as melhores frases seriam escolhidas. Para minha surpresa, quando recebemos os convites, que tinham o formato de um pequeno livro, minha frase estava estampada em uma das páginas e abaixo o nome da professora. Nesse momento, olhei com deslumbramento para a professora e disse: “Essa frase fui eu que escrevi!” Foi um misto de orgulho e alegria por ver ali o fruto dos meus pensamentos e decepção, pois não me foram dados os devidos créditos. Essa foi a primeira das muitas injustiças que a vida me reservava.

Na minha época, não era importante ser apenas inteligente; era preciso ter uma boa condição financeira. Há vinte e dois anos, não existia a possibilidade de estudo a distância como se tem hoje. Para buscar uma formação profissional, era preciso se deslocar para outra cidade, o que gerava custos. Com a mentalidade e os recursos dos nossos pais, o objetivo era apenas concluir o ensino médio e arrumar um bom emprego. Muitos de nós não tivemos a oportunidade.

Na minha época, não existia internet. Ela chegou à nossa cidade por volta de 2005, mas nem todos tinham acesso e a velocidade era ruim! Ainda lembro da conexão através de modem. A partir daí, ela cresceu e hoje está acessível em todo lugar. Confesso que ela nos deixou um pouquinho mais preguiçosos; já não usamos mais a escrita correta e nem paramos para pensar qual seria, pois o teclado do celular imediatamente se antecipa.

Nem lembramos mais da tabuada; não fazemos mais contas de cabeça, até para o ‘2 + 2’ precisamos da calculadora. Não pesquisamos mais em livros, pois o Google sabe de tudo, e agora, então, com a nova ferramenta, o ChatGPT, cada dia que passa nos leva à comodidade. As fórmulas que aprendemos na escola poucas ainda fazem sentido, mas aquela velha mentalidade de que não havia nada além do terceiro ano não me deixou aprofundar mais!

Ah, se essa geração soubesse a joia preciosa que tem na palma das mãos! A internet, de mãos dadas com a educação, pode nos proporcionar realizações de sonhos que antes eram inalcançáveis: um estudo de boa qualidade, onde você nem precisa sair de casa, com conteúdos de conhecimento usando a internet a nosso favor.

O que posso dizer a essa nova geração? Hoje tenho a oportunidade de cursar a minha tão sonhada faculdade, e meu conselho é: estudem, formem-se e tornem-se bons profissionais. Que essa vontade de conhecimento seja passada de geração a geração, e que a busca pelo conhecimento seja maior do que a busca pelos likes!



SOBRE A AUTORA:

Karina de Matos Fernandes, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Visitando o baú da memória de Júnia

Visitando o baú da memória de Júnia

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Júnia de Almeida Freire, Pedra Azul/MG

Na minha casa, vivia uma grande família. Éramos dez: pai, mãe e oito filhos. Não era uma vida fácil, mas éramos felizes com o pouco que tínhamos. Meus pais faziam questão de ensinar princípios e nos incentivavam a estudar, pois eles não tiveram as oportunidades que nós tínhamos. Na época deles, ou se estudava ou se trabalhava na roça.

Muitas vezes, compartilhávamos a mesma mochilinha: um usava pela manhã e o outro, à tarde. Os cadernos eram encapados com papel de pão ou saquinho de açúcar, e os lápis de escrever eram aguardados com expectativa, como se fossem o tão esperado pacote de macarrão. O uniforme da escola era uma jardineira azul com blusa branca, que precisava ser lavada assim que chegávamos da escola, para ser usada no dia seguinte.

Lembro-me também da ansiedade de esperar a nossa vez de tirar a maravilhosa foto com os bracinhos cruzados ao lado dos livros e do globo terrestre. Tínhamos livros que meus irmãos mais velhos ganhavam na escola e traziam para casa. Eu adorava folheá-los, olhando as gravuras, pois ainda não sabia ler.

Eles também traziam revistas em quadrinhos e álbuns de figurinhas, que compravam na banca de revistas ou nas vendas próximas de casa, sempre na expectativa de encontrar a tão sonhada figurinha premiada. Também tínhamos o hábito de brincar de missa, usando os folhetos que meus pais traziam das missas aos domingos.

Iniciei os estudos aos seis anos, no pré-escolar, com a tia Luiza, uma professora exemplar, dedicada e carinhosa. Já conhecia o alfabeto e, aos poucos, fui aprendendo a escrever meu nome completo, o nome da escola e o da professora, tudo com o auxílio das fichas. Gradualmente, a leitura foi sendo introduzida na minha vida, e fui tomando gosto por ela.

