Pequeno relato de aprendizagem

Pequeno relato de aprendizagem
maristane

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Maristane Rodrigues de Oliveira, Águas Formosas/MG

Minhas lembranças da infância são vagas, principalmente sobre a aprendizagem. Dentro de casa, a influência para a leitura era escassa; minhas tias liam muitos romances e revistas, mas não tínhamos livros infantis. Minha tia Selma cursou o magistério, e eu me recordo de uma atividade feita por ela: um cartaz com uma linda bailarina desenhada e, ao lado, a poesia da bailarina. Era tão lindo que eu queria para mim. Lembro que íamos à igreja e, em alguns dias, distribuíam jornais com as letras das músicas. Cresci escutando músicas no rádio e gostava muito do meu disco da Xuxa.

Entrei na creche assim que completei 6 anos, em maio de 1998. Minha professora era a tia Castorina, e eu gostava muito dela. Recordo que sempre cantávamos a música do alfabeto da Xuxa, o que me ajudou bastante a conhecer as letras. Em casa, minha tia Selma sempre me ajudava com os deveres. Meus avós eram analfabetos e não conseguiam me ajudar, mas sempre me incentivaram a estudar.

No ensino fundamental, na escola Major Raimundo, lembro das prateleiras com livros na sala de aula. Havia um livro que eu adorava, “A briga do Sol e da Lua”, de Vanessa Alexandre. Me lembro de uma poesia chamada “As borboletas”, de Cecília Meireles, que recitava frequentemente. Meus avós participaram do programa Brasil Alfabetizado, e eu, minhas tias e minha irmã os ajudávamos a ler e escrever. Ficávamos muito felizes por eles. Tenho até hoje um desenho feito pela minha avó dessa época.

Na quinta série, mudei de escola e fui para a Capitão Inácio. Lá, ganhei um trio de livros, li os três e me apaixonei, mas não lembro os nomes. Nessa época, também li um livro sobre mulheres fortes, mas acabei esquecendo o título. Como queria ler esse livro novamente! Lia muito com minhas amigas as revistinhas do clube Ma Cherie e ficávamos ansiosas pela chegada delas uma vez por mês.

No ensino médio, mudei novamente de escola, para a José Quaresma. Lá, não tive muito incentivo e a influência era escassa. Nessa época, dei aulas de reforço para minha prima, que estava com notas baixas. Eu produzia textos e elaborei perguntas para a produção de texto. Com o tempo, ela melhorou e fomos elogiadas pelo professor em uma reunião de pais. Depois dessa reunião, ganhei outro aluno, mas, infelizmente, ele não teve o mesmo incentivo e não melhorou.

Em 2011, comecei a trabalhar e, em 2013, a cursar o magistério. Como trabalhava e estudava, não tinha muito tempo para ler; só lia na escola. Gostava bastante dos trabalhos em grupo e me lembro de três em especial. O primeiro foi produzir um livro infantil, chamado “Moli, a formiga cantora”. Fizemos um lançamento com decoração de formigueiro de barro e formiguinhas de E.V.A., que ficou lindo. O segundo foi uma apresentação de “A Formiguinha e a neve”. A terceira foi a apresentação da música “A Arca de Noé” no abrigo, todos vestidos de bichinhos. Finalizei o curso, mas não cheguei a trabalhar como cuidadora.

Hoje, com 32 anos, gosto muito de livros de romance. Trabalho em uma empresa de turismo e me comunico com os clientes pelo WhatsApp, então leio o dia todo. Como chego em casa cansada, não tenho muito ânimo para ler, e o único incentivo de leitura que minha filha tem é ler a Bíblia, pois fazemos isso todos os dias. Mas pretendo mudar, pois hoje sinto que teria sido melhor se eu tivesse recebido mais incentivo para a leitura.

Estou começando uma nova etapa na minha vida: a tão sonhada faculdade. Sei que vou ter que escrever muitos textos e ler bastante. Espero dar o meu melhor e, em quatro anos, estar formada e, se Deus me permitir, trabalhando em uma escola, incentivando meus alunos com muita leitura.



SOBRE A AUTORA:

Maristane Rodrigues de Oliveira, de Águas Formosas/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

De volta ao passado

De volta ao passado

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Marta Aparecida Martins Ferreira, Itamarandiba/MG

Sou casada, mãe de quatro filhos e tenho um neto. Na minha infância, brincávamos de queimada, roubar bandeira, passar anel; havia também as cantigas de roda e tantas outras que hoje as crianças não conhecem. Quantas saudades!

Hoje, com 48 anos, volto aos anos 80, lembrando das leituras e dos livros. Antes de entrar na escola, minha tia fazia a leitura da Bíblia; eu não sabia ler, mas ouvia. Também acompanhava as novenas de Natal, e o rádio a pilha era uma das diversões. Nele, ouvíamos músicas e notícias na “Voz do Brasil”. Aprendi a ler quando fui para a escola. Gostava da história da aparição de Nossa Senhora de Fátima nas revistas e me lembro também de quando minha mãe rezava o terço com a gente (num livreto havia a contemplação dos mistérios).

Conheci o dinheiro e aprendi a contar até 10 com meus pais, mas não me lembro de quando comecei a entender o valor do cruzeiro. O cruzado, que veio depois, eu já entendia um pouco. A moeda sofreu alterações até chegar ao real, uma data bem marcante, pois já trabalhava e o primeiro pagamento foi na transição da moeda do cruzeiro real para o real.

Aprendi a fazer as primeiras contas na escola e achava os problemas difíceis. A escola teve um papel muito importante naquele tempo, pois a família incentivava; porém, não tinha tempo para ajudar os filhos, pois trabalhavam na roça. Aprendi a escrever com 7 anos, e as provas eram todas questões abertas. Tínhamos um caderno de provas, onde as questões eram copiadas à mão.

O tipo de texto com o qual mais tive contato era o narrativo. Lia muitos textos sobre a natureza (narrativas em contextos rurais). Nas redações, escrevíamos sobre nossos costumes. Naquela época, quando iniciei os estudos aqui na minha comunidade de Santa Luzia, no município de Itamarandiba, só havia até a 4ª série e não havia biblioteca; mas lia o que tinha ao meu alcance, como jornais e revistas. Com o passar do tempo, melhorou o acesso aos meios de comunicação, como, por exemplo, a televisão, mas o acesso à internet veio bem depois.

No período da educação básica, quando ganhava um dinheiro, já sabia contar o valor. Não tenho facilidade com textos universitários. Sinto falta dos conteúdos de matemática que não aprendi no ensino médio, pois concluí esta disciplina no ENEM. O conhecimento com números me ajuda bastante, pois administro bem minhas questões financeiras. Tenho dificuldades nas disciplinas de matemática que envolvem números e letras.

Neste primeiro ano na universidade, irei me dedicar à leitura e à escrita, pois elas aprimoram o aprendizado e nos mantêm por dentro dos acontecimentos. Infelizmente, me sobra pouco tempo para estudar, pois o trabalho exige muito, mas farei o possível para obter um bom desempenho.



SOBRE A AUTORA:

Marta Aparecida Martins Ferreira, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Meu primeiro contato com a escola

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Marina Nogueira de Sousa, Grão Mogol/MG

Meu nome é Marina. Sou a filha caçula de cinco filhos que minha mãe gerou. Como minha mãe ficou viúva muito cedo, teve que trabalhar muito para cuidar dos filhos. Meus quatro irmãos não tiveram a oportunidade de estudar, pois precisavam ajudar na renda da família. Além disso, a escola era muito longe de casa e não havia transporte escolar. Por isso, em casa, não havia nenhum meio de aprendizagem, nem livros, jornais ou revistas.

