A percepção de alunos das comunidades rurais de Serra da Bicha, Amaral e Capivari sobre o REANP

Por Juliana da Paz Ferreira [1]

Este breve relato é resultado de uma pesquisa realizada com três alunos da Escola Estadual Leopoldo Pereira, situada em Milho Verde, distrito de Serro/MG. A instituição é uma escola nucleada rural, que atualmente atende cerca de quatorze comunidades: Amaral, Ausente de Cima, Ausente de Baixo, Barra da Cega, Baú, Boqueirão, Cabeça de Bernardo, Capivari, Chacrinha, Colônia, Córrego da Areia, Jacutinga, Serra da Bicha e Três Barras. O relato aborda, sobretudo, o Regime Especial de Atividades Não Presenciais (REANP) implementado em todo o estado na pandemia e, ainda, a percepção e as expectativas dos alunos entrevistados moradores das comunidades de Serra da Bicha, Amaral e Capivari.

Uma vez aplicados os questionários aos três estudantes da Escola Estadual Leopoldo Pereira, notei que em relação ao núcleo familiar, dois deles disseram que seus pais são analfabetos e possuem renda muito baixa e que sobrevivem apenas da agricultura familiar e do programa Bolsa Família. Parece que o fato tem um impacto direto no aprendizado, pois nenhum deles tem ferramentas como um computador ou uma internet com boa qualidade para os estudos.

Os alunos moram muito longe da escola e um deles precisa de tomar dois ônibus para chegar até ela, outro fator que dificulta o aprendizado. Os relatos são de que acordam muito cedo e o cansaço da viagem é grande. Além disso, um aluno trabalha meio período para ajudar os pais no sustento de casa. Diante de tantos esforços, podemos notar que são muito dedicados e não medem esforços para superar suas dificuldades.

Para os estudos, na falta do computador e da internet a cabo, utilizam a internet com dados móveis no celular, que não possui boa qualidade, além de livros didáticos para auxiliá-los nas atividades impressas do Plano de Ensino Tutorado (PET) disponibilizadas pelos professores. Essa foi a principal dificuldade relatada pelos três, pois é o principal fator contra suas aprendizagens.

Com relação ao REANP, consideram como única opção, pois perder um ano letivo inteiro seria um prejuízo muito grande no final da formação. Relataram ainda que muitos obstáculos surgiram para o entendimento de conteúdos e resolução de exercícios, mas o corpo docente utilizou metodologias interativas como, por exemplo, grupos de apoio através do aplicativo do WhatsApp e indicação de videoaulas. Apesar das dificuldades, relatam que os professores estavam sempre disponíveis para tirar quaisquer dúvidas que surgissem.

Mesmo com os esforços relatados, os estudantes mostraram-se céticos sobre o aprendizado à distância, pois perceberam que estudar em casa, sem o auxílio presencial do professor e com tanta coisa que tira a atenção, é muito difícil. Concluíram que nas aulas presenciais, sem dúvida, o aprendizado é bem maior.

Neste ano que finalizou, os três alunos entrevistados optaram por não fazer o Enem. Todos sonham em dar continuidade aos estudos e se qualificarem, mas acham que o ensino remoto pode prejudicar muito os alunos do campo no exame do Enem.

Um deles sugeriu que algo que ajudaria bastante seria que os próprios professores gravassem videoaulas com a explicação das disciplinas e ao invés de indicarem videoaulas de professores desconhecidos, como acontece no REANP. O mesmo estudante acredita ainda que ajudaria muito se os PETs também fossem elaborados pelos próprios professores da escola com conteúdos que retratassem suas realidades. Ele relata ainda que os PETs possuem atividades muito resumidas, o que acredita dificultar o aprendizado.

A partir desse relato e das posições dos estudantes, é importante refletir sobre a eficácia das metodologias, bem como os pontos positivos e negativos do REANP; não apenas nas comunidades rurais, mas nas periferias de forma geral, uma vez que o Brasil é um país de grandes diferenças.

[1] Juliana é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

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