Adorava ler livros, textos e até as provas impressas. O cheiro de álcool do mimeógrafo me fazia sentir parte da história. Adorava ir à biblioteca e pegar livros emprestados para ler em casa. Aprendi também a contar e, quando já dominava as continhas, adorava comprar balas na venda com as moedas que ganhava do meu pai ou dos meus irmãos. Tive uma infância feliz e aprendi a valorizar o pouco que meus pais podiam nos oferecer.

O tempo foi passando, e fui criando o hábito da leitura. Amava o livro “O Barquinho Amarelo”, os contos e a poesia “As Borboletas”, de Vinícius de Moraes, que me marcou muito.

Quando estava na quarta série, perdi meu pai. Meu mundo desabou, mas, aos poucos, aprendi a lidar com a saudade e a seguir em frente. Ocupei minha mente com os estudos pela manhã e com aulas de crochê à tarde.

Quando cheguei ao ensino médio, como já gostava de ler, fui tomando gosto pelos livros de romance, livros espíritas e histórias. É notório que minha letra melhorou muito, assim como minha dicção. Apesar de ainda sentir um pouco de receio ao falar em público, confesso que a leitura me ajudou bastante.

Em meio a tantas dificuldades, formei-me no magistério no ensino médio aos 17 anos. Mas, como não tínhamos o acesso e as facilidades que temos hoje, não consegui fazer uma faculdade naquela época. No entanto, nunca desisti do sonho de ter um curso superior, e hoje tenho essa oportunidade, pela qual agradeço a Deus.

Ao revisitar o passado, muitas memórias vieram à tona. Pude reviver momentos que me fizeram ser a mulher que sou hoje.



SOBRE A AUTORA:

Júnia de Almeida Freire, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Um pouco sobre mim

Um pouco sobre mim

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Jordana Ellen Souza Fróes Duarte, Grão Mogol/MG

Minha infância era preenchida com brincadeiras; eu gostava muito de brincar de escolinha. Como a casa estava sempre cheia, sempre havia alguém por perto para brincar, mas, na maioria dos dias, éramos eu e minha irmã mais velha. Segundo relatos da minha mãe, eu só sabia escrever meu nome e, naquela época, só me lembro da Bíblia em casa. Comecei a estudar mais ou menos aos cinco anos, na escolinha Arco-íris. Era como se fosse uma creche, com muitas brincadeiras e cantigas de roda. As educadoras faziam trabalhos para colorir e contavam histórias. Lembro que era muito divertido e que tinha meus melhores amigos.

Já no ensino fundamental, comecei realmente a aprender a escrever e a ler. Recordo que as professoras incentivavam muito a leitura e pediam para as crianças lerem pedacinhos dos textos para os colegas. Como sempre fui muito tímida, tinha bastante dificuldade para fazer leituras e apresentar trabalhos na frente dos colegas, e quase nunca participava dessas atividades; geralmente, passava minha vez. Comecei a ter um melhor contato com a leitura a partir dos 10 anos, quando peguei algumas histórias em quadrinhos de meus desenhos favoritos.

Outro ponto que me ajudou foi o fato de minha mãe trabalhar na biblioteca municipal. Sempre que tinha oportunidade, ia visitá-la e ficava olhando os títulos dos livros, embora não lesse. Sempre tive preguiça: olhava o início e partia para o final, e, às vezes, olhava apenas as gravuras. Sempre fui uma aluna que gostava de educação física e matemática; as outras matérias eu não gostava.

No ensino médio, comecei a perceber a importância da escola para a vida, mas continuei com a mesma dificuldade de leitura em público. Acredito que, por não gostar de ler e pela timidez, acabei me prejudicando bastante ao longo dos anos. Embora a leitura nunca tenha sido uma paixão para mim, essa falta de interesse me ajudou, de alguma forma, a explorar diversas formas de aprendizado e entretenimento. Gostava de praticar atividade física; sempre gostei de vôlei e futebol, e continuo praticando até hoje.

Hoje me deparo com um novo desafio, o curso de Pedagogia na UFVJM (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri). Confesso que esse início está meio difícil, mas estou me esforçando e sei que tenho capacidade. Na rotina, separei um tempo para estudar e isso tem feito muita diferença. Hoje sei que uma boa formação me ajudaria mais. A leitura continua um desafio, mas, sinceramente, acho que estou indo melhor do que eu esperava.