Nós morávamos na roça. A vida era bem precária. Na minha casa, não havia energia elétrica nem água encanada. O que me lembro é do meu avô, que sempre colocava um disco no toca-discos antigo para ouvir música e dançar. Assim, dentro de casa, nem nos vizinhos, havia meios de aprendizagem.

Quando eu tinha 7 anos, pedi à minha irmã que me matriculasse na escola, que nessa época já era próxima de casa, a cerca de uma hora de viagem todos os dias. Ao chegar à escola, eu não sabia nada. Lembro das letras do alfabeto pregadas na parede, e a professora batia a mão em cima da letra e falava: “A, B, C”, e assim por diante.

Na escola em que estudei os anos iniciais, chamados de ensino fundamental, a professora me excluía. Não sei ao certo o motivo, se era pela condição financeira, pela cor ou até mesmo por ter muitas dificuldades de aprendizagem. Sinto que isso me prejudicou muito até hoje, pois não me sinto segura para realizar algumas atividades.

A caminhada até a escola era muito complicada. Quando o rio enchia, não havia como ir para a escola, então eu tinha muitas faltas. Na escola, não havia biblioteca; existiam alguns livros, como “João e o Pé de Feijão” e outras histórias infantis, que eu gostava muito. Vejo que a leitura é o divisor de águas na vida de um estudante; como não tive essa base, me sinto muito prejudicada.

Ao iniciar a quinta série em uma escola maior, lá já havia uma biblioteca, e as coisas começaram a mudar para mim. Existiam professores que incentivavam a leitura e a escrita. Com a vida adulta e após tentar alguns trabalhos, percebi a falta que faz não ter uma boa base de leitura. Já a matemática básica, usada no dia a dia, me serviu muito, pois sei o básico que se usa na rotina.

A diferença que senti do ensino básico para a faculdade é que há muito material para ler, e a leitura está interligada à aprendizagem. Com o tempo curto e muito material a ser trabalhado, o essencial é criar rotinas de estudo e um cronograma para poder compreender. A linguagem acadêmica é muito diferente da clássica. A disciplina ou gênero que mais gostei até hoje foi a História da Educação. O conteúdo em que sinto que fiquei defasada é o da língua portuguesa, como pontuação, adjetivos, entre outros.

Minha vida financeira é bem complicada; não tive base para administrar bem minhas finanças. Não culpo a matemática, pois sou responsável pelos meus atos. Não me recordo de ter tido aula de finanças na escola, mas vejo a importância dela para formar cidadãos prontos para organizar sua vida financeira.

Enfim, apesar de todos os traumas acima relatados, sofrimentos e rejeições, me sinto uma vencedora por estar na minha segunda graduação.



SOBRE A AUTORA:

Marina Nogueira de Sousa, de Grão Mogol/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Meu processo de aprendizado

Meu processo de aprendizado

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Mariana Braga Melo, Pedra Azul/MG

O desbravamento dos textos se iniciou na minha vida em Teresina/PI, a poucos quilômetros da minha cidade natal, Bacabal/MA. Através da Bíblia que minha bisavó sempre deixava aberta, onde guardava as fotos dos meus tios, primos e seus antepassados como forma de proteção, tive meu primeiro contato com as letras e textos. Ao folhear sua Bíblia, não sabia o que estava escrito, mas passeava meu dedo sobre os registros. Morávamos em uma casa de aluguel e tínhamos uma TV pequena de tubo com antena telescópica, fixada na parede com um prego. Era comum assistirmos às novelas e ver as legendas passando no canto inferior da TV. Sem entender o que se passava, apenas observava as letras como se estivessem dançando, e a cada momento eram passos diferentes, ou melhor, palavras diferentes. Ao receber cartas do banco, minha bisavó, não tão cuidadosa, sempre as deixava em locais que eu conseguia alcançar e brincar com os papéis. Alguns até chegaram a sumir sem que ela percebesse. Hoje, percebo que, na mão de uma criança, um papel com letras, números e informações pessoais pode não significar nada, mas a partir de um certo ponto (idade), começa a ser um ponto de partida para a compreensão do seu ser e do mundo.

Aos 9 anos de idade, receber moeda de algum parente ou achar cinco ou dez centavos no chão da rua sempre foi motivo de empolgação, fazendo com que eu caminhasse direto para uma vendinha mais próxima para gastar com doces, pipocas e geladinhos. Isso aguçava meu interesse em aprender a manusear o dinheiro, para saber quanto de troco iria voltar e se não estávamos sendo enganados, de modo que no dia seguinte eu pudesse voltar à vendinha com mais moedas e comprar mais guloseimas.

Minha família sempre foi muito incentivadora. Nunca me deixaram faltar sequer um dia de aula, por buscar os melhores materiais e por me levar ao ponto da escola até eu ganhar independência para ir sozinha. Sempre fui responsável com o famoso “para casa” e os trabalhos da escola. Minha busca era na papelaria mais próxima, onde eu recebia cópias impressas com o tema solicitado e as transcrevia para outra folha. Passava a tarde inteira transcrevendo e colando imagens. Assistência para ensinar ou orientar eu não recebia; para minha bisavó, a única opção era trabalhar e cuidar dos afazeres de casa. Portanto, ela nunca me deixou faltar um suco de maracujá com pão e manteiga, criando memórias afetivas da minha infância.

As lembranças do meu ensino fundamental I estão principalmente relacionadas ao 4º e 5º anos, nos anos de 2013 e 2014. Naquela época, não se repassava a noção da importância da leitura e seus benefícios, e a visita a uma biblioteca não era incentivada nem mencionada.

O ensino fundamental II começou em 2015, ainda em Jaboatão dos Guararapes/PE, no 6º ano, e continuou de 2016 até 2018 em Pedra Azul/MG. Foi marcado pelo uso da biblioteca, onde os alunos que pegassem mais livros, ao final do bimestre, recebiam um tipo de incentivo para continuar nessa jornada de imersão na leitura desde cedo.

No ensino médio, o foco estava voltado para a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Escrever, ler e reler textos, tanto da minha autoria quanto de outros autores, era algo que eu fazia para usar como inspiração e fonte de comparação. Meu ponto forte sempre foi a escrita; os cálculos matemáticos, de forma literal, “não entravam na minha cabeça”. Isso já foi motivo de lágrimas e soluços, devido à dificuldade em compreender uma fórmula matemática. Minha sensibilidade e o medo de não conseguir aprender eram reais e intensos.

No ano de 2020, no 2º ano do ensino médio, fui pega pela pandemia. Depois de um ano tão caloroso, com a idealização de viver cada ano do ensino médio com toda entrega, o baque veio. A ideia de ter que estudar em casa não era compreendida; como eu iria aprender e me preparar para o ENEM? Como seriam essas provas? Apenas com um celular conectado à internet, consegui vencer e, muitas vezes, ser minha própria professora, buscando aprender sozinha. No final de 2021, voltamos, já no 3º ano.

Consegui uma bolsa no curso técnico em Enfermagem e comecei a ter acesso a uma linguagem mais técnica, com terminologias da área da saúde. A partir daí, meu aprofundamento em artigos e uma linguagem que exige um esforço maior para o entendimento trouxe uma mudança positiva. Sair da leitura dentro da minha realidade e começar a desbravar outras é sair de uma zona de conforto que muitas vezes me segurou. Os textos dissertativos e argumentativos são os que mais me prendem e me envolvem, ajudando-me a desenvolver meu lado crítico.

Passar no vestibular da UFVJM é uma realização que traz diversos sentimentos e alivia aquela aflição do: “Será que vou conseguir entrar em uma universidade pública? Caso contrário, diante das minhas condições, não conseguirei fazer nenhuma graduação, já que pagar não está ao meu alcance.” Agora, é um degrau acima de tudo o que já fiz parte; é mergulhar de corpo e alma para que todo o esforço da minha bisavó seja validado.



SOBRE A AUTORA:

Mariana Braga Melo, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Relatos de uma infância de letramentos

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Lucimar Cabral de Oliveira, Pedra Azul/MG

Lembro-me de quando eu era pequena e minha irmã contava muitas histórias para mim e para meu irmão, além dos amiguinhos que eram nossos vizinhos, como fábulas e outras histórias que ela aprendeu na escola com a professora de português. Ela também contava as histórias que meu pai e minha mãe contavam a ela e aos meus outros irmãos quando éramos pequenos. Meu pai e minha mãe são analfabetos, mas, ainda assim, eles conhecem muitas histórias e casos que os pais deles contavam entre um trabalho e outro na roça. Eles não tiveram a oportunidade de frequentar uma escola, mas, mesmo assim, são muito sábios. Não sabem ler nem escrever, mas têm uma mente brilhante.

Minhas irmãs mais velhas tinham alguns cadernos de confidências, onde faziam colagens de personagens de novelas que saíam em jornais e revistas. Também havia escritos, como poemas e versos que diversas colegas de escola escreviam para elas. Eu ainda não sabia ler, mas ficava horas olhando aqueles cadernos e gostava muito quando minha irmã lia as mensagens escritas neles. Todas as noites, só dormia depois que minha irmã chegava da escola para contar histórias para eu dormir; a que mais gostava de ouvir era a da formiguinha e a neve.

Comecei a estudar na creche com três anos de idade. Meus primeiros contatos com letras e números na escola foram através de atividades de coordenação motora, contornando letras e números com bolinhas de papel crepom, jogos de cartas, contato com livros, histórias que a professora contava e musicalização com músicas do alfabeto e números.

Aos quatro anos, tive meus primeiros contatos diretos com livros e textos, pois, nesse momento, não ficava só no pátio como antes; havia um período pela manhã em que ia para a sala de aula, onde fazia várias atividades, colorindo letras e trabalhando com meu nome completo. Cantava a música das vogais e o alfabeto da Xuxa. Gostava muito quando a professora começava a cantar as músicas com as continhas e as letras; era muito legal. Sempre fui curiosa para saber das coisas, e, apesar de meus pais serem analfabetos, desde muito cedo nos incentivaram a estudar. Com cinco anos, já sabia os números de 1 a 20 e reconhecia letras; ainda não sabia ler, mas gostava de brincar com quebra-cabeças de números e letras.

Comecei a ler aos sete anos, mas tinha muito medo de ler. A matéria que mais gostava era matemática, mas, à medida que fui crescendo, tive um pouco de dificuldade nessa matéria. Mesmo assim, ainda era apaixonada por ela. Certa vez, a professora, ao ver que alguns alunos ainda não conseguiam resolver a tabuada, teve uma ideia: perguntou se na casa de vocês havia um pé de árvore. Respondemos que sim. Então, ela disse: “Vocês vão pegar a tabuada e vão se sentar embaixo da árvore, repetindo cada tabuada em voz alta dez vezes. Vocês vão ficar ótimos!”

Não era muito fã de português porque sempre tive dificuldade em fazer leitura em público. Tinha muito medo, pois, quando criança, as leituras e tabuadas eram feitas na secretaria da escola pela diretora ou pelo conselheiro tutelar. Dizia-se tanto que eles eram bravos que quem lia mal ganhava uma varada. Ao chegar na porta, já me sentia mal e não dava conta de ler a tabuada; era tranquilo, mas a leitura sempre ia mal. Lia bem na sala, mas na secretaria gaguejava demais. Só que nunca me bateram. Além do medo das pessoas que tomavam a leitura, era muito tímida, e sou até hoje. Tenho muita vergonha de falar em público.

Creio que passei por etapas da minha vida que ficaram um pouco falhas, principalmente nos anos iniciais. Não gosto muito de ler nem de escrever; acredito que seja algo que trouxe das séries iniciais. No entanto, no ensino fundamental, algumas coisas mudaram. A professora começou a nos levar à biblioteca da escola, onde, no início, nunca íamos. Antes, era só para os professores pegarem livros para copiar algo no caderno, e eu não gostava muito disso.

Contudo, como já disse, houve uma mudança e passamos a pegar livros na biblioteca da escola para lermos e falarmos sobre o que tínhamos lido. Comecei então a gostar de ler livros de história e poemas. Gostava muito, principalmente de contos infantis e fábulas. No fundamental II, a professora dava textos e matérias para lermos, fazer resumos explicativos e trabalhos em grupo para apresentar aos colegas. Apesar da timidez, conseguia, do meu jeito, fazer tudo. Nunca fiquei sem fazer um trabalho.

No ensino médio, no mesmo ano em que comecei, surgiu na escola um projeto no qual cada semana os alunos tinham que ler um livro diferente e recontá-lo. A atividade contava como nota e a professora cobrava muito de nós, tanto em leitura quanto em produção de textos. Também, quando eu ou meus colegas tirávamos nota baixa nas provas, tínhamos que copiar quase toda a prova. Eram textos muito grandes e, se não fizéssemos o que a professora pedia, perderíamos o bimestre.

Reclamávamos muito dela, pois sentíamos aquela prática como algo ruim, mas, quando se aposentou e parou de dar aula, ficamos tristes, pois percebemos que iríamos perder uma excelente professora. Ela era um pouco rígida na sua forma de ensinar, mas contribuiu muito para nossa aprendizagem. Não fiquei muito tempo nessa escola, pois tinha que estudar à noite, já que só consegui vaga para o período noturno. Então, resolvi terminar meus estudos em uma escola voltada para jovens e adultos. Lá, esperávamos os livros para estudar, havia dias para tirar dúvidas e fazer as provas.

Terminei o ensino médio em 2012. Tempos depois, fiz alguns cursos, e nos cursos que fiz éramos incentivados a ir à biblioteca pegar livros para ler, e fazíamos resumos deles. Era muito legal. No curso, o último livro que li foi “O Pequeno Príncipe”. O incentivo é bom, pois até as matérias eram mais bem compreendidas. Lá, havia até projetos de leitura e olimpíadas de matemática; era maravilhoso poder participar de tudo.

Certa vez, quando estava fazendo curso técnico em informática, o professor chegou e disse: “Vocês vão ter que dar uma palestra sobre determinado assunto do curso para toda a escola. Se preparem.” Eu comecei a tremer, pensando como iria conseguir falar para a escola toda, se mal conseguia falar na frente dos meus colegas. Mas fui e, para minha surpresa, consegui! Naquele dia, percebi que não devemos deixar a timidez falar mais alto. Fiquei muito feliz nesse dia e agradeço a ele por ter me incentivado.