SOBRE A AUTORA:

Jordana Ellen Souza Fróes Duarte, de Grão Mogol/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Letramento pra vida

Letramento pra vida

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Jocerlane Santos Cardoso, Pedra Azul/MG

Entrei na escola aos 4 anos de idade, e antes disso eu não tinha acesso a textos, livros ou algo do tipo. Sempre fui muito curiosa para saber mais sobre letras e números. Fui uma criança com grande interesse em aprender. Sempre que minha mãe escrevia cartas, algo bem comum na época, eu ficava observando e admirando. Em 2004, comecei o que chamavam de “pré de cinco” e fiquei encantada com tudo o que via na sala de aula, pois antes não tinha acesso a nada semelhante. Antes de entrar na escola, eu conhecia as moedas, mas ainda não sabia fazer contas nem o valor real de cada uma.

Os cálculos só entraram na minha vida quando comecei o “pré de seis”. Nossa, os números pareciam fazer um nó na minha cabeça! Mas, aos poucos, peguei o jeito e descobri que a matemática não era o bicho de sete cabeças que eu pensava. O papel da escola no meu letramento matemático foi crucial para o meu aprendizado, assim como o apoio da minha família. Mesmo sem ter concluído os estudos, minha mãe sempre esteve ao meu lado, incentivando-me a ir à escola e a não faltar, para que um dia eu pudesse ser alguém na vida.

Minha primeira professora se chamava Diana, e nós, alunos, nos apegamos muito a ela. Ela foi quem nos ensinou as primeiras letras. No início, foi um pouco difícil, mas, aos poucos, fui me adaptando. A professora sempre nos incentivava a escrever e a ler as vogais e o alfabeto. Até então, eu não tinha acesso a textos, mas a escola já era essencial nos meus primeiros passos com a leitura e a escrita. No Fundamental I, líamos muitos textos. Na segunda série, lembro que a professora Márcia fez um projeto em que os alunos deveriam produzir textos para criar um livro com todas as produções. Até hoje tenho o texto que fiz para o livro, cujo título é “A Amizade das Letras MN”. A biblioteca da escola era repleta de livros, e lembro que uma vez por mês, ou duas, um senhor chamado Milton ia à escola e avaliava a leitura e a tabuada de todos os alunos.

Lembro também que, na escola, frequentemente passavam pessoas vendendo kits de livros com DVDs de contos de fadas, incentivando a leitura. Meu preferido era “A Bela e a Fera”, da autora Elizabeth Rudnick. Eu me divertia muito lendo esse livro e aprendia com a história, que mostrava uma moça bonita e bondosa que não sentia medo do monstro que todos na pequena cidade temiam, conhecendo o coração bondoso que ele escondia por trás de sua aparência assustadora. A moral da história é que nem tudo é o que parece ser. Foi a partir daí que comecei a me interessar por leituras de textos e histórias.

Sinto falta do que não consegui aprender, pois, no início do segundo ano do ensino médio, engravidei e precisei deixar a escola. Fiquei ausente por cinco anos, retornando em 2019 com o EJA, onde o aprendizado é mais acelerado. O que se aprende em um ano letivo normal, no EJA, se aprende em metade do tempo, o que não nos permite ver tudo em profundidade. Mas me esforcei ao máximo. Concluí o ensino médio em 2020, formando-me no EJA e encerrando mais uma etapa da minha vida, preparando-me para o mundo. Em questões de administração financeira, consigo me virar bem, embora no ensino médio eu não tenha tido uma preparação completa. Ainda assim, aprendi o suficiente para lidar com as situações da melhor forma.

Na escola, sempre fomos incentivados a estudar números e fazer cálculos, preparando-nos para o futuro. O tempo passou e fui morar em São Paulo. Eu não tinha o hábito de ler livros ou textos até conhecer duas irmãs, Jéssica e Valéria. Elas tinham o hábito de ler, e eu achava engraçado, pois estavam sempre comprando livros. Com o tempo, elas me incentivaram a explorar aplicativos de leitura no celular, o que despertou minha curiosidade. Um dia, uma delas me apresentou o aplicativo Dreame, voltado para leitura e histórias. Há cerca de dois anos, venho utilizando esse aplicativo, onde li a maioria dos livros que já li na vida. Um dos meus favoritos é “O Destino Quis 2: O Dilema de Ana”, da autora Célia Mesquita. Identifiquei-me muito com essa linda história.

Hoje, moro em Pedra Azul e passei no vestibular para Pedagogia. Estou cursando Pedagogia na UFVJM. Até o momento, não percebi grandes mudanças no meu hábito de leitura. Leio todos os conteúdos que os professores recomendam, mas ainda estou me adaptando. Tudo é novo nesta fase da minha vida, e estou enfrentando algumas dificuldades, mas estou gostando muito dessa nova experiência.