Não sou nem a metade do que almejo para mim, mas estou a caminho e estou muito feliz em estudar na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), na Licenciatura em Pedagogia. Estou cada vez mais adquirindo novos conhecimentos, pois pretendo ser uma pedagoga, uma professora maravilhosa para meus pequenos, assim como meu exemplo, que é minha irmã, professora e supervisora de uma determinada escola.

Por fim, devo tudo que sou hoje aos meus familiares e professores que me incentivaram a continuar com meus sonhos e projetos.



SOBRE A AUTORA:

Lucimar Cabral de Oliveira, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Memórias de uma infância escolar

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Luciene Silva dos Santos, Pedra Azul/MG

Meus pais não eram e não são alfabetizados. Meu pai (in memoriam) era agricultor, e minha mãe (do lar) nunca teve a oportunidade de se alfabetizar. Por esse motivo, meu primeiro contato com as letras foi através de folhetos de leitura da igreja e discos de vinil (lembro que havia uma imagem de índio na capa de um desses discos).

Quando cheguei à idade de ir para a creche, lembro que não queria ficar, mas, com o tempo, me acostumei. Lá, pude ter mais contato com os números, os núcleos etc.

Já na escola, no pré-escolar, comecei a vislumbrar como escrever meu nome e as letras usadas para formar palavras. A forma como a professora ensinava, com músicas e brincadeiras dinâmicas (essa professora, que até hoje chamo de “tia”, ficou eternizada na minha memória pelo cuidado em nos mostrar a beleza do aprender), foi muito especial.

Quando já soube ler, tive a experiência de ir à biblioteca conhecer os livros e a riqueza de seus textos. Gostava muito de ler Monteiro Lobato, “O Corvo” e “Chapeuzinho Vermelho”. Essa história me rendeu o papel da vovozinha de Chapeuzinho em uma peça da escola, um desafio proposto pela nossa professora do 3º ano do ensino fundamental.

Lembro que, toda semana, levávamos um livro para casa, onde deveríamos ler e preencher uma ficha literária. Nessa ficha, colocávamos o nome do aluno, o título do livro, o nome da escola, a série, o nome do professor e o nome do autor do livro. Assim, a professora avaliava nosso desempenho na leitura.

Aqui onde moro havia uma biblioteca pública onde podíamos nos sentar para ler um livro ou até mesmo levá-lo para casa, com prazo para devolução. Também usávamos a biblioteca para fazer pesquisas escolares e trabalhos extracurriculares. Até hoje, sinto nostalgia quando lembro dessa fase da minha vida.

Embora meus pais não tenham tido a oportunidade de aprender a ler e escrever, sempre nos incentivaram a ir para a escola. Na escola, aprendi a respeitar e admirar as pessoas. Lembro também que nossas atividades eram ‘impressas’ no mimeógrafo com álcool, pois não havia impressoras. As provas e atividades vinham todas em azul, com um forte cheiro de álcool. Havia desenhos para colorir, e nas provas finais, sempre havia uma árvore de Natal. Foi uma das épocas mais marcantes da minha vida, e até hoje me recordo de alguns professores que me ensinaram a ler e escrever. Essas são minhas memórias da minha infância escolar.



SOBRE A AUTORA:

Luciene Silva dos Santos, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Saudades do Aurélio

Saudades do Aurélio

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Karina de Matos Fernandes, Itamarandiba/MG

Ah, que saudades que tenho do Aurélio, meu companheiro tão presente na minha vida escolar. Lembro de você como peça fundamental para o meu aprendizado. Hoje, vendo os avanços da tecnologia, fico triste em saber que as novas gerações não conhecem e jamais conhecerão você.

Hoje, as palavras não são mais as mesmas de antigamente; elas perderam algumas letras e é preciso decifrar qual a mensagem que as pessoas desejam passar. Temos “Blz”, “Ñ”, “Ss”, “Pq”, entre muitas outras, e algumas das quais precisamos pesquisar pra compreender.

Ah, que saudades da época da escola! Tantas lembranças: os dias de prova tinham cheirinho de álcool, pois o professor usava os famosos mimeógrafos. Alguns livros ficaram marcados na minha memória, como Os Capitães da Areia, um romance de Jorge Amado. Que estória! O livro relatava uma realidade dura, totalmente distante da minha.

Lembro-me também dos livros de pesquisa que tinham capa dura, de cor vermelha com letras douradas grafadas e centenas de páginas: os elegantes livros Barsa, as bibliotecas com aquelas prateleiras repletas de livros, mundos de experiências e histórias!

Tentando lembrar-me de memórias mais antigas, pois já estou “batendo na porta dos meus 40 anos”, precisei recorrer às informações da minha querida mãe. Eu comecei a estudar e a ter acesso às letras e números aos cinco anos de idade, na Escola Municipal de Educação Infantil de Santa Isabel, no estado de São Paulo. Quando aprendi a ler, todas as placas na rua me fascinavam, e minha mãe sempre brincava quando entrávamos no ônibus e dizia: “Filha, fica caladinha, senão precisaremos pagar a passagem!”

Uma coisa interessante sobre números: não me ensinaram o algarismo romano. Eu morava em outra cidade em São Paulo, e, na metade do ano letivo, mudamos para Minas Gerais, a “terra do queijo”. Passou despercebido pelos meus educadores o fato de essa matéria não ter sido incluída na minha grade curricular, pois se tratava de uma aluna em transição, e os conteúdos não foram os mesmos na mesma sequência entre as escolas.

Minhas experiências com dinheiro não são muito boas (risos). Lembro-me de que, ainda criança, meu pai me deu alguns cruzados e eu não queria gastar. Num belo dia de passeio, levei o meu dinheirinho e o perdi pelo caminho. Ali aprendi a não ter amor pelo dinheiro.

Há algumas memórias que vêm à mente quando me lembro dos meus boletins, todos recheados com notas acima de 20 e muitos totais de 25. Sempre muito estudiosa e inteligente, fui premiada em todos os bimestres.

Na escola, eu tive minha primeira experiência com plágio. Cada aluno teria que fazer uma frase para a formatura da oitava série, e as melhores frases seriam escolhidas. Para minha surpresa, quando recebemos os convites, que tinham o formato de um pequeno livro, minha frase estava estampada em uma das páginas e abaixo o nome da professora. Nesse momento, olhei com deslumbramento para a professora e disse: “Essa frase fui eu que escrevi!” Foi um misto de orgulho e alegria por ver ali o fruto dos meus pensamentos e decepção, pois não me foram dados os devidos créditos. Essa foi a primeira das muitas injustiças que a vida me reservava.

Na minha época, não era importante ser apenas inteligente; era preciso ter uma boa condição financeira. Há vinte e dois anos, não existia a possibilidade de estudo a distância como se tem hoje. Para buscar uma formação profissional, era preciso se deslocar para outra cidade, o que gerava custos. Com a mentalidade e os recursos dos nossos pais, o objetivo era apenas concluir o ensino médio e arrumar um bom emprego. Muitos de nós não tivemos a oportunidade.

Na minha época, não existia internet. Ela chegou à nossa cidade por volta de 2005, mas nem todos tinham acesso e a velocidade era ruim! Ainda lembro da conexão através de modem. A partir daí, ela cresceu e hoje está acessível em todo lugar. Confesso que ela nos deixou um pouquinho mais preguiçosos; já não usamos mais a escrita correta e nem paramos para pensar qual seria, pois o teclado do celular imediatamente se antecipa.

Nem lembramos mais da tabuada; não fazemos mais contas de cabeça, até para o ‘2 + 2’ precisamos da calculadora. Não pesquisamos mais em livros, pois o Google sabe de tudo, e agora, então, com a nova ferramenta, o ChatGPT, cada dia que passa nos leva à comodidade. As fórmulas que aprendemos na escola poucas ainda fazem sentido, mas aquela velha mentalidade de que não havia nada além do terceiro ano não me deixou aprofundar mais!

Ah, se essa geração soubesse a joia preciosa que tem na palma das mãos! A internet, de mãos dadas com a educação, pode nos proporcionar realizações de sonhos que antes eram inalcançáveis: um estudo de boa qualidade, onde você nem precisa sair de casa, com conteúdos de conhecimento usando a internet a nosso favor.

O que posso dizer a essa nova geração? Hoje tenho a oportunidade de cursar a minha tão sonhada faculdade, e meu conselho é: estudem, formem-se e tornem-se bons profissionais. Que essa vontade de conhecimento seja passada de geração a geração, e que a busca pelo conhecimento seja maior do que a busca pelos likes!



SOBRE A AUTORA:

Karina de Matos Fernandes, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Visitando o baú da memória de Júnia

Visitando o baú da memória de Júnia

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Júnia de Almeida Freire, Pedra Azul/MG

Na minha casa, vivia uma grande família. Éramos dez: pai, mãe e oito filhos. Não era uma vida fácil, mas éramos felizes com o pouco que tínhamos. Meus pais faziam questão de ensinar princípios e nos incentivavam a estudar, pois eles não tiveram as oportunidades que nós tínhamos. Na época deles, ou se estudava ou se trabalhava na roça.

Muitas vezes, compartilhávamos a mesma mochilinha: um usava pela manhã e o outro, à tarde. Os cadernos eram encapados com papel de pão ou saquinho de açúcar, e os lápis de escrever eram aguardados com expectativa, como se fossem o tão esperado pacote de macarrão. O uniforme da escola era uma jardineira azul com blusa branca, que precisava ser lavada assim que chegávamos da escola, para ser usada no dia seguinte.

Lembro-me também da ansiedade de esperar a nossa vez de tirar a maravilhosa foto com os bracinhos cruzados ao lado dos livros e do globo terrestre. Tínhamos livros que meus irmãos mais velhos ganhavam na escola e traziam para casa. Eu adorava folheá-los, olhando as gravuras, pois ainda não sabia ler.

Eles também traziam revistas em quadrinhos e álbuns de figurinhas, que compravam na banca de revistas ou nas vendas próximas de casa, sempre na expectativa de encontrar a tão sonhada figurinha premiada. Também tínhamos o hábito de brincar de missa, usando os folhetos que meus pais traziam das missas aos domingos.

Iniciei os estudos aos seis anos, no pré-escolar, com a tia Luiza, uma professora exemplar, dedicada e carinhosa. Já conhecia o alfabeto e, aos poucos, fui aprendendo a escrever meu nome completo, o nome da escola e o da professora, tudo com o auxílio das fichas. Gradualmente, a leitura foi sendo introduzida na minha vida, e fui tomando gosto por ela.

Adorava ler livros, textos e até as provas impressas. O cheiro de álcool do mimeógrafo me fazia sentir parte da história. Adorava ir à biblioteca e pegar livros emprestados para ler em casa. Aprendi também a contar e, quando já dominava as continhas, adorava comprar balas na venda com as moedas que ganhava do meu pai ou dos meus irmãos. Tive uma infância feliz e aprendi a valorizar o pouco que meus pais podiam nos oferecer.

O tempo foi passando, e fui criando o hábito da leitura. Amava o livro “O Barquinho Amarelo”, os contos e a poesia “As Borboletas”, de Vinícius de Moraes, que me marcou muito.

Quando estava na quarta série, perdi meu pai. Meu mundo desabou, mas, aos poucos, aprendi a lidar com a saudade e a seguir em frente. Ocupei minha mente com os estudos pela manhã e com aulas de crochê à tarde.

Quando cheguei ao ensino médio, como já gostava de ler, fui tomando gosto pelos livros de romance, livros espíritas e histórias. É notório que minha letra melhorou muito, assim como minha dicção. Apesar de ainda sentir um pouco de receio ao falar em público, confesso que a leitura me ajudou bastante.

Em meio a tantas dificuldades, formei-me no magistério no ensino médio aos 17 anos. Mas, como não tínhamos o acesso e as facilidades que temos hoje, não consegui fazer uma faculdade naquela época. No entanto, nunca desisti do sonho de ter um curso superior, e hoje tenho essa oportunidade, pela qual agradeço a Deus.

Ao revisitar o passado, muitas memórias vieram à tona. Pude reviver momentos que me fizeram ser a mulher que sou hoje.



SOBRE A AUTORA:

Júnia de Almeida Freire, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Minhas Belas Recordações

Minhas Belas Recordações

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 Luana Lopes Gonçalves Cangussu, Teófilo Otoni/MG

Nasci em Teófilo Otoni-MG, onde também fui criada, filha de mãe solteira e com dois filhos. Meu irmão é três anos mais velho do que eu. Meus primeiros contatos com as letras foram através dos livros e cadernos dele (ele ficava uma arara quando eu os pegava para folhear).


Lembro-me de achar interessantíssimas as letras, as curvaturas, as voltas, os entrelaçados nas folhas amareladas e manchadas pelo uso e desgaste do tempo. Também me lembro de que minha mãe tinha uma caderneta azul, que ela usava como caderno de receitas. Morávamos na casa dos meus avós. Minha avó é evangélica e sempre lê a Bíblia. Eu ficava observando-a ler com tanto apreço e atenção aquelas pequeninas palavras, e me encantava, ficando muito eufórica, esperando o dia em que chegaria a minha vez de ler tais palavras. Sempre fui muito curiosa e observadora e, com esses atos, aprendi muito.


Bom, os anos se passaram e, finalmente, aos 6 anos, fui matriculada na escola. Maravilhada com o mundo mágico e novo, comecei a estudar. Engraçado como são as nossas lembranças: neste exato momento em que escrevo, sinto a mesma emoção e sensação do meu primeiro dia de aula. Alegria e euforia eram os sentimentos que me consumiam. Que coisa mágica! Me emocionei agora!


Amava muito a escola; era o melhor lugar do mundo para mim. Eu fui uma criança feliz por ir à escola. Gostava da escola, das professoras. Cada história contada ali era um mundo mágico e colorido na minha mente. Sempre tive muita imaginação. Me recordo de que, a cada conto das minhas professoras, eu me via em cada uma das histórias, como se fizesse parte delas. No meu primeiro ano escolar, tive professoras muito especiais, e muitas delas guardo no coração até hoje. Ora ou outra encontro algumas delas, sempre muito carinhosas comigo.


Eu tinha anquiloglossia (língua presa) e dificuldade em pronunciar algumas palavras. Minha mãe dizia que ia me tirar da escola e me colocar em algum lugar especializado para que eu melhorasse a fala. Eu logo me amedrontei e fiquei apavorada. Com o carinho e cuidado da minha professora de português, Eliana, consegui pronunciar as palavras de forma correta e melhorei minha fala.


Com todo esse amor pela escola, pelas palavras e pelo conhecimento, em casa não poderia ser diferente. Eu brincava de escolinha com meus primos; eu era a professora. Sobrava até para os adultos lá de casa. Meu avô era analfabeto — ele já faleceu. Ele queria muito aprender a escrever seu nome completo, e tenho muito orgulho em dizer que, com essa brincadeira, eu o ensinei a escrever seu nome completo (me emocionei agora). Ensinei letra por letra até que ele conseguisse formar seu nome completo: Sebastião Lopes de Souza. Quanta saudade!