SOBRE A AUTORA:

Jocerlane Santos Cardoso, Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Descobrindo o mundo das letras

Descobrindo o mundo das letras

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Jessica Yasmini Silva, Pedra Azul/MG

Minha jornada estudantil começou com um misto de curiosidade e encantamento. As primeiras letras que aprendi eram como pequenos segredos, cada uma com seu próprio som, forma e magia. Tinha uma tia dedicada que me guiou pelos caminhos das palavras, transformando o aprendizado em um jogo divertido, onde cada nova letrinha descoberta era uma vitória.

Na minha família, além da minha tia, contava com tios professores que tiveram um papel fundamental na minha educação. Em casa, a sala de estar se transformava em uma sala de aula improvisada, onde os dois irmãos se uniam para ensinar. O conhecimento parecia estar no ar, pronto para ser absorvido.

Aprender com eles não era uma obrigação, mas um privilégio. Isso me ajudou muito com o início da alfabetização, sempre com muitos livros por perto. Um dos momentos mais marcantes da minha infância foi quando li meu primeiro livro sozinha. Lembro-me de como cada palavra parecia ganhar vida à medida que as lia em voz alta. Meus tios celebravam cada frase completa como se eu estivesse conquistando uma nova etapa do aprendizado. Foi ali que descobri o poder das histórias e como as palavras podiam criar mundos inteiros.

Hoje, olhando para trás, vejo como minha infância foi profundamente marcada pela educação. Meus tios plantaram em mim a semente do amor pelo conhecimento. Cada lição, cada história, cada desafio vencido moldou não apenas minha trajetória acadêmica, mas também quem eu sou como pessoa. A educação que recebi foi um verdadeiro presente, um legado que carrego comigo até hoje.

À medida que cresci, o desejo de aprender só aumentou. A educação recebida em casa serviu como um alicerce sólido sobre o qual construí minha trajetória acadêmica. Lembro-me de como aprendi a contar de forma lúdica e gradual. Os números, no início, eram pequenos enigmas que eu descobria pouco a pouco. Minha mãe e tios usavam brinquedos e objetos do cotidiano para me ensinar a contar. A contagem de brinquedos, passos e até mesmo as páginas dos livros tornava-se uma atividade divertida. Quando cheguei à escola, já conseguia contar até 20 sem grandes dificuldades, e esse conhecimento básico me deu uma boa base para iniciar minha jornada matemática formal.

Quanto ao reconhecimento de dinheiro, minhas primeiras memórias são um pouco vagas, mas lembro-me de que meus pais me mostravam moedas e cédulas, explicando seu valor e como usá-los para comprar coisas. Inicialmente, o conceito de dinheiro parecia abstrato, mas, com o tempo e a prática, comecei a entender seu valor real. Percebi que as moedas e as cédulas tinham diferentes valores usados para adquirir bens e serviços, e essa compreensão se desenvolveu à medida que participava das compras e via como o dinheiro facilitava a troca de produtos.

Com tudo que aprendi com familiares e professores, comecei a entender operações básicas como soma e subtração. Na escola, fiz minhas primeiras adições e subtrações com a ajuda de fichas e desenhos, que tornavam esses conceitos mais concretos. Meus tios também ajudavam em casa, usando jogos matemáticos que tornavam o processo mais envolvente. A transição para problemas matemáticos mais complexos na escola foi desafiadora, mas, com o suporte constante dos meus professores e da minha família, consegui superar as dificuldades iniciais.

A colaboração entre a escola e a família foi crucial para meu desenvolvimento matemático. Em casa, o aprendizado era muitas vezes informal e integrado às atividades diárias, como fazer contas enquanto auxiliava nas compras ou resolver pequenos desafios matemáticos durante os jogos. A abordagem prática e envolvente dos meus pais e tios ajudou a construir uma base sólida e a tornar o aprendizado matemático uma parte natural da minha vida. Na escola, os professores complementavam esse aprendizado com métodos mais formais e estruturados. A combinação de diferentes estratégias, como o uso de materiais didáticos e a resolução de problemas, ajudou a consolidar os conceitos matemáticos. A escola também ofereceu um ambiente de socialização onde pude aprender com os colegas e participar de atividades que tornavam a matemática mais atraente e significativa.

Com a escola e o estudo em casa, comecei a desenvolver um gosto pelo aprendizado. Lembro-me de que meus pais e tios me incentivavam a “escrever” usando lápis e papel, muitas vezes tentando reproduzir letras que eles me mostravam. Naquele tempo, meus “textos” eram simples rabiscos e letras imprecisas, mas já era um começo interessante. Eu tinha cerca de 4 ou 5 anos quando comecei a explorar essas primeiras tentativas de escrita. Escrever era mais um jogo do que uma tarefa, e eu estava mais interessada em imitar o que via do que em produzir algo compreensível.