Mas não parei por aí. Me lembro de que, já no ensino médio, estudava de manhã, mas, algumas vezes na semana, ia à escola à tarde para ajudar minha professora com o pré-escolar. Eu gostava, e parece que já estava adivinhando que, anos depois, cursaria uma licenciatura na área de educação. Licenciatura pela qual tenho o maior orgulho, e digo isso porque venho de uma família humilde. Hoje tenho 35 anos, e essa é a minha primeira licenciatura. Logo que me formei no ensino médio, minha mãe não tinha condições de pagar uma faculdade para que eu pudesse estudar. Quando comecei a trabalhar, surgiram as responsabilidades da vida adulta, e eu não consegui pagar uma faculdade. Quando fiz o vestibular pela UFVJM e passei, foi uma grande alegria. Muita emoção e gratidão.



SOBRE A AUTORA:

Luana Lopes Gonçalves Cangussu, de Teófilo Otoni/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Um pouco sobre mim

Um pouco sobre mim

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Jordana Ellen Souza Fróes Duarte, Grão Mogol/MG

Minha infância era preenchida com brincadeiras; eu gostava muito de brincar de escolinha. Como a casa estava sempre cheia, sempre havia alguém por perto para brincar, mas, na maioria dos dias, éramos eu e minha irmã mais velha. Segundo relatos da minha mãe, eu só sabia escrever meu nome e, naquela época, só me lembro da Bíblia em casa. Comecei a estudar mais ou menos aos cinco anos, na escolinha Arco-íris. Era como se fosse uma creche, com muitas brincadeiras e cantigas de roda. As educadoras faziam trabalhos para colorir e contavam histórias. Lembro que era muito divertido e que tinha meus melhores amigos.

Já no ensino fundamental, comecei realmente a aprender a escrever e a ler. Recordo que as professoras incentivavam muito a leitura e pediam para as crianças lerem pedacinhos dos textos para os colegas. Como sempre fui muito tímida, tinha bastante dificuldade para fazer leituras e apresentar trabalhos na frente dos colegas, e quase nunca participava dessas atividades; geralmente, passava minha vez. Comecei a ter um melhor contato com a leitura a partir dos 10 anos, quando peguei algumas histórias em quadrinhos de meus desenhos favoritos.

Outro ponto que me ajudou foi o fato de minha mãe trabalhar na biblioteca municipal. Sempre que tinha oportunidade, ia visitá-la e ficava olhando os títulos dos livros, embora não lesse. Sempre tive preguiça: olhava o início e partia para o final, e, às vezes, olhava apenas as gravuras. Sempre fui uma aluna que gostava de educação física e matemática; as outras matérias eu não gostava.

No ensino médio, comecei a perceber a importância da escola para a vida, mas continuei com a mesma dificuldade de leitura em público. Acredito que, por não gostar de ler e pela timidez, acabei me prejudicando bastante ao longo dos anos. Embora a leitura nunca tenha sido uma paixão para mim, essa falta de interesse me ajudou, de alguma forma, a explorar diversas formas de aprendizado e entretenimento. Gostava de praticar atividade física; sempre gostei de vôlei e futebol, e continuo praticando até hoje.

Hoje me deparo com um novo desafio, o curso de Pedagogia na UFVJM (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri). Confesso que esse início está meio difícil, mas estou me esforçando e sei que tenho capacidade. Na rotina, separei um tempo para estudar e isso tem feito muita diferença. Hoje sei que uma boa formação me ajudaria mais. A leitura continua um desafio, mas, sinceramente, acho que estou indo melhor do que eu esperava.



SOBRE A AUTORA:

Jordana Ellen Souza Fróes Duarte, de Grão Mogol/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

As letras da minha vida: a jornada de Layrah

As letras da minha vida: a jornada de Layrah

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Layrah Victoria Figueira Abreu, Cachoeira de Pajeú/MG

A minha história começou antes do que muitos poderiam imaginar. Com apenas três anos, eu já estava me preparando para a jornada escolar. Minha irmã mais velha, Kyarah, foi a primeira a entrar na escola, e eu, com curiosidade e entusiasmo, observava cada passo dela. Kyarah não apenas frequentava a escola, mas também ajudava a mim e à minha irmã Raynah. Ela compartilhava com a gente suas atividades escolares, ensinava letras e números, além de quebra-cabeças, livrinhos educacionais, DVDs da Barbie e desenhos animados, que sempre despertavam nossa atenção e curiosidade.

Apesar de não ter uma compreensão clara sobre dinheiro, aprendi desde cedo a importância das pequenas moedas que minha avó Ana e meu avô frequentemente davam a mim e às minhas irmãs. Esse gesto simples era um prelúdio de um futuro em que começaríamos a entender o valor das coisas de maneira mais concreta.

A minha entrada na escola foi marcada por desafios. As dificuldades iniciais no aprendizado eram evidentes, e a diferenciação de palavras e letras parecia uma tarefa monumental. No entanto, a escola, os professores e a minha mãe desempenharam papéis cruciais na minha vida escolar.

A dedicação dos professores em ajudar a superar as dificuldades iniciais não passou despercebida. Eles criaram um ambiente de apoio e encorajamento que foi vital para meu desenvolvimento.

A minha mãe também foi uma força constante. Ela estava sempre ao meu lado, incentivando e ajudando a superar cada obstáculo. Com uma abordagem paciente e amorosa, desempenhou um papel fundamental em garantir que eu não me desanimasse.

Apesar das dificuldades iniciais, minha curiosidade e força de vontade nunca vacilaram. Eu tinha uma sede insaciável de conhecimento e estava determinada a aprender. Essa determinação foi o que me ajudou a superar as barreiras que surgiram em meu caminho. Com a orientação dos meus professores, comecei a fazer progressos significativos na minha alfabetização.

Cada pequena conquista foi um passo importante para mim. Ler e escrever, que no começo pareciam tarefas quase impossíveis, tornaram-se realizações diárias. Minha resiliência foi fundamental para transformar desafios em vitórias pessoais.

À medida que avançava na educação, a leitura e a escrita se tornaram áreas de crescente confiança e paixão. O que antes era uma luta se transformou em um prazer. Descobri o prazer de ler livros, explorar novas histórias e expressar meus próprios pensamentos por escrito. Minha jornada na leitura e na escrita se tornou não apenas uma conquista pessoal, mas uma porta aberta para um mundo de novas possibilidades.

O apoio contínuo da minha família e o encorajamento dos professores contribuíram para que eu não apenas superasse minhas dificuldades iniciais, mas também prosperasse academicamente e pessoalmente.

Agora, aos meus 22 anos, reflito sobre minha jornada escolar com um sentimento de gratidão e realização. O caminho não foi fácil, mas cada desafio superado e cada pequeno sucesso ao longo do caminho moldaram a pessoa que sou hoje. Minha história é um testemunho do poder do apoio familiar, da importância da perseverança e do impacto positivo que educadores dedicados podem ter na vida de um aluno.

Continuarei a valorizar o aprendizado e a educação, carregando comigo as lições e a força adquiridas durante minha jornada escolar. Minha história é uma inspiração para todos que enfrentam desafios e para aqueles que acreditam no poder da curiosidade e da determinação.

Concluí o meu terceiro ano do ensino médio em 2019 com muita força e garra, passando por altos e baixos, mas consegui, e estou realizada em compartilhar isso aqui com vocês.

A jornada de Layrah Victoria Figueira Abreu é um lembrete de que cada pessoa tem um caminho único e que os desafios iniciais podem ser superados com apoio, dedicação e amor.

Minha história é uma celebração da perseverança e da importância da educação na formação de uma vida plena e enriquecedora. Inspirada pelo impacto positivo que meus próprios professores tiveram em minha vida, decidi seguir uma trajetória semelhante à de minha irmã Kyarah.

Assim como Kyarah, que se tornou uma profissional apaixonada pela educação e dedicada, também escolhi o caminho da Pedagogia, motivada pela vontade de oferecer o mesmo apoio e inspiração que recebi. Agora, dedico minha vida a ajudar outras crianças a superarem desafios acadêmicos e a encontrar prazer no aprendizado, perpetuando o legado de amor e dedicação à educação que marcou minha jornada.

 



SOBRE A AUTORA:

Layrah Victoria Figueira Abreu, de Cachoeira de Pajeú/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Letramento pra vida

Letramento pra vida

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Jocerlane Santos Cardoso, Pedra Azul/MG

Entrei na escola aos 4 anos de idade, e antes disso eu não tinha acesso a textos, livros ou algo do tipo. Sempre fui muito curiosa para saber mais sobre letras e números. Fui uma criança com grande interesse em aprender. Sempre que minha mãe escrevia cartas, algo bem comum na época, eu ficava observando e admirando. Em 2004, comecei o que chamavam de “pré de cinco” e fiquei encantada com tudo o que via na sala de aula, pois antes não tinha acesso a nada semelhante. Antes de entrar na escola, eu conhecia as moedas, mas ainda não sabia fazer contas nem o valor real de cada uma.

Os cálculos só entraram na minha vida quando comecei o “pré de seis”. Nossa, os números pareciam fazer um nó na minha cabeça! Mas, aos poucos, peguei o jeito e descobri que a matemática não era o bicho de sete cabeças que eu pensava. O papel da escola no meu letramento matemático foi crucial para o meu aprendizado, assim como o apoio da minha família. Mesmo sem ter concluído os estudos, minha mãe sempre esteve ao meu lado, incentivando-me a ir à escola e a não faltar, para que um dia eu pudesse ser alguém na vida.

Minha primeira professora se chamava Diana, e nós, alunos, nos apegamos muito a ela. Ela foi quem nos ensinou as primeiras letras. No início, foi um pouco difícil, mas, aos poucos, fui me adaptando. A professora sempre nos incentivava a escrever e a ler as vogais e o alfabeto. Até então, eu não tinha acesso a textos, mas a escola já era essencial nos meus primeiros passos com a leitura e a escrita. No Fundamental I, líamos muitos textos. Na segunda série, lembro que a professora Márcia fez um projeto em que os alunos deveriam produzir textos para criar um livro com todas as produções. Até hoje tenho o texto que fiz para o livro, cujo título é “A Amizade das Letras MN”. A biblioteca da escola era repleta de livros, e lembro que uma vez por mês, ou duas, um senhor chamado Milton ia à escola e avaliava a leitura e a tabuada de todos os alunos.

Lembro também que, na escola, frequentemente passavam pessoas vendendo kits de livros com DVDs de contos de fadas, incentivando a leitura. Meu preferido era “A Bela e a Fera”, da autora Elizabeth Rudnick. Eu me divertia muito lendo esse livro e aprendia com a história, que mostrava uma moça bonita e bondosa que não sentia medo do monstro que todos na pequena cidade temiam, conhecendo o coração bondoso que ele escondia por trás de sua aparência assustadora. A moral da história é que nem tudo é o que parece ser. Foi a partir daí que comecei a me interessar por leituras de textos e histórias.

Sinto falta do que não consegui aprender, pois, no início do segundo ano do ensino médio, engravidei e precisei deixar a escola. Fiquei ausente por cinco anos, retornando em 2019 com o EJA, onde o aprendizado é mais acelerado. O que se aprende em um ano letivo normal, no EJA, se aprende em metade do tempo, o que não nos permite ver tudo em profundidade. Mas me esforcei ao máximo. Concluí o ensino médio em 2020, formando-me no EJA e encerrando mais uma etapa da minha vida, preparando-me para o mundo. Em questões de administração financeira, consigo me virar bem, embora no ensino médio eu não tenha tido uma preparação completa. Ainda assim, aprendi o suficiente para lidar com as situações da melhor forma.

Na escola, sempre fomos incentivados a estudar números e fazer cálculos, preparando-nos para o futuro. O tempo passou e fui morar em São Paulo. Eu não tinha o hábito de ler livros ou textos até conhecer duas irmãs, Jéssica e Valéria. Elas tinham o hábito de ler, e eu achava engraçado, pois estavam sempre comprando livros. Com o tempo, elas me incentivaram a explorar aplicativos de leitura no celular, o que despertou minha curiosidade. Um dia, uma delas me apresentou o aplicativo Dreame, voltado para leitura e histórias. Há cerca de dois anos, venho utilizando esse aplicativo, onde li a maioria dos livros que já li na vida. Um dos meus favoritos é “O Destino Quis 2: O Dilema de Ana”, da autora Célia Mesquita. Identifiquei-me muito com essa linda história.

Hoje, moro em Pedra Azul e passei no vestibular para Pedagogia. Estou cursando Pedagogia na UFVJM. Até o momento, não percebi grandes mudanças no meu hábito de leitura. Leio todos os conteúdos que os professores recomendam, mas ainda estou me adaptando. Tudo é novo nesta fase da minha vida, e estou enfrentando algumas dificuldades, mas estou gostando muito dessa nova experiência.



SOBRE A AUTORA:

Jocerlane Santos Cardoso, Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Descobrindo o mundo das letras

Descobrindo o mundo das letras

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Jessica Yasmini Silva, Pedra Azul/MG

Minha jornada estudantil começou com um misto de curiosidade e encantamento. As primeiras letras que aprendi eram como pequenos segredos, cada uma com seu próprio som, forma e magia. Tinha uma tia dedicada que me guiou pelos caminhos das palavras, transformando o aprendizado em um jogo divertido, onde cada nova letrinha descoberta era uma vitória.

Na minha família, além da minha tia, contava com tios professores que tiveram um papel fundamental na minha educação. Em casa, a sala de estar se transformava em uma sala de aula improvisada, onde os dois irmãos se uniam para ensinar. O conhecimento parecia estar no ar, pronto para ser absorvido.

Aprender com eles não era uma obrigação, mas um privilégio. Isso me ajudou muito com o início da alfabetização, sempre com muitos livros por perto. Um dos momentos mais marcantes da minha infância foi quando li meu primeiro livro sozinha. Lembro-me de como cada palavra parecia ganhar vida à medida que as lia em voz alta. Meus tios celebravam cada frase completa como se eu estivesse conquistando uma nova etapa do aprendizado. Foi ali que descobri o poder das histórias e como as palavras podiam criar mundos inteiros.

Hoje, olhando para trás, vejo como minha infância foi profundamente marcada pela educação. Meus tios plantaram em mim a semente do amor pelo conhecimento. Cada lição, cada história, cada desafio vencido moldou não apenas minha trajetória acadêmica, mas também quem eu sou como pessoa. A educação que recebi foi um verdadeiro presente, um legado que carrego comigo até hoje.