A experiência de escrever na escola foi emocionante e desafiadora. Lembro-me de como era gratificante ver minhas primeiras palavras e frases ganhando forma e de como os professores estavam sempre prontos para me encorajar. Eu era muito motivada a escrever, principalmente porque via a escrita como uma forma de expressar minhas ideias e sentimentos. Escrever pequenas histórias, listas e até mesmo diários era uma parte significativa da minha rotina escolar.

Nos primeiros anos da escola, escrevia sobre temas simples, como meus brinquedos favoritos, minhas férias e minhas atividades diárias. Esses textos eram curtos e muitas vezes consistiam em frases simples, mas eram extremamente importantes para mim. Escrever sobre o que eu conhecia e amava tornava o processo mais envolvente e divertido. Lembro que os professores me incentivavam a expressar minha criatividade e a experimentar diferentes tipos de textos. No começo, escrevia principalmente descrições de coisas do meu cotidiano e pequenos contos que criava a partir da minha imaginação. Gradualmente, à medida que ganhava mais confiança e habilidades, comecei a explorar outros formatos de escrita, como cartas, poemas e narrativas mais elaboradas.

Participar de atividades de escrita criativa e ver meus textos exibidos na sala de aula ou compartilhados com meus colegas foi uma grande fonte de orgulho e incentivo para mim. A escola ofereceu um currículo que incluía a prática constante da escrita, o que ajudou a solidificar os fundamentos que eu já havia começado a explorar em casa. Além disso, as atividades de escrita em grupo e as discussões em sala de aula enriqueceram minha experiência e expandiram minha compreensão da escrita como uma forma de comunicação e expressão.

Lembro de histórias que marcaram o início dessas experiências, como contos de fadas, fábulas e histórias ilustradas, adaptadas para minha faixa etária. Livros como “O Pequeno Príncipe” e “A Turma da Mônica” não apenas me divertiam, mas também começavam a ensinar lições sobre o mundo e sobre como expressar minhas próprias ideias. Na produção de textos, escrevia pequenos contos, descrições sobre meus brinquedos e relatos das minhas férias. Os professores incentivavam a criatividade, e frequentemente participávamos de projetos que envolviam a criação de histórias em grupo. Sempre usávamos a biblioteca da escola, onde eu podia mergulhar em diferentes mundos literários e encontrar materiais para meus projetos escolares. Frequentar a biblioteca também ajudava a cultivar o hábito da leitura e proporcionava uma sensação de autonomia na escolha do que ler.

Com o tempo, o ensino médio trouxe mudanças significativas. A escrita passou a envolver argumentação e análise crítica, exigindo maior rigor e estrutura. Essa mudança foi acompanhada por uma crescente apreciação pelo poder da escrita como ferramenta para influenciar e comunicar de maneira eficaz. Da mesma forma, a matemática no Ensino Médio se integrou em contextos mais complexos, como análise de dados e resolução de problemas práticos em ciências e economia. Essa aplicação prática ajudou a perceber a utilidade da matemática além do ambiente escolar e incentivou uma abordagem mais funcional para o aprendizado dos números.

À medida que avançava para o Ensino Médio e além, percebi que a educação era muito mais do que apenas acumular conhecimento; era sobre desenvolver uma capacidade crítica e uma apreciação profunda pela aprendizagem contínua. As habilidades que construí ao longo dos anos – tanto nas letras quanto nos números – formaram uma base sólida que não apenas me ajudou a ter sucesso acadêmico, mas também me preparou para enfrentar desafios diversos com confiança e criatividade.

A transição da infância para a adolescência trouxe novas responsabilidades e expectativas, mas as lições que aprendi desde cedo permaneceram como um guia constante. O incentivo que recebi da minha família e o suporte dos professores foram fundamentais para me mostrar que aprender é um processo contínuo e que a verdadeira educação é uma jornada de descoberta pessoal e coletiva.

Hoje, ao refletir sobre minha trajetória, sinto uma profunda gratidão por todos que contribuíram para meu desenvolvimento. O amor pela leitura e a paixão pela matemática, que começaram como curiosidades infantis, transformaram-se em ferramentas essenciais para minha vida acadêmica e profissional. Cada etapa dessa jornada me ensinou não apenas sobre o conteúdo que estudei, mas também sobre a importância de ser um aprendiz ao longo da vida.



SOBRE A AUTORA:

Jessica Yasmini Silva, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.