À medida que cresci, o desejo de aprender só aumentou. A educação recebida em casa serviu como um alicerce sólido sobre o qual construí minha trajetória acadêmica. Lembro-me de como aprendi a contar de forma lúdica e gradual. Os números, no início, eram pequenos enigmas que eu descobria pouco a pouco. Minha mãe e tios usavam brinquedos e objetos do cotidiano para me ensinar a contar. A contagem de brinquedos, passos e até mesmo as páginas dos livros tornava-se uma atividade divertida. Quando cheguei à escola, já conseguia contar até 20 sem grandes dificuldades, e esse conhecimento básico me deu uma boa base para iniciar minha jornada matemática formal.

Quanto ao reconhecimento de dinheiro, minhas primeiras memórias são um pouco vagas, mas lembro-me de que meus pais me mostravam moedas e cédulas, explicando seu valor e como usá-los para comprar coisas. Inicialmente, o conceito de dinheiro parecia abstrato, mas, com o tempo e a prática, comecei a entender seu valor real. Percebi que as moedas e as cédulas tinham diferentes valores usados para adquirir bens e serviços, e essa compreensão se desenvolveu à medida que participava das compras e via como o dinheiro facilitava a troca de produtos.

Com tudo que aprendi com familiares e professores, comecei a entender operações básicas como soma e subtração. Na escola, fiz minhas primeiras adições e subtrações com a ajuda de fichas e desenhos, que tornavam esses conceitos mais concretos. Meus tios também ajudavam em casa, usando jogos matemáticos que tornavam o processo mais envolvente. A transição para problemas matemáticos mais complexos na escola foi desafiadora, mas, com o suporte constante dos meus professores e da minha família, consegui superar as dificuldades iniciais.

A colaboração entre a escola e a família foi crucial para meu desenvolvimento matemático. Em casa, o aprendizado era muitas vezes informal e integrado às atividades diárias, como fazer contas enquanto auxiliava nas compras ou resolver pequenos desafios matemáticos durante os jogos. A abordagem prática e envolvente dos meus pais e tios ajudou a construir uma base sólida e a tornar o aprendizado matemático uma parte natural da minha vida. Na escola, os professores complementavam esse aprendizado com métodos mais formais e estruturados. A combinação de diferentes estratégias, como o uso de materiais didáticos e a resolução de problemas, ajudou a consolidar os conceitos matemáticos. A escola também ofereceu um ambiente de socialização onde pude aprender com os colegas e participar de atividades que tornavam a matemática mais atraente e significativa.

Com a escola e o estudo em casa, comecei a desenvolver um gosto pelo aprendizado. Lembro-me de que meus pais e tios me incentivavam a “escrever” usando lápis e papel, muitas vezes tentando reproduzir letras que eles me mostravam. Naquele tempo, meus “textos” eram simples rabiscos e letras imprecisas, mas já era um começo interessante. Eu tinha cerca de 4 ou 5 anos quando comecei a explorar essas primeiras tentativas de escrita. Escrever era mais um jogo do que uma tarefa, e eu estava mais interessada em imitar o que via do que em produzir algo compreensível.

A experiência de escrever na escola foi emocionante e desafiadora. Lembro-me de como era gratificante ver minhas primeiras palavras e frases ganhando forma e de como os professores estavam sempre prontos para me encorajar. Eu era muito motivada a escrever, principalmente porque via a escrita como uma forma de expressar minhas ideias e sentimentos. Escrever pequenas histórias, listas e até mesmo diários era uma parte significativa da minha rotina escolar.

Nos primeiros anos da escola, escrevia sobre temas simples, como meus brinquedos favoritos, minhas férias e minhas atividades diárias. Esses textos eram curtos e muitas vezes consistiam em frases simples, mas eram extremamente importantes para mim. Escrever sobre o que eu conhecia e amava tornava o processo mais envolvente e divertido. Lembro que os professores me incentivavam a expressar minha criatividade e a experimentar diferentes tipos de textos. No começo, escrevia principalmente descrições de coisas do meu cotidiano e pequenos contos que criava a partir da minha imaginação. Gradualmente, à medida que ganhava mais confiança e habilidades, comecei a explorar outros formatos de escrita, como cartas, poemas e narrativas mais elaboradas.

Participar de atividades de escrita criativa e ver meus textos exibidos na sala de aula ou compartilhados com meus colegas foi uma grande fonte de orgulho e incentivo para mim. A escola ofereceu um currículo que incluía a prática constante da escrita, o que ajudou a solidificar os fundamentos que eu já havia começado a explorar em casa. Além disso, as atividades de escrita em grupo e as discussões em sala de aula enriqueceram minha experiência e expandiram minha compreensão da escrita como uma forma de comunicação e expressão.

Lembro de histórias que marcaram o início dessas experiências, como contos de fadas, fábulas e histórias ilustradas, adaptadas para minha faixa etária. Livros como “O Pequeno Príncipe” e “A Turma da Mônica” não apenas me divertiam, mas também começavam a ensinar lições sobre o mundo e sobre como expressar minhas próprias ideias. Na produção de textos, escrevia pequenos contos, descrições sobre meus brinquedos e relatos das minhas férias. Os professores incentivavam a criatividade, e frequentemente participávamos de projetos que envolviam a criação de histórias em grupo. Sempre usávamos a biblioteca da escola, onde eu podia mergulhar em diferentes mundos literários e encontrar materiais para meus projetos escolares. Frequentar a biblioteca também ajudava a cultivar o hábito da leitura e proporcionava uma sensação de autonomia na escolha do que ler.

Com o tempo, o ensino médio trouxe mudanças significativas. A escrita passou a envolver argumentação e análise crítica, exigindo maior rigor e estrutura. Essa mudança foi acompanhada por uma crescente apreciação pelo poder da escrita como ferramenta para influenciar e comunicar de maneira eficaz. Da mesma forma, a matemática no Ensino Médio se integrou em contextos mais complexos, como análise de dados e resolução de problemas práticos em ciências e economia. Essa aplicação prática ajudou a perceber a utilidade da matemática além do ambiente escolar e incentivou uma abordagem mais funcional para o aprendizado dos números.

À medida que avançava para o Ensino Médio e além, percebi que a educação era muito mais do que apenas acumular conhecimento; era sobre desenvolver uma capacidade crítica e uma apreciação profunda pela aprendizagem contínua. As habilidades que construí ao longo dos anos – tanto nas letras quanto nos números – formaram uma base sólida que não apenas me ajudou a ter sucesso acadêmico, mas também me preparou para enfrentar desafios diversos com confiança e criatividade.

A transição da infância para a adolescência trouxe novas responsabilidades e expectativas, mas as lições que aprendi desde cedo permaneceram como um guia constante. O incentivo que recebi da minha família e o suporte dos professores foram fundamentais para me mostrar que aprender é um processo contínuo e que a verdadeira educação é uma jornada de descoberta pessoal e coletiva.

Hoje, ao refletir sobre minha trajetória, sinto uma profunda gratidão por todos que contribuíram para meu desenvolvimento. O amor pela leitura e a paixão pela matemática, que começaram como curiosidades infantis, transformaram-se em ferramentas essenciais para minha vida acadêmica e profissional. Cada etapa dessa jornada me ensinou não apenas sobre o conteúdo que estudei, mas também sobre a importância de ser um aprendiz ao longo da vida.



SOBRE A AUTORA:

Jessica Yasmini Silva, